quinta-feira, 12 de julho de 2018

Canal Viva acerta ao homenagear os 30 anos de "Vale Tudo"

Recentemente, o Viva gerou a indignação dos telespectadores quando retalhou "Bebê a Bordo" por causa da baixa audiência. A maior identidade do canal a cabo era a reprise na íntegra de todas as novelas. A promessa foi quebrada na trama de Carlos Lombardi. Com o claro objetivo de "compensar" essa atitude lamentável, a emissora resolveu reprisar pela segunda vez o fenômeno "Vale Tudo", um dos folhetins mais aclamados da teledramaturgia, em comemoração aos 30 anos da produção.


Não por acaso, a trama de Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Brasseres fez um grande sucesso no Viva em 2010, época da primeira reexibição. O intuito é reerguer a audiência e tentar se redimir com o público, prometendo nunca mais cortar a reprise de qualquer folhetim. O telespectador, claro, segue desconfiado, mas a missão de elevar os índices já foi realizada. Desde 18 de junho, dia da estreia, a novela é líder entre os canais a cabo na faixa de 00h30, conseguindo atingir bem mais pessoas, uma vez que a quantidade de assinantes atualmente é muito maior. E o êxito não surpreende em nada.

"Vale Tudo" é uma produção atemporal, infelizmente, e repetirá o sucesso sempre que for reprisada. Poucas novelas conseguem esse feito. A história retrata com maestria a corrupção do Brasil e a hipocrisia da sociedade diante de um mal que parece imortal. A própria música de abertura ---- "Brasil" ---- virou um marco na voz de Gal Costa, embora a versão original de Cazuza também seja lembrada.
Os vilões inesquecíveis, a abordagem do alcoolismo, a luta entre a integridade e a canalhice, o jogo de interesses, enfim, não faltou acerto nesse enredo tão bem desenvolvido pelos autores, que mesclaram ficção e realidade com inteligência.

Dirigida por Dennis Carvalho, a novela estreou em maio de 1988 e logo envolveu quem assistia com a conturbada relação de Raquel Accioli (Regina Duarte) e Maria de Fátima (Glória Pires). O golpe que a filha canalha deu na própria mãe ----- vendendo o único imóvel da família para tentar a vida como modelo no Rio de Janeiro ----- iniciou os conflitos do enredo. Raquel vai atrás da filha e acaba se envolvendo com Ivan (Antônio Fagundes) e ainda consegue ser dona de uma rede de restaurantes graças ao seu trabalho. Mas sua vida entra novamente em colapso quando a batalhadora mulher encontra 800 mil dólares, perdidos por Marco Aurélio, empresário corrupto interpretado por Reginaldo Faria. Ivan sugere que ela fique com a fortuna, mas a personagem nega. O problema é que a quantia desaparece graças a uma nova armação de Maria de Fátima. O namorado de Raquel vira um suspeito e o relacionamento rui. Ele, então, se casa com Heleninha Roitman (Renata Sorrah), mulher frágil e alcoólatra, filha da icônica Odete Roitman, grande vilã da trama.

Toda esta bem construída trama prendeu a atenção do telespectador ao longo dos meses. Marco Aurélio, Maria de Fátima e Odete Roitman formavam um trio que representava a escória da sociedade em diversos âmbitos. A perua era um poço de preconceitos e odiava o Brasil. Suas frases de deboche sobre o país viraram uma marca. Marco era vice-presidente da TCA (empresa de aviação de Odete) e desviava dinheiro sem o menor escrúpulo, enquanto a filha de Raquel tentava a todo custo ficar rica, passando por cima de qualquer um.

Entre as muitas cenas marcantes da novela, é impossível não citar a sequência onde Raquel discute com Maria de Fátima e rasga o vestido de noiva da filha. O assassinato de Odete foi outro momento antológico, responsável por uma virada na história que aconteceu faltando menos de 15 capítulos para o seu final ---- o mistério do "quem matou?" durou pouco, mas mobilizou o país. E a revelação foi surpreendente. Leila (Cássia Kiss ótima) mata a vilã por engano, achando que era Maria de Fátima, então amante de seu marido Marco Aurélio. A cena foi impactante e muito bem realizada. Já o empresário canalha foi o protagonista de outra cena memorável: ao entrar em seu jatinho para fugir da polícia ---- juntamente com a esposa, que não é punida pelo assassinato de Odete ----, Marco dá uma 'banana' para o Brasil, comemorando a impunidade.

Regina Duarte e Glória Pires foram excepcionais e tiveram suas respectivas carreiras marcadas pelas personagens, assim como Beatriz Segall, que viveu uma das maiores vilãs da teledramaturgia. Renata Sorrah também teve sua trajetória enriquecida pela sua Heleninha e a cena onde ela dança um "mambo caliente" bêbada foi mais um momento marcante da novela. Antônio Fagundes, Cássia Kiss, Reginaldo Faria são outros grandes nomes que merecem elogios, assim como Cláudio Correa e Castro (Bartolomeu); Lília Cabral (Aldeíde),Nathalia Timberg (Celina); Sérgio Mamberti (mordomo Eugênio); Pedro Paullo Rangel (Audálio); Cristina Prochaska (Laís,  que se apaixonou por outra mulher); Rosane Gofman (Consuelo); Cássio Gabus Mendes (Afonso Roitman); Lídia Brondi (Solange); Maria Gladys (Lucimar); Zilka Salaberry (Ruth), Adriano Reys (Renato); Dennis Carvalho (William), entre tantos outros.

O Viva cometeu um grave erro quando cortou a reexibição de "Bebê a Bordo", mas acertou assim que decidiu reprisar pela segunda vez "Vale Tudo". Nunca é demais rever uma das produções mais marcantes e elogiadas da teledramaturgia. Esses 30 anos mereciam mesmo uma homenagem. Resta torcer apenas para que as edições grosseiras tenham cessado definitivamente.

24 comentários:

Anônimo disse...

Concordo mas não confio mais no Viva e agora eles podem cortar a qualquer momento qualquer novela.

leitor disse...

Vale Tudo é A novela, tudo é absolutamente genial. Não há núcleos avulsos, tudo se encaixa, até um isqueiro tem importância na trama. Isso sim é novela, como não existe mais. Sem contar a sonoplastia com os instrumentais maravilhosos, que até saíram em CD recentemente. O elenco foi escolhido a dedo, impossível imaginar outros atores nos papéis. E o congelamento com o som da cuíca deixa os das novelas atuais com inveja, kk. E pra completar o mais famoso e criativo "Quem matou" da historia, com um final surpreendente, querem mais o que?

chica disse...

Gosto muito do canal VIVA onde proporcionam boas chances de rever coisas divertidas por lá! abração, tudo de bom,chica

Malu disse...

O Viva já não é a maravilha que era antes. Ninguém merece aquela programação lotada de Turma do Didi e Escolinha do Prof Raimundo, quando a Globo tem material muito melhor para eles colocarem lá. Os cortes em Bebê a Bordo foram o última gota pra irritar de vez o telespectador e provocar os protestos. A verdade é que depois de uma trinca com Tieta e Por Amor, não dava pra vir duas novelas mornas e medianas, como Explode Coração e Sinhá Moça, e uma trama de sucesso na exibição original, porém bastante controversa como Bebê. Vale Tudo é uma aposta certeira, deveria ter vindo desde janeiro, pra segurar as outras duas novelas. Mas, antes tarde do que nunca, agora é acompanhar uma das melhores novelas de todos os tempos, e esperar que essa história de cortes não se repita, e o canal consiga recuperar sua reputação.

Anônimo disse...

Vale Tudo é um luxo, e ainda esse ano virá Baila Comigo pra conhecermos a primeira Helena, não sou fã de Manoel Carlos mas anos 80 é outra coisa né...

BLOGZOOM disse...


Sergio!

uau! voou... eu só pude curtir na epoca, não consegui ver reprise, se pudesse esta seria uma boa escolha. Uma das melhores.

bjs

Lulu Amarantos disse...

Vale tudo foi a melhor novela do horário nobre que a Globo produziu.
ótimo texto,Sérgio!
Mas só uma dúvida: Quando você escreveu acima" Vale Tudo" é uma produção atemporal, infelizmente, e repetirá o sucesso sempre que for reprisada. Esse "infelizmente" foi um erro de digitação, por acaso?

Anônimo disse...

Acho que quando ele disse "infelizmente", quis dizer que mesmo depois de 30 anos da exibição original da novela, que retratou a corrupção no Brasil, a situação do país continua a mesma, o que torna a novela atemporal, entendeu?

Diná Fernandes de Oliveira Souza Souza2 disse...

Vale Tudo, uma novela que eu gostaria de assistir novamente, excelente trama.
Abração Sérgio!
Feliz final semana!

Elisabete disse...

Esta novela passou em Portugal.
Bom fim de semana, Sérgio.

FABIOTV disse...

Olá, tudo bem? Quando Vale Tudo passou na Globo, eu não curtia a novela. Eu era uma criança na época. Rs... Abs, Fabio www.blogfabiotv.blogspot.com.br

Clau disse...

Oi Sérgio,
Não lembrava da trama, mas quando li aqui
que a produção retrata 'a corrupção do Brasil e
a hipocrisia da sociedade diante de um mal que parece imortal',
então é atemporal mesmo.
Lembro da música de abertura...
a letra é atualíssima também.
Excelente análise!
Bjs!

Sérgio Santos disse...

Medo disso, anonimo.

Sérgio Santos disse...

Concordo, Leitor. E foi o quem matou mais criativo da história mesmo. Ninguém esperava uma morte por engano.

Sérgio Santos disse...

Já foi melhor, Rejane.

Sérgio Santos disse...

Preciso o seu comentário, Malu.

Sérgio Santos disse...

Baila Comigo foi uma ótima escolha, anonimo, mas achei lamentável o cancelamento de Brega e Chique.

Sérgio Santos disse...

Que saudades de vc, Sysssim.

Sérgio Santos disse...

Não, Lulu, foi porque uma novela ser atual falando de corrupção e sacanagem não é algo bom, né?

Sérgio Santos disse...

Exato, anonimo.

Sérgio Santos disse...

Vale mesmo, Diná.

Sérgio Santos disse...

Eu sei, Eisabete. bjssss

Sérgio Santos disse...

Aí normal, Fabio...

Sérgio Santos disse...

Abertura marcante demais, Clau!!!