A primeira novela da Max, plataforma de streaming da HBO, estreou no dia 27 de janeiro, após muitos adiamentos e incertezas. As gravações dos 40 capítulos duraram por volta de sete meses e mesmo depois da finalização dos trabalhos não havia uma data certa para sua exibição. Chegou a ser anunciada para 2024, mas a produtora decidiu deixar para 2025. Nesta sexta-feira (21/03), foi exibido o último capítulo, após o esquema de 5 capítulos semanais disponibilizados toda segunda-feira --- estratégia quase igual a do Globoplay (a crítica seguir tem spoilers).
Com criação e roteiro de Raphael Montes e direção geral de Maria de Médicis, a produção marca a aposta da Warner Bros.Discovery no gênero, sendo a primeira novela original nacional da plataforma na América Latina. "Beleza Fatal" traz no enredo uma história clássica de busca por justiça que se passa no agitado mundo da beleza e dos tratamentos estéticos.Sofia (Camila Queiroz) viu sua mãe ser presa injustamente por causa de sua tia Lola (Camila Pitanga). Acolhida pela amorosa família Paixão, liderada por Elvira (Giovanna Antonelli), que está sofrendo porque a filha Rebeca (Fernanda Marques) foi parar em um hospital e morreu, após uma cirurgia plástica mal sucedida, se unem na dor e indignação contra os culpados pelas suas tragédias.
Com a ajuda da família Paixão, Sofia quer destruir Lola e todos aqueles que lhe fizeram mal. Em sua obsessão, ela reencontra um amor de infância, questiona os próprios passos e descobre que fazer justiça custa um preço muito alto.A produção lembra muito o fenômeno "Avenida Brasil", de João Emanuel Carneiro, exibido na Globo em 2012, que por sua vez também é bastante parecido com a série americana "Revenge". E realmente há inúmeras similaridades ao longo da história, ainda que a saga de vingança seja um dos maiores clichês da teledramaturgia. Tanto que, assim como na obra de sucesso protagonizada por Nina (Débora Falabella) e Carminha (Adriana Esteves), apenas as crianças crescem com a passagem de tempo, já os demais personagens continuam exatamente iguais, sem qualquer caracterização de envelhecimento. E a mocinha também se aproxima da vilã e cria um falso vínculo de amizade e confiança para poder traí-la na melhor oportunidade. A estruturação é igual até mesmo nos tons acima de vários perfis da história, que algumas vezes mergulham na caricatura. Mas não chega a ser um demérito porque o autor conduziu seu roteiro com competência através de ótimos ganchos e conflitos deliciosos.
O grande atrativo da trama é justamente a vilã. Lola é um perfil intrigante e multifacetado que encarna uma ambição desmedida, movendo-se entre o brilho encantador das redes sociais e os segredos obscuros escondidos sob a fachada de seu sucesso. E todos os segredos o público já descobre nos primeiros cinco capítulos que contam a primeira fase do enredo. De uma secretária sonhadora a uma poderosa empresária, Lola constrói seu império, a Lolaland, a maior clínica de estética do país, às custas de escolhas que colocam sua moralidade em xeque. Ao lado de Benjamin Argento (Caio Blat), ela projeta a imagem de uma vida perfeita, marcada por modernidade, luxo e virtude. No entanto, por trás da aparência impecável, manipulações, mentiras e até assassinatos se tornam ferramentas indispensáveis para manter o controle de tudo o que conquistou. A sua trajetória simboliza o lado sedutor e destrutivo do poder, revelando sacrifícios, jogos de influência e dilemas éticos.
A novela coloca logo no início o foco no embate entre Sofia e Lola, cujas vidas se cruzam em um turbilhão de injustiças e ambições conflitantes. O autor equilibra bem o protagonismo entre as duas. Até a metade da novela é de Lola o maior destaque e Camila Pitanga rouba todas as cenas. Depois começa uma ascensão de Sofia e quanto mais se aproxima de sua algoz, mais se parece com ela e tem seu caráter moldado ao longo de seu plano de vingança. É através da mudança de arco dramático da mocinha que Camila Queiroz sobressai e mostra uma faceta até então desconhecida do público: o de vilã. Já Elvira nunca consegue o tamanho do protagonismo que as outras duas têm, apesar de estar presente na abertura e dividir o espaço na logo da obra. Ainda assim, Giovanna Antonelli brilha e domina todas as aparições da personagem, que é carregada no drama e no humor. A intérprete se sai bem em ambas situações e forma uma dupla harmônica com Augusto Madeira. Aliás, o Lino é o melhor coadjuvante da trama. O ator é uma figura quase onipresente em filmes, séries e folhetins, mas ganhou seu melhor papel até hoje em "Beleza Fatal".
Há também uma gama de bons conflitos nos demais núcleos, que se conectam com o central e em nenhum momento parecem avulsos ou utilizados apenas para preencher o tempo dos capítulos. Toda a engenharia envolvendo a família Argento desperta interesse desde o início e ao longo do tempo os segredos obscuros daquelas pessoas vão sendo expostos através de ótimas viradas, com direito a ganchos de impacto. A personagem que mais conquistou o público foi Gisela (Júlia Stockler), uma mulher que vivia uma relação abusiva e tinha transtorno de imagem por culpa do marido, Rog (Marcelo Serrado). A sua volta por cima é de lavar a alma, com direito a uma vingança satisfatória e um final feliz. O patriarca Átila também é outra figura que proporciona excelentes cenas ao grande Herson Capri, há tempos afastado das novelas. O vilão que transbordou transfobia e encobriu inúmeros crimes do filho, Benjamin, sempre sofreu com a culpa pela morte da filha e era um homossexual enrustido. Para culminar, ainda precisou lidar com a volta da esposa, Ana (Monica Torres), que se fingiu de morta por anos. Vale destacar ainda a ousadia do autor em colocar um clima de flerte constante entre Benjamin e Rog, a ponto da última cena juntos ter resultado em um beijo. Algo impossível de ser visto na atual gestão conservadora da Globo. Aliás, a própria transa de Sofia e Lola foi um dos momentos mais corajosos da narrativa por se tratar de um quase incesto lésbico.
O único conflito um pouco repetitivo foi o romance de Tomás (Murilo Rosa) e Andrea (Kiara Felippe). O plot do seu passado com a sogra também se mostrou um ponto fora da curva. Soou gratuito e apenas para provocar uma surpresa a mais na reta final. Outro fator que precisa ser mencionado é a quantidade de furos no roteiro. O telespectador precisou voar muito para engolir diversas situações. A principal delas foi a abertura de portas sem a verificação no chamado 'olho mágico'. É verdade que o recurso é amplamente utilizado na teledramaturgia porque há a necessidade do fator surpresa e muitos autores até brincam no texto quando citam que o 'porteiro nunca avisa no interfone' ou algo do tipo. Porém, houve um excesso na trama. Praticamente em todos os capítulos tinha alguma cena assim. E o que foi a motivação de Cléo (Vanessa Giácomo) para ter assumido o crime cometido por Lola? Ela achou mais vantajoso ir para a cadeia e deixar a filha órfã, mas estudando em um colégio particular pago pela Lola? Não era bem melhor ter ficado livre e ao lado da menina, ainda que a deixasse em uma escola pública? Outra situação foi o conflito de interesses de Gabriel (Enzo Romani). O filho de Lola jamais poderia investigar os crimes da mãe, da Sofia ou da própria família por razões óbvias. Se ao menos tivesse feito tudo de forma ilegal, dava para relevar. Mas o rapaz fazia seu trabalho usando toda a estrutura da Polícia Civil porque esbanjava integridade. O mais absurdo foi quando o policial conseguiu tirar a Sofia da cadeia com um telefonema. Não dá para esquecer também da sequência em que Elvira roubou toda a fortuna de Lola do banco. A cena foi divertida, mas absurda. No entanto, todas essas falhas são amenizadas diante da boa condução do autor, que criou personagens atrativos e se preocupou em preencher todos os capítulos com bons embates, viradas bem amarradas e ganchos que mantiveram o interesse do telespectador. Tanto que dava para maratonar a novela com facilidade.
O último capítulo deixou algumas pontas soltas, vide o desfecho a respeito da fortuna no exterior deixada por Átila, com direito a uma espécie de corrida de golpistas atrás do tesouro. Com quem Ramona (Patricia Gasppar) falava ao telefone? Por que Nara (Georgette Fadel) apareceu do nada no mesmo local? Ana era mãe de Benjamin e não herdou parte da clínica? Marcelo (Drayson Menezzes) ia para Roma por pura coincidência? Enfim, ficou em aberto. Os demais finais fecharam seus respectivos ciclos. Elvira e Lino finalmente tiveram paz com a morte dos responsáveis pela perda de Rebeca (Fernanda Marques) e Carol (Manu Morelli) herdou a clínica Argento em memória ao legado de sua falecida mãe. Tomás se casou com Andrea e a cena emocionou. Já o clássico final feliz de folhetim não aconteceu com a mocinha, o que foi mais um acerto do autor. Sofia se 'fantasiou' de Lola e matou Benjamin para que a vilã fosse julgada e condenada por um crime que não cometeu, exatamente como aconteceu com sua mãe, Cléo. A melhor punição possível. Porém, Sofia não ficou com Gabriel e nem com a sua família. Ficou sozinha e infeliz. O confronto final das personagens foi a melhor cena de Camila Queiroz e Camila Pitanga. A mocinha debochou da vilã, que devolveu a ironia a respeito da solidão que irá persegui-las até o fim. Afinal, uma estará para sempre ligada a outra. A última sequência da novela também merece menção: Sofia vendo uma menina vendendo quentinhas ao lado do presídio e logo depois se deparando com a sua figura na infância, representada por Melissa Fernandes. Ela viu a sua inocência perdida.
"Beleza Fatal" foi um novelão de 40 capítulos. Após o sucesso conquistado através de muitos livros lançados e da série "Bom Dia, Verônica", o autor provou que também sabe fazer novela. É importante ressaltar que produção teve supervisão de Silvio de Abreu, o que fez toda diferença diante de sua experiência como novelista em mais de 40 anos de Globo. A direção de Maria de Médicis (outra profissional experiente que trabalhou por muitos anos na líder) foi mais um êxito da trama, que ainda teve a supervisão de Mariano Cesar, Monica Albuquerque e Anouk Aaron por parte da Warner Bros.Discovery.
3 comentários:
Gracias por la recomendación,
Olá, tudo bem? Camila Pitanga realmente transparece que se divertiu com sua personagem em Beleza Fatal. Abs, Fabio www.blogfabiotv.blogspot.com.br
Parece ser uma trama e tanto.
Boa semana!
O JOVEM JORNALISTA está no ar cheio de posts novos e novidades! Não deixe de conferir!
Jovem Jornalista
Instagram
Até mais, Emerson Garcia
Postar um comentário