Chay Suede faz jus ao destaque de Ícaro em "Segundo Sol"

João Emanuel Carneiro vem destacando bastante o elenco jovem na segunda fase de sua novela. Tanto que ocorreu uma clara diminuída no foco do trio Beto (Emílio Dantas), Karola (Deborah Secco) e Laureta (Adriana Esteves), enquanto o triângulo amoroso protagonizado por Rosa (Letícia Colin), Ícaro (Chay Suede) e Valentim (Danilo Mesquita) cresceu em "Segundo Sol". E Chay tem conseguido aproveitar muito bem esse crescimento, honrando a confiança do autor na pele de um perfil repleto de complexidade.

O filho de Luzia é um rapaz revoltado, prepotente e marrento, cuja principal defesa é enfrentamento direto, elevando o tom de voz em qualquer início de discussão. Se revoltou com o assassinato do pai, nunca perdoou o 'abandono da mãe' e não esquece a dolorosa separação da irmã, Manuela (Luisa Arraes), provocado por sua tia, que deixou a menina com uma família rica e ficou com o sobrinho. Mas toda essa sua agressividade com o mundo é uma camuflagem de sua constante mágoa com tudo o que aconteceu em sua vida.

A fragilidade do personagem se expõe principalmente quando bebe e perde o controle do seu choro, agindo quase como uma criança. Ícaro, todavia, também tem um lado cômico e até sarcástico. Esse outro lado se evidencia quando está com Rosa, menina por quem se apaixonou perdidamente. O casal de garotos de programa transborda química e protagoniza cenas com muitas trocas de ironias. Isso vale para os momentos bons e ruins, aliás.
As provocações divertem quando os dois estão se dando bem e expõem a prepotência de ambos na hora das brigas, que por sinal agora tem sido recorrentes em virtude do namoro da menina com Valentim. A relação dele com a tia Cacau (Fabíula Nascimento) é outro bom exemplo. Estão sempre brigando, mas nos poucos momentos mais leves conseguem rir um do outro com deboches.

É impressionante como Chay vem crescendo a cada trabalho. Revelado no programa "Ídolos", da Record, em 2010, o até então cantor virou ator no remake de "Rebelde" produzido pela emissora em 2011, fazendo um grande sucesso ao lado de Sophia Abrahão, Lua Blanco, Arthur Aguiar, Micael Borges e Mel Fronckowiak. Estreou na Globo na primeira fase de "Império", em 2014, onde viveu o comendador José Alfredo, interpretado por Alexandre Nero posteriormente. Sua breve participação foi o bastante para provar que, embora nada planejada, sua presença no mundo das artes cênicas era definitiva.

Em 2015, foi um dos poucos acertos da fracassada "Babilônia" e formou um belo par com Luisa Arraes, que hoje interpreta sua irmã. Rafael e Laís eram um casal sensível. Na primeira fase de "A Lei do Amor", em 2016, convenceu na pele do mocinho Pedro e teve química de sobra com Isabelle Drummond, intérprete da mocinha Helô. Após duas novelas problemáticas, o ator fez parte de um sucesso de público e crítica: "Novo Mundo", deliciosa trama das seis que mesclou a história do Brasil com enredos folhetinescos em 2017. Se destacou vivendo o destemido Joaquim, grande herói da produção, repetindo ainda a ótima parceria com Isabelle, que interpretou a mocinha Anna. Foram muitas cenas de ação e emoção, todas bem defendidas por um entregue profissional.

Agora chegou a vez de participar de uma novela de horário nobre do início ao fim. E Chay mostra maturidade para tal desafio. Não há sequer uma cena fácil para o ator em "Segundo Sol", que protagoniza uma sucessão de momentos de intensa carga dramática. A dificuldade das sequências está cada vez maior; afinal, o personagem está separado de seu grande amor e ainda se deparou com a volta da mãe e do padrasto Miguel/Beto. É preciso elogiar seu grande desempenho na aguardada cena em que Luzia revelou a Ícaro que era sua mãe. A perplexidade, a mágoa e o ódio do rapaz puderam ser sentidos por quem assistia ao embate, expondo a entrega do ator. Ele e Giovanna Antonelli brilharam. Aliás, Chay tem sempre boas cenas com a atriz, além de Fabíula Nascimento, Adriana Esteves e Letícia Colin.

Não é fácil interpretar um tipo complexo, principalmente em novela, cujo público está mais acostumado a classificar determinado personagem como bonzinho ou malvado. Ícaro tem momentos onde se comporta como um perfeito babaca e outros em que expõe as fragilidades de um garoto que teve uma infância traumática. Chay Suede explora com competência todas as facetas desse rico papel, fazendo por merecer o seu destaque em "Segundo Sol".