quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025

"Cabocla" foi um remake saboroso

 A edição especial de "Cabocla" chega ao fim nesta sexta-feira, dia 14. O remake exibido em 2004 foi a terceira adaptação da obra de Benedito Ruy Barbosa, após a versão de 1959 da TV Rio e a de 1979 da própria Globo. A reprise ocupou a faixa 'pós-Jornal Hoje', preenchida anteriormente pelo extinto "Vídeo Show", que até hoje a emissora não nomeou. Então segue mantendo a classificação de 'edição especial', sendo que de especial não tem nada, já que tem a mesma duração das reexibições do "Vale a Pena Ver de Novo". 


"Cabocla" é inspirada no romance homônimo de Ribeiro Couto – escritor da primeira fase do Modernismo - e se passa no fictício município rural de Vila da Mata, em 1918. De um lado da história, a disputa por terras entre os coronéis Boanerges (Tony Ramos) e Justino (Mauro Mendonça) e, do outro, a paixão de Zuca, personagem que revelou a atriz Vanessa Giácomo na TV, pelo "almofadinha" Luís Jerônimo, primo de Boanerges.

No começo da trama, a jovem está noiva do peão Tobias - vivido por Malvino Salvador, também em sua estreia na TV - mas acaba se encantando pelo bon-vivant depois de o rapaz passar uma noite no hotel de seus pais, Zé da Estação (Otávio Augusto) e Sinhá Bina (Jussara Freire). Luís, filho do exportador de açúcar Joaquim (Reginaldo Faria) e um assíduo frequentador de festas no Rio de Janeiro, é aconselhado pelo doutor Edmundo (Othon Bastos) a se mudar para o Interior ao ser diagnosticado com tuberculose. As paisagens arejadas e frescas da simples Vila da Mata parecem ser o destino ideal ao rapaz. Basta uma noite no hotel para Luís se encantar com a tímida Zuca e mudar radicalmente seu comportamento. Mas, para viver esse grande amor, eles enfrentarão muita resistência por conta das diferenças sociais e do fato de Zuca ser noiva do teimoso e encrenqueiro Tobias.


A outra trama central da novela trata da rivalidade entre os dois chefes políticos da região de Vila da Mata, os coronéis Boanerges e Justino. A disputa entre ambos pelo poder da cidade é clara, bem como a impossibilidade de entendimento. O tom político é uma marca forte na trama, que também enfatiza a questão agrária. Logo nas primeiras cenas, o vigário (John Herbert), de olho em dinheiro para sua igreja, comanda uma aposta de corrida de cavalos dos dois fazendeiros – representados por seus peões Tobias e Tomé (Eriberto Leão) – que ilustra bem essa oposição.

 
O coronel Boanerges é um político muito estimado pela população local. Ele e a mulher, Emerenciana (Patrícia Pillar), são os padrinhos de Zuca. Os dois têm uma filha, Belinha (Regiane Alves), que está de volta à casa dos pais após estudar na capital. O coronel Justino também é um forte líder político na região. Viúvo, ele vive com seus dois filhos, Neco (Danton Mello) e Mariquinha (Carolina Kasting), que não concordam com a postura do pai e com a forma como cuida de seus interesses. Enquanto Boanerges e Justino se enfrentam fortemente na política, seus herdeiros Belinha e Neco se apaixonam. Eles se conhecem voltando do Rio de Janeiro e, sem imaginar de quem são filhos, encantam-se um pelo outro. O amor do casal desperta uma guerra entre as famílias rivais.

 
Além da trama envolvente, com diversos personagens que se destacam, "Cabocla" também ficou marcada pela grandiosidade da produção, fotografia, figurinos, arte e cenografia. As primeiras gravações aconteceram em uma fazenda em Santa Cruz, zona oeste do Rio de Janeiro, e passaram por Visconde de Mauá, na divisa dos estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais; Bananal, no interior de São Paulo; e por Campinas, onde a estação de trem Carlos Gomes foi a principal locação. Duas cidades cenográficas, de dez mil metros quadrados no total, foram construídas nos Estúdios Globo para as gravações. A cidade de Vila da Mata, rústica e bucólica, com ruas de terra e muito verde, foi inspirada em locações
de Minas Gerais. O município vizinho, Pau d'Alho, um povoado mais antigo e menos desenvolvido, também foi colocado de pé pela equipe da obra. O espaço contava com uma estação de trem e um hotel, com interior decorado. O trabalho artesanal deu a tônica do figurino, quase todo confeccionado para a novela.

A trilha sonora também foi destaque, trazendo músicas sertanejas e modas de viola, representadas por nomes como Rio Negro e Solimões, Rick e Renner, Cleiton e Camargo, Roberta Miranda e a dupla Zezé di Camargo e Luciano, cuja canção 'Nosso Amor é Ouro' virou um dos temas românticos da trama. A segunda versão de "Cabocla" ganhou o Prêmio Qualidade Brasil SP 2004 de melhor novela do ano, e Benedito Ruy Barbosa, Edmara Barbosa e Edilene Barbosa, o de melhores autores de novelas. Tony Ramos foi eleito melhor ator; Danton Mello, o melhor ator coadjuvante; e Jussara Freire, consagrada como a melhor atriz coadjuvante. Vanessa Giácomo e Malvino Salvador foram eleitos atriz e ator revelação; e Ricardo Waddington, o melhor diretor. Tony Ramos também foi agraciado com o troféu de melhor ator pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA).


A novela realmente fez jus ao sucesso. Um remake bem adaptado por Edmara e Edilene Barbosa, que auxiliaram Benedito, que manteve quase tudo idêntico ao original, como é de seu costume. E também como é uma tradição em suas obras não há grandes acontecimentos ao longo dos meses e nem viradas, mas o autor sabe contar uma boa história de fazendeiros rivais. Tony Ramos e Mauro Mendonça foram escalações certeiras, assim como a então revelação Vanessa Giácomo na pele da tímida Zuca. Aliás, o elenco todo é um primor, vide Vera Holz, Sebastião Vasconcelos, Maria Flor, Umberto Magnani, Elena Toledo, Mareliz Rodrigues, Claudio Galvan, Rogério Falabella, Cosme dos Santos, Aisha Jambo, Roberta Rodrigues, entre outros. A trama tem a cara da faixa das seis e é aquele folhetim que dá vontade de assistir tomando um café e comendo um bolo. A abertura também merece elogios pela animação muito bem realizada e contemplada ao som de "Madrigal", de Lazza, Schiavon & Deluque. 


"Cabocla" ainda teve uma missão complicada em 2004: substituir o fenômeno "Chocolate com Pimenta", um dos maiores sucessos de Walcyr Carrasco no horário. A produção tem texto de Benedito Ruy Barbosa, adaptado por Edmara e Edilene Barbosa, com direção de núcleo de Ricardo Waddington e direção geral de José Luís Villamarim e Rogério Gomes. A reprise apresentou bons índices na faixa e quem viu novamente não se arrependeu. 

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