No dia 20 de novembro, é comemorado o Dia na Consciência Negra e o Dia Nacional de Zumbi dos Palmares. Há também muitos motivos de celebração em se tratando da diversidade na teledramaturgia da Globo ----- Record e SBT se mantêm atrasadas em inúmeros aspectos. Pela primeira vez na história, a líder está com três protagonistas pretas em suas três novelas inéditas atuais: Duda Santos, Jéssica Ellen e Gabz, as mocinhas de "Garota do Momento", "Volta por Cima" e "Mania de Você", respectivamente.
Se por um lado a atual cúpula da Globo anda retrocedendo em relação aos romances homoafetivos, com direito a várias censuras e modificações de enredo, e também em cima da escalação de atores veteranos, que anda cada vez mais escassa, evidenciando o etarismo, por outro é inegável a preocupação na escolha de mais atores pretos na composição do elenco das produções da emissora. A mudança ficou mais evidente no período pós-pandemia, onde muitas novelas passaram a contar com um maior equilíbrio nas escalações e personagens nada estereotipados para intérpretes pretos.
É verdade que o protagonismo preto existiu em folhetins tempos atrás, como em "Xica da Silva", "Da Cor do Pecado" e "Lado a Lado", mas eram casos isolados e nunca provocaram a tão necessitada mudança no esquema de escalações.
Vale até lembrar da repercussão negativa do elenco de "Segundo Sol", uma das piores novelas de João Emanuel Carneiro, que era ambientada na Bahia (o estado mais negro do Brasil, com 80,8% da população sendo preta ou parda) e todos os protagonistas eram brancos, assim como 90% dos atores selecionados. Foi em cima da trama, exibida em 2018, que o debate a respeito da representatividade ganhou mais força, ainda que não tenha provocado na época efeitos mais práticos nas escalações seguintes.Agora, três atrizes talentosas protagonizam as três novelas inéditas da Globo. E todas mereciam a oportunidade que ganharam. Duda é a mais nova, tanto na idade quanto na carreira. Tem 23 anos e está em sua terceira trama. A estreia foi em uma pequena participação em "Malhação - toda forma de amar", de 2019, e sua segunda produção foi "Travessia", quando interpretou Isa, filha do personagens interpretados por Indira Nascimento Ailton Graça. Mas o seu estouro aconteceu no remake de "Renascer", quando arrebatou o público e a crítica com sua atuação como Maria Santa, na primeira fase da trama de Benedito Ruy Barbosa, adaptada por Bruno Luperi. Seu desempenho comoveu e a colocou como um dos maiores talentos da nova geração. Não por acaso, mesmo ainda gravando na pele de Santinha ---- aparecendo como um espírito na segunda fase ----, foi escolhida para ser a mocinha de "Garota do Momento". E está irretocável na deliciosa história escrita por Alessandra Poggi no horário das seis. Beatriz é destemida, carismática e protagoniza um enredo que promete emocionantes desdobramentos. Está a menos de três semanas no ar e já conquistou o telespectador. Sua química com Pedro Novaes, intérprete do mocinho Beto, também merece menção.
No caso de Jéssica Ellen, a protagonista demorou bem mais para chegar. A atriz, de 32 anos, estreou em "Malhação Intensa", temporada de sucesso escrita por Rosane Svartman e Glória Barreto, em 2012, na pele de Rita. A trama lançou e consagrou vários talentos que se firmaram no primeiro time da Globo, como Agatha Moreira, Juliana Paiva, Alice Wegmann e Rodrigo Simas, mas as oportunidades maiores para Jéssica não vieram com a mesma facilidade. A atriz ganhou papéis menores em "Geração Brasil" (2014) e "Totalmente Demais" (2016) e quando recebeu sua primeira protagonista, a sofrida Rose, de "Justiça" (2016), viu sua personagem perder o destaque para Débora, interpretada por Luisa Arraes. Depois vieram outros trabalhos, mas sempre como coadjuvante, vide "Filhos da Pátria" (2017/2019), "Assédio" (2018) e "Amor de Mãe" (2019). Até que finalmente veio a Madalena, de "Volta por Cima". Uma mocinha batalhadora e que esbanja integridade. Jéssica está muito à vontade no papel e muitas vezes nem parece que está atuando diante da sua naturalidade nas cenas. Nada melhor para um profissional do que provocar essa sensação em quem assiste. No caso da atual novela das sete, escrita por Cláudia Souto, a atriz forma um lindo casal com Jão, interpretado por Fabrício Boliveira. Vale lembrar que até então a única novela que tinha apresentado um par central composto por mocinhos pretos era "Vai na Fé", com Ben (Samuel de Assis) e Sol (Sheron Menezes) ----- "Lado a Lado" e "Cara e Coragem" tiveram um casal negro principal, mas dividiam o protagonismo com outro casal branco.
Já Gabz tem 29 anos e estreou em "Malhação - toda forma de amar", exibida em 2019, onde brilhou na pele da sempre animada Jaque. Porém, a atriz fez pequenas participações em "Teca na TV" (2007), "Ciranda de Pedra" (2008) e "Viver a Vida" (2009) quando era criança. Após seu bom desempenho em "Malhação", a intérprete esteve em duas séries, uma da Netflix ("Temporada de Verão" - 2021) e outra da Paramount+ ("As Seguidoras" - 2022). Em 2023, fez uma rápida participação na reta final de "Amor Perfeito" e ainda assim conseguiu bons momentos. Em 2024, fez parte do elenco da série "Da Ponte Pra Lá", da Max, e fez teste para a Caridade, personagem de "No Rancho Fundo". Mas foi chamada para protagonizar "Mania de Você" e o papel da novela das seis ficou para Clara Moneke, enquanto Gabz ganhou a Viola. A sua mocinha, no entanto, não tem a construção competente das suas colegas. João Emanuel Carneiro está perdido na condução de seu roteiro, que enfrenta uma audiência catastrófica. É muito complicado torcer ou sentir qualquer empatia pela personagem diante de tantos absurdos e situações forçadas na história. Mas Gabz não tem culpa alguma nisso e merece todos os elogios por sua atuação. Segura em cena, a atriz honra o posto de mocinha com talento e merecia há muitos anos a oportunidade de protagonizar um folhetim. Vale destacar sua melhor cena até o momento, quando Viola se descontrolou diante de Luma (Agatha Moreira) e a acertou com uma frigideira na cabeça.
Duda Santos, Jéssica Ellen e Gabz são profissionais que vivem uma ótima fase na carreira em um momento histórico na Globo e graças ao talento que sempre demonstraram. Não estão protagonizando as atuais novelas por acaso. As três estão no lugar que merecem estar. E por mérito.
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