quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

Até o Mavi foi destruído em "Mania de Você"

 A atual novela das nove da Globo se encontra em seu pior momento. O que não deixa de ser algo peculiar, uma vez que a trama de João Emanuel Carneiro, dirigida por Carlos Araújo, já mergulhou inúmeras vezes em piores momentos desde seu primeiro mês. A 'novidade' é que não há mais nada digno de qualquer elogio na obra. Antes, mesmo diante da tantos problemas perceptíveis, havia a figura do Mavi (Chay Suede), um vilão aparentemente bem escrito e nas mãos de um ator se se divertia em cena. Mas isso acabou. 


A virada da história envolvendo a falsa morte de Viola (Gabz) aniquilou o pouco que tinha de enredo e mínima lógica no folhetim. E o posterior retorno de Molina (Rodrigo Lombardi) deixou tudo ainda mais catastrófico na narrativa. Além da vingança da mocinha ter se mostrado ridícula e sem qualquer efeito prático, já que foi desmascarada em duas semanas, o todo poderoso empresário serviu de pretexto para a transformação de Mavi em um completo imbecil. Parece que o autor tem uma 'cota' de vilão em "Mania de Você" e só pode um por vez. Como Molina voltou, o seu filho não pode mais ser malvado. 

Mavi era um agente do caos. Um hacker imparável capaz de erguer um império, roubando a fortuna do pai e de Luma (Agatha Moreira), para colocar Viola sob os seus domínios. Tudo o que ele fez desde o início da história teve como objetivo a conquista da mulher que era o fruto de sua obsessão. E ninguém conseguia pegá-lo.

Somando inúmeros furos e conveniências de roteiro, o personagem era invencível. Apesar de todos os equívocos da produção, o vilão transbordava carisma graças ao talento de Chay e aos seus improvisos deliciosos, que desconcertavam Adriana Esteves e Agatha Moreira, que não conseguiam esconder a surpresa diante de alguns diálogos, o que não impedia que também embarcassem nas brincadeiras. Diante de uma obra tão ruim e com um texto tão sem sentido, era um alívio para os atores e também para o público. Tanto que ao longo dos meses a sintonia dos três só aumentou. 

Porém, o início da ruína do personagem se deu com o término abrupto e sem sentido da sua parceria com Iberê. Vale destacar que a química entre Chay e Jaffar Bambirra era tão boa que o público nas redes sociais começou a torcer por um romance. Claro que nunca aconteceria, tanto por causa da interferência da atual cúpula da Globo, comandada por Amauri Soares, quanto do próprio autor que não tinha qualquer intenção de algo do tipo. Só que não precisava destruir um dos poucos êxitos da história por causa de suposições na internet. Iberê perdeu a relevância assim que vestiu a fantasia de 'jovem arrependido de suas maldades' e o vilão deixou de ter seu ponto de apoio para desabafos. Mavi foi perdendo a sua linha mínima de coerência e tudo piorou quando se apaixonou do nada por Luma e ela por ele, esquecendo Rudá (Nicolas Prattes). E tudo por causa da falsa morte de Viola, cujo luto não durou nem duas semanas. Os dois têm química em cena e fariam uma dobradinha perfeita de vilões, mas não como dois coitados arrependidos de tudo o que fizeram. Ficou ridículo de assistir. 

E o pior ainda estava por vir. Porque Mavi descobriu que Viola estava viva e não desconfiou em nenhum momento que a sua ex planejava se vingar. Nem mesmo Luma achou estranho. Somente Mércia nunca comprou o discurso da mocinha. Depois, Luma acreditou na atual sogra e também passou a enxergar a realidade dos fatos. Mas o vilão, que era o mais inteligente da novela, não. Ficou sendo feito de palhaço o tempo todo e, depois que caiu em si, entrou em uma depressão que o deixou totalmente abobado em cena. A tristeza o deixava caído pelos cantos, só fumando e chorando. Ficou perceptível que o ator perdeu o brilho em cena. E não porque precisava interpretar uma pessoa depressiva e, sim, porque foi claramente prejudicado na história, sentimento que praticamente todos os atores têm na novela diante de personagens tão mal desenvolvidos. Só que ele era a exceção. Mavi carregava a história nas costas e o intérprete sabia, tanto que ganhou o "Melhores do Ano" de Melhor Ator, no "Domingão com Huck", por conta disso. 

Agora, o que o público vê em "Mania de Você" é uma redenção forçada e que provoca uma total apatia do personagem, que não está servindo nem pra vilão e muito menos pra mocinho. O pior é que a destruição do personagem nem tem o objetivo de favorecer os demais protagonistas que foram rejeitados, porque o arco de Viola segue péssimo e o de Rudá é uma vergonha ---- o sujeito passou a novela toda sendo acusado por um falso crime e vai morrer justamente no momento que seria inocentado. Porque vale lembrar que João Emanuel Carneiro tirou todo o destaque de Rosa (Letícia Colin), na fraca e problemática "Segundo Sol" (2018), porque o público tinha rejeitado a sua mocinha, Luzia (Giovanna Antonelli). Só que de nada adiantou na época. E novamente seu tiro saiu pela culatra. Tirar do telespectador a única coisa que ele gostava em sua obra, que está com o título de maior fracasso da história do horário das nove, é algo que nem tem uma explicação razoável. Não dá para entender, apenas lamentar.

Um comentário:

Lois Racca disse...

Exatamente. A cada novo capítulo, nós e o elenco, fomos aniquilados. Uma série de equívocos, diálogos rasos e sem coerência. Uma pena. Excelente texto, Sérgio., como sempre.