terça-feira, 30 de abril de 2019

Débora Falabella e Mariana Ximenes brilharam em "Se Eu Fechar os Olhos Agora"

A minissérie de dez capítulos, escrita por Ricardo Linhares e adaptada do romance de Edney Silvestre, foi um produto muito bem cuidado. "Se Eu Fechar os Olhos Agora" --- encerrada nesta terça, dia 30 --- apresentou um texto inteligente, fotografia de encher os olhos, figurinos e caracterizações impecáveis, personagens dúbios convidativos e ainda teve um elenco escalado com competência. Duas atrizes, por sinal, se destacaram com perfis que representavam os opostos: Débora Falabella e Mariana Ximenes.


Isabel e Adalgisa eram figuras importantes da sociedade da fictícia São Miguel, cidade interiorana do Rio de Janeiro de 1961. A primeira era a elegante primeira-dama, mulher do poderoso prefeito Adriano (Murilo Benício), e a segunda estava casada com o influente empresário Geraldo (Gabriel Braga Nunes), homem que comandava todos ao seu redor através da fortuna de seus negócios. E ambas eram amigas confidentes, ainda que os segredos mais profundos jamais tenham sido revelados.

A esposa do prefeito sempre foi muito bem vista pela população e seu recato era admirado. Já a mulher do empresário despertava olhares tortos em virtude de suas vestimentas mais ousadas e comportamento nada "propício" para damas da época. O irônico do contexto era o 'pecado' que as duas tentaram esconder.
Afinal, os ''segredinhos" evidenciaram a hipocrisia de uma e a certa 'transparência' da outra. Isabel tinha um caso com Renato (Enzo Romani) e sustentava o amante com o dinheiro do marido --- ainda soube que ele tinha um caso com sua filha ---, enquanto Adalgisa era verdadeiramente apaixonada por Anita (Thainá Duarte), menina brutalmente assassinada, e mesmo assim nutria um carinho pelo esposo, escondendo o vício do homem em cocaína e aceitando as traições.

As atrizes ganharam perfis muito interessantes e bem construídos por Ricardo Linhares. Vale ressaltar, inclusive, que apenas Isabel existia no livro de Edney. Adalgisa foi uma criação do autor especialmente para Mariana, e acertou em cheio ao presenteá-la com as melhores frases da história que expunham todo o cinismo da sociedade. "Adultério é efeito colateral do casamento"; "A pior forma de solidão é o casamento", "Só mulher sabe esconder porque tem medo de perder"; "Só as viúvas sabem onde estão seus maridos"; "Homem não gosta de mulher inteligente porque se sente ameaçado e nem de mulher perguntadeira porque lembra a mãe", são apenas algumas das colocações maravilhosas da personagem.

Débora Falabella é uma profissional que sempre se destaca em seus trabalhos e agora não foi diferente. Sua interpretação imprimiu bem todas as nuances daquela mulher retraída que protagonizava ao longo da história momentos de frieza, prazer, passionalidade e cinismo. Já Mariana Ximenes é outro nome que engrandece qualquer elenco e valeu muito a pena vê-la na pele de uma perua que mesclava sarcasmo, sensualidade e uma certa dose de inocência com a mesma intensidade. Não por acaso, as duas ganharam as melhores cenas nos instantes finais da minissérie. Foram, inclusive, peças vitais para a solução de todos os enigmas do enredo.

"Se Eu Fechar os Olhos Agora" não foi uma produção popular. A audiência mediana expôs uma certa indiferença de parte do público. Entretanto, a minissérie nunca teve o intuito de perder sua linguagem mais refinada e realmente ficou claro que é destinada apenas a um nicho. E uma das muitas qualidades da trama foi justamente seu bom time de atores, entre eles duas atrizes que se sobressaíram merecidamente ao longo dos dez capítulos. É sempre um luxo apreciar o talento de Débora Falabella e Mariana Ximenes.

20 comentários:

Liliane disse...

Ainda bem que confiei em você que garantiu que a trama ficava boa do 6 em diante. Senão teria abandonado confesso. Obrigada, Sérgio. Sempre vale confiar nas suas opiniões.

Unknown disse...

Mariana Ximenes estava maravilhosa. Debora Falabella estava bem, mas a primeira me agradou mais, absorveu mais a personagem. Palmas para os dois meninos. Prometem

Andressa Mattos M. disse...

As duas são muito talentosas e o elenco todo brilhou. Que bom que você também ressaltou o talento dos demais no seu texto anterior da minissérie. Mas as duas dominaram o final mesmo.

chica disse...

Gosto muito da Mariana... Sempre bom passar aqui! Ótimo feriado! abração,chica

CÉU disse...

Adoro suas descrições, mas não devo me pronunciar, pke sou Portuguesa e não conheço a minissérie.
Beijos.

William O. disse...

A Débora Falabella leu e curtiu seu texto no Instagram, Sérgio!!!!

Anônimo disse...

Concordo e uma pena que não tenha tido uma grande audiência.

Adriana Helena disse...

Sérgio, eu simplesmente adorei essa criteriosa minissérie!
Perfeita em todos os quesitos, figurino e fotografia impecáveis, como muito bem disse e cenas de tirar o fôlego!!
Os dois meninos brilharam, que talento tem os pequenos!
Ah, mas Mariana Ximenes e Débora Falabella estavam impecáveis, duas excelentes atrizes... Elas mereciam papéis 'a altura! :)))
Excelente descrição amigo, muito obrigada!!
Um grande beijo e um lindo restante de semana!!

Lulu on the sky disse...

Vi algumas cenas das duas e realmente estavam ótimas.
Postei sobre as minhas impressões sobre o Trofeu Imprensa, depois gostaria da sua opinião lá no blog.
big beijos
www.luluonthesky.com

Sérgio Santos disse...

Fico honrado, Liliane.

Sérgio Santos disse...

Achei as 2 ótimas, Unknown.

Sérgio Santos disse...

Isso, Andressa!!!

Sérgio Santos disse...

Sempre bom te ver aqui, Chica. bjssss

Sérgio Santos disse...

Ok, Céu...Bjs

Sérgio Santos disse...

Eu vi, William. Fiquei feliz.

Sérgio Santos disse...

Pois é, anonimo...

Sérgio Santos disse...

Que bom que vc conseguiu ver, Adriana!!!!! Bjão!!!!

Sérgio Santos disse...

Ok, Lulu. bjs

Portuguesinha disse...

Nas novelas continua a diferença de idade entre as personagens masculinas e femininas. Elas tem todas de ser magras, bonitas, jovens de preferencia. Eles podem ser gordos, barrigudos, baixos, carecas e velhos.

Nada contra velhos, baixos, gordos e velhos mas permitam que as mulheres também envelheçam (sem ser exclusivo das divas), permitam que não sejam jovens nem belas.

Anônimo disse...

Daylight confirma... Mini serie baseada na obra do jornalista e escritor Edney Silvestre, Com uma linguagem refinada, expõe com crueza a maldade humana, e é capaz de mergulhos psicológicos de imensa sensibilidade, contextualizando seus personagens social e historicamente.
Com o olhar experiente e a sensibilidade de um autor que combina lirismo e registro histórico em Se eu fechar os olhos agora, ao narrar a investigação de um crime brutal durante um dos períodos mais importantes da história brasileira.
Em abril de 1961, Yuri Gagarin, o primeiro homem a viajar pelo espaço, deixava a órbita terrestre, descortinando um universo de possibilidades para a Humanidade e uma vitória tecnológica num século que parecia caminhar para uma era de relativa paz, progresso e justiça social. No mesmo dia, em uma pequena cidade da antiga zona do café fluminense, dois meninos de 12 anos— de classe média baixa, um filho de ferroviário, outro de açougueiro — encontram o corpo mutilado de uma linda mulher às margens de um lago onde vão fazer gazeta. Assustados, os garotos chamam imediatamente a polícia e passam por um duro interrogatório, no qual são tratados mais como suspeitos do que testemunhas.
A brutalidade do assassinato e o descaso absoluto com o ser humano impressionam os meninos, que não aceitam a explicação oficial do crime, segundo a qual o culpado seria o marido, o frágil dentista da cidadezinha, motivado por ciúme. Começam uma investigação ajudados por um senhor que mora no asilo da cidade, um ex-preso político da ditadura Vargas, que esconde a motivação para seu interesse no assunto. Dele, os meninos ouvem um aviso que marca o começo de um turbilhão de acontecimentos surpreendentes: “Nada neste país é o que parece.”
Em pouco tempo, eles percebem que a mulher tem uma estranha ligação com os homens mais importantes da cidade e que seu passado é nebuloso, repleto de mentiras. A investigação irá desvendar ainda um perverso painel em que violência sexual, racismo, corrupção e espúrias alianças políticas — que tentam a qualquer custo manter o poder — se misturam, numa época em que o Brasil caminha para a industrialização. Para os meninos, será um terrível caminho de amadurecimento e chegada à vida adulta, ainda no início da adolescência.
Em sua estreia literária, Edney Silvestre constrói uma trama eletrizante e comovente, repleta de referências a um dos momentos mais importantes do cenário político e cultural do Brasil e do mundo. Transitando por gêneros tão distintos quanto o policial, o histórico e o romance de formação, Se eu fechar os olhos agora, que levou seis anos para ficar pronto, é uma leitura vertiginosa, que retrata a essência da nossa sociedade.
Se eu fechar os olhos agora é uma mistura de romance histórico e história de detetive. Mas ultrapassa a definição. A princípio, pensei que não fosse me interessar pelo livro, como não me interessam as descrições muito cruas, a verdade muito explícita, e assim é a descrição do encontro dos meninos com o cadáver de Anita. Mas o livro é cativante. Os personagens são verdadeiros, os meninos, adoráveis, o velho, surpreendente. Infelizmente, histórias como as de Anita nos são familiares dadas as peculiaridades históricas de nosso país. Racismo, coronelismo, ditaduras, tudo coisa nossa. A própria maneira como foi morta Anita, que chegamos a entrever ao final da obra, conversa com o repertório de crimes bárbaros recentes gravados no inconsciente coletivo brasileiro. Para todos que convivem com adolescentes, que se lembram da adolescência, é um reencontro com as dúvidas e angústias dessa fase, colocadas cara a cara com a desilusão da velhice. Um presente para os leitores e espectadores do Brasil.

Dessa vez tiro o chapéu para TV Globo - está realizando mini series, series e macro series de maneira muito melhor do que as suas novelas de 19h, 21h ou 23h. Essa minissérie foi espetacular. Parabéns a todos os envolvidos.

Que se inicie a produção da trama literária "Vidas Provisórias" desse mesmo autor