quarta-feira, 16 de agosto de 2023

Léa Garcia abriu muitas portas para artistas negros na dramaturgia nacional

 A atriz Léa Garcia faleceu nesta terça-feira, aos 90 anos, vítima de um infarto. Ela iria receber o Troféu Oscarito na noite do mesmo dia de seu falecimento no Festival de Cinema de Gramado, a mais tradicional honraria do festival. A veterana seria homenageada ao lado da igualmente grandiosa Laura Cardoso e Léa já era uma figura corriqueira em Gramado, pois ganhou quatro Kikitos com "Filhas do Vento", "Hoje tem Ragu" e "Acalanto". 


O falecimento da atriz foi um choque porque estava tudo bem até ontem e a sua alegria em ser homenageada era visível nas fotos divulgadas em sua rede social ao lado dos amigos. Em virtude de sua morte, a Globo antecipou a exibição de um especial que ainda nem foi lançado pela emissora, chamado "Tributo", que presta reverência a atores veteranos que fazem história no país. O especial foi lindo, exibido logo após o reality "No Limite", e expôs a importância que Léa teve para as artes cênicas e a referência que deixou para inúmeros atores negros que sonhavam com um lugar ainda muito distante na época em que a intérprete começou a atuar. Depoimentos de nomes como Sheron Menezes, Taís Araújo, Antônio Pitanga, Camila Pitanga, Elisa Lucinda, Emiliano Queiroz, Conceição Evaristo, Tonico Pereira e Neusa Borges emocionaram. 

A atriz possuía no currículo mais de 100 produções, incluindo cinema, teatro e televisão. Em 1957, foi indicada ao prêmio de melhor interpretação feminina por sua atuação em "Orfeu Negro", filme que ganhou o Oscar em 1960 como melhor longa estrangeiro, representando a França.

Ironicamente, um ano antes, em 1956, também brilhou em outra produção com título de "Orfeu", no caso, "Orfeu da Conceição", na peça teatral de Vinícius de Moraes. Seu olhar profundo era uma de suas maiores características cênicas, o que deixava qualquer personagem com uma veracidade impressionante. A facilidade de emocionar em cena era uma constante. 

A televisão fez Léa ficar conhecida do grande público e foram inúmeras novelas e participações em séries, vide "Assim na Terra como no Céu" (1970); "Minha Doce Namorada" (1971); "Selva de Pedra" (1972); "Os Ossos do Barão" (1973); "A Moreninha" (1975) e "O Casarão" (1976). Até que veio um de seus papeis mais memoráveis na carreira na primeira versão de "A Escrava Isaura", em 1976: a vilã Rosa. Também marcou presença em "Dona Beija" (1986); "Pacto de Sangue" (1989); "Araponga" (1990) e minissérie "Agosto" (1993). Sua breve presença no fenômeno "A Viagem", em 1994, acompanha de uma curiosidade interessante: a cantora Alcione reclamou em uma entrevista que o céu retratado na novela só tinha branco. Não havia um anjo preto sequer, o que a fez questionar se o céu tinha sido feito apenas para brancos. A reclamação fez o diretor Wolf Maya convidar Léa para a reta final da história. 

A talentosa profissional ainda emocionou em diversas outras novelas, como "Anjo Mau" (1997); "O Clone" (2002); e "Cidadão Brasileiro" (2006), além de ter feito breves participações em "Êta Mundo Bom!" (2016); "Mister Brau" (2017); "Sob Pressão" (2018); "Carcereiros" (2019) e "Arcanjo Renegado" (2020). Aliás, a atriz tinha acabado de gravar a terceira temporada de "Arcanjo" e foi seu último trabalho. Já o último convite que Léa recebeu foi feito por Bruno Luperi, neto de Benedito Ruy Barbosa, que a chamou para viver Inácia (empregada interpretada por Chica Xavier em 1993) no remake de "Renascer", previsto para 2024. Ainda que a personagem tenha importância na história, é triste que a veterana tenha sido chamada para viver mais uma empregada em sua carreira, aos 90 anos de idade. 

Léa Garcia foi uma das maiores responsáveis pela abertura de portas para artistas negros na dramaturgia nacional. Se hoje o público pode ver Sheron Menezzes e Samuel de Assis protagonizando "Vai na Fé", Diogo Almeida sendo o mocinho de "Amor Perfeito" e Barbara Reis como protagonista de "Terra e Paixão", muito se deve ao caminho percorrido por essa grande mulher e extraordinária atriz. 

12 comentários:

chica disse...

Estou em férias, mas assim que ouvi a triste notícia, chocada ainda, lembrei de ti e teu blog.Sabia que a homenagearia! Merecida! abração praianos, chica

Marly disse...

Eu muito admiro pessoas como a atriz Léa Garcia. E não apenas pelo talento que ela sempre demonstrou possuir. Admiro igualmente a coragem e a 'ousadia' de 'reivindicar' o lugar que ela sabia possuir no mundo. Sem alardes ela desbravou um caminho e provou o próprio valor.

Beijo

Anônimo disse...

De fato Léa Garcia foi um dos nomes que pavimentou o caminho para muitos intérpretes negros terem oportunidades na dramaturgia nacional, sobretudo em papéis de protagonistas. Deixa um legado muito bonito e importante. Fique em paz, Léa.

Guilherme

Jovem Jornalista disse...

Uma perda irreparável para todos nós. Vou assistir essa homenagem à ela no 'Globoplay'.

Boa semana!

O JOVEM JORNALISTA está no ar cheio de posts novos e novidades! Não deixe de conferir!

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Até mais, Emerson Garcia

Lulu on the sky disse...

Ela era incrível, pena que só deram o devido valor no fim da vida dela.
Big beijos
www.luluonthesky.com

Fá menor disse...

Há pessoas que são um marco, uma referência, mundo e nas vidas das pessoas.
RIP.

Sérgio Santos disse...

Obrigado, Chica.

Sérgio Santos disse...

É isso, Marly.

Sérgio Santos disse...

Deixa, Guilherme.

Sérgio Santos disse...

Fato, Emerson.

Sérgio Santos disse...

Verdade, Lulu.

Sérgio Santos disse...

Verdade, Fá.