quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Canal Viva acerta com a reprise de "Cambalacho", uma das marcantes novelas de Silvio de Abreu

Exibida entre 10 de março e 3 de outubro de 1986, "Cambalacho" foi uma das novelas das sete mais marcantes da Globo. Sucesso de Silvio de Abreu e dirigida por Jorge Fernando, a trama marcou época, mesclou a comédia rasgada e o drama com maestria e ainda apresentou uma legião de personagens cativantes. Reprisada no "Vale a Pena Ver de Novo" em 1991, o folhetim começou a ser reexibido pelo Canal Viva em agosto de 2015.


A história é protagonizada por dois trambiqueiros natos: Leonarda Furtado, a Naná (Fernanda Montenegro), e Jerônimo Machado, o Gegê (saudoso Gianfrancesco Guarnieri). Os dois sobrevivem dos cambalachos (expressão que se popularizou na época) que fazem e ela ainda custeia os estudos da filha (Daniela - Cristina Pereira) no exterior. Naná, inclusive, recolhe crianças das ruas para aliviar sua culpa pelos trambiques. Já o seu comparsa é mais 'prático' e bem menos sentimental.

Apesar dos golpes que praticam, os protagonistas são pessoas bacanas e de bom coração. Fernanda e Gianfrancesco formaram uma dupla maravilhosa na trama e esbanjaram sintonia. Os perfis eram uma espécie de mocinhos às avessas.
Não tinham uma história de amor melosa, não transbordavam integridade, não eram extremamente bonzinhos, não viviam proferindo frases de efeito, enfim, representavam tudo o que não tinha a ver com o casal principal de um folhetim na época. Silvio de Abreu foi ousado e obteve êxito.

A grande vilã da trama é interpretada pela talentosa Natália do Vale. A víbora em questão é Andreia, mulher ambiciosa e sem caráter, que se casa com um milionário (Antero - saudoso Mário Lago) e arma a morte do marido para herdar sua herança. O poderoso homem acaba sofrendo um 'acidente' em seu iate e o corpo desaparece. Dado como morto, tem seu testamento aberto e todos descobrem, incluindo, obviamente, a viúva canalha, que ele deixou toda sua fortuna para Naná, sua suposta filha desaparecida. É a partir desta situação que os núcleos se entrelaçam.


Andreia contrata o advogado Rogério (saudoso Claúdio Marzo) para reaver o dinheiro e ele ---- que é casado com Amanda (Susana Vieira), irmã da vilã ---- usa de meios torpes para ajudar sua cliente. A ambiciosa mulher, aliás, é apaixonada pelo cunhado e a sua irmã acaba virando advogada da Naná (depois que descobre que o marido lhe traía várias vezes), provocando, assim, uma guerra declarada. O casal de trambiqueiros acaba envolvido diretamente em toda uma trama ligada a pessoas que eles, até outro dia, sequer conheciam.

E todo este conflito sofre uma virada com a chegada de uma impostora (interpretada pela ótima Louise Cardoso), que finge ser Daniela, a filha da trambiqueira que herdou tudo de Antero. Porém, a verdadeira filha só aparece no último capítulo, no dia do casamento de Naná e Gegê. Até lá, várias confusões ocorrem, incluindo até a ida dos filhos adotivos da protagonista para um orfanato ---- graças à influência da 'falsa Daniela'.


Mas além de todo este enredo central, a novela também tem ótimos núcleos paralelos. Afinal, uma das figuras mais icônicas da teledramaturgia veio justamente de "Cambalacho". É justamente a Albertina Pimenta, a popular Tina Peper (como esquecer o show que a personagem fez no "Cassino do Chacrinha"?), perfil que marcou a carreira de Regina Casé. A garota é fã de Tina Turner e sonha em ser uma cantora famosa. Sua mãe, Lili Bolero (maravilhosa e saudosa Consuelo Leandro), é uma cantora frustrada e vive dizendo que sua carreira foi destruída por Angela Maria. As duas formam uma clássica dupla de destrambelhadas cafonas e as atrizes deram um show. Vale citar ainda a paixão platônica que Tina tem por Aramis (Paulo César Grande).

Outra trama que merece menção é a de Ana Machadão (Débora Bloch), filha de Gegê. Mecânica, a menina sofre preconceito por exercer um ofício 'masculinizado' e o autor, na época, quis discutir a padronização das profissões. Isso porque ela se envolve justamente com Tiago (Edson Celulari), filho do poderoso Antero, que era bailarino, profissão 'voltada para o universo feminino'. Era o caso clássico dos 'opostos que se atraem', sendo retratado com uma função social, através da inversão das profissões. Os atores tiveram química e o par agradou.


Ainda há na história o Seu Biju (Emiliano Queiroz), que luta para criar os sobrinhos Aramis, Athos (Flávio Galvão) ---- competidor de motocross, que começa a ser patrocinado por Joana (Joana Fomm), amiga de Andreia que se apaixona por ele ---- e Porthos (Maurício Mattar). O personagem trabalhou como alfaiate, mas passou a viver apenas de reformas e consertos. Ele nutre uma paixão por Lili Bolero, que sempre o esnoba.

Além de todos os atores mencionados, vale citar também nomes como Rosamaria Murtinho (Cecília), Luiz Fernando Guimarães (João Pedro/Jean Pierre), Fábio Sabag (Olívio), Duse Nacaratti (Cibele), Andréa Avancini (Julinha), Marcos Frota (Rick), Maria Helena Pader (Matilde), Oswaldo Loureiro (Armandinho), entre outros. O elenco, aliás, não era grande.

"Cambalacho" foi mais um sucesso de Silvio de Abreu e a novela virou um dos clássicos do horário das sete da Globo, sendo lembrada até hoje. É um dos grandes trabalhos do autor, que agora é o responsável pelo setor de teledramaturgia da emissora. A trama fez um merecido sucesso e o Canal Viva acertou em cheio ao reprisá-la.

25 comentários:

Renato disse...

Essa novela é apenas uma das muitas desse autor que comprava porque ele foi colocado como o todo poderoso da teledramaturgia global.

Anônimo disse...

Saudades do Gianfrancesco Guarniere que só era valorizado pelo Silvio de Abreu. Sua última novela foi do autor, inclusive. Belíssima.

Italo disse...

Tenho visto sempre no Viva. Muito bom o seu balanço!

jlgiam disse...

Melhor novela exibida pelo Viva atualmente! Fera Ferida é a mais fraca das novelas ditas "rurais" do Aguinaldo Silva, e acho Despedida de Solteiro apenas regular. Estou ansioso pelas estréias de Laços de Família e Mulheres de Areia em fevereiro!

Unknown disse...

Atualmente Cambalacho é o único motivo que me faz assistir o viva que perdeu totalmente o rumo deixando de ser retrô pra exibir produções hiper recentes, a maioria descartáveis(turma do Didi, por ex) e também produções inéditas como aquele Globo de Ouro palco viva(péssimo, cadê o original?) entre outros. Mas falando da novela quanta saudade: de quando as novelas só tinham gente talentosa(até os mais jovens brilhavam), tinham trama(tudo, mas tudo mesmo é bem entrelaçado, ao contrario das novelas de hoje), tinham uma abertura criativa(hoje é tudo sem sal, feito com colagem no computador, eca), tinham trilha sonora marcante(anos 80, a gente esperava a trilha internacional sair e comprava o LP), tinham historia, tinham graça, tinham drama, tudo bem bolado, bem escrito, a gente assistia com prazer e não como hoje que as pessoas parecem assistir certas novelas por obrigação.
Acompanhei em 86, ano em que tambem estrearam Selva de Pedra(ótimo remake, muito pedida e nunca reprisada, coisas da Globo), Direito de Amar, Hipertensão(tambem muito lembrada e nunca reprisada) e Roda de Fogo. Qual a melhor? Nessa década só tinha novela boa, pode pegar qualquer ano e pesquisar.
Estou adorando rever no Viva, só a Tina já vale a novela toda, mas todos os personagens são ótimos, o casal de trambiqueiros boa gente Naná e Gegê é o máximo.
A novela inspirou muitas outras do Silvio de Abreu depois com personagens como o tio Gegê e seus três sobrinhos marmanjos e mimados(alguma semelhança com a D.Armenia e seus filhinhas?), o clima de suspense com direito a tema de Hitchcock(os fãs de A Proxima Vitima se lembram), e por ai vai. Mas Cambalacho tambem pegou ideias de novelas anteriores do Silvio de Abreu como Jogo da Vida e Guerra dos Sexos.
Parabéns pelo post, essa sim é uma novela que vale a pena comentar e lembrar sempre, pena que novelas da década de 80 são raras no Viva e pelo jeito ficarão cada vez mais.

Nina disse...

Essa novela foi muito boa e quando posso revejo no Viva que acertou mesmo com a reprise.

Olímpia Menezes disse...

O Silvio de Abreu e o Walcyr Carrasco são fábricas de novelas boas. Pena que o Silvio não escreva mais desde que virou o supervisor de teledramaturgia da Globo.Quem perdeu foi o público.

mineiro disse...

Gosto muito dessa novela, muito engraçada e divertida, adoro essas antigonas, não consigo me apegar as novelas atuais, acho enfadonhas e maçantes, não sei, acho que a teledramaturgia da Globo mudou muito(pra pior).

Unknown disse...

Algo a comentar...

Eis aí, um exemplo claro daquilo que sempre friso aqui em meus comentários, uma típica e tradicional novela das sete. Com uma trama cômica, contada por personagens cômicos. Muito diferente das tramas das sete contemporâneas que se caracteriza por um drama romântico cercado por avulsos núcleos paralelos cômicos formando uma verdadeira "colcha de retalhos".

Aliás, a década de 80, foi permeada por novelas com essa pegada tendo o Sílvio de Abreu e Cassiano Gábus Mendes como protagonistas.

São deles sucessos como "Jogo da Vida", "Elas por Elas", "Guerra dos Sexos", "Ti-Ti-Ti", "Sassaricando", "Brega & Chique" e "Que Rei Sou Eu?...

... e ainda "Bebê a Bordo" e "Vereda Tropical" de Carlos Lombarde, apesar do argumento e supervisão dessa última ter sido do Sílvio de Abreu.

Boa recordação

MARILENE disse...

Nossa, Sergio, quanto tempo já passou! Novelas antigas, como essa, merecem reprise, pois marcaram época. Bela postagem! Bjs.

Anônimo disse...

Cambalacho é ótima! Tem uma novela das 7 da década de 80 que sou fascinado por ela, "Um Sonho a Mais". O Ney Latorraca era o Wolpone, acusado de um crime no passado ele quer voltar ao Brasil pra provar sua inocência e conquistar seu grande amor(Silvia Bandeira) mas assim que por os pés aqui pode ser preso, então ele tem uma ideia junto com seu amigo Mosca(Marcos Nanini): ele finge ser um moribundo que tem uma doença contagiosa e só pode sobreviver dentro de uma enorme bolha. Mas sempre que precisa sair da bolha ele põe um boneco de borracha e aqui fora se disfarça de 3 personagens: o próprio medico dele, o seu motorista, e ainda se traveste como a advogada Anabela Freire. Era muito divertida essa novela e muito louca, dava um certo medo quando quem estava na bolha era um boneco, teve um capitulo que quase descobriram a verdade. E a chegada dele ao Brasil no primeiro capitulo dentro da tal bolha com a musica tema do Caetano Veloso marcou época. A abertura era sensacional e a musica também, nada menos que "Um Sonho a Mais" do Roupa Nova(eu perguntava Do you wonna Dance...). Se viesse no Viva(acho muito improvável) eu ia amar. Lembra dessa novela Sergio?

Vera Lúcia disse...


Uma ótima novela, Sérgio!
Gostei de relembrá-la através de seu bem elaborado texto.
Quantos talentos já se foram, hein? O mundo artístico fica cada vez mais carente de seus grandes talentos. Ainda bem que novos talentos também vão despontando. É a lei da vida.

Abraço.

Sérgio Santos disse...

Verdade, Renato.

Sérgio Santos disse...

Saudades mesmo, anonmo.

Sérgio Santos disse...

Obrigado, Italo.

Sérgio Santos disse...

Fera Ferida é mt ruim, JLgiam. Cambalacho é ótimo. Despedida de Solteiro eu não vi e nem vejo a reprise.

Sérgio Santos disse...

Obrigado, Luiz! Tb acho essa novela ótima.

Sérgio Santos disse...

Verdade, Nina.

Sérgio Santos disse...

São mesmo, Olimpia. Boa observação.

Sérgio Santos disse...

Tb gosto mt dessa, mineiro.

Sérgio Santos disse...

Obrigado, F Silva. E ótimo o seu comentário. Bjsss

Sérgio Santos disse...

Merecem msm, Marilene. bjs

Sérgio Santos disse...

Lembro sim, anonimo. Mas não acompanhei e vi alguns trechos dessas cenas do Ney.

Sérgio Santos disse...

Muitos, né, Vera? Triste isso. bjs

Sérgio Santos disse...
Este comentário foi removido pelo autor.