O folhetim foi ideia da autora Márcia Prates --- antes era colaboradora de várias produções e estrearia seu primeiro trabalho solo ---, que começou a desenvolver seu projeto com aprovação da emissora, até o surgimento de vários problemas em torno do texto e das situações históricas. Houve até a entrada de Euclydes Marinho como supervisor, que logo foi desligado, 'cedendo' lugar para Glória Perez, que também não durou muito na função. Após esse conjunto de contratempos, uma atitude mais drástica foi tomada: a responsável pelo enredo, então, acabou retirada do projeto, que passou para as mãos de Mário Teixeira. Ou seja, a elaboração desse folhetim foi bastante complicada.
Mas, após a exibição do caprichado primeiro capítulo, ficou evidente que os problemas ficaram apenas por trás das câmeras e já estão no passado. Baseada no livro "Joaquina, Filha do Tiradentes", da autora Maria José de Queiroz (lançado em 1987), a novela retrata inicialmente um Brasil do século XVIII e a saga de uma personagem bem desconhecida dos historiadores, mas que foi herdeira do mártir da Inconfidência Mineira, uma das figuras mais conhecidas e representativas do país.
Portanto, o fato de Joaquina não ser um perfil muito explorado facilitará bastante o lado do autor, que poderá abusar da criatividade para a condução da heroína, sem precisar se preocupar tanto com dados históricos.
A estreia foi marcada pela condução do enforcamento de Tiradentes, retratando dados históricos que todos já estudaram na época da escola. As primeira cenas foram voltadas para o idealismo daquele homem que lutava pela liberdade do seu povo. O público pôde ver em apenas um capítulo a conspiração de Joaquim José da Silva Xavier contra a Coroa Portuguesa, o carinho que tinha com a filha, a sua queda após a traição de Rubião (Mateus Solano) --- personagem que não existiu no contexto histórico --- e seu enforcamento em praça pública. Tudo foi exibido mesclando ficção com didatismo em torno da conhecida história do mártir da inconfidência.
Thiago Lacerda convenceu na pele da conhecida e emblemática figura, protagonizando ótimas cenas com Mel Maia nessa curta primeira fase. O carinho de pai e filha pôde ver observado com clareza, principalmente quando a menina foge e encontra o pai preso, prometendo libertá-lo. O momento clássico de seu enforcamento, inclusive, foi tocante, uma vez que Joaquina presenciou tudo e entrou em choque. A participação do ator apenas no primeiro capítulo merece elogios e o talento de Mel, vale mais uma vez ressaltar, é admirável.
Outra atriz que merece destaque é Lu Grimaldi, vivendo a rainha portuguesa Maria I, que ordena a execução de todos os traidores. Além dela, Lília Cabral também já mostrou a sua competência na pele da forte Virgínia, cafetina que apoia secretamente os inconfidentes e amiga de Raposo (Dalton Vigh), homem simpatizante ao movimento de Tiradentes que resolve criar Joaquina. Letícia Sabatella foi outro bom nome que brilhou interpretando Antônia, mãe de Joaquina, que logo é assassinada por Rubião. Marco Ricca ainda engrandece o elenco com seu inescrupuloso Mão-de-Luva e mostrou potencial logo na estreia.
Vale fazer uma menção especial ao Mateus Solano, que volta às novelas após o imenso sucesso de Félix, em "Amor à Vida" (2013). Foram quase três anos afastado e agora ele retorna na pele do ambicioso e traidor Rubião, um vilão que se apaixona por Joaquina, justamente a filha do homem que foi enforcado por causa de sua delação e da mulher que ele matou com um tiro na barriga. O personagem é interessantíssimo e o ator está impecável. Não tem mais nenhum traço do antigo personagem (o mais marcante de sua carreira), mostrando que será um dos destaques do novo folhetim.
O capricho da cidade cenográfica recriando a mineira Vila Rica (atual Ouro Preto), capitania de Minas Gerais, impressionou, assim como as vestimentas, todas muitos sujas e pesadas. As caracterizações ficaram primorosas e a primeira fase da novela é ambientada em 1792. Já a segunda migra para 1808, com Joaquina adulta, interpretada por Andreia Horta. É necessário ainda citar a belíssima abertura, ao som de "Francisco", cantada por Milton Nascimento. As imagens usadas (na verdade trechos de cenas da própria novela) parecem pinturas e ficaram de muito bom gosto.
"Liberdade, Liberdade" teve uma estreia bem caprichada e promete uma trama forte a respeito da luta pelo direito das pessoas. A novela é muito bem-vinda nesse complicado atual momento do Brasil e o folhetim tem bons ingredientes para prender o público: grande elenco, uma promissora história, produção riquíssima e personagens fortes. Resta saber se a primeira boa impressão será mantida ao longo das semanas. Tomara que sim.
36 comentários:
Sinceramente? Esperava mais. Mas vou esperar mais um pouco.
Sérgio, gostei da estreia e da sua análise.Acho que será uma boa novela, mas duvido que tenha uma elevada audiência.Não é uma novela que vá conseguir números expressivos como Verdade Secretas.Acho que ficará na base de O Rebu que também foi mais, digamos, refinada.
Também gostei e achei caprichada.Mateus Solano está fantástico e a Mel Maia é show.Quero que a Lu Grimaldi continue na novela mesmo com a passagem de tempo.
Olá, Sérgio...pelo jeito, o "troca-troca" na elaboração desse folhetim foi gerada, um contra-senso, porque faltou liberdade-librdade para desenvolver o texto e as situações históricas...mas, é isso, tema histórico e pertinente, produção belíssima e bom elenco, resta nos aguardar para a sequência...bela análise como sempre!
Obrigado pelo carinho,belos dias,abraços!
Três xícaras de "Xica da Silva" + duas colheres de "Verdades Secretas" + uma pitada de Regina, a justiceira = "Liberdade, Liberdade"
Eu não sei se esta é a receita do sucesso, mas posso dizer que o primeiro capítulo me animou para assistir ao segundo.
A VERDADE SOBRE TIRADENTES: ELE NUNCA FOI HERÓI DE NADA. ELE ERA UM TRAPACEIRO, VIGARISTA E MENTIROSO
Vou esclarecer uma farsa histórica: Tiradentes nunca foi herói de nada. Nunca foi mártir de porcaria nenhuma. O sujeito era um vigarista, mentiroso e trapaceiro.
Tudo que você aprendeu na escola sobre esse cara é mentira inventada pelos republicanos do século XIX e reforçada 'ad nauseum' pela ditadura militar do século XX.
TIRADENTES NUNCA FOI HERÓI. ELE ERA UM TRAPACEIRO, VIGARISTA E MENTIROSO
Tiradentes nunca foi barbado nem parecido com Jesus. Era bonito, rico, eloquente e trapaceiro. Esse infame traidor da coroa portuguesa e mentiroso não queria a independência do Brasil, ele queria a independência só para Minas Gerais.
E, mais, ele era contra a abolição da escravidão. Se dependesse dele, o Brasil seria como o restante da América Latina: dezenas de republiquetas bananeiras, divididas e pobres. Tiradentes não se sacrificou. Foi condenado à morte pelo crime de alta traição (e outro pagou pelo crime). E convenhamos: para a época, ele foi julgado com muita benevolência.
Se isso acontecesse em outro país civilizado da época, Tiradentes seria executado sem a chance de explicar o que fez. Pelo contrário, aqui ele recebeu o devido processo legal, mesmo estando numa colônia das américas. O procedimento judicial de apuração durou anos. O alferes ainda recebeu o benefício da forca antes de sofrer o esquartejamento. Em outros países, ele não teria essa regalia.
É muito fácil acusar o rei português de cruel e proclamar Tiradentes um herói. Devemos nos lembrar que ainda existe pena de morte para militares que cometam um dos 36 crimes previstos no Código Penal Militar em tempo de guerra. São diversos crimes: traição (art. 355), favorecimento do inimigo (artigo 356), covardia (art. 364), espionagem (art. 366), motim (art. 368), rendição precipitada (art. 372), abandono de posto (art. 390), libertação de prisioneiro (art. 394) e outros. Portanto, é injusto considerar a pena de morte dada a Tiradentes como excessiva quando nós mesmos adotamos a pena de Morte para nossos militares.
Mas o pior não é isso. Tiradentes não morreu enforcado. Segundo o historiador Carlos Eduardo Lins da Silva, o infame traidor fugiu para França onde viveu como outra pessoa, enquanto um pobre coitado morrera enforcado em seu lugar. Anos depois, ele voltou para o Brasil e abriu uma botica. Enfim: o herói Tiradentes é uma farsa. Tiradentes como é ensinado nas escolas nunca existiu. Trata-se apenas de uma história inventada pelos republicanos do séc. XIX para tentar legitimar o golpe militar republicano. E reforçada pelos ditadores militares das décadas de 1960-1980.
Historicamente, houve apenas um homem bem-apessoado, falante e eloquente que vivia andando pelos bordéis de Ouro Preto prometendo às prostitutas cargos de Ministro na república mineira que ele pretendia criar. Ninguém o levava a sério. E essa foi uma de suas teses de defesa nos Autos de Devassa da Inconfidência Mineira. “(…) tanto assim, que em uma ocasião, segundo o seu parecer depois das prisões, o médico Belo, falando-se nas ditas prisões, dissera em sua casa, que o dito Alferes era tão louco, que até pelas tavernas andava falando em República e liberdade de Minas“. (Autos, p.409-410, V. 5)
Tiradentes também não era “barbudo”, nem se parecia com Jesus. Ele era um alferes. E como todos os demais militares, era obrigado a raspar a barba ou sofrer os castigos da corporação. Assim como atualmente, os recrutas que não fazem a barba, também são punidos pelo quartel.
E mais: Tiradentes não era pobre, mas um homem de posses. Nasceu em São João del-Rei, MG, na fazenda do Pombal (Hoje em Ritápolis, MG). Uma enorme fazenda, ressalte-se. Mas não para por aí: ele também possuía várias outras fazendas no Estado de Minas Gerais. Além disso, ele possuía escravos e outros bens. Então, como poderia ter sido pobre? E isso é fácil de provar por causa da existência de um processo judicial que Tiradentes sofreu antes de ser condenado por alta traição. Motivo: o herói enganou uma viúva e deflorou a filha dela (coisa grave para época). Eis o que está nos autos: Vivendo em sociedade por causa daquela promessa, doou à mesma suplicante uma escrava por nome de Maria, de nação Angola, que sucedendo ser preso o dito alferes Joaquim José da Silva Xavier na cidade do Rio de Janeiro, foi confiscado, ou sequestrado com outros mais bens”.
Conforme o Processo, Tiradentes doou (de boca) para família da moça deflorada uma escrava para poder compensar o dano causado, mas a escrava foi confiscada posteriormente por causa da alta traição cometida pelo Alferes contra a coroa. Como a transação não tinha sido documentada e o Alferes não manteve a palavra, a escrava foi confiscada como se ainda pertencesse a Tiradentes e a pobre moça teve que recorrer à Justiça para tentar recuperar a escrava. É por causa desse processo, que hoje se sabe que Tiradentes, além de rico e mentiroso, era também um deflorador de donzelas.
São mais de 100 anos no qual a república tenta criar a imagem de um “herói” cujo “grande mérito” era querer dividir o Brasil, através do ardil da alta traição com o apoio das prostitutas. E mais: ele queria uma Minas Gerais “Livre” na qual os negros continuariam escravos. Tiradentes sequer teve a dignidade de morrer como devia, mas deixou outro sofrer no seu lugar. Além disso, ele tinha o hábito de enganar mulheres ingênuas para deflorá-las.
Tiradentes só poderia ser considerado herói numa república como a brasileira na qual a traição, a dissimulação e a quebra de juramentos fazem de um vilão um herói nacional. Herói é alguém honrado, capaz de enfrentar a morte pelas causas nobres. Herói é alguém leal, a exemplo do Marquês de Tamandaré. Tiradentes não tinha essas qualidades, era um trapaceiro mentiroso que deixou outro pagar com a vida pelos seus erros.
Referências:
CARVALHO, José Murilo. A formação das Almas: o imaginário da república no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
MINAS GERAIS. Autos de Devassa da Inconfidência Mineira. Belo Horizonte: Imprensa Oficial de Minas Gerais, 1976. Volumes 1-9.
SILVA, Carlos Eduardo Lins da. Morte de Tiradentes tem contestação. Folha de São Paulo, São Paulo, 21 abril de 1999.
SILVA, Paulo da Coste e (2007). A outra face do alferes.
Sérgio, querido, adorei a estreia e acho que promete também.Ótima crítica e estou encantada pela Mel Maia.Que talento.Já o Lacerda não achei grande coisa.Mateus Solano está incrível e em nada lembra o Félix mesmo (que saudades, aliás).Lu Grimaldi de rainha louca foi uma grata surpresa.Vamos ver os próximos!Um beijo.
Por não ter expectativa nenhuma em cima dessa novela, acabei me surpreendendo. O ritmo ágil ficou bom e vários atores se destacaram. Apesar de ter achado o Thiago Lacerda ruim como sempre, gostei muito das atuações da Lu Grimaldi, Letícia Sabatella, Marco Ricca e surpreendentemente gostei do Dalton Vigh também, que nunca me desceu.
Mas o que mais se destacou sem dúvidas foi o Mateus Solano, que ator maravilhoso! O Félix ficou no passado e ele não trouxe nenhum resquício do antigo personagem. Espero que a trama siga boa por que ela promete, resta ao autor e diretores mantê-la atrativa.
Abraços
Concordo com seu comentário, Sérgio. Boa reconstituição de época, belos desempenhos, cenas impactantes como a da tortura de Rubião, e da pequena Joaquina vendo o pai, Tiradentes, ser enforcado. Espero que a novela mantenha o bom ritmo, mas o horário tardio é um empecilho para muitos.
Eu adorei a estreia! Não vi ontem por causa do Masterchef
big beijos
Sérgio, embora as chamadas tenham despertado meu interesse, essa novela não vou acompanhar (rss). Uma atrás da outra não dá para mim. Mas estarei sempre atualizada porque você , como fez nessa postagem, nos trará uma análise fundamentada e isenta das representações e do enredo. Bjs.
Oi Sérgio, boa noite!
Ontem foi uma noite excelente, para quem é noveleiro, pois Liberdade, Liberdade estrelou logo depois da também estreante segunda fase de velho Chico! Foi incrível!!!!
Como as imagens de ambas as novelas estão fantásticas!!
Um clima nostálgico no Velho Chico e soturno na Liberdade/Liberdade!
Produções, sem dúvida, de tirar o fôlego!!!!
Adorei o que escreveu amigo!
Linda e especial semana para você!
Olá Sérgio,
Apaga tudo o que eu disse no comentário anterior, que já excluí. Acabei de ver a novela "Velho Chico" e misturei tudo-rsrs. Tô precisando mesmo de umas longas férias-rsrs.
Comecei a ver a novela 'Liberdade Liberdade' sem muita convicção, principalmente pelo horário, já que tinha prometido a mim mesma não me vincular mais às novelas das onze horas. Contudo, a beleza da produção me conquistou, além do ótimo trabalho dos atores. Os personagens possuem perfis fortes e atraentes. Estou bem envolvida e também torço para que a produção seja exitosa.
Sua considerações estão muito bem colocadas. Gostei muito. Parabéns!
Abraço.
Ok, Bruna.
Interessante observação, Yasmin.
Tb queria Lu na segunda fase, Italo.
Pois é, Felis, foram vários os problemas. Mas agora, ao que parece, estão superados. abçs
Gostei, Anita. hahahaha
Já havia lido sobre isso, Jumper.
Obrigado, Melina. =) bjão!
O Mateus Solano está incrível mesmo, Ed. Nada e Félix, mudou completamente. E Marco Ricca está irretocável. Dalton Vigh está se saindo mt bem também. A novela até agora é uma grata surpresa. abçs
Tb espero, Elvira. E obrigado.
Terça é um dia complicado mesmo, Lulu. Mtas coisas pra ver. rs bj
Entendo, Marilene. É muita novela mesmo. hahaha
Mt obrigado, Adriana. E fico feliz que tenha gostado. Bjssss
Mt obrigado, Vera. E entendo sua confusão. hahahaha Ainda bem que vc mudou de ideia e resolveu ver a novela. Ta ótima. bjsssss
que bom que já leu sergio santos. mas o diga o que pensa a respeito?
Não dá pra acreditar nem em 100% em uma e nem em 100% em outra. Vale o meio termo. E na novela o Tiradentes não tira cabelo longo e barba, ou seja, uma parte seguiu o outro lado da história.
Prezado sergio santos solicito o perdão por sair do tema liberdade, liberdade para comentar outro assunto pois acredito ser interessante também para um convite para reflexão.
eu pesquisei seu blog sobre a novela verdades secretas, e fiz comentários (outras pessoas também) e gostaria de saber se e possível você realizar uma analise das opiniões. Por gentileza solicitou que veja os seguintes comentários nas publicações:
- sexta-feira, 21 de agosto de 2015: O merecido sucesso de "Verdades Secretas"
- sexta-feira, 25 de setembro de 2015: Com história ousada e final provocador, "Verdades Secretas" sai de cena com o título de maior sucesso da Globo em 2015
Ok, Jumper. Sem problemas. Lerei.
grato por ler... espero que aprecei as ponderações...
Com certeza, Jumper!
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