quarta-feira, 16 de março de 2022

Globo tratou "Um Lugar ao Sol" com má vontade e desrespeito

 Nunca ficou tão evidente a má vontade de uma emissora com seu próprio produto. É até difícil estabelecer qualquer tipo de lógica para analisar o que a Globo fez com "Um Lugar ao Sol". Isso porque o desrespeito com a novela de Lícia Manzo, faltando apenas poucos dias para seu final, é explícito mesmo meses antes da produção estrear. Mas nos últimos dois meses de novela tudo ficou cada vez mais frequente e incômodo. 

Em virtude da pandemia do novo coronavírus, onde a contaminação da variante ômicron se mostrou muito maior, a emissora precisou atrasar a estreia de "Pantanal". O remake da obra de sucesso de Benedito Ruy Barbosa, exibida na Rede Manchete na década de 90, e adaptado pelo neto do autor, Bruno Luperi, é tratado como a salvação da Globo. Praticamente uma galinha dos ovos de ouro. Mas vários integrantes da equipe e do elenco pegaram covid. As gravações precisaram de uma pausa. Prevista para o início de março, a estreia foi remarcada para o dia 28. 

Portanto, "Um Lugar ao Sol" precisou ser esticada em duas semanas. Mas a novela já foi finalizada há muitos meses e não há qualquer possibilidade de novos conflitos. A solução está na edição dos capítulos. Antes com cerca de 55 minutos de duração, vários passaram a durar por volta de 35 minutos. A questão é que todo o trabalho de edição foi feito nas primeiras semanas de 'esticamento' de uma maneira porca.

Não houve preocupação nas continuidades das cenas e principalmente com os ganchos. Lícia se preocupou em deixar sua história com encerramentos de tirar o fôlego para prender o público. Depois a autora se viu obrigada a observar seu trabalho mutilado.

Desde que a edição começou a acontecer, e consequentemente a diminuição do tempo de produto no ar, que vários finais de capítulos ficaram sem qualquer sentido. Cortes bruscos e algumas vezes no meio de diálogos. Até mesmo a inserção da abertura da trama ficou sem sentido, sendo exibida após cerca de três minutos de folhetim iniciado. Custava uma preocupação maior em torno do acabamento da sua principal novela no ar? Agora, já em suas últimas semanas, isso foi amenizado. Há ganchos melhores no final de cada capitulo. 

A verdade é que a Globo nunca demonstrou qualquer respeito por "Um Lugar ao Sol". Como já mencionado no texto, a campanha de divulgação foi patética. Todas as matérias em seus programas de entretenimento eram voltadas para "Pantanal". O mistério em torno da escolha da nova Juma Marruá, então, foi transformado em uma espécie de novelinha. A estreia da trama de Lícia Manzo se aproximava e nada de notícias a respeito. O nível de amadorismo (ou má vontade) era tão grande que o público começou a exigir nas redes sociais do Gshow e da Globoplay que contassem sobre a história inédita que estrearia após tantas reprises. Só assim começaram as divulgações, mas tímidas e sem muito interesse. Um desavisado poderia até achar que o folhetim era da concorrência e por isso a emissora estava boicotando. 

A audiência da novela está muito abaixo do esperado para a faixa das 21h, mas todas as produções inéditas da Globo atualmente seguem com o mesmo problema. Não tem como estabelecer uma análise em torno da rejeição do público porque foram quase dois anos só de reprises, o que acabou afastando o telespectador. "Nos Tempos do Imperador" e "Quanto Mais Vida, Melhor!" também ficaram com índices péssimos. A atual novela das sete não conseguiu reagir muito na audiência nem com a maravilhosa troca de corpos dos protagonistas. Porém, as duas nunca receberam o 'tratamento' que "Um Lugar ao Sol" recebe da emissora. 

Vale lembrar que a saga de Lícia Manzo com a trama merecia até um documentário. A autora foi escolhida para escrever um novo projeto após a primorosa "Sete Vidas", exibida em 2015, e criou "Jogo da Memória", uma novela já totalmente escrita. A história acabou engavetada. Silvio de Abreu, então gestor da teledramaturgia, pediu para a escritora elaborar um novo roteiro e foi criada a atual produção ainda com o título de "Em Seu Lugar". Foi quando Lícia ouviu que iria para o horário nobre. Quando sua estreia parecia certa, houve um adiamento para a entrada relâmpago de Manuela Dias com "Amor de Mãe". Mas depois seria Lícia. As gravações finalmente foram iniciadas com Alinne Moraes e Cauã Reymond no exterior. Até que veio a pandemia. Os trabalhos foram retomados meses depois e repleto de protocolos sanitários. Para fechar o conjunto de obstáculos, foi reduzida de 150 capítulos para 107, ainda desmembrados em 125. Por precaução, a obra acabou finalizada antes de ser colocada no ar. 

"Um Lugar ao Sol" precisava ser tratada como um projeto vitorioso, após tantas dificuldades para ser apresentada ao público. E Lícia precisa ser muito elogiada, mesmo com alguns tropeços na reta final ---- assim como a direção de Maurício Farias e o trabalho do elenco ----, porque vem conseguindo contar uma história repleta de bons dramas e personagens construídos com riqueza. Definitivamente, não merecia tamanho desrespeito da Globo.

22 comentários:

Anônimo disse...

Como sempre, prezando pela transparência em suas análises, Sérgio. É evidente a má vontade da TV Globo com "Um Lugar Ao Sol" desde antes da estreia, com toda a "saga" pela qual Lícia Manzo teve de passar para finalmente ver os 119 (sem as "edições", 107) capítulos de sua terceira novela serem exibidos em todo o país. Posso parecer ressentido ao insistir em fazer esta infeliz menção, mas antes da troca de diretores do departamento de Dramaturgia Diária da emissora, nunca tentaram inviabilizar a produção de "Malhação - Vidas Brasileiras" (2018), mesmo com todas as dúvidas e certezas que pairavam a respeito da baixa qualidade da "obra" que nunca mereceu durar 1 ano, 1 mês e 8 dias. E alguns leitores do blog podem tomar como despeito o que direi, mas caso "Pantanal" não vingue em termos de audiência e/ou outros aspectos, não sentirei pena do futuro folhetim das 21h15min da emissora. Pelo contrário, até considerá-lo-ei uma espécie de "compensação" não apenas pelo tratamento irrisório dado a "Um Lugar Ao Sol", mas também para o retorno da TV Globo à Lícia Manzo sempre que esta apresenta projetos (por vezes ousados, como é o caso de "Um Lugar Ao Sol") transmitindo a sensação de que tudo ocorrerá conforme o planejado, ou até mesmo superará as expectativas da autora e dos demais profissionais envolvidos na realização desses projetos.

Guilherme

Anônimo disse...

Nao escreveu nenhuma mentira.

J disse...

Perfeito. E a última pá de cal em cima da novela será jogada pela Globo na próxima quinta-feira: o penúltimo capítulo vai ser exibido ás 22:30, porque a emissora vai transmitir um jogo do Brasil que não vale b**** nenhuma! Depois dessa, não é preciso dizer mais nada!

Vinicius disse...

Olá! Concordo em partes com o texto: a Globo errou na estratégia de lançamento e tratamento da novela (ela estreou muito próximo do final do ano em novembro, período difícil para estreias, mudou de horário constantemente e a edição forçada dos últimos capítulos também atrapalhou. Mas tem outro fator que prejudicou muito a novela: enredo fraco e sem apelo popular. Licia poderia ter explorado muito mais a interação dos gêmeos, poderia ter mantido o Renato vivo com a volta dele no final, poderia ter colocado mais ação na história. E principalmente: criado um protagonista carismático. É impossível torcer pelo Christian. Muito do fracasso da novela é devido ao roteiro - filosófico, sociológico e intelectual demais - para uma novela das 21h. Ela deveria ter unido a crônica habitual do cotidiano que já fazia bem no horário das 18h (e que a gerava comparações com Manoel Carlos) com uma sinopse focada em crítica social que tinha muito cara de Gilberto Braga. Mas infelizmente Licia não soube aproveitar essa oportunidade às 21h. A novela correu atrás do próprio rabo o tempo inteiro, e vai ser mais lembrada pelas suas sessões de terapia do que pela história em si.

Pedrita disse...

sim, ontem a esposa do santiago ligou para o renato de dia, mas ele atendeu de noite. sim, foi uma ótima novela. se perdeu um pouco no final, mas com tramas complexas. beijos, pedrita

Roseli disse...

Concordo, Sérgio. O que a Globo fez com "Um lugar ao Sol" foi um desrespeito. Deve ter sido muito frustrante para a autora e o diretor verem a novela ser tratada dessa forma.

No geral, ela foi muito boa e gostei de assisti-la. Agora no final está com alguns problemas, mas ainda continua sendo boa (o assassinato da Stephany ontem foi de arrepiar...). É uma pena que os cortes tenham prejudicado tanto a novela (e agora essa tentativa de esticar também está prejudicando. Uma pena).

Adriana Helena disse...

Sérgio, é mesmo uma pena que uma obra tão repleta de emoções tenha sido má conduzida pela própria emissora! Creio que a guerra pela recuperação da audiência deve estar penalizando muito os profissionais da Globo por bons resultados! Mas como você muito bem disse, a pandemia puniu a todos e a recuperação será lenta e gradual...
Excelente sua análise amigo!!
Tenha um ótimo final de semana! :))))

Rafael disse...

Renato voltar? Não já tem, literalmente, mais de 10 novelas que fizeram isso? É só assistir A Usurpadora, Mulheres de Areia etc, tá tudo no Globoplay kk

Rafael disse...

Ainda sonho que Licia consiga uma nova chance com O Jogo da Memória, mas infelizmente não é de hoje o desrespeito que a Globo tem com ela.

Ana disse...

É verdade que a Globo não tratou a novela com respeito. Mas ela também tem os seus problemas. A história começou bem, depois andou em círculos, e agora no final está ruim. Essa última semana foi um festival de doenças: Elenice com Alzheimer, Bárbara com depressão, Aníbal em cadeira de rodas, Felipe com câncer... Assim não há quem aguente.
Rebeca e Felipe formavam um lindo casal. Mas eles se separaram por causa de um ciúme bobo da Rebeca, daí o ex-marido dela reaparece e eles ficam juntos. Mas agora ela volta a se encontrar com Felipe... É muita confusão.
E o casal Ravi e Lara? Sério, quem engole esse dois juntos? Não há a menor química entre eles. Fora que o Ravi está virando um traíra, sacaneando o melhor amigo. Eu sempre gostei do Ravi, agora estou ficando com raiva dele.
Mesmo que a Globo tivesse dado apoio, a novela não teria feito sucesso sem uma boa história. Não adianta só começar bem, tem que ter um bom desenvolvimento também. A autora infelizmente se perdeu ao longo da novela.

Sérgio Santos disse...

Fico honrado com o que voce disse, Guilherme. Mt obrigado.

Sérgio Santos disse...

Obrigado, anonimo.

Sérgio Santos disse...

Que absurdo, J.

Sérgio Santos disse...

Discordo do comentário, Vinicius, mas entendo o que voce disse sobre a perda que o Renato morto causou na trama.

Sérgio Santos disse...

Verdade, Pedrita.

Sérgio Santos disse...

Perfeito, Roseli.

Sérgio Santos disse...

Beijão, Dri!

Sérgio Santos disse...

Concordo, Rafael, mas o publico sentiu falta do clichê.

Sérgio Santos disse...

Também queria mt ver Jogo da Memória, Rafael...Mas pelo visto...

Sérgio Santos disse...

Entendo, Ana.

Jovem Jornalista disse...

Uma pena. A novela tinha tudo para ser um sucesso.

Boa semana!

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Até mais, Emerson Garcia

Sérgio Santos disse...

pena mesmo...