terça-feira, 7 de outubro de 2025

Morte de Odete Roitman não repetiu nem um terço do impacto da cena original de "Vale Tudo"

 O título da crítica já vai gerar o seguinte questionamento: 'Ah, mas vai ficar comparando?'. Desculpa, caro leitor, mas é para comparar. É o que acontece em qualquer remake. Sempre haverá o comparativo com a original. Não há problema algum nisso quando a adaptação tem qualidade. Serve até a nível de curiosidade. E no caso de "Vale Tudo" nem teria como não comparar porque o assassinato de Odete Roitman (Beatriz Segall) é uma das cenas mais memoráveis da história da teledramaturgia e já foi reprisada milhares de vezes. 


A própria Globo se aproveitou da sequência antológica para vender o capítulo desta segunda-feira, dia 6, porque foram várias cotas publicitárias enchendo o cofrinho da emissora e muita propaganda em todos os momentos possíveis. O marketing deu certo porque a trama teve média de 30 pontos pela primeira vez e a faixa das nove não tinha esse índice desde o final de "Terra e Paixão", o último sucesso do horário, de Walcyr Carrasco, que rendeu 32 pontos de média. 

Em relação ao lucro e aos números de audiência, só há motivos para comemoração. Mas em se tratando de dramaturgia e direção o resultado foi o mais decepcionante possível. Não pelo elenco, é bom sempre ressaltar. Todos fizeram o que foi proposto por Manuela Dias e por Paulo Silvestrini.

Só que a autora criou um amontoado de situações estapafúrdias, enquanto o diretor tirou o impacto do grande momento do assassinato. Foi um conjunto indefensável até para quem gosta do remake. Era a cena mais aguardada da novela e tratada com desleixo. 

Em 1988, Odete foi morta por engano. Leila (Cássia Kiss) matou a vilã porque achou que quem estava atrás da porta era Maria de Fátima (Gloria Pires). A filha de Raquel (Regina Duarte) teve um caso com Marco Aurélio (Reginaldo Faria) e Leila estava corroída pelo ciúme. Foi o melhor assassinato da história da teledramaturgia porque surpreendeu todo mundo. Ninguém suspeitava da Leila, até porque ela não tinha motivo algum para atirar em Odete. Agora, o fator surpresa não existe, então a autora optou em criar o clássico 'quem matou' com vários suspeitos no dia do crime e com a intenção de matar Odete. E não há problema algum no clichê. Mas a forma como tudo foi conduzido beirou o ridículo. 

Todos decidiram matar Odete no mesmo dia e no Copacabana Palace, o principal hotel do Rio de Janeiro, cercado por câmeras de todos os lados e com milhares de funcionários em cada corredor. Ninguém cogitou matá-la em um lugar um pouco menos movimentado. Mas o pior de tudo foi ver todos os personagens circulando pelo hotel armados na maior tranquilidade. Celina (Malu Galli) até abriu sua bolsa em pleno elevador, com câmera, para conferir se sua arma estava ali. E o que dizer da revelação surpresa de que Olavo (Ricardo Teodoro) era atirador do exército e tinha um fuzil de alta precisão? O personagem até ontem era um medroso, assim como César (Cauã Reymond), que ficou aterrorizado quando soube que Odete matou Ana Clara (Samantha Jones). E Maria de Fátima (Bella Campos) que comprou uma arma e aprendeu a atirar com um desconhecido em tempo recorde? O que foi aquilo? Aliás, Fátima reservou um quarto no hotel com seu próprio nome para ser logo a primeira investigada pela polícia. Ainda teve Marco Aurélio com todo o equipamento de um assassino profissional se arrumando no quarto do hotel. Ficou tudo grotesco. 

Mas o conjunto catastrófico poderia até ter sido amenizado com a cena do crime. Afinal, é um momento catártico e que impacta o telespectador de qualquer novela. Só que a sequência conseguiu ser ainda pior. O texto que Manuela criou para a Odete soou risível ---- "Vamos conversar. Pra que essa barbaridade? Meu bem, ninguém tem coragem de atirar em Odete Roitman" ---- , a cena durou menos de 20 segundos e ficou tão artificial que pareceu uma paródia. Foi um verdadeiro anti-clímax. Vale até destacar que a parede tinha duas marcas de tiro, ou seja, alguém tentou matar a vilã antes e errou. Essa pessoa tem que ser o Marco Aurélio porque era o único que tinha um silenciador na arma. Caso contrário, ninguém no hotel escutaria o barulho de dois tiros antes da outra pessoa chegar para matá-la? E Odete ficou lá parada esperando o próximo assassino? Enfim, são perguntas que esvaziam qualquer mínima racionalidade do roteiro. 

"Vale Tudo" está a menos de duas semanas de seu fim e não há como negar seu sucesso comercial, mas toda a sequência em cima do assassinato da Odete Roitman não repetiu nem um terço do impacto da original e só comprovou que a qualidade no texto, no desenvolvimento da história e na direção do remake é quase inexistente. 

2 comentários:

Anônimo disse...

Lembra que na versão original, no dia do crime só se ouve os tiros. A famosa cena da morte só é mostrada no último dia. Por isso não tem mesmo como comparar.

Lucimar da Silva Moreira disse...

Na versão original foi fantástico, Sérgio abraços.