A terceira novela produzida pelo Globoplay teve a sua realização em 2023, mas só estreou em 11 de junho de 2025. Quando "Verdades Secretas 2" foi lançada, em 2021, houve a promessa de que a plataforma de streaming da Globo produziria uma novela por ano, o que não foi cumprido. E até hoje não foi explicado o motivo do adiamento da estreia de "Guerreiros o Sol". E nem a razão de terem a nomeado primeiramente como folhetim, depois como série e por último voltando ao conceito de novela. Mas, deixando todas essas questões de lado, o que tem sido visto até agora é um produto de alto nível.
A trama de George Moura e Sérgio Goldenberg, dirigida por Rogério Gomes, tem um enredo forte, cenas violentas e impactantes, um elenco repleto de talentos, personagens muito bem escritos, um texto irretocável e uma fotografia de encher os olhos. O que se vê no ar é uma superprodução, onde fica notório o elevado investimento do Globoplay, que na verdade é fruto do capital da emissora aberta. Isso era regra no canal desde o seu surgimento e não por acaso surgiu o termo 'Padrão Globo de Qualidade'.
No entanto, há muito tempo que o tal padrão deixou de existir, principalmente após a pandemia da covid-19. O corte de custos afetou diretamente o nível da teledramaturgia, que passou a exibir muitas cenas restritas a estúdios e com uma repetição exaustiva de cenários e ambientações, além de muitas cenas mal dirigidas e até editadas.
A redução nos gastos afetou até os elencos, que ficaram sem grandes nomes e muitas vezes dominados por intérpretes novatos ou por atores que emendam uma novela na outra, provocando um desgaste de imagem inevitável. Nada contra jovens intérpretes, mas um equilíbrio entre juventude e experiência sempre foi imprescindível no audiovisual.Não é por acaso que "Guerreiros do Sol" vem recebendo uma sucessão de elogios, tanto da crítica quanto do público nas redes sociais. O elenco é extraordinário e todos têm chance de destaque, mesmo os que fazem participações mais curtas em virtude da matança que há na história. Thomás Aquino e Isadora Cruz honram o peso do protagonismo e brilham em todos os momentos, sempre densos e em sequências de tirar o fôlego. Vale até uma menção especial para o trabalho de Isadora, que estreou com o pé direito como protagonista de "Mar do Sertão", onde emocionou com a doce Candoca, e depois divertiu na pele da desbocada Roxelle, em "Volta por Cima". A atriz protagonizou "Guerreiros do Sol" logo depois do fim da novela das seis e antes da trama das sete.
A atuação de Alinne Moraes é mais uma digna de aplausos. A atriz é uma figura rara nas novelas e escolhe muito bem seus papéis. Jânia é escrita sob medida para o seu talento e sua química com Alice Carvalho, outra potência cênica na pele de Otília, dá gosto de ver. E o que dizer de Irandhir Santos? Um dos maiores atores do país e que vive atualmente o maior vilão do ano e um dos maiores demônios da história da teledramaturgia. Arduíno é um tipo essencialmente mau e exige um psicológico forte de quem o interpreta. O ator está aterrorizante em cena e não há uma aparição sequer que não desperte repulsa ou ódio em quem assiste. O sujeito que foi o responsável pela morte de três irmãos e tantas outras barbaridades tinha que ser interpretado por um profissional do tamanho de Irandhir.
Nathalia Dill brilha como Valiana e tem uma bonita sintonia com Rodrigo Lélis, intérprete do padre Bida. Dani Barros vai crescendo aos poucos na pele da sofrida Aniete, enquanto Marcélia Cartaxo (Generosa) e Cláudio Jaborandy (Seu Neném) emocionam nas poucas vezes que aparecem. Theresa Fonseca está perfeita na pele de Adelzira. Carla Salle está ótima como a interesseira Soraia. Pedro Wagner se destaca novamente na pele de um sujeito repugnante, o traidor Pente Fino. E que gratas surpresas são Vitor Sampaio (Sabiá), Larissa Goes (Petúnia), Renato Livera (delegado Laureano) e Alanys Santos (Enedina). Outra maravilha é a homenagem ao saudoso jornalista Geneton Moraes Neto através da interpretação de Lucas Galvino.
Todos os nomes do elenco merecem elogios e é até injusto não citar todos. As participações luxuosas de Daniel de Oliveira (Idálio), José de Abreu (Coronel Eloi) e Alexandre Nero (Miguel Inácio) engrandeceram o início da novela, assim como as presenças de Ítalo Martins (Milagre), Luis Carlos Vasconcelos (Bosco), Otávio Muller (Coronel Nogueira), Ênio Cavalcanti (Gasolina), Nicollas Paixão (Peixinho) e Larissa Bocchino (Ivonete). Há atores que finalmente ganharam perfis bem distantes das figuras repetitivas que vinham interpretando na ficção, vide Rafael Sieg (Tatarana), Danilo Grangheia (Dr. Marinho), Marco França (Fabiano Sanfoneiro) e Rodrigo Garcia (Cheiroso). Todos acostumados na pele de homens sem caráter ou bandidos, agora na pele de sujeitos de boa índole e que demonstram até uma dose de doçura em meio a tanta violência. Já a entrada de Tuca Andrada (Heleno) e Mayana Neiva (Linete) enriqueceu a reta final.
Os atores conseguem demonstrar todos os sentimentos e vivências daqueles tão bem construídos personagens graças ao diretor Rogério Gomes, responsável por vários trabalhos até hoje enaltecidos. A sua equipe é um primor, o que também é observado na fotografia deslumbrante e nas externas sempre realizadas em locais lindos da Paraíba, Pernambuco, Sergipe e Alagoas. Aliás, são muitas gravações fora dos estúdios, algo cada vez mais difícil de ser visto nas novelas da Globo. Isso enriquece a história e imprime muito mais veracidade a várias cenas, principalmente as de confronto entre cangaceiros e policiais. É perceptível também a grande quantidade de figurantes, o que também tem sido bem diferente nos folhetins da tevê aberta, onde são bem poucas as pessoas utilizadas utilizadas para a ambientação das sequências. Parece um detalhe bobo, mas não é. O corte de custos afetou até isso, o que prejudica o realismo de muitas situações. Há ainda a preocupação da trilha incidental, sempre definida com cuidado para cada acontecimento, ou de emoção ou adrenalina ---- o telespectador mais atento identifica em alguns instantes uma trilha característica de "Além do Tempo", obra primorosa de Elizabeth Jhin e que contou com a direção de Papinha. É preciso destacar também o apreço da escolha das músicas, como "Cavalos do Cão" (Zé Ramalho e Elba Ramalho), tema da abertura; "Aboio Avoado" (Lenine); "Mar e Lua" (Mônica Salmaso); "Estado de Poesia" (Chico César); "Assum Preto" (Luzs Gonzaga); e "O Sertão Precisa é Disso" (Alceu Valença). Há quanto tempo não há mais qualquer preocupação na seleção das canções de um folhetim?
"Guerreiros do Sol" é uma novela do Globoplay que tem tudo o que a emissora de Roberto Marinho oferecia de melhor. Autores que não são podados e podem desenvolver a história sem acomodação ou covardia, cenas grandiosas e dirigidas com esmero, alto investimento que é refletido na qualidade das filmagens, dos cenários e na quantidade de atores e figurantes, além de um enredo com um arco dramático forte e bem definido. Em suma, mostra a Globo dos bons e velhos tempos.
2 comentários:
Essa novela é maravilhosa, da gosto de assistir uma novela tão boa com um elenco tão bom, todos estão de parabéns. Eu tô amando a Nathalia Dill com essa personagem, ela tá brilhando com uma interpretação tão sensível, a história de superação da personagem é linda ♥️
Se ve interesante. Buen fin de semana.
Postar um comentário