segunda-feira, 28 de março de 2022

"Pantanal": o que esperar da nova novela das nove?

 O remake do sucesso de Benedito Ruy Barbosa, exibido na Rede Manchete, em 1990, vem sendo tratado pela Globo como o salvador do horário nobre. Isso porque a emissora vem em um processo de divulgação massiva há quase um ano, o que refletiu diretamente na campanha porca de "Um Lugar ao Sol", escrita por Lícia Manzo, que chegou ao fim com uma baixa audiência. A nova produção, que estreou nesta segunda-feira (28), é adaptada pelo neto de Benedito, Bruno Luperi, que escreveu junto com o avô a problemática "Velho Chico", exibida em 2016. 

"Pantanal" é uma saga familiar que tem o amor como fio condutor e a natureza como protagonista. Fonte da maior concentração de fauna das Américas e maior planície alagada do mundo, o Pantanal foi inspiração para a obra escrita há mais de 30 anos por Benedito e dirigida na época por Jayme Monjardim ---- agora com direção artística de Rogério Gomes. No tronco central dessa jornada, repleta de dramas familiares e conflitos, está a história do velho Joventino (Irandhir Santos) e seu filho, José Leôncio (Renato Góes / Marcos Palmeira). A vida como peão de comitiva os levou para o Pantanal, onde Joventino aprendeu a lição mais importante de sua vida: que a natureza pode mais do que o homem. Ao confiar o seu destino nas mãos da natureza, o peão compreende que na lida - e na vida - nada se conquista através da força, ou no laço, como ele acreditava. Nascia, assim, a lenda do maior peão de toda aquela região. Velho Joventino ficou afamado por trazer os bois selvagens, os ditos marruás, no feitiço. Porém, foi logo após essa compreensão, que Joventino desapareceu sem deixar rastros, deixando o filho, José Leôncio, sozinho à espera de seu pai.
 
Cinco anos depois, em uma viagem ao Rio de Janeiro, José Leôncio se apaixona e casa com Madeleine (Bruna Linzmeyer / Karine Teles). Os dois se mudam para o Pantanal onde nasce Jove (Jesuíta Barbosa). A passagem de Madeleine pela fazenda, porém, é um caos. Com saudade da vida urbana e da mordomia da mansão de seus pais no Rio de Janeiro, a jovem não se acomoda àquela sina de solidão que é ser mulher de peão.

Com o marido sempre em comitivas, ela se vê obrigada a conviver com Filó (Leticia Salles / Dira Paes), funcionária da casa a quem pouco conhece e nada confia. A verdade é que Madeleine não entende bem a relação de Filó com Zé Leôncio, tão pouco a relação dele com Tadeu (José Loreto), filho de Filó e afilhado do patrão. O que Madeleine não sabe é que Filó era uma morena de currutela – prostitutas que vivem nas vilas por onde as comitivas passam – com quem José Leôncio se relacionou em uma de suas viagens no passado.
 
Madeleine foge do Pantanal levando Jove, ainda bebê, de volta para a mansão da família Novaes. O menino cresce longe das vistas do pai, que se viu incapaz de brigar pela guarda do filho. Zé jamais deixou de cumprir suas obrigações legais, enviando fielmente uma quantia excepcional de pensão mensal. Sem se dar conta que, onde sobra dinheiro, falta o afeto. Jove cresce acreditando que seu pai havia morrido, enquanto Zé, sem saber da mentira criada pela ex-mulher, não procurava o filho, acreditando ter feito o melhor ao se afastar de vez de Madeleine.
 
Na ausência de Jove, o fazendeiro encontra em Tadeu um herdeiro, mais do que para as suas terras, para os valores e tradições de sua família. Alguns anos após a partida de Madeleine, Filó diz que Tadeu também é filho de José Leôncio. Apesar da alegria dos três com a revelação - em especial de Tadeu -, a informação é guardada por eles à sete chaves. De forma que, da porta para fora, Tadeu segue apenas como afilhado do patrão, o que lhe doí profundamente.
 
Duas décadas se passam marcando a mudança de fase na novela. Jove descobre que seu pai está vivo e vai à sua procura. É desse encontro e toda sua enorme expectativa, marcados por uma festança para todo o povo da região da fazenda, que começam os grandes conflitos entre os Leôncio. Embora desejem profundamente viver a relação entre pai e filho, Zé e Jove são confrontados por um abismo de diferenças comportamentais e culturais, inaceitáveis aos olhos um do outro. Não bastasse as diferenças entre eles, o rapaz ainda precisa lidar com o ciúme de Tadeu, que carrega no peito o vazio de não sentir-se filho legítimo de José Leôncio. Um bastardo. Amado, mas não reconhecido. Para completar a confusão familiar, em determinado momento todos são surpreendidos com a chegada de um terceiro filho para disputar o amor e a admiração deste pai: José Lucas de Nada (Irandhir Santos) chega à fazenda por obra do destino e descobre ali os laços familiares que nunca teve.
 
O cenário pantaneiro abriga ainda o encontro entre Jove e Juma Marruá (Alanis Guillen). Filha de Maria Marruá (Juliana Paes) e Gil (Enrique Diaz), a jovem não abre a guarda para ninguém. Apesar da pouca idade, Juma é uma mulher forte, que aprendeu com a mãe a se defender do "bicho homem", a espécie mais perigosa que pode vir a rondar a tapera onde mora. Também pudera. Foi o bicho homem que levou seu pai, sua mãe e cada um de seus irmãos. Forjada pela desconfiança, Juma se torna uma mulher selvagem e arredia. "Não existe quem consiga domar aquela onça" dizem. Porém, as mesmas razões que afastam Jove de José Leôncio, o aproximam de Juma. Entre eles, uma linda paixão se inicia. Um amor puro, fruto desse encontro improvável e natural, que marca para sempre o destino de todos. Contudo, não demora para que as diferenças culturais e sociais do casal tornem a relação em muitos níveis complicada e bastante improvável. Para a alegria de uns e lamento de outros.
 
Em cada detalhe deste conto, há um fator comum: a necessidade de aceitar a natureza como ela é. E o grande porta-voz deste ensinamento é o Velho do Rio (Osmar Prado). Um encantado – uma entidade sobrenatural –, que na maior parte do tempo assume a forma de uma sucuri (a maior de todo o Pantanal), mas que também se apresenta na forma humana. O Velho do Rio é responsável por cuidar não só daquelas terras e dos animais que ali habitam, mas por zelar pelas relações interpessoais que se desenrolam por lá. Para ele, o homem é o único ser que queima as árvores que lhe dão o ar e envenena a água que bebe. Essa e outras lições vão moldando os caminhos dos personagens, ao passo em que vão apresentando soluções e mais mistérios àquele universo. E ele não é o único. Os moradores da região acreditam fielmente que Maria Marruá (Juliana Paes) vira onça, principalmente, quando precisa defender os seus, ou "quando fica com réiva". E não se espantariam se descobrissem que o “dom” teria sido passado à Juma.
 
Além dos conflitos principais, a música é outro grande destaque desta história. Foi há 32 anos e continuará sendo agora. A presença de Almir Sater, que esteve na versão escrita por Benedito, e retorna agora, é um capítulo à parte. Almir vive o chalaneiro, Eugênio, que leva e traz as pessoas ao Pantanal e, por isso, passa por quase todos os núcleos. Dentre os duetos especiais, o público terá a oportunidade de ouvi-lo tocar ao lado de Chico Teixeira (filho do parceiro de estrada de Almir, Renato Teixeira), que dará vida ao peão Quim na primeira fase da novela. Já durante as famosas rodas de viola que marcaram a segunda fase da versão original, Eugênio participará ao lado de Tibério (Guito) e Trindade, papel de Gabriel Sater, que encara o desafio de refazer o personagem original de seu pai.
 
"Pantanal" é escrita por Bruno Luperi, baseada na novela original escrita por Benedito Ruy Barbosa. A direção artística é de Rogério Gomes, direção de Walter Carvalho, Davi Alves, Beta Richard e Noa Bressane. A produção é de Luciana Monteiro e Andrea Kelly, e a direção de gênero é de José Luiz Villamarim. 
Como toda adaptação, a história original passa por mudanças e atualizações necessárias para conversarem com uma nova realidade e uma nova geração. As atualizações, claro, não se limitam ao texto, mas também nas imagens fascinantes do Pantanal que serão atualizadas com a tecnologia digna de 2022. As primeiras imagens já estão de encher os olhos. 

20 comentários:

Anônimo disse...

Espero apenas que cumpra com os requisitos apresentados por um produto de qualidade, mas acredito que a fotografia e a trilha sonora serão alguns dos trunfos do folhetim.

Guilherme

Pedrita disse...

eu tive muita dificuldade de embarcar no trabalho do peão e nos bois. me deu sensações ruins, não boas. beijos, pedrita

Ane disse...

Essa novela promete muito,
tomara que seja um sucesso,
como foi a anterior.

Ane 🌷
De Outro Mundo

Lois Racca disse...

Texto impecável, como sempre!

Roseli disse...

Por enquanto, estou adorando a novela. Os dois primeiros capítulos foram incríveis. E o Irandhir Santos, que show de interpretação! Esse ator é demais.

Roseli disse...

E adorei saber que a música 'Vaqueiro de Profissão', do Jair Rodrigues, faz parte da trilha sonora. Gosto muito dessa música.

Roseli disse...

Corrigindo: a música do Jair Rodrigues chama-se 'Disparada'.

Jovem Jornalista disse...

Uma novela que ficou no imaginário do público. Parece ser interessante.

Boa semana!

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Até mais, Emerson Garcia

Eslane Costa disse...

Ainda criança tive a chance de assisti a versão original, e criança ainda, ficava encantada, apaixonada no amor construído pelos personagens principais e especialmente pelo encanto da natureza. Começou de forma brilhante e que continue assim. Torço muito. O trabalho está realmente lindo, de encher os olhos.

Anônimo disse...

Vi dizer que a versão original da Rede Manchete teve muita barriga por causa do sucesso. Tinha episódio que era dez minutos de historia e o restante do tempo era apenas imagens do pantanal. Não assisti a versão original, então não sei se é verdade. Se for verdade mesmo tomara que esse remake corrija esse erro e essa versão seja redonda e sem barriga. O começo está muito bom. Estou na ansiedade para ver Juma Marruá na pele de Alanis Guillen. E que sorte dessa atriz em protagonizar um remake de um sucesso dentro do horário nobre logo depois de um único trabalho em Malhação. Imagino que vá se sair muito bem.

Sérgio Santos disse...

Por enquanto está, Guilherme.

Sérgio Santos disse...

Entendo, Pedrita.

Sérgio Santos disse...

Tem sido, Ane.

Sérgio Santos disse...

Louis, sempre querida!!!

Sérgio Santos disse...

É mesmo, Roseli.

Sérgio Santos disse...

Idem, Roseli.

Sérgio Santos disse...

Sim, Emerson!

Sérgio Santos disse...

Está, Eslane.

Sérgio Santos disse...

Tomara, anonimo.

Sérgio Santos disse...

Trilha linda, Roseli.