segunda-feira, 26 de agosto de 2019

Fernanda Young deixa uma lacuna que não será preenchida

O ano de 2019 não anda nada fácil. Em meio a inúmeras grandes perdas no meio artístico, o Brasil perdeu Fernanda Young na madrugada do último sábado (24/08). A atriz, autora, apresentadora e escritora sofria de asma e sofreu uma parada cardíaca durante uma crise. Os médicos não conseguiram reanimá-la. Faleceu aos 49 anos. Foi enterrada na tarde de domingo, no cemitério de Congonhas, na Zona Sul de São Paulo.


A morte inesperada de uma mulher tão jovem chocou todos os fãs e a classe artística. Fernanda deixou o marido, Alexandre Machado, e quatro filhos: as gêmeas Cecília Maddona e Estela May, de 19 anos; Catarina Lakshimi, de 10 anos e John Gopala, também de dez anos. Os nomes de seus herdeiros, por sinal, já deixam claro que Fernanda não era uma pessoa qualquer. Sarcástica, de opiniões firmes e multifacetada, a profissional, que se saía bem em todas as áreas que se dedicava, se consagrou como autora.

Ela e o marido são responsáveis por várias séries de imenso sucesso na televisão, sendo "Os Normais" a mais lembrada até hoje. A trama protagonizada por Rui (Luiz Fernando Guimarães) e Vani (Fernanda Torres) conquistou o público e durou menos no ar do que se imagina: apenas dois anos (2001/2003). Mas originou dois filmes que repetiram o sucesso.
Foi justamente através do seriado que o telespectadores foram apresentados ao humor ferino dos escritores, repleto de situações que debochavam do cotidiano de um casal problemático de classe média. Porém, a autora já havia colaborado anteriormente (1995) com "A Comédia da Vida Privada".

E como Fernanda nunca gostou de ficar parada, em 2004, um ano depois do fim de "Os Normais", produziu ao lado de Machado a deliciosa série "Os Aspones", baseada no cotidiano de funcionários públicos que não faziam porcaria  nenhuma. Infelizmente, a trama teve apenas uma temporada, mas merecia pelo menos umas três. Selton Mello, Drica Moraes, Andrea Beltrão, Marisa Orth e Pedro Paulo Rangel eram os protagonistas de cenas geniais, onde a graça estava no absurdo de uma realidade brasileira. Já em 2005 foi a estreia do quadro "Supersincero", no "Fantástico", protagonizado por Luiz Fernando Guimarães. O sucesso foi tão grande que a autora, juntamente com seu esposo, criou em 2006 "Minha Nada Mole Vida" e colocou Luiz para viver o  principal papel, claramente inspirado em Amaury Júnior e suas coberturas de festas da alta sociedade.

"Separação?!" (2010) também retratou o sarcasmo de Young da melhor forma através de um casal que vivia entre tapas e beijos. Débora Bloch e Vladimir Brichta protagonizaram a produção com maestria. "Macho Man", em 2011, expôs a rotina de um cabeleireiro que perde a memória e deixa de ser gay, embora mantenha todas as afetações que sempre foram peculiares. Jorge Fernando foi o personagem central e novamente os autores contaram com o trabalho de Marisa Orth no elenco. Em 2012, Fernanda escreveu "Como Aproveitar o Fim do Mundo", protagonizada por Alinne Moraes e Danton Mello, aproveitando as teorias sobre o fim  dos tempos que eram elaboradas na época. Mais um êxito para a autora e seu fiel parceiro --- a série foi indicada ao Emmy Internacional.

Até os fracassos (merecidos) expuseram a ousadia de Fernanda, que nunca se contentava com o mais do mesmo. E toda tentativa de sair da mesmice tem um preço. "O Sistema" (2007), "O Dentista Mascarado" (2013) e "Vade Retro" (2017) não foram grandes trabalhos da dupla de escritores, mas ao menos não sofreram várias modificações para elevar a audiência. O erro era mantido até o final para fechar o ciclo sem perder a essência dos respectivos seriados. Esses equívocos, inclusive, implicaram na ida da dupla para o GNT, canal a cabo da Globo. E a dupla reencontrou o êxito com "Surtadas na Yoga" (2013) --- onde Fernanda também trabalhou como atriz ---, "Odeio Segundas" (2015) e "Edifício Paraíso" (2017): três séries divertidas e com as piadas ferinas já conhecidas.

O último trabalho de Fernanda Young com Alexandre Machado foi "Shippados", série escrita especialmente para a Globo Play, protagonizada por Tatá Werneck e Eduardo Sterblich. Encerraram, sem saber, o ciclo com chave de ouro, pois a trama teve ótima aceitação e recebeu vários elogios da crítica. A autora ainda atuaria em uma peça ---- "Ainda Nada de Novo" ---- ao lado de Fernanda Nobre em setembro. Estava sempre na ativa. Vale lembrar, inclusive, seu ótimo desempenho como comentarista no "Saia Justa" (entre 2002 e 2003) e apresentadora no "Irritando Fernanda Young" (2006/2010), "Duas Histéricas" (2011) e "Confissões do Apocalipse" (2012) --- todas as atrações do GNT. É muito triste perder uma pessoa tão jovem e talentosa como Fernanda. Ainda tinha muito o que escrever, produzir, apresentar e atuar. É uma lacuna que não será preenchida. Sua última frase no Instagram a descreve com precisão: "Onde queres descanso, sou desejo".


13 comentários:

Anônimo disse...

Os Normais, na minha opinião, foi a melhor sitcom brasileira. Grande perda, Sérgio. Que Deus a receba e console os familiares.

Anônimo disse...

Nao acredito que ela se foi...

Anônimo disse...

Como autora (de séries e/ou livros), atriz e/ou apresentadora, Fernanda Young deixou sua marca na história da TV brasileira, e deixará muitas saudades.

Guilherme

chica disse...

Realmente chocante,triste!! Que ela descanse em paz ! abraços,chica

Matheus disse...

Recentemente assisti Como aproveitar o fim do mundo pela internet. E AMEI. Vai fazer muita falta. Só ela é o marido conseguiam escrever exatamente daquele jeito que só eles tinham tal habilidade. Era uma identidade. Já deixa saudades e tomara que o marido possa continuar escrevendo bem. Onde ela estiver, estará feliz o vendo seguir nessa carreira.

Zilani Célia disse...

OI SÉRGIO!
EXTREMAMENTE TALENTOSA E MERECEDORA DE TODAS AS HOMENAGENS QUE RECEBEU, PENA QUE TENHA IDO TÃO CEDO, AINDA TINHA MUITO A DAR.
BELA CRÔNICA, AMIGO.
ABRÇS
http://zilanicelia.blogspot.com.br/

Outsiders disse...

Transgressora, Fernanda ficou conhecida por quebrar paradigmas, tanto na televisão, quanto nos livros e até mesmo na vida pessoal. Era ativa no seu perfil na Internet, publicava sobre seus trabalhos no Instagram e fazia críticas sociais.

Você já leu algum livro de Fernanda Young? Aqui está uma lista de livros:

Aritmética
Some triângulos amorosos, traições e desejos, multiplique pelas culpas e você terá como resultado Aritmética, um dos principais romances de Fernanda Young. O livro usa como fio condutor a relação de amantes do escritor João Dias com a aposentada América, ambos com 75 anos, para descrever um círculo de relacionamentos que mistura amor, desejo, raiva, tristeza e frustração numa equação só solucionada nas últimas páginas.

Tudo que você não soube
Fernanda Young troca o humor ácido por um tom amargurado para contar, em primeira pessoa, a história de uma mulher que escreve ao pai moribundo, com quem não fala há anos. Nessa longa carta, a personagem faz um resumo detalhado da sua vida, dividida entre o desejo de chamar a atenção do homem que a colocou no mundo e a vontade de chocá-lo com suas revelações.

Pós-F: Para além do masculino e do feminino
Em sua primeira obra de não ficção, Fernanda Young se insere no acalorado debate sobre o que significa ser homem e ser mulher hoje. Em textos autobiográficos, ela se revela como uma das tantas personagens femininas às quais deu voz, sempre independentes e a quem a inadequação é um sentimento intrínseco. E esse constante deslocamento faz com que Fernanda seja capaz de observar o feminino e o masculino em todas as suas potencialidades.

Estragos
Em Estragos reúne as primeiras aventuras literárias de Fernanda Young, do período entre 1987 e 1995, quando ela tinha entre 16 e 25 anos. Pela primeira vez publicados, os 18 contos deste livro revelam a personalidade de uma jovem buscando seu estilo, um prenúncio do trabalho que viria a desenvolver nos anos seguintes, em seus mais de dez livros publicados.

A sombra das vossas asas
Em A sombra das vossas asas, a autora conta, com sua verve irônica e prosa afiada, a história de Rigel e Carina. Mergulhado num universo de manipulação, fascínio, loucura e dependência, o casal vive um amor destrutivo e, ao mesmo tempo, viciante.

As pessoas dos livros
Prestes a lançar seu terceiro livro e vivendo uma crise criativa e no casamento, a escritora Amanda Ayd se lança num novo projeto literário, que retrata seu sentimento por ela mesma, pelo marido e por sua obra. Mesclando humor e referências pop, a narrativa passeia por três histórias paralelas – a da protagonista e as dos personagens dos livros assinados por ela.


Os melhores momentos de Os normais, com Alexandre Machado
Este livro traz uma seleção dos diálogos mais imperdíveis e impagáveis dos personagens Rui e Vani, as estrelas do programa da TV Globo que virou mania nacional. Os textos revelam toda a faceta dos personagens, revelando histórias inteligentes, apaixonadas e urbanas.


OBS.: Em 2012, o escritor e jornalista Rômulo Zanotto publicou o romance "Quero ser Fernanda Young", uma obra intertextual e antropofágica em homenagem à Fernanda, em que dialoga com a obra literária e audiovisual da autora.

Sérgio Santos disse...

Nem eu, anonimo...

Sérgio Santos disse...

Muitas, Guilherme.

Sérgio Santos disse...

Verdade, Chica.

Sérgio Santos disse...

Tb amei essa série, Matheus!

Sérgio Santos disse...

Merecedora mesmo, Zilani.

Sérgio Santos disse...

Já li sim, Outsiders. Que bom que vc postou essa lista!