sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

"Paraíso Tropical" foi a melhor novela da dupla Gilberto Braga e Ricardo Linhares

 O Viva resolveu reprisar "Paraíso Tropical", após o sucesso da segunda reexibição de "A Viagem". São folhetins totalmente distintos, mas a reprise, em plena reta final, provou que foi uma boa escolha. A novela foi exibida em 2007 e sofreu um forte rejeição inicial. Isso porque o casal de mocinhos não emplacou e o enredo não prendeu o telespectador. No entanto, ao longo dos meses, os autores conseguiram reverter a dificuldade e emplacaram a história, que chegou ao fim como um grande sucesso. 

A verdade é que a novela nunca foi ruim, nem mesmo no período que sofreu rejeição da audiência. O conjunto se mostrou muito bem estruturado desde o começo e impressiona como todos os núcleos têm atrativos e se complementam. Há uma gama de personagens construídos com densidade e vários enfrentam conflitos convidativos, principalmente os vilões. Aliás, há vários no enredo e todos responsáveis por boas movimentações nos núcleos. 

A produção marcou o início da parceria de Gilberto Braga e Ricardo Linhares. Ricardo já tinha colaborado com o veterano no sucesso "Celebridade", de 2003, mas "Paraíso Tropical" foi sua estreia como autor titular ao lado de Braga. Embora a dupla tenha penado com a audiência nos meses iniciais, o resultado foi positivo. Escreveram um novelão.

No entanto, foi a primeira e única vez que a dupla funcionou e apresentou um grande folhetim para o público. Os dois trabalhos posteriores foram decepcionantes: a problemática "Insensato Coração" (2011) e a fracassada "Babilônia" (2015). 

Vale lembrar que "Paraíso Tropical" enfrentou um problema pouco antes de ter o título efetivado. Isso porque se chamaria "Copacabana". Mas como o nome já estava registrado, a Globo precisou mudar. E assistindo ao enredo fica claro como o título original cabia melhor. A todo momento os personagens falam sobre o tradicional bairro 'nobre' do Rio de Janeiro e quase toda a ação é passada lá. Os perfis que mais representam o lugar são Belisário e Virgínia, interpretados pelos saudosos Hugo Carvana e Yoná Magalhães. O sujeito é o típico bon vivant e sua esposa uma carismática ex-vedete. Os dois brilham sempre que aparecem e foi ótimo ver Hugo vivendo um tipo tão diferente do poderoso Lineu, seu trabalho anterior, em "Celebridade". 

Aliás, Belisário é pai do milionário e bem-sucedido Antenor Cavalcante (Tony Ramos), um personagem que aparenta ser vilão, mas se mostra um perfil ambíguo muito interessante e brilhantemente vivido pelo ator. É até complicado contar sobre o enredo da novela porque os autores foram inteligentes na narrativa. Há vários conflitos que muitas vezes começam e são encerrados a cada duas semanas, no máximo. O folhetim vai se renovando a cada período, o que provocou estranhamento na época. A única trama que tem um arco constante (e por isso até cansativo) é a procura de Daniel (Fábio Assunção) por Paula (Alessandra Negrini). Os inúmeros desencontros dos protagonistas nos primeiros meses abusam da inteligência do telespectador. Ainda assim, não prejudicam a novela. A verdade é que Gilberto Braga sempre foi péssimo na construção de mocinhos. Nunca emplacou nenhum. Já com os vilões o sucesso é quase garantido. E o equívoco dos 'herois' de "Paraíso Tropical" foi visto logo no primeiro capítulo. Dificilmente o telespectador é conquistado por mocinhos que se apaixonam subitamente na estreia e em menos de uma semana já tem o pedido de casamento. Foi o que aconteceu com Paula e Daniel. 

Vale ressaltar que o problema dos protagonistas nada teve a ver com os atores. Fábio Assunção defendeu seu Daniel com talento, assim como Alessandra. No caso, a atriz ainda mostrou seu talento na pele da vilã Taís, a gêmea má de Paula. É importante a ressalva porque Gilberto Braga foi grosseiro com Alessandra algumas vezes. Em mais de uma entrevista, o autor declarou que não gostou da atuação da atriz e que queria Cláudia Abreu interpretando as gêmeas. Mas a verdade é que mesmo a Cláudia não faria milagre na pele da insuportável Paula. Uma mocinha insossa, burra, apática e sem carisma. Tanto que a personagem fica bem deslocada da história e ninguém sente falta. Já a picareta Taís está sempre em foco e movimentando seu núcleo, ao mesmo tempo que mexe no enredo central quando deixa Daniel desnorteado com a descoberta de que seu amor tem uma irmã idêntica. 

A trama tem sua primeira grande virada quando Paula finalmente encontra Taís e grita pela irmã, que se choca ao ver uma mulher que parece seu espelho e acaba atropelada. Ao mesmo tempo, o enredo desperta a atenção do público em torno da trama de Ana Luíza (Renée de Vielmond) e Lucas (Rodrigo Veronese). A esposa de Antenor sempre foi traída pelo empresário e acabou virando a verdadeira mocinha da novela. Principalmente quando encontrou seu príncipe encantado, um homem bem mais jovem. O melhor é que os ótimos personagens foram muito bem interpretados por atores não tão conhecidos do público. Após alguns trabalhos na Record e no SBT, era a estreia de Rodrigo na Globo. Já Renée estava afastada da televisão desde 1998 ---- e depois novamente voltou a sumir da telinha. O casal fez sucesso e os dois brilharam. Infelizmente, o enredo da dupla fazia parte dos arcos que se fechavam bem antes do final. A milionária perde seu conflito quando descobre a traição do marido e fica com Lucas. Os dois acabam deixando a novela bem antes da metade. O êxito faz com que voltem e adotem uma criança, mas apenas nos meses finais. 

Já outro casal que fez sucesso e roubou a cena foi Olavo (Wagner Moura) e Bebel (Camila Pitanga). Aliás, os vilões viraram a referência do folhetim. Até hoje lembram mais deles do que do título "Paraíso Tropical". Virou a 'novela de Olavo e Bebel'. E basta assistir para entender a razão. O vilão invejoso vivido pelo sempre talentoso Wagner só cresceu no enredo quando se juntou com a prostituta interpretada com total entrega por Camila em seu melhor momento na tevê. Viraram uma dupla perfeita. Isso porque a ambiciosa garota de programa despertava um lado bom até então desconhecido do vilão, que sempre tratou todos com profundo desprezo e muita arrogância. O amor que Olavo passou a nutrir por Bebel o humanizou, o que deixou o empresário canalha ainda mais interessante. Já Bebel sempre funcionou como um elemento cômico delicioso graças ao talento da atriz, que adotou uma interpretação caricata que vestiu muito bem no papel. O bordão "Eu tenho 'catiguria'" fez sucesso, assim como a expressão 'elegante' em uma festa executiva: "Que boa ideia este casamento primaveril em pleno outono". 

A novela também teve outros personagens bem construídos e interpretados, vide a íntegra Lúcia, que formou um ótimo par com Antenor, repetindo a bem-sucedida parceria de Gloria Pires e Tony Ramos (vista na novela "Belíssima" e nos filmes "Se Eu Fosse Você" 1 e 2). Aliás, o filho dela, Mateus (Gustavo Leão em sua estreia), também teve uma boa trama em torno da aproximação com o pai biológico que não queria vínculos afetivos, Cássio (Marcello Antony), e sua sintonia com Patricia Werneck (Camila) era visível. Vale destacar também a interesseira Marion (grande Vera Holtz) e sua parceria com Cláudio (Jonathan Haagensen), assim como seu filho, o 171 Ivan (Bruno Gagliasso). Aliás, a cena final de Ivan e Olavo, em um duelo de irmãos, foi um desfecho surpreendente e marcante. Chico Diaz convenceu na pele do cafetão Jáder; a ótima Daisy Lúcidi voltou às novelas na pele da síndica fofoqueira Iracema; Flávio Bauraqui brilhou como Evaldo, joalheiro que enfrentava o alcoolismo; e Beth Goulart merece só elogios como a ambiciosa Neli, seu melhor papel na televisão. Lidi Lisboa(Tatiana), Isabela Garcia (Dinorá), Marco Ricca (Gustavo), Yaçanã Martins (Otília); Débora Duarte (Hermínia), Reginaldo Faria (Clemente), Othon Bastos (Isidoro), Nildo Parente (Pacífico), Roberta Rodrigues (Eloísa) e José Augusto Branco (Nereu) são outros nomes que merecem menção. 

"Paraíso Tropical", dirigida por Dennis Carvalho, foi um novelão e estava na hora de se reprisado. A reta final, toda voltada para o assassinato de Taís, não deixa a temperatura do enredo diminuir. A Globo poderia até ter escolhido a trama no lugar de "Império". Mas o Viva acabou levando a reprise e tem se mantido em primeiro lugar entre os canais a cabo na hora de sua exibição. 

24 comentários:

Anônimo disse...

"Paraíso Tropical" (2007) de fato mereceu o sucesso em sua exibição original na TV Globo, e o Canal Viva acertou em cheio escalando o folhetim após levar "A Viagem" (1994) ao ar pela segunda vez. A novela primou pelo conjunto de qualidades, e nem mesmo a péssima construção dos mocinhos característica do saudoso Gilberto Braga prejudicou o resultado final.

Guilherme

Anônimo disse...

Essa novela foi mt injustiçada. Só falam de Bebel e Olavo como se tudo se resumisse a isso.

Anônimo disse...

AH QUE TEXTO MARAVILHOSO! EU AMO ESSA NOVELA.

Gustavo Carnizella disse...

Texto preciso. Só discordo em relação a você dizer que Gilberto nunca emplacou um casal. Raquel e Ivan, de Vale Tudo, é maravilhoso.

Pedrita disse...

eu amo essa novela, já tinha visto inteira da outra vez, fui ver de novo e não queria perder um capítulo. foi incrível rever o ótimo texto. esses dias marion falou que era uma questão de semântica. ótimo texto. beijos, pedrita
comentei aqui na época https://mataharie007.blogspot.com/2007/10/assisti-novela-paraso-tropical-2007-de.html

Marcio Silva disse...

"Paraíso Tropical", é uma das melhores novelas das 8 dos anos 2000, assisti 2 vezes(2007 e 2019), marcou minha adolescência, principalmente, as gêmeas Paula e Taís, era fascinante (pra mim) a rivalidade das irmãs gêmeas, sem precisar do artifício (retrógrado) da vilã, ser apaixonado pelo mocinho, Gilberto Braga, era um dos únicos autores (da Globo, porquê na Record vilão sempre teve) que investem em vilões masculinos, Olavo,Ivan, Jader, Cadelão e Humberto, podem não ser os melhores malvados da tv, mas fizeram maldades, que deixa muita vilã loira no chinelo kkkkkkk, e o melhor, nenhum era apaixonado pela protagonista Paula, folhetim tem esse defeito, geralmente, antagonista homem tem a "maldição" de ser apaixonada pela "mocinha, e suas motivações são "por amor"(ninguém merece vilão romântico) kkkkk!!!!!!!!!!

Marcio Silva disse...

Eu acho injustiça também, dizer que "Paraíso Tropical" se resume Olavo e Bebel, a Taís também "roubou" a cena,Ana Luíza e Antenor, foram um casal(eu sei que eles, não terminaram juntos) realístico, até a Marion era divertida, sendo tranqueira kkkkkkk!!!!!!!!

Isa Sá disse...

Se não me engano essa novela passou em Portugal!

Isabel Sá
Brilhos da Moda

Fá menor disse...

E tudo fica bem quando acaba bem! :)

Fatyma Silva disse...

Olá, Sérgio! Tudo bem contigo?
A novela Paraíso Tropical é uma das melhores, vale a pena uma reprise!

Tenha uma boa tarde de domingo.
Beijos, saúde e paz.

FABIOTV disse...

Olá, tudo bem? Paraíso Tropical não é das minhas novelas preferidas... Abs, Fabio www.blogfabiotv.blogspot.com.br

Anônimo disse...

O Sergio não se interessa por novelas dos anos 80, coitado, por isso desconhece os casais famosos do Gilberto Braga: Ligia e Nelson de Agua Viva, Raquel e Ivan de Vale Tudo, entre outros.

Sérgio Santos disse...

Perfeito,. Gui!

Sérgio Santos disse...

Concordo, anonimo.

Sérgio Santos disse...

Eu tb, anonimo.

Sérgio Santos disse...

Mas, Gustavo, quando se pensa em Vale Tudo nunca esse casal vem na mente, vem a Maria de Fatima, a Heleninha, a Odete...

Sérgio Santos disse...

Eu tb foz questão de rever, Pedrita. É boa demais.

Sérgio Santos disse...

Boas observações, Marcio.

Sérgio Santos disse...

Foi bem exportada, Isa.

Sérgio Santos disse...

Verdade, Fá.

Sérgio Santos disse...

E teve, Fatyma.

Sérgio Santos disse...

Ok, Fabio.

Sérgio Santos disse...

Verdades, anonimo, casais mt comentados.

Sonia Antunes disse...

Eu adoro as novelas do saudoso Gilberto Braga , como na época que foram lançada eu estudava , estou assistindo pela Globoplay : insensato coração, Babilônia e Paraíso tropical!! Amei demais essas três! AMEI ❤