segunda-feira, 12 de abril de 2021

Reprise de "Mulheres Apaixonadas" no Viva lembrou que Heloísa era desequilibrada, mas tinha seus motivos

 Novelas refletem o comportamento da sociedade e por isso algumas envelhecem mal e outras se mantêm atual. A importância da teledramaturgia para expor a evolução do comportamento das pessoas é grande. A questão já foi tema de alguns posts neste blog envolvendo "Laços de Família" e "Mulheres Apaixonadas", uma recém-reprisada e a outra em sua última semana de reexibição. Dois sucessos de Manoel Carlos. Mas agora vale uma reflexão a respeito da condução de uma personagem: Heloísa, interpretada por Giulia Gam, na produção reprisada pelo Canal Viva. 


O perfil foi um dos mais emblemáticos de "Mulheres Apaixonadas". O que mais caracterizava o título da novela, por sinal. Mas hoje em dia é possível observar a forma equivocada como o conflito acabou desenvolvido pelo autor. Heloísa é uma clássica ciumenta doentia. Insegura e grosseira, a irmã de Helena (Christiane Torloni) tem um sentimento de posse pelo marido, o cafajeste Sérgio (Marcello Antony). Controladora, a personagem vive em função do esposo e até fez uma laqueadura escondida para não correr o risco de engravidar e assim dividir a atenção do companheiro, ainda que seja com um filho. 

É evidente que se trata de uma mulher psicologicamente doente. Tanto que passa de todos os limites em vários momentos. Já pensou em se matar, capotou seu carro e colocou a sua vida e a de uma amiga em risco durante um surto de ciúmes e chegou até a esfaquear o marido durante uma discussão. Cenas brilhantemente defendidas por Giulia Gam. O maior acerto desta trama foi a inserção do grupo "MADA" (Mulheres que Amam Demais Anônimas). A personagem, após muita resistência, aceitou participar das reuniões de mulheres que confessam seus dramas mais íntimos e que destroem suas relações. Na época, em 2003, houve um grande crescimento na procura da rede de apoio. O chamado 'merchandising social' foi de suma importância. 

Porém, várias situações criadas pelo autor com o intuito de expor Heloísa como uma louca surtada soam machistas vistas ao olhos de hoje. Vidinha (Júlia Feldens) dá em cima de Sérgio descaradamente, assim como Dóris (Regiane Alves), e amam provocar a esposa do 'garanhão'. Qualquer mulher no lugar de Helô não toleraria o deboche. E o marido não só aceita as cantadas como 'dá corda'. Mas as duas sempre são colocadas como corretas na situação, assim como Sérgio. Já a esposa fica na posição de desequilibrada. A própria 'reconciliação' com o esposo foi desdobrada para 'vilanizar' Heloísa. Afinal, após uma facada no braço seria quase impossível Sérgio aceitar uma volta. Mas ele aceita. O problema é que se mostra frio e grosseiro com a mulher em casa. Claramente não suporta estar ao seu lado. Então qual a razão da volta? Apenas mostrar como a mulher é inconveniente e chata. 

Outro apelo de Maneco para despertar a antipatia do público por Heloísa é colocá-la destratando os empregados e xingando o porteiro do prédio. Também mostrá-la sendo desagradável com todos ao seu redor, incluindo as irmãs Helena e Hilda (Maria Padilha). E funcionou na época. O telespectador odiava a personagem. Já Sérgio nunca foi responsabilizado por nada. Era visto como a grande vítima e seu comportamento com as outras mulheres nem tinha qualquer questionamento. Fruto, claro, do machismo entranhado da época. Até Leandro (Eduardo Lago), marido de Hilda, era grosseiro e amava provocar Heloísa, mas quando a cunhada se descontrolava era vista como perturbada. 

O casamento de Helô e Sérgio acaba de vez quando a personagem tenta matar Vidinha atropelada. E o desequilíbrio da irmã mais nova de Helena vai piorando cada vez mais. Já Sérgio é visto sempre como a vítima e ainda é 'recompensado' no final ao lado de Vidinha, a 'ninfeta' que o cortejou durante a história inteira. 

Tem sido um prazer rever "Mulheres Apaixonadas" no Viva e não há como negar que Helô foi um dos mais papéis mais marcantes da novela. Giulia Gam saiu consagrada. Mas é interessante observar, quase 18 anos depois, como uma abordagem até então vista como maravilhosa foi tão controversa na época, sem maiores questionamentos. Heloísa era desequilibrada, mas tinha seus motivos. 

34 comentários:

André Vinícius disse...

Sabe o que é mais irônico? Ela é uma das poucas personagens fiéis que nunca traiu o parceiro(a), todo mundo em mulheres apaixonadas topa uma traição

Matheus Nogueira disse...

Sérgio,sobre a prática do ´´Stalking´´,q virou crime por lei sancionada pelo Bolsonaro,e q estávamos comentando se seria um bom tema para ser abordado numa Novela.o ´´Stalking´´em sí,não é crime,Sérgio.vc pode Stalkear com o objetivo de conhecer melhor,saber um pouco mais sobre uma pessoa.o´´Stalking´´no contexto da lei sancionada pelo Bolsonaro,é quando você persegue uma pessoa com o objetivo de intimidar,de ameaçar.um exemplo,é quando uma mulher termina um relacionamento,ou não quer nada com o homem,aí ele perturba,incomoda,ameaça e é invasivo,fica mandando mensagens.é nesse sentido q o´´Stalking´´virou crime.deu pra vc entender,Sérgio?

Anônimo disse...

Pensei que só eu achava isso um absurdo. Ela é neurótica mesmo, mas o marido dela é um bosta e tratado como um coitado.

Anônimo disse...

O Manoel Carlos é um autor que entende a alma feminina, certo? Tanto que alguns perfis femininos são desenhados de forma a parecerem destemperados, e isso é usado como justificativa para os desvios de caráter dos masculinos. Mas ainda bem que a sociedade evolui e compreende quão problemáticas eram algumas abordagens de temas sensíveis em folhetins.

Guilherme

Ms. V. disse...

Essa novela foi altamente machista. Até hj não me conformo da Helena ficar com o garanhao da novela. E se a novela tivesse uma continuação o Sergio certamente trairia a Sonsa da Vidinha que dava em cima dele na cara dura e todo mundo achava normal.

Anônimo disse...

"Qualquer mulher no lugar de Helô não toleraria o deboche."
Esse é um ponto muito importante, nós mulheres não precisamos tolerar nada para manter uma relação doentia. Sérgio de fato foi um covarde em ter continuado com a Helô, em ter dado corda para as meninas na frente da esposa, sabendo que a mesma era ciumenta. Porém, não ensinaram e não mostraram a Helô o básico, o amor próprio. Tanto na época e como ainda se estende até os dias de hoje, as pessoas só são respeitadas se estão num relacionamento e pra isso, vale tudo. Não vale, devemos nos amar antes tudo e depois assumir um sentimento com o outro.
Essa trama vai muito além de Helô é assim, pois tinham seus motivos. Se ela tivesse amor a si, jamais insistiria no amor do Sérgio.

Anônimo disse...

Não gosto das novelas de Manuel Carlos por causa desse machismo exacerbado, essas mulheres " loucas por homens" e de sempre ter um garanhão que pega todas, trai e sempre se dá bem no final. Sem contar que ele adora botar um cara de meia idade para se envolver com uma ninfeta "safadinha" Passo longe das novelas dele��
PS: Sérgio, não seria Júlia Almeida ao invés de Feldens?

Unknown disse...

O Sérgio,vaidoso e com a conivência de todos ao seu redor, inclusive da família de sua esposa, aceita as investidas daquela patricibha ridícula, mesmo sabendo que sua esposa sofre e sente uma dor imensa na alma. Sim, autoestima é essencial mas existem muito mais Heloísas por aí do que imaginamos. Mulheres que só se sentem vivas e completas com um homem ao seu lado. A tal patricinha merecia uma coca bem dada pela Heloísa

Unknown disse...

Novela machista,cheia de traições,professora que seduz menor,pai que da surra em filha,garoto que transa com empregada para aprender a fazer sexo.Empregada negra.Separa idosos da família.Filha da empregada que virá mãe solteira. Ninfetas sem caráter. Assistente que dão em cima dos chefes. Só comportamentos errôneas. Esse autor é machista,racista e insensível ao lado feminino do sentimento em uma relação afetiva.

Unknown disse...

Novelas servem para reflexão. Possivelmente essa era a realidade da época e quem sabe levou à reflexão para pensarmos como pensamos hoje.

Anônimo disse...

Sugestão : Valeria uma postagem também sobre a Professora de Fred. O aluno se apaixona,e ela se envolve fisicamente com ele,um menor de idade. Foi bem estranho como não existiu repercussão na época.

Elizabeth Cristina Sipauba disse...

Ridículo a patricinha Vidinha no final ficar com o vitimado Sérgio hahaha, q de vítima ñ tinha nada, era só um safado, vítima era a Helô, além de ser doente era provocada e desrespeitada pelas duas adolescentes vigaristas, Vidinha e Dóris, ridículo pq AMADA não serviu p nada, qdo ali era pra ela ter se curado, ou seja esse autor valorizou e incentivou as traições, no final mostrou q vale a pena dar em cima de homem casado e premiou o personagem da tal Vidinha ficando com o Sérgio. Final nojento 🤮

Unknown disse...

Concordo plenamente com vc

Codinomesheila disse...

Nossa, revendo essa novela hoje em dia eu tenho vontade de dar um soco voador no autor (brincadeira...rs). São tantos closes errados que chega a ser uma novela NO-JEN-TA! Seu texto foi mto bom e tenho certeza que representa mta gente que está "entalada" com os absurdos que questões tão delicadas foram abordadas absurdamente erradas nesta novela.

Unknown disse...

Verdade. Fico observando este monte de ansurdos também. São pessoas sórdidas tratadas como normais. Não tem uma autocrítica e um desejo de ser mais ético ou humano. Triste de ver. E embalados ao som de bossa nova, tudo parece muito legal.

Unknown disse...

Verdade novela de 2003 com péssima exemplo ,eu não assisti na época e a primeira vez que assisto ,mais pessoas com dinheiro é com tantos mal exemplo,eu não assistiria de novo,não gosto das novelas de Manuel Carlos

Ca disse...

Sabe o que não me conformo foi a relação da Helena com a Luciana, em busca da tal felicidade própria a Helena passou por cima da Luciana, detalhe toda hora ela fazia questão de dizer q ela só vivia pra resolver problemas dos outros, e aí pra contornar isso colocaram uma rixa entre as duas, e a Luciana de errada,

Unknown disse...

Isso mesmo. A Heloísa deveria ter dado uma sova de gato morto na tal Vidinha. Se teve um personagem que peguei ranço nessa novela foi essa sonsa dessa Vidinha.

Rit@ @raujo disse...

AMEI a analise da personagem e o contexto. Foi tudo o que pensei sempre desde o inicio. Sergio era um crítico, vaidoso e egoísta que alimentava esse ciúme e desmoralizada a esposa alimentando as provocações das vizinhas. Nunca se importou com os sentimentos dela e nunca moveu uma palha pra ela ficar bem. Um canalha e as irmãs também erraram demais porque não souberam enxergar o óbvio, defendê-la e direcionar o apoio correto. Esse núcleo da novela foi uma reprodução da realidade cega de muitas famílias, do machismo egoísta e canalha de muitos homens que fazem de tudo pra serem as vítimas sempre e das mulheres que precisam de muita cura do mal que julgam ser amor.

Unknown disse...

Revendo a novela, hj, fico enojada
Com tantas coisas erradas... Helo, tinha os problemas dela em relação ao ciúme, e o marido ao invés de evitar e ajuda la, fazia ao contrário, dava risinhos e confiança nas investidas de Vidinha, no qual ainda tem o final juntos... Ridículo. Tbm tinha o caso de Paulinha, q maltratou o pai a novela inteira, por ser pobre, e no fim ainda fica com um ricaço.
Gente, muitas coisas erradas... Fizeram da mãe do Fred uma "mãe chata", a qual só tinha preocupação com o único filho por se envolver com uma mulher mais velha e cheia de problemas com o ex marido agressivo. E por aí vai...

Unknown disse...

Simplesmente patético, essa novela ta em primeiro lugar em maus exemplos, eu não sei o que é pior se é a Helena que não vale nada traía o marido até mesmo na lua de meu é como se não bastasse agarrava o namorado da enteada e foi premiada ficando com o safado do Dr César que ra outro que não prestava e levava a amante pra sua casa junto com a esposa, aí vem a professora que se envolveu com um aluno menor de idade e ainda dentro da escola onde todos faziam vista grossa relação essa que levou o jovem a morte e ela foi premiada com um filho dele isso sem falar na Paulinha que vivia humilhando o pai por se pobre era preconceituosas fazia bullying com todos que dava na telha e ainda foi premiada ficando com um rapaz rico, sério mesmo essa novela foi uma piada de muito mal gosto.

Unknown disse...

Não gosto múto das novelas Manoel Carlos..

Unknown disse...

vdd um monte coisa errada ..nada construtivo somente sacansgem ..

Unknown disse...

Eu sempre achei que a Heloísa estava certa porque o marido é um lixo as irmãs ridículas o cunhado FDP nojento enfim a novela um verdadeiro lixo

Unknown disse...

A novela só foi uma grande realidade do nosso mundo... A vida é assim, nem tudo é justo nessa vida, infelizmente...

Unknown disse...

Também achava ele um bosta

Anônimo disse...

Tudo errado mesmo! Aff!! !

Anônimo disse...

Incrível como na época não houve críticas assim!! Essa novela é um absurdo!

Unknown disse...

Concordo. Nunca foi um coitado. Teve uma grande parcela de culpa pela loucuras de Helô.

Unknown disse...

Faço todos os comentários, os meus comentários, novela ridícula, Manoel Carlos é podre, machista, eu não vejo novelas dele

Lucas disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Lucas disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Lucas disse...

Nossa que texto mais absurdo!!! Imagina se fosse o contrário, o marido controlador e obsessivo capaz até de esfaquear a esposa e alguém escrevesse um texto dizendo q em partes a esposa tem culpa pq "provocava" ciúmes no marido. A culpa é toda da Heloísa. Ela era DESEQUILIBRADA e como você mesmo falou, doente psicologicamente. E não tem NADA que possa justificar atitudes tão extremas!

Anderson Sousa disse...

Ótimo texto e reflexão. Só uma observação: A personagem Vidinha foi interpretada por Júlia Almeida e não pela Júlia Feldens.