As justiças e as injustiças do "Melhores do Ano" de 2023

 Neste domingo, dia 17, foi ao ar o "Melhores do Ano", a premiação promovida pela Globo através do "Domingão", que antes era do Faustão e ao vivo, enquanto agora é do Huck e gravado. Como costuma ocorrer em todos os anos, houve polêmica em algumas indicações e ausências foram sentidas, ao mesmo tempo que muitos premiados honraram seus troféus. 

Na categoria Melhor novela concorreram "Vai na Fé", "Terra e Paixão" e "Todas as Flores". As três indicações foram justas e representaram bem os três sucessos de 2023. A trama de Rosane Svartman tirou o horário das sete da lama em que estava e a autora conquistou o país com um enredo que mesclava momentos tensos com situações leves, repletas de personagens carismáticos e um elenco que transbordou diversidade. A história de Walcyr Carrasco, que agora escreve com Thelma Guedes, é a única novela inédita atual com boa audiência e repercussão. Já o enredo de João Emanuel Carneiro fez sucesso no Globoplay e repetiu o êxito quando foi exibia na grade da Globo. A vencedora foi "Vai na Fé" com muito mérito. 

Na categoria Atriz de Novela concorreram Barbara Reis, Letícia Colin e Sheron Menezzes. Três profissionais de talento e que merecem elogios. Barbara deu um show na pele da vilã Débora em "Todas as Flores" e emociona como Aline em "Terra e Paixão". Letícia foi o grande nome de "Todas as Flores" e fez da debochada Vanessa uma malvada idolatrada pelo público, com direito a momentos de puro improviso cênico. A personagem surtada foi tão amada que Letícia levou o troféu para casa.

Já Sheron viveu a melhor mocinha de 2023 e suas cenas como Sol em "Vai na Fé" arrebataram os telespectadores. Todavia, Gloria Pires não ter sido indicada foi uma falha grave. A veterana está impecável como Irene em "Terra e Paixão". Eliane Giardini foi outro nome que não poderia ficar de fora, vide o destaque que Agatha teve na atual novela das nove. Outras que mereciam menção eram Regina Casé, pelo seu desempenho como Zoé, e Sophie Charlotte pela Maíra em "Todas as Flores". 

Na categoria Ator de Novela concorreram Emilio Dantas, Lázaro Ramos e Tony Ramos. Os três esbanjam talento, mas Lázaro não merecia a indicação. E não porque não está bem como Mário Fofoca em "Elas por Elas", mas sim porque o remake mal começou. Não deu para entender o critério. Colocá-lo no lugar de Samuel de Assis, que emocionou como Ben em "Vai na Fé", foi injusto. Já Emilio e Tony tinham mesmo que estar disputando a preferência popular. Os dois são atores geniais e viveram grandes momentos em 2023. O Theo, de "Vai na Fé", entrou para a galeria de grandes vilões da teledramaturgia, assim como Antônio La Selva, de "Terra e Paixão". Emilio saiu vitorioso e o troféu honrou o maior papel de sua carreira até o momento. 

Na categoria Atriz Coadjuvante concorreram Renata Sorrah, Tatá Werneck e Thalita Carauta. Três atrizes que sempre se destacam em qualquer papel. Após muitos anos recebendo personagens aquém de seu talento, após o fenômeno Nazaré em "Senhora do Destino" (2004), finalmente Renata ganhou um papel que a valorizou e Wilma Campos foi um dos vários acertos de "Vai na Fé". Tatá, que levou o troféu e se emocionou no palco, vem brilhando em "Terra e Paixão" e pela primeira vez tem sua vertente dramática explorada em um folhetim através de Anely, umas golpista carismática. E o que dizer de Thalita? A intérprete fez de Mauritânia um verdadeiro acontecimento em "Todas as Flores" e está ótima como Adriana em "Elas por Elas". Porém, ausências foram sentidas, como Debora Ozório, pela Petra em "Terra e Paixão"; Débora Falabella, pela Lucinda também em "Terra e Paixão", além de Regiane Alves pela Clara e Carolina Dieckmann pela doutora Lumiar, ambas em "Vai na Fé". Aliás, até hoje Carolina nunca foi sequer indicada ao "Melhores do Ano".

Na categoria Ator Coadjuvante concorreram Rainer Cadete, Nicolas Prattes e Tony Tornado. A verdade é que a escolha ficou entre Rainer e Nicolas, o que em nada desmerece a grandeza de Tony. Porém, não deu para entender a indicação. O ator é um dos maiores do país e merece uma legião de homenagens, dando show de vitalidade aos 93 anos, mas seu personagem em "Amor Perfeito" mal aparecia. O veterano fez figuração de luxo e merecia muito mais destaque. Dava para contar nos dedos as vezes em que o frei Tomé tinha falas. Já Nicolas viveu seu melhor momento na carreira até agora pelo desempenho irretocável na pele do sofrido Diego em "Todas as Flores". Rainer também merece elogios pela sua atuação como o italiano Luigi em "Terra e Paixão". Mas a ausência de Fábio Assunção, pelo Humberto em "Todas as Flores", e José Loreto e Zécarlos Machado, pelos Lui e Fábio Lorenzo em "Vai na Fé", foram sentidas. 

Na categoria Revelação do Ano concorreram Clara Moneke, Diego Martins e Amaury Lorenzo. Sem dúvida, a categoria mais justa da premiação. De fato, as três maiores revelações de 2023. Uma missão muito complicada para quem votou. Clara foi um dos grandes nomes de "Vai na Fé" e Kate foi um fenômeno. Não à toa, protagonizou um especial de Natal disponibilizado no Globoplay e exibido na Globo nesta segunda-feira, dia 18. Diego é uma grata surpresa como Kelvin em "Terra e Paixão", assim como Amaury Lorenzo na pele do matador Ramiro na mesma novela. O casal caiu nas graças do público e os dois cresceram demais na história. O vencedor foi Amaury e coincidentemente o ator protagonizou sua melhor cena na novela das nove nesta semana, quando Ramiro e Kelvin finalmente se beijaram. Prêmio merecido e vale uma observação sobre o absurdo em torno das ameaças de morte que o vencedor recebeu em sua rede social. Nada justifica. 

Em Série do Ano concorreram "Os Outros", "Encantados" e "As Aventuras de José e Durval". Três produções de qualidade, onde a mais 'fraca' é a que conta a história de Chitãozinho e Xororó. O ritmo cansa um pouco e o maior acerto é o elenco bem escalado. No entanto, "Os Outros" foi um dos maiores fenômenos do ano e mereceu a vitória. A série mobilizou o público com um enredo repleto de tensão e cenas fortes. Já "Encantado`s" é um sopro de leveza em uma época onde o humor praticamente inexiste na programação. A única série cômica do ano, com um elenco majoritariamente negro, é uma das melhores surpresas de 2023. 

Em Atriz de Série concorreram Adriana Esteves, Andreia Horta e Leandra Leal. As três merecedoras, mas já era de se esperar a vitória de Adriana Esteves. Seu desempenho em "Os Outros" foi de uma entrega absurda. Cibele protagonizava momentos de vilã e outros de mocinha na série que prendeu o telespectador diante da tela. Andreia também merece elogios pela sua atuação visceral em "As Aventuras de José & Durval", enquanto Leandra Leal brilhou em "A Vida Pela Frente", tanto atuando quanto escrevendo.

Em Ator de Série disputaram Eduardo Sterblitch, Luis Miranda e Milhem Cortaz. Outro trio de talento. Eduardo surpreendeu na pele de um miliciano aterrorizante em "Os Outros" e mostrou uma faceta até então desconhecida do grande público, acostumado a vê-lo em perfis cômicos, o que proporcionou a vitória justa. Na mesma série, Milhem se entregou de corpo e alma a um personagem que transbordava passionalidade e descontrole. Outro merecedor. Já Luis divertiu protagonizando "Encantado`s" na pele de um personagem que também tinha seus momentos de emoção. 

No Jornalismo concorreram Maju Coutinho, Renata Vasconcellos e César Tralli. Embora Maju e Renata sejam duas profissionais de talento inquestionável, o ano foi de Tralli. O jornalista tem uma carga de trabalho exaustiva para quem assiste e causa a impressão de estar no ar o tempo todo. Apresenta o "Jornal Hoje" na Globo e o "Edição das 18h" na GloboNews de segunda a sexta e ainda arruma espaço para surgir como repórter em algumas matérias. 

Em Humor concorreram Fábio Porchat, Rafael Portugal e Paulo Vieira. Com todo respeito a Fábio e Rafael, o ano foi de Paulo, que roubou a cena e fez milagres no péssimo "BBB 23" e ainda divertiu no comando do "Avisa Lá Que Eu Vou", programa do GNT e quadro do "Fantástico". Não tinha como não ganhar. Aliás, até que enfim levou o troféu já que nos anos anteriores Tatá Werneck sempre concorria e levava a melhor com méritos pelo ótimo "Lady Night". Já em Música do Ano foram escolhidas "Erro Gostoso", de Simone Mendes; "Tá OK", de Kevin O Chris e Dennis; e Zona de Perigo, de Leo Santana. A vitória foi da música de Simone, que agora segue a carreira solo sem a irmã, Simaria. 

O "Melhores do Ano" mais uma vez serviu justiças, injustiças e polêmicas, mas foi uma festa bonita com direito a um show final do grande Ney Matogrosso, que cantou vários sucessos e empolgou convidados e plateia. Agora é esperar o de 2024.