sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

Irretocável como Benê, Daphne Bozaski é o grande destaque de "Malhação - Viva a Diferença"

"Malhação - Viva a Diferença" vem fazendo um justo sucesso de público e crítica. As razões para tamanho êxito são muitas e uma delas é a escolha certeira do time de protagonistas. Tanto na escalação das atrizes, quanto na construção das cinco personagens. O autor Cao Hamburger e o diretor Paulo Silvestrini foram muito felizes. Entretanto, embora todas as meninas sejam apaixonantes, recheadas de qualidades e defeitos, há uma que sempre se destacou em virtude da sua 'diferença', que acaba sendo mais visível: a fofa Benê.


Daphne Bozaski está simplesmente perfeita na composição primorosa de sua personagem, que tinha o sério risco de virar uma caricatura pouco crível. Afinal, a menina doce, extremamente carente e com aspecto de nerd sofre de Síndrome de Asperger, um grau mais leve de autismo. Esse transtorno neurobiológico é pouco conhecido e o autor acertou em cheio quando o colocou em uma de suas protagonistas. Embora ainda não tenha sido falado claramente na trama, o problema vem sendo exposto através das atitudes da menina.

Benedita tem problemas de convívio social e sempre foi uma pessoa solitária. Tudo mudou quando conheceu Lica (Manoela Aliperti), Ellen (Heslaine Vieira), Keyla (Gabriela Medvedovski) e Tina (Ana Hikari) no metrô, fazendo questão de adicioná-las no WhatsApp, organizando um novo quinteto que se tornou inseparável. Contudo, as dificuldades da frágil menina sempre se mostraram presentes, apesar dessa evolução em torno de um maior vínculo de amizade.
Ela é metódica e não entende ironias, levando tudo ao pé da letra. Muitas vezes, inclusive, essa incapacidade de compreender a malícia na fala dos demais a deixa com um gostoso ar cômico.

Já o incômodo com o toque funciona como uma espécie de alerta mais sério em torno da síndrome. Benê odeia contato físico (característica comum de vários autistas) e já se descontrolou em alguns momentos, após ter sido tocada, entrando em um surto de agressividade. A atriz impressiona quando expõe esse lado mais 'sombrio' da personagem, mostrando como está dominando o perfil, se entregando aos sentimentos que em vários instantes acabam embaralhados na cabeça da menina, a deixando desnorteada, sem entender suas reações. Não é fácil convencer em um papel tão complicado, mas a intérprete consegue com aparente facilidade. Não por acaso conquistou o público logo na primeira cena.

A atriz, sabiamente, também conseguiu imprimir um tom 'fofinho' e uma expressão inocente como características principais de Benê, despertando a imediata empatia do telespectador, que sente uma vontade inevitável de proteger aquela garotinha de todo o mal. As suas cenas com Aline Fanju, intérprete de Josefina, mãe da menina, são bonitas e cheias de cumplicidade. Há uma troca boa de uma profissional mais experiente com outra ainda começando. E, vale ressaltar, que a zeladora da escola sabe que tem uma filha diferente, pois durante os surtos nunca encosta nela, embora faça questão de ficar perto, servindo como ponto de apoio. Davi Souza, responsável por dar vida ao implicante Julinho, irmão de Benedita, é outro bom colega da intérprete.

E Daphne ainda vem protagonizando momentos delicados ao lado de Bruno Gadiol. A proximidade de Benê e Guto é um dos trunfos da temporada, despertando torcida pelo casal 'Gunê'. A nerd, por sinal, demonstrou pela primeira vez interesse em uma pessoa por causa dessa relação, que inicialmente começou através das aulas de piano que ele dava para ela, após ter perdido uma aposta. Porém, o personagem demonstrou que também é diferente, expondo uma clara dificuldade de lidar com o sexo. Essa questão, por sinal, começou a ser inserida quando Benedita perguntou se ele queria namorá-la, provocando uma inesperada reação agressiva. A rejeição a deixou destruída emocionalmente, valorizando mais uma vez a atuação da atriz. Todo o namoro deles também vem explorando a relação diferente desse par, tendo a delicadeza como maior característica. Vale a menção, ainda, ao surto da personagem diante dos pais do namorado, em virtude das situações inesperadas que ocorreram durante o jantar com os sogros.

Já as cenas ao lado de Manoela Aliperti, Gabriela Medvedovski, Ana Hikari e Heslaine Vieira são repletas de humor e momentos sensíveis. Há uma harmonia perfeita entre as cinco, fazendo jus ao protagonismo da temporada. É bom ressaltar que esse é o segundo trabalho de Daphne com Cao Hamburger. Ele a dirigiu na elogiada "Que Monstro Te Mordeu?", série infantil da Tv Cultura, exibida em 2014, onde viveu a Lali Monstra. Ou seja, a parceria bem-sucedida foi repetida agora e se mostrou mais um êxito. Ele pode ser considerado um padrinho dela na televisão, pois tem conseguido explorar muito bem o seu talento, provando que vai muito longe.

A sensível Benê é a personagem mais querida de "Malhação - Viva a Diferença" e o trabalho de composição de Daphne Bozaski se mostra irrepreensível. É um perfil que desperta atenção em vários aspectos, começando pela Síndrome de Asperger ---- que ainda merece maior enfoque no enredo, vale reforçar ----, passando pela construção de amizades verdadeiras e do relacionamento com seu primeiro amor, finalizando na forma como encara sua vida. A atriz vem defendendo todo esse conjunto com habilidade e é uma das gratas revelações dessa temporada tão boa.

25 comentários:

Yasmin disse...

Eu tava esperando esse texto desde o ano passado. kkkkk Valeu a espera.

Chaconerrilla disse...

Lindo texto, Zamenzito. Daphne merece todo o reconhecimento. Benê é uma personagem adorável e bem rica. Gosto muito de acompanhar a forma como a menina reage as diversas situações pelas quais têm passado. Que venha novas cenas cheias de sensibilidade pra gente e que o Asperger possa finalmente ser mais detalhadamente abordado.

Leandro disse...

Daphne é uma grande atriz e essa personagem é uma fofura só.Ela leu seu texto e adorou. Parabéns.

Anônimo disse...

AMOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO

Luli Ap. disse...

oooowwwwnnnnnn Sérgio impossível não amar a Benê!
E por tabela shippar Gunê <3
Tenho lido alguns livros cujos protagonistas tem síndrome de Asperger e é muito interessante desmistificar, abranger, incluir e acolher.
São personagens com várias e complexas camadas, mas que estão próximos de nós em qualquer circunstância. Na sala de aula, no ambiente de trabalho, no metrô.
E são considerados muitas vezes especialistas em sua área de atuação devido a obsessão por um trabalho bem feito e detalhista.
A Benê tem trazido esse sopro de jovialidade e fofurice bem dosadas com a realidade e a atriz está dando um show de interpretação \0/ e tem realizado cenas impactantes <3
Excelente fds pra ti
Bjs Luli
Café com Leitura na Rede

João Pedro disse...

A Benê é realmente a melhor personagem da novela e grande parte disso se deve muito à Daphne! <3
Agora, eu fico muito triste. embora não surpreso, como muita gente não compreende a personagem, tanto pessoas mais velhas quanto mais jovens. Estive visitando o perfil da Daphne no Instagram e tem muitos comentários de gente nova mesmo chamando a Benê de chata, insuportável, mimada, boba etc. E isso só mostra como ainda tem muito caminho a se percorrer pra romper com o preconceito...

Malu disse...

Sabia que esse texto ia chegar! Só tive a impressão - me corrija se eu estiver errada - de que você, assim como muitos telespectadores, estava esperando a síndrome de asperger ser realmente abordada pra poder escrever sobre Benê, mas, como a temporada vai chegando ao fim e nada desse plot chegar... Ainda tenho esperança de que isso seja dito até o final da trama, Daphne e Aline Fanju, que também está perfeita e seguramente brilharia, merecem esse destaque. Acho que essa é a única correção que eu faria em VAD, algumas coisas ficaram simplesmente "esquecidas no churrasco", como a automutilação da Clara e o vício em jogos de Julinho (ambos se curaram magicamente? Justo agora, inclusive, que o vício em games passou a ser considerado um transtorno pela OMS?). Falando em Julinho, não sei se ele sabe da condição da irmã, bem mencionado você lembrar que a Josefina tem esse cuidado de não tocar na filha, mas ele se mostra bem insensível, sempre provocando ("Benê, você não tem amigas!", "Benê você tá noiva!"). A relação de Benê com as five também é linda, principalmente com a Keyla, a que tem mais paciência e cuidado com ela, e a mais carinhosa e sensível. Também foi um dos momentos mais lindos da temporada aquela cena dela com a Ellen, após explodir com a K1. Gosto muito da relação dela com o Juca também, e não vejo os dois como um casal, não entendo porque esse desespero das Gunê e esse hate em cima do menino, que proporciona momentos tanto cômicos como emocionantes com ela. Adoro a relação dela com Tato e Fio tbm, que sabem que ela tem algo diferente, mas não se importam e entendem o jeitinho dela. Resumindo, pense numa personagem que tem química com todo mundo, é ela. Um dos trunfos da temporada mesmo! Viva Benê!

Sérgio Santos disse...

Que bom que valeu, Yasmin.

Sérgio Santos disse...

Mt obrigado, Chaconerrilla.

Sérgio Santos disse...

Eu vi, Leandro. Ela falou comigo. Fiquei honrado.

Sérgio Santos disse...

Idem, anonimo.

Sérgio Santos disse...

Que excelente comentário, Luli, e que bacana você estar lendo sobre isso. bjsss

Sérgio Santos disse...

Que triste isso, João...

Sérgio Santos disse...

Tu me conhece mesmo, Malu...Impressionante. rsrsrsrs Sim, resolvi esperar pra isso, mas acabei postando agora com essa cena da briga do casal porque achei oportuno. Na verdade o texto já tava quase pronto há meses. Só dei umas adaptadas e finalizei. Ainda espero que isso seja abordado perto do final. Aguardemos. E endosso tudo o que vc disse. Sintonia ótima com Fio, Tato, Keyla, Juca...enfim, todo mundo. Tb acho que Julinho nao tem ideia do que ela tenha. E tb não gostei da abordagem da automutilação, principalmente pela personagem escolhida. Não achei a atriz capacitada para tamanho drama. É a mais fraca da trama. Enfim... bjsss

Debora disse...

Olá Sérgio tudo bem???


Que lindo texto!!! A atriz merece muito! Espero que ela seja muito bem aproveitada na emissora!!!



Beijinhos;
Débora.
https://derbymotta.blogspot.pt/

Unknown disse...

É bastante útil para aqueles que possivelmente convivem com uma criança que tenha esta condição.

1 – A fixação por uma única atividade
2 - Sensibilidade sensorial
3 – Dificuldades para interpretar os sinais sociais
4 – Necessidades de Rotina
5 – Birras emocionais
6 – Falta de empatia
7 – Eles não entendem as sutilezas da fala
8 – Linguagem corporal incomum
9 – Atrasos no desenvolvimento motor
10 - Falar como um “pequeno professor”
Em alguns casos, a criança Asperger parece um pequeno sábio, com habilidades verbais avançadas, mas, por causa do espectro autista, sua conversa pode focar apenas um tema do qual ela quer falar o tempo todo. Outro aspecto é a maneira da criança falar, muito formal, mais do que o normal para a idade dela, por isso, em alguns casos, ela prefere conversar com os adultos.

Se você suspeita que seu filho possa ter a síndrome de Asperger, o melhor a fazer é consultar um especialista para uma avaliação profissional. Mas, não desanime, um diagnóstico de Asperger não é o fim, mas o início de um caminho diferente de outros “neurotípicos”. Não se esqueça que pessoas geniais como Albert Einstein, Isaac Newton e músicos como Syd Barrett, fundador do Pink Floyd, têm sintomas consideráveis para um diagnóstico de Síndrome de Asperger.

Lulu on the sky disse...

Não acompanho a malhação para poder opinar.
big beijos

Filha do Rei disse...

Ohhh!! Que texto perfeito!!
Como não amar, Benê? Emociono-me e sorrio sempre quando a assisto. Ela é fofa, verdadeira, simples e parece que tudo é complicado para ela, mas é que as pessoas que são consideradas "normais" como nós é que complicamos muito as coisas.
Aplausos para a Daphne!!

Sérgio Santos disse...

Mt obrigado, Debora!

Sérgio Santos disse...

Ótimo alerta, Oath.

Sérgio Santos disse...

Ok, Lulu;

Sérgio Santos disse...

Fico honrado, Cléu. Amo Daphne também. bjsss

Outsiders disse...

cada Asperger é de um jeito, que não adianta ficar checando os sintomas. Não é uma doença. É só uma diferença humana.
Muito bom tratar assuntos assim... podiam abordar sobre a Síndrome de Tourette... também pouco conhecida e que faz as crianças e adolescentes sofrerem bullying.

Outsiders disse...

Síndrome de Tourette

A Síndrome de Tourette é um distúrbio neuropsiquiátrico caracterizado por tiques múltiplos, motores ou vocais, que persistem por mais de um ano e geralmente se instalam na infância.
Na maioria das vezes, os tiques são de tipos diferentes e variam no decorrer de uma semana ou de um mês para outro. Em geral, eles ocorrem em ondas, com frequência e intensidade variáveis, pioram com o estresse, são independentes dos problemas emocionais e podem estar associados a sintomas obsessivo-compulsivos (TOC) e ao distúrbio de atenção e hiperatividade (TDAH). É possível que existam fatores hereditários comuns a essas três condições. A causa do transtorno ainda é desconhecida.

Sintomas
Em 80% dos casos, os tiques motores são a manifestação inicial da síndrome. Eles incluem piscar, franzir a testa, contrair os músculos da face, balançar a cabeça, contrair em trancos os músculos abdominais ou outros grupos musculares, além de movimentos mais complexos que parecem propositais, como tocar ou bater nos objetos próximos.
São típicos dos tiques vocais os ruídos não articulados, tais como tossir, fungar ou limpar a garganta, e outros em que ocorre emissão parcial ou completa de palavras.
Em menos de 50% dos casos, estão presentes o uso involuntário de palavras (coprolalia) e gestos (copropraxia) obscenos, a formulação de insultos, a repetição de um som, palavra ou frase dita por outra pessoa (ecolalia).

Diagnóstico
O diagnóstico da síndrome de Tourette é essencialmente clínico e deve obedecer aos seguintes critérios: 1) tiques motores múltiplos e um ou mais tiques vocais devem manifestar-se durante algum tempo, mas não necessariamente ao mesmo tempo; 2) os tiques devem ocorrer diversas vezes por dia (geralmente em salva), quase todos os dias ou intermitentemente por um período de pelo menos três meses consecutivos; 3) o quadro deve começar antes dos 18 anos de idade.

Tratamento
A síndrome de Tourette é uma desordem que não tem cura, mas pode ser controlada. Estudos clínicos têm demonstrado a utilidade de uma forma de terapia comportamental cognitiva, conhecida como tratamento de reversão de hábitos. Ela se baseia no treinamento dos pacientes para que monitorem as sensações premonitórias e os tiques, com a finalidade de responder a eles com uma reação voluntária fisicamente incompatível com o tique.
Medicamentos antipsicóticos têm se mostrado úteis na redução da intensidade dos tiques, quando sua repetição se reverte em prejuízo para a autoestima e aceitação social. Em alguns casos de tiques bem localizados, podem ser tentadas aplicações locais de toxina botulínica (botox). Alguns autores defendem que, excepcionalmente, pode ser indicado o tratamento cirúrgico com estimulação cerebral profunda, aplicada em certas áreas do cérebro.

Recomendações
* Não adie a consulta ao médico, se notar que seu filho apresenta alguma forma de movimentos involuntários. Especialmente nas fases iniciais da vida, os portadores precisam de tratamento e não de repreensão.

Fonte: Dráuzio Varella (médico que participou das séries sobre o corpo humano, primeiros socorros, gravidez, combate ao tabagismo, planejamento familiar, transplantes e diversas outras, exibidas no Fantástico).

Sérgio Santos disse...

Ok, Daylights!