A estreia de "Beleza Fatal" (no dia 27 de janeiro, na Max) mostrou que Raphael Montes, além de um ótimo escritor de livros e séries, também sabe fazer uma novela. O primeiro folhetim da plataforma de streaming da HBO, dirigido por Mária de Médicis, vem despertando atenção através de bons ganchos e muitos clichês típicos do gênero. E o maior acerto da trama vem sendo a carismática Lola, vilã vivida por Camila Pitanga.
Lola é um perfil intrigante e multifacetado que encarna uma ambição desmedida, movendo-se entre o brilho encantador das redes sociais e os segredos obscuros escondidos sob a fachada de seu sucesso. E todos os segredos o público já descobre nos primeiros cinco capítulos que contam a primeira fase do enredo. De uma secretária sonhadora a uma poderosa empresária, Lola constrói seu império, a Lolaland, a maior clínica de estética do país, às custas de escolhas que colocam sua moralidade em xeque.
Ao lado de Benjamin Argento (Caio Blat), a vilã projeta a imagem de uma vida perfeita, marcada por modernidade, luxo e virtude. No entanto, por trás da aparência impecável, manipulações, mentiras e até assassinatos se tornam ferramentas indispensáveis para manter o controle de tudo o que conquistou.
A sua trajetória simboliza o lado sedutor e destrutivo do poder, revelando sacrifícios, jogos de influência e dilemas éticos. É um perfil cheio de possibilidades que proporciona excelentes momentos e todos são abraçados por uma atriz em total estado de graça.A novela apresenta uma trama clássica de vingança, tanto que há inúmeros elementos similares, para não dizer iguais, aos já vistos em obras como "Avenida Brasil" e "Revenge". E Lola tem um quê de Carminha (Adriana Esteves), mas que Camila consegue diferenciar e adequar ao seu modo de atuar, aproveitando também alguns momentos de fragilidade da personagem que lembram o lado inocente e até ingênuo da Bebel, seu papel de maior sucesso na carreira televisiva, revisto ano passado na reprise de "Paraíso Tropical" no "Vale a Pena Ver de Novo". Mas também há uma terceira faceta, essa inédita, em que a crueldade se faz presente, assim como a frieza para contornar os muitos obstáculos que surgem em seu caminho. E impressiona como a intérprete domina todas as cenas em que aparece. Até porque não são poucas. Está praticamente em todos os atos da história, é o perfil com mais destaque e que norteia o enredo, sendo o pilar de sustentação.
É uma delícia ver Camila Pitanga em "Beleza Fatal". Tanto que a vilã pode ser facilmente considerada a personagem mais querida da história e justamente porque tem suas sensibilidades expostas em determinados momentos. Embora seja uma assassina, interesseira, oportunista, corrupta e muitas vezes cruel, é uma mulher que veio de uma vida difícil e no fundo só queria ser bem-sucedida e amada de verdade. É nessa vulnerabilidade que o telespectador se apoia e até se compadece. O choro da empresária diante da péssima relação que tem com o filho (Gabriel - Enzo Romaní) comove, assim como sua solidão diante de um desabafo com sua funcionária Júlia (Camila Queiroz), sua então desconhecida algoz Sofia. É necessário destacar também a despedida de Viviane (Naruna Costa) com uma última transa, pouco antes de matá-la.
Em meio a um folhetim repleto de perfis maniqueístas (o que não é um demérito), Lola sobressai através de suas múltiplas camadas. E uma profissional mais limitada não conseguiria passar veracidade nas fragilidades da vilã, o que prejudicaria até a intenção do autor em humanizar sua vilã. Grande parte do público acharia as situações forçadas ou até piegas. Mas não é o que acontece. Camila diverte e emociona com a mesma facilidade e empresta o seu carisma para a personagem, que vem tomando conta da novela desde o primeiro capítulo. É inegável que o melhor texto também é o dela, com direito a algumas tiradas impagáveis e repletas de deboche. Vale citar ainda os instantes em que a ricaça surta de ódio quando algum plano dá errado, o que vem acontecendo com cada vez mais frequência. O desempenho da atriz é visceral.
Camila Pitanga estava afastada dos folhetins desde "Velho Chico", exibida em 2016, na Globo, em virtude de seu trauma com a morte trágica de Domingos Montagner, que se afogou no Rio São Francisco durante as gravações da novela, que, além de colega, era seu grande amigo pessoal. Voltou a trabalhar na dramaturgia em 2019 em "Juntos a Magia Acontece", um especial de fim de ano da Globo, e "Aruanas", série do Globoplay. "Beleza Fatal" marca sua volta aos folhetins, ainda que seja uma novela de apenas 40 capítulos. E seu retorno não poderia ter sido melhor. Lola valoriza o seu talento e a sua grandiosidade, já entrando para a galeria de grandes personagens da sua carreira
2 comentários:
Sergio querido amigo,
Eu amo tudo que a
Camila Pitanga trabalha.
Além de talentosa ela
é linda.
Obrigada pela matéria.
Bjins
CatiahôAlc.
ai que bom, alguém que conheço está vendo como eu, ando solitária com essa novela. minhas amigas não estão vendo e uma nem quer ver. eu adoro os textos do raphael montes. eu gosto bastante da multiplicidade de sentimentos dos personagens. eu gosto muito q lola e rog só ficaram ricos pelo casamento. um em chantagem e o outro em oportunismo. mas nem por isso eles são legais com quem os fazem ricos. a maldade de rog com sua esposa é de cortar o coração. camilla disse q teve dificuldade de aceitar a personagem pela infinidade de maldades q faz. eu adoro o romance de lola com a ex-policial. naruna está maravilhosa. todos estão. beijos, pedrita
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