quinta-feira, 14 de março de 2024

Segunda fase de "Renascer" apresenta histórias principais cansativas e sem construção

 A primeira fase de "Renascer" foi um primor. E Bruno Luperi acertou em cheio ao deixá-la com 13 capítulos, nove a mais que a da versão original que teve apenas quatro por ordens de Boni, que tinha medo do público se apegar demais aos personagens e rejeitar a segunda. O todo poderoso da Globo, no entanto, tinha sua razão. A segunda fase da trama de Benedito Ruy Barbosa apresenta uma queda brusca de qualidade em 1993 e o mesmo acontece agora com o remake. 


Um dos grandes problemas da história é o triângulo central formado por Zé Inocêncio (Marcos Palmeira), Mariana (Theresa Fonseca) e João Pedro (Juan Paiva). Há 31 anos, o enredo sofreu uma forte rejeição do público e quem mais sofreu foi Adriana Esteves, que teve sua atuação massacrada pela crítica especializada e entrou em depressão no fim da novela. No entanto, a atriz não teve culpa e a imprensa preferiu criticá-la ao invés de apontar o equívoco na condução do autor. Tudo o que envolve o trio principal é ruim. 

O fator decisivo para o estranhamento dos telespectadores na época, além do incômodo contexto envolvendo pai e filho se apaixonando pela mesma mulher, foi a rapidez com que tudo aconteceu. Não houve uma mínima construção para deixar aquelas relações críveis. Tudo foi simplesmente jogado e o público que engolisse. Pois não engoliu.

E a chance da adaptação era consertar os erros para, ao menos, diminuir a rejeição ao imbróglio amoroso. Mas Bruno Luperi é conhecido por copiar e colar praticamente tudo o que seu avô escreve e suas alterações são tão sutis que muitas vezes passam despercebidas. A própria emissora também tem sua parcela de culpa ao anunciar "Renascer" como uma obra prima. Afinal, a descrição faz parecer que a produção não tinha defeitos, mas tinha. 

João Pedro conhece Mariana na casa de Jacutinga (Juliana Paes) e se apaixona subitamente a ponto de querer levá-la para sua fazenda naquele instante. O filho caçula do protagonista acaba não levando, mas realiza seu desejo logo no dia seguinte. E os dois já viram grandes amigos enquanto a menina conhece o lugar. E, com uma rapidez assustadora, o rapaz se declara, a beija, e a garota diz que o considera como um irmão. Isso tudo em menos de dois dias. Que paixões e irmandades são essas? Para piorar, Zé Inocêncio conhece Mariana pouco tempo depois e os dois já se 'apaixonam'. Só que a personagem tinha um plano inicial de se vingar do todo poderoso porque é neta de Belarmino (Antônio Calloni) e seu avô foi assassinado por Inocêncio. Mas é outro enredo que acaba desfeito com uma pressa inexplicável. Ela conta no dia seguinte toda a verdade sobre sua origem. Um plot que, poderia render uma catarse mais adiante, é simplesmente jogado no lixo. 

E ainda é necessário acrescentar que, também em tempo recorde, Mariana pergunta a Inocêncio se pode chamá-lo de 'painho'. Ele permite e o termo logo vira um apelido carinhoso. É importante ressaltar que nada é pior para a teledramaturgia do que moralismo, mas há de convir que isso contribui mais ainda para a rejeição da menina diante da audiência. Se a personagem fosse mesmo uma mulher vingativa que estivesse usando pai e filho para dar um golpe, seria compreensível o objetivo do autor. Mas não é o caso. Tudo é contado de forma romantizada e sem qualquer construção. O pior é o sofrimento do filho caçula por uma mulher que ele conheceu há menos de uma semana. Beira o ridículo. E a correria da narrativa é tão grande que Inocêncio e Mariana se casam em menos de um mês.

A pressa em contar essa história não se justifica porque não há qualquer carta na manga a ser usada ao longo dos meses. Essa ladainha envolvendo o triângulo perdura ao longo da novela e em um ritmo arrastado, que só provoca desinteresse. O remake não poderia ter ao menos desenvolvido melhor esse sentimento entre os personagens para deixá-lo menos superficial? Evitar a rejeição seria difícil, mas certamente deixaria o conjunto mais palatável a ponto de compreender o sofrimento do filho caçula e a paixão que surgiu entre o fazendeiro e a neta de seu falecido inimigo. O ponto positivo em meio a tantos equívocos é a chegada de Sandra, antes vivida por Luciana Braga e agora pela talentosa Giullia Buscacio, que mexe com João Pedro. 

O problema é que a segunda fase não tem apenas o núcleo central com o desenvolvimento falho. A trama de Buba (Gabriela Medeiros) também peca pelo atropelo dos acontecimentos. Assim como aconteceu na versão original, o público conheceu Venâncio (Rodrigo Simas) e Buba já tendo um caso. A única diferença da história de 1993 é que agora a personagem é trans e não intersexo --- o termo usado na época era hermafrodita. O público não viu o surgimento desse amor, o que nem faz sentido já que eles nem tinham transado ainda. E essa apresentação deixa o drama dos personagens rasa. Afinal, o irmão de João ainda é casado com Eliana (Sophie Charlotte), acabou de pedir o divórcio e já levou a amante para a fazenda do pai para conhecer Mariana. Buba ficou lá por pouco mais de uma semana e trocou duas palavras com Inocêncio, mas foi o suficiente para a personagem se encantar com o sogro a ponto de querer dar um neto a ele. E o desejo virou obsessão. O casal só fala disso o tempo todo e Buba atropelou recentemente uma moradora de rua. Preocupada, a psicóloga levou a jovem para casa e lá descobriu que Teca (Lívia Silva) está grávida. Agora há um interesse em cuidar da menina até ela parir a criança e assim ficar com o bebê. É uma situação que exigia o mínimo de cuidado para despertar a empatia do telespectador. Mas não houve. Foi tudo tão jogado que a única percepção possível é que todos ali são um bando de desequilibrados. E novamente a pergunta se faz necessária: qual o motivo da pressa? O resultado da correria inicial tem sido um enredo agora enfadonho e caminhando a passos lentos. 

A segunda fase de "Renascer" vem cometendo os mesmos erros da versão original e com o agravante dos problemas serem de dois núcleos principais. Vale lembrar que o chamariz da história de 1993 era em cima da saga de Tião Galinha, antes interpretado pelo brilhante Osmar Prado e agora vivido pelo excepcional Irandhir Santos, e do casal Egídio (antes Herson Capri e hoje Vladimir Brichta) e Dona Patroa (antes Eliane Giardini e hoje Camila Morgado). Porém, nem eles têm conseguido despertar um maior interesse diante da monotonia do enredo, o que também era um dos problemas da obra de 1993. Resta aguardar como esse conjunto se desdobrará ao longo dos próximos meses. 

21 comentários:

Anônimo disse...

Não sabia que o Boni que tinha vetado a primeira fase ser maior em 93 pro público não se apegar. Foi justamente o que aconteceu dessa vez foi maior e nos apegamos aos personagens mesmo e considerando que o enredo da segunda fase é horrível fica praticamente impossível desapegar da obra de arte que foi a primeira fase.

Anônimo disse...

Não acompanho "Renascer", mas os equívocos após o término da primeira fase do folhetim não tardaram a surgir, a começar pela preservação das problemáticas da versão original de 1993, em termos de condução da narrativa. Acredito que a previsão de 197 capítulos também seja outro erro da novela, por contar com apenas 16 a menos que a obra de 31 anos atrás, e caso Bruno Luperi opte por manter o ritmo arrastado estabelecido por seu avô, Benedito Ruy Barbosa.

Guilherme

Pedrita disse...

eu não tenho identificação com esse estilo antigo de novela. acho as tramas datadas. a primeira fase vi um pouco mas me irritava tb. ótimo elenco. mas tudo é velho. cheira a velho. a atriz que faz a inácia está maravilhosa, mas é a eterna mulher da cozinha. queria tramas novas. elas pro elas estragaram e deu ibope. uns 5 sequestros seguidos, aí bombou. mas eu amava como era antes. os personagens se descaracterizaram, mas o público tá gostando do sensacionalismo. beijos, pedrita

Anônimo disse...

Assistir renascer original no globoplay achei um porre segunda fase novela só presta na primeira Pantanal muito melhor tem personagens mais interessante tudo bem tem uma barriga mais mesmo assim novela na minha opinião foi ótima não e atual que fez sucesso diferente adormecer

Anônimo disse...

Se fosse o autor teria transformando Mariana e um vila que se passar de boazinha mais que tentar matar Zé Inocêncio várias vezes também teria feita ela se aliada do coronel Egídio que destruir os Inocêncios assim como Agatha de terra e paixão

Adriana Helena disse...

Nossa Sérgio, você falou tudo e mais um pouco do que está acontecendo com a segunda fase da novela...Que pena, acabou o encanto e agora a trama de arrasta...
Apenas o Tião Galinha está dando um show mas ele aparece pouco...
Os demais personagens estão monótonos!!
Obrigada por essa perfeita análise amigo!!
Lindo final de semana!

RÔ - MEU DIÁRIO disse...

Fico pensando se com todas as mídias, se os que apreciam novelas hoje tem a mesma paixão que nossos pais e avós tinham. Sem contar que hj há tantas opções... Adorei sua matéria. Bju

FABIOTV disse...

Olá, tudo bem? Infelizmente, a segunda fase de Renascer está muito aquém da obra original. A produção não tem o sangue da Bahia. O sol baiano desapareceu. Tião Galinha ganhou um tom circunspecto equivocado. Erraram na mudança do perfil da Buba. Abs, Fabio www.blogfabiotv.blogspot.com.br

Marly disse...

Já vi, nas redes sociais, umas três publicações que criticavam o fato da moça chamar o Zé Inocêncio de 'painho'. Muitos associavam a palavra à expressão 'sugar daddy'.

Beijão

Sérgio Santos disse...

Pois é, anonimo...

Sérgio Santos disse...

Tudo se repetindo, Guilherme...

Sérgio Santos disse...

Boa ponderação, Pedrita.

Sérgio Santos disse...

É isso, anonimo.

Sérgio Santos disse...

Aí sim seria ótimo, anonimo.

Sérgio Santos disse...

Concordo, Dri.

Sérgio Santos disse...

Isso é verdade, Ro.

Sérgio Santos disse...

Mts equívocos, Fabio.

Sérgio Santos disse...

É verdade, Marly...

Anônimo disse...

Ele poderia ter feito mudanças nessa trama principal, feito de uma forma diferente esse "amor" explosivo do nada de JP por Mariana não entra na minha cabeça, e outra na própria trama original ela vem pra se vingar do Inocêncio e simplesmente Benedito deixou isso de lado...
Luperi poderia sim colocar ela pra se vingar dele fato nessa versão que não alteraria a trama e nem o final dela em si, mas não da pra esperar muito dele né.

Sérgio Santos disse...

Nao da mesmo, anonimo...

Anônimo disse...

Pra mim é difícil lidar com isso porque José Inocêncio foi o meu primeiro crush na versão original, e a interpretação de Marcos Palmeira não faz jus a ele. Em 1993 Antônio Fagundes foi desejado por muitos homens e mulheres, mas hoje ele provoca antipatia extrema. Se fosse interpretado por um ator mais carismático, ele conseguiria superar isso, mas o carisma - assim como a beleza e a sensualidade - de Palmeira é zero. Uma prova é que, mesmo com a problemática, Antônio Fagundes e Adriana Esteves tinham química, enquanto Palmeira e Thereza Fonseca têm zero química nesse aspecto.

Mas é muito triste para mim ver a história que me fez perceber minha sexualidade, aos 11 anos, ser conspurcada por esse remake malfeito.