domingo, 30 de outubro de 2011

Fina Estampa: uma sucessão de equívocos

Com pouco mais de dois meses no ar, "Fina Estampa" já conseguiu um feito e tanto: ter uma audiência que há tempos a Globo não obtinha no horário desde o início de uma obra. É normal que todas as novelas apresentem dificuldades iniciais nos números do ibope até realmente emplacar e cair nas graças do público. Mas isso não ocorreu com a trama de Aguinaldo Silva, que não se cansa de elogiar seu imenso sucesso no Twitter. O autor tem todos os motivos para comemorar, mas nesse caso a audiência não reflete em nada a qualidade.


Até agora a novela não mostrou a que veio e nos apresenta um festival de histórias desconexas e nada atraentes. São poucos os personagens que se salvam e que têm algo de interessante a mostrar. Muitos atribuem isso ao fato da trama ter um grande apelo popular. Não é verdade. "Senhora do Destino", "A Indomada", e "Tieta", só para citar algumas, eram imensamente populares e tinham qualidade. Em "Porto dos Milagres" e "Duas Caras", o autor já tinha errado a mão e o que vimos não foi nada interessante. Mas a atual novela das 21h conseguiu superá-las em todos os sentidos.

Tereza Cristina tenta ser engraçada em certos momentos e cruel em outros, mas não consegue. Christiane Torloni procura fazer o que lhe é proposto, mas sua vilã é tão irritante e sem rumo que a atriz não consegue uma atuação digna de aplausos. Aguinaldo criticava vilões como a Flora(A Favorita) e o Léo(Insensato Coração) por serem vilões que agiam gratuitamente, segundo a concepção do autor. Mas alguém sabe qual o propósito de Tereza Cristina? O que move suas supostas maldades? Ninguém sabe.

Nessa semana, vimos uma cena em que a vilã empurra um mafioso (Luciano Schirolli), que a ameaçava, escada abaixo. Após o ato, ela agradece a Nazaré Tedesco e diz que fez isso porque aprendeu com a novela, exibida em 2004. Foi uma clara referência do autor ao sucesso da sua maior vilã em "Senhora do Destino". A sequência foi constrangedora em todos os aspectos. Qual foi o objetivo da cena? Aguinaldo se auto-elogiar. Só. Nada fez sentido e a situação soou claramente forçada. Outro fator é a rivalidade entre ela e Griselda (Lilia Cabral, grandiosa sempre). O ódio que a perua sente pela 'adversária' é boboca demais e até inverossímil.

No aspecto geral, a novela não anda. As histórias são desenvolvidas a passos de tartaruga e o telespectador pode ficar sem ver a trama por vários capítulos que dificilmente perderá algo de grande importância. A quantidade de personagens que nada acrescentam é gritante. Qual a função do núcleo da praia? E da pensão da Zambeze (Totia Meirelles em um papel ingrato)? A entrada de Carolina Dieckmann e Dudu Azevedo nada agregou à trama, além da interpretação fraquíssima dos atores. Arlete Salles, grande atriz, se vê com um papel de pífia importância. Sua taxista Wilma não serve para nada. Até agora teve como prêmio de consolação uma participação no "Caldeirão do Huck" que nada acrescentou e foi uma bobagem só.

Renata Sorrah também não está sendo valorizada, apesar do seu núcleo ser um dos poucos que apresentam uma história interessante. Mas a disputa pela guarda de seu sobrinho não está sendo bem abordada. Ana Rosa e Jaime Leibovitch (ótimos atores), que travam uma guerra pela guarda do menino com a médica, mal aparecem. Dan Stulbach e Julia Lemmertz tiveram grande química, mas a situação envolvendo a crise do casal por causa da inseminação artificial, que a esposa quer fazer e o marido é contra, também não sai do lugar.

As tentativas de conquistar mulheres pela internet é o enredo que envolve René Junior (David Lucas). Difícil alguém se interessar por isso. Antenor e Patrícia formam um casal sem o menor entrosamento. Caio Castro sempre foi um ator limitado e Adriana Birolli parece que desaprendeu a atuar, após seu bom desempenho em "Viver a Vida". A violência doméstica sempre gera repercussão, mas a situação envolvendo Baltazar(Alxandre Nero), Celeste (Dira Paes) e Solange (Carol Macedo) é repetitiva. A garota só sabe dançar funk desde que apareceu na história. Detalhe: a música também é sempre a mesma.

Eva Wilma é um dos poucos pontos positivos com a sua Tia Íris (cuja crítica sobre a personagem você pode ler aqui). Sua parceria com a Thais de Campos (Alice) funcionou. Marcelo Serrado está muito bem como o afetado Crô, embora a veneração do mordomo em relação a Tereza Cristina seja sem sentido. Amália e Rafael formam um belo par e o casal agradou, embora o rapaz seja um bandidinho. Sofhie Charllote e Marco Pigossi estão bem.

"Fina Estampa" não tem nem três meses de exibição, portanto é praticamente impossível dizer se ela continuará com esse festival de equívocos até o último capítulo (previsto para março de 2012), mas é cada vez mais nítido que a novela precisa de um norte. A emissora e o autor não estão nem um pouco preocupados com a audiência (e nem precisam), mas seria prudente parar para refletir na baixa qualidade do produto que tem sido levado para dentro das casas dos telespectados até agora.

Links relacionados: Fina Estampa não entusiasma e parece um déjà vu
                             A deselegância de Aguinaldo Silva
                                    

6 comentários:

Bianca Vaginelle disse...

Adorei o texto e concordo com tudo, mas depois dos pontos e das vírgulas a gente dá um espaço, bebê!

Sérgio Santos disse...

Obrigado pelo comentário,Bianca.Realmente nesse texto me esqueci de fazer isso.Já irei alterar!Abraço!

SISIPSEMG disse...

Até que enfim encontrei alguém que disse tudo o que penso desta novela! Texto corretíssimo. Concordo com tudo que foi dito!

Sérgio Santos disse...

Obrigado pelo comentário,Loura! Bj.

Roberth Moura disse...

Por isto mesmo é que eunão perco meu tempo assistindo. Quando decido acompanhar uma novela, vejo por duas, três semanas. Se ela me prender, eu continuo. Se não, adeus novela e só na última semana eu volto a vê-la.

Sérgio Santos disse...

Pois é, Odacyr! Essa novela é um grande equívoco, mas faz sucesso. Abraço!