Inicialmente, essa re-reprise foi bastante questionada pelos telespectadores do canal, que acharam um absurdo passar mais uma vez uma obra que já tinha ido ao ar anos antes, tendo tantos outros folhetins antigos disponíveis. De fato, a decisão do Viva surpreendeu. Porém, embora realmente reprisar uma trama já reexibida seja discutível, "Por Amor" é um produto que nunca se esgota. Maneco esteve inspiradíssimo e esse foi um de seus melhores e mais aclamados trabalhos. Tanto que a qualidade do conjunto pode ser mais uma vez observada com clareza.
A Helena vivida por Regina Duarte foi uma das melhores do escritor, levando em consideração que a grande atriz já havia interpretado outra Helena em "História de Amor", do mesmo Maneco, tão bem construída quanto ---- e outra em "Páginas da Vida". O título da obra, inclusive, foi claramente referente ao ato assustador da protagonista, que não titubeou em trocar o neto morto pelo seu filho vivo em uma das cenas mais marcantes e densas da teledramaturgia.
A sequência em que aquela mãe priva o marido e a si mesma de criar um herdeiro para evitar o sofrimento da filha, que perdeu o bebê e o útero, foi brilhantemente interpretada por Regina e Marcelo Serrado, intérprete do médico César. Impossível esquecer.
A novela não marcou só a carreira da eterna namoradinha do Brasil. A sua filha também se destacou na pele da mimada Maria Eduarda, protagonizando grandes momentos ao lado da mãe da vida real e da ficção. Ela viveu com dignidade a filha irritante da Helena, que virou outra marca do autor --- vide Joyce (Carla Marins), de "História de Amor", e Camila, de "Laços de Família", por exemplo. Foi seu grande papel na televisão. Aliás, Gabriela entrou para a galeria de grandes cenas da ficção logo no início do folhetim, quando Eduarda empurrou a venenosa Laura (Vivianne Pasmanter) na piscina, ignorando o fato da rival estar em uma cadeira de rodas.
E Vivianne foi outra atriz em estado de graça. A debochada filha de Meg (Françoise Forton) tirava Eduarda do sério e era obcecada por Marcelo (Fábio Assunção), sendo a responsável pelas melhores tiradas da trama, destacando o talento da atriz que ainda estava no começo da carreira na época. Mas não tem como mencionar vilanias sem enaltecer o trabalho de Susana Vieira. A veterana ganhou seu melhor papel e aproveitou todas as chances dadas por Manoel Carlos para ela brilhar. Branca Letícia de Barros Mota é uma das maiores víboras da história das novelas e foi vivida sem afetações ou caricaturas. A intérprete soube moderar o tom, deixando a ricaça elegante, arrogante e irônica na medida certa.
Foram muitas cenas ótimas protagonizadas por Susana, principalmente ao lado de Regina Duarte, Gabriela Duarte, Fábio Assunção, Cássia Kiss (Izabel), Carolina Ferraz (Milena), Antônio Fagundes (Atílio), Carlos Eduardo Dolabella (Arnaldo) e Murilo Benício (Leo). O desprezo que a matriarca sentia por Léo, a rigidez com que tratava Milena, e a superproteção que tinha com Marcelo sempre rendiam momentos envolventes, assim como sua rivalidade com Helena e sua paixão por Atílio. Vale lembrar ainda uma emblemática sequência protagonizada ao lado da sempre entregue Cássia Kiss, quando Branca e Izabel saem no tapa e rolam as escadas. Barraco típico do Maneco.
A trama ainda teve uma excelente abordagem em cima do alcoolismo e do racismo. O drama de Orestes (Paulo José, irretocável) comoveu o público e a cumplicidade do pai alcoólatra com a filha Sandrinha (Cecília Dassi) foi um dos pontos altos da novela, sendo preciso citar ainda o grande trabalho de Regina Braga vivendo a batalhadora Lídia. E a ideia de mostrar um branco casado com uma negra que se negava a ter um filho negro foi ousada, retratando com nitidez a hipocrisia que ainda reina na sociedade. Os conflitos protagonizados por Maria Ceiça (Márcia) e Paulo César Grande (Wilson) despertavam interesse, mesmo fazendo parde do núcleo secundário.
Já o melhor casal do enredo foi formado por Milena e Nando. A química entre Carolina Ferraz e Eduardo Moscovis arrebatou desde o início e a música tema do par (Palpite, de Vanessa Rangel) marcou o folhetim, sendo ainda o instrumental da vinheta de intervalo. O romance da ricaça rebelde com o piloto de helicóptero pobretão virou o principal com facilidade, ainda que a relação de Atílio e Helena também tenha sido linda e bem conduzida pelo autor. Vera Holtz, Carolina Dieckmann, Marco Ricca, Maria Zilda, Ângela Vieira, Odilon Wagner (intérprete do homossexual Rafael, que se revelou durante a trama), Eloísa Mafalda, Rosane Gofman, Beatriz Lyra, Tonico Pereira e Otávio Augusto foram mais alguns ótimos nomes do elenco.
"Por Amor" foi um novelão e esse imenso sucesso de Manoel Carlos vem repetindo o êxito no Viva, liderando a audiência do canal desde o começo da sua re-reexibição, sendo ainda a novela mais vista atualmente do aplicativo Globosat Play. É uma história que ninguém esquece e todo mundo faz questão de rever quando pode. Maneco na sua essência.
18 comentários:
Novelão do Maneco!!! Não tinha Viva quando reprisaram pela primeira vez então adorei esse repeteco.
Adorei esse texto! Faz um de Tieta também!
Lindo sempre te ler e anovela foi ótima! abraços, tudo de bom,chica
Em ‘’Por Amor’’, Manoel Carlos soube desenvolver muito bem e de forma eficaz temas pesados como preconceito racial, bissexualidade, aborto, jogo do bicho, troca de bebês, preconceito social, distinção de filhos por uma mãe, traições, alcoolismo e a sonegação de impostos por meio da corrupção. Falou também dos emergentes sociais, em voga nos anos 90, e abordou o amor incondicional pelos animais, por meio da emergente Meg, que tratava a cadelinha Inez como filha.
A bela abertura da novela foi um destaque. Embalada pela música do Quarteto em Cy (com participação de MPB4), Falando de Amor, as fotos de Regina Duarte e Gabriela Duarte e a música foram o suficientes para tornar a vinheta uma das mais bonitas da emissora.
Novela primorosa do Maneco. Adorando rever.
Seus textos são deliciosos de se ler.
Olá Sérgio!!
Infelizmente não tenho Viva, mas lembro nitidamente de Por Amor, tanto da exibição original quanto da reprise. Realmente era um novelão com várias cenas marcantes e muito gostosa de se ver sempre. Virei fã de Vivianne Pasmanter e da Gabriela Duarte nesse trabalho.
Abraços!!
Novelão, Cassia!
Farei, anonimo!
Mt obrigado, Chica. bjão
Ótimos comentários, Oath.
Idem, anonimo.
Fico feliz, Patricia!
Que pena, Germana. O Viva é um ótimo canal. E Vivianne e Gabriela brilharam muito mesmo. bjssss
Olá Sérgio! É impossível ouvir falar dessa novela e não pensar imediatamente na troca de bebes, aliás essa novela foi cheia de momentos marcantes. Eu odiava a Branca Letícia de Barros Mota (Eu não ia perder essa chance de dizer o nome dela inteiro) Tinha pena do Leonardo, birra da Laura e da Eduarda, carinho pelo Orestes e a Sandrinha e shipava muito sem saber o que era isso o Nando e a Milena.
Eu sei que a Helena fez o que fez por amor a filha, mas foi tão absurdo e egoísta e o pobre do Atílio perdeu a convivência com dois filhos. Das novelas que assisti do Manoel Carlos em minha humilde opinião está foi a melhor.
Um momento muito marcante, Leitora. Um dos maiores da teledramaturgia. Tem sido um prazer rever. Aliás, já já vem a cena. bjssss
Maneco MARAVILHOSO. Pena que perdeu a mão depois.
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