"Um Lugar ao Sol": o que esperar da nova novela das nove?

A nova trama das 21h da Globo estreia hoje, dia 8 de novembro, e marca a chegada de Lícia Manzo no horário mais nobre da emissora. A autora é a responsável por dois primorosos folhetins das 18h: "A Vida da Gente", de 2011(reprisada recentemente), e "Sete Vidas", de 2015. Duas histórias que primaram pela sensibilidade e resultaram em uma sucessão de elogios do público e da crítica. Há uma expectativa muito grande para "Um Lugar ao Sol", pois a força dramática das histórias da escritora sempre foram perfeitas para a principal faixa de novelas do canal. 

 Mas a verdade é que Lícia Manzo enfrentou uma verdadeira saga até estrear sua primeira novela no horário nobre. Após o êxito de "Sete Vidas", a autora foi escalada para escrever uma novela das 23h, prevista para 2016. A sinopse foi criada e o título era "Jogo da Memória". A trama abordaria uma relação incestuosa entre uma irmã e seu irmão por parte de pai em três épocas distintas. Mas a Globo achou o investimento caro para uma trama que teria três fases. O projeto acabou cancelado, mas Lícia escreveu a história inteira, que segue engavetado. Pediram, então, para a escritora fazer uma novela sem horário definido. Pedido aceito. 

A princípio, a Globo decidiu destinar a nova trama de Lícia para as 18h. Porém, outra vez criaram empecilhos e uma nova ordem veio: adaptar o enredo para a faixa das 21h. Quando tudo parecia certo, a direção não achou que a história não tinha a força necessária e uma nova adaptação foi feita, segundo várias notas de colunistas.

Enquanto isso, resolveram produzir "Amor de Mãe", de Manuela Dias, que nunca tinha escrito um folhetim sozinha, e enfrentou sérias dificuldades de emplacar seu roteiro, que não decolou na audiência. 

Apesar do novo adiamento, finalmente as gravações da produção de Lícia tinham iniciado. A novela se chamaria "Em seu Lugar" e acabou tendo o título alterado para "Um Lugar ao Sol". Tudo parecia certo. Até que veio a pandemia do novo coronavírus. Uma nova interrupção ocorreu e o futuro ficou incerto. A Globo priorizou o retorno das gravações das tramas que foram interrompidas no ar e as novas ficaram em espera. Meses se passaram, reprises dominaram a programação, e somente no final do ano passado os trabalhos foram retomados. Agora a nova novela está toda gravada e as últimas cenas foram finalizadas em novembro, mês da estreia. 

Todavia, Lícia ainda enfrenta um desrespeito da Globo com sua obra. A campanha de divulgação sempre esteve a desejar. A emissora parece muito mais preocupada com os anúncios sobre o remake de "Pantanal", previsto para 2022. A novela da autora terá uma curta duração: apenas quatro meses. São 107 capítulos. Isso porque a cúpula da empresa não acha que a produção vá emplacar e aposta todas as suas fichas na releitura do sucesso de Benedito Ruy Barbosa da Rede Manchete, na década de 90. Será irônico demais se o roteiro da escritora cair nas graças do público e a produção for um êxito de público e crítica. Porque há chances de sobra. 

A premissa é baseada em um dos maiores clichês dramatúrgicos: os gêmeos que trocam de lugar. No entanto, no caso de Lícia Manzo não há o maniqueísmo do gêmeo bom e gêmeo mau. Ao que tudo indica, nem a tradicional troca de vidas de fato ocorrerá. Isso porque um deles será assassinado. A sinopse é das mais promissoras: 

"Os gêmeos Christian e Christofer (Cauã Reymond) são separados ainda bebês após perderem a mãe no parto em Goiânia. Christofer é adotado por um casal do Rio de Janeiro e rebatizado como Renato pelos pais adotivos. Christian é deixado em um abrigo pelo pai biológico. Os gêmeos crescem em realidades opostas, com personalidades completamente diferentes, sem saberem da existência um do outro. Os caminhos dos irmãos voltam a se cruzar quando ambos completam 18 anos. Christofer/Renato descobre sua verdadeira identidade no leito de morte do homem que acreditava ser seu pai. Só que Elenice (Ana Beatriz Nogueira), sua mãe adotiva, mente ao rapaz e afirma que seu pai biológico e seu irmão gêmeo morreram. Ao mesmo tempo, Christian é obrigado a deixar o abrigo para menores onde cresceu, em Goiânia, e também descobre que foi separado de Christofer. Inteligente e dedicado aos estudos, Christian se vê sozinho no mundo e sem perspectivas. Na esperança de encontrar o irmão, Christian se muda para o Rio de Janeiro com uma única pista na mão: um recorte de revista onde um jovem idêntico a ele, com a camisa do Botafogo, assiste a uma partida na Tribuna de Honra do Engenhão. Antes, despede-se de Ravi (Lauan do Amaral), seu irmão do coração, dez anos mais novo, criado no abrigo com ele. Já Christofer/Renato embarca para a Europa com uma passagem só de ida, revoltado com a mentira dos pais adotivos. Sem saber do destino do irmão, Christian trabalha como ambulante na porta do Engenhão, em jogos do time carioca, durante dez anos com a expectativa de achar o Christofer. 

O tempo passa, Ravi (Juan Paiva) completa 18 anos e vai para o Rio de Janeiro com Christian. É através do irmão do coração que o protagonista conhece Lara (Andreia Horta). Batalhadora, Lara foi criada em Minas Gerais pela avó, Noca (Marieta Severo), e veio para o Rio de Janeiro cursar gastronomia. Apaixonado, o jovem desiste da busca pelo irmão perdido e traça um novo objetivo: se casar com Lara e abrir um pequeno negócio. Só que Ravi é preso injustamente, acusado de um roubo que não cometeu, e Christian precisa levantar dinheiro para a fiança. O rapaz aceita fazer um serviço para o tráfico e acaba ameaçado de morte. Sem saída, combina de fugir para Minas com Lara. Só que na noite da fuga, por acaso, ele se vê diante de Christofer/Renato. Após uma intensa madrugada juntos, os irmãos serão novamente separados, mas agora em caráter definitivo. Instável e problemático, ao tomar conhecimento da dívida do irmão, Renato sobe o morro em seu lugar e acaba morto pelos traficantes. Após ser confundido pelo porteiro do prédio de Christofer/Renato, pela mãe do rapaz e até pela noiva, a linda Bárbara (Alinne Moraes), Christian assume o lugar do irmão morto. Incógnito, assiste Lara enterrar o corpo do irmão como se fosse seu e segue rumo a uma nova vida, onde terá que lidar com as consequências de sua escolha. Apenas uma pessoa sabe de toda a verdade: Ravi."

A sinopse traduz um novelão da melhor qualidade. Identificar a quantidade de dilemas que todos os personagens enfrentarão já provoca uma curiosidade sobre todos os desdobramentos criados por Lícia. Para culminar, tudo o que foi descrito na sinopse ocorre já na primeira semana de novela. Não há uma demora para o reencontro dos irmãos, que já se encontram no terceiro capítulo. A autora, por sinal, declarou que tem o intuito de trazer para a discussão questões como integridade, ética, corrupção e desigualdade social, mas pelo ponto de vista íntimo, subjetivo, humano. E não apenas estatístico. Vale ressaltar que a novela ainda tem núcleos paralelos e um deles terá a trama de uma ex-modelo (Mariana Lima), casada e grávida do marido (Marco Ricca), que se apaixonará por sua ginecologista, vivida por Natália Lage. Promete render. O elenco ainda tem outros ótimos nomes, como Regina Braga, Denise Fraga, Andreia Beltrão, Gabriel Leone, José de Abreu, Fernanda de Freitas, Luiz Serra, Danton Mello, Daniel Dantas, Pathy de Jesus, Ju Colombo, Renata Gaspar, Otavio Muller, Cláudia Mauro, Débora Duarte, Antônio Pitanga, Renata Gaspar e Rui Rezende. 

"Um Lugar ao Sol", dirigida por Maurício Farias, é a primeira novela totalmente inédita do horário nobre, após a interrupção das gravações na época do auge da pandemia. Como vai ao ar toda gravada, nada de alterações durante o percurso. O risco existe, mas Lícia Manzo nunca foi uma autora de mudar seus roteiros para uma maior aprovação do público. Sempre calculou muito bem os conflitos de suas obras e até o momento obteve êxito. Resta aguardar e ver se seguirá assim.