"Quanto Mais Vida, Melhor!" ganha fôlego com a impagável troca de corpos dos protagonistas

 A ousada nova fase da novela das sete da Globo teve início com o gancho do capítulo de sábado, dia 26. Após o primeiro encontro com a Morte (A Maia), os protagonistas receberam o aviso de que todos teriam uma segunda chance na vida, mas um deles morreria em um ano. Nenhum pareceu ligar muito para o ultimato. Não demorou para cada um, ao invés de amadurecer e evoluir, enfiar os pés pelas mãos e piorar tudo o que já estava ruim. Agora, para se vingar e dar uma lição no quarteto, a 'toda poderosa' os trocou de corpos. 

Mauro Wilson sempre deixou claro que a história que ele queria contar é a que começa a ir ao ar a partir de agora. Tudo o que já foi apresentado de Flávia (Valentina Herszage), Neném (Vladimir Brichta), Paula (Giovanna Antonelli) e Guilherme (Mateus Solano) era, nas palavras do autor, uma preparação para a nova fase. Vale ressaltar que o recurso da inversão de papéis é algo corriqueiro no cinema, vide "Se Eu Fosse Você 1 e 2" (2006 e 2009), com Tony Ramos e Gloria Pires, e "Sexta-Feira Muito Louca", de 2003, citando apenas alguns. Mas é a primeira vez que ocorre em uma novela. 

E, com o perdão do trocadilho, "Quanto Mais Vida, Melhor!" ficou ainda melhor com a deliciosa novidade. Todo o processo para a mudança na vida de cada um dos protagonistas foi feita de forma habilidosa e caprichada.

Houve, de fato, um intenso preparo da equipe de direção de Allan Fiterman com os atores e uma ótima estruturação do roteiro por parte de Mauro. Um ajudou no suporte do outro. E o resultado tem sido incrível. A começar pelo capítulo que deu o pontapé para a grande virada. 

Criativa ideia do autor de provocar um segundo encontro com a Morte por conta de uma nova ruína na vida dos protagonistas. Paula fingiu que morreria em seis meses para se casar com o Neném e acabou desmascarada pela rival Carmem (Júlia Lemmertz) em pleno altar; Neném, além da descoberta da farsa de sua futura esposa, caiu em uma armação e foi pego no antidoping; Flávia precisou se envolver com Roni (Felipe Abib) e Cora (Valentina Bandeira) para livrar o pai da cadeia e quase foi assassinada; já Guilherme, em meio a várias dificuldades no processo de seu divórcio com Rose (Bárbara Colen), descobriu que Antônio/Tigrão (Matheus Abreu) é filho de Neném. A avalanche de desgraças resultou em um grave acidente de carro, com Guilherme, que dava carona a Flávia, batendo de frente no veículo de Paula, que estava com Neném. Toda a sequência ficou muito bem-feita, assim como o novo encontro com a Morte, que teve um clima bem mais sombrio que da primeira vez. 

Já a cena da troca de corpos entrou para a lista das melhores da novela. Ao som de "Metamorfose Ambulante", de Raul Seixas, os quatro foram dormir e acordaram com outras vidas. A situação ainda ajudou a explicitar a razão de tanto destaque em torno do despertar dos protagonistas. Foram muitas sequências que repetiram a rotina de cada um concomitantemente através de uma divisão quádrupla de tela. Não foi por acaso. Fez toda a diferença na hora de observar quarteto se dando conta do caos instaurado. Por ironia do destino (e boa sacada do autor), os ricos ficaram no lugar dos pobres. Flávia ficou com o corpo de Guilherme, Guilherme com o de Flávia, Paula com o de Neném e Neném com o corpo de Paula. E agora os privilegiados serão obrigados a passar por muitas situações que sequer pararam para imaginar. Ao mesmo tempo que todos finalmente deixarão de olhar um pouco para si e enxergarão os problemas da vida do outro. 

Mas claro que a comicidade é um dos pontos mais altos da virada do enredo. A troca já tem rendido momentos impagáveis, como Flávia adorando se ver no corpo do homem que tanto cobiçou, Paula 'balançando as partes' de seu ex, Neném se chocando com a vida recheada de exageros de sua ex-futura-esposa e Guilherme desesperado com aquela vida repleta de roubadas de Flávia. A reação dos personagens a tantas mudanças de personalidade tem rendido situações deliciosas. E vale um adendo especial ao minucioso trabalho de composição dos atores. Todos já sabiam que a troca aconteceria, portanto, já iniciaram as gravações imprimindo características em seus personagens que pudessem ser copiadas pelos colegas. Deu muito certo. 

É possível ver claramente a Paula no corpo do Neném com Vladimir Brichta copiando todos os trejeitos de Giovanna Antonelli. Giovanna, por sua vez, tem se saído muito bem imitando um jogador que não tem qualquer intimidade com moda ou produtos de beleza. E o que dizer de Mateus Solano plagiando o sarcasmo de Flávia? Guilherme ficou irreconhecível. Não há mais nada daquele cirurgião amargo e fechado. Valentina também está ótima representando aquele jeito reclamão e introspectivo do 'doutor das galáxias'. Aliás, Flávia é a única que está se divertindo. E faz todo sentido. Nunca gostou da sua vida e foi a protagonista que menos errou, ou seja, a Morte no fundo está dando um presente para a dançarina. 

"Quanto Mais Vida, Melhor!" tem tudo para seguir ainda mais atrativa ao longo dos próximos meses. A nova fase deu um fôlego importante para a história e já é sabido que o quarteto ficará com os corpos trocados por um bom tempo. Vale uma menção honrosa ao genial trabalho da equipe de Allan Fiterman trocando os nomes dos protagonistas na abertura e o ritmo de cada um. É praticamente uma nova novela no ar com os mesmos personagens. Que boa surpresa de Mauro Wilson.