"Sob Pressão" estreia terceira temporada com as qualidades de sempre

A melhor série produzida pela Globo em anos estreou sua terceira temporada nesta quinta-feira, dia 2, após uma leva de elogios de público e crítica em 2017 e 2018. A trama baseada no filme homônimo, exibido em 2016 e criado em cima do livro "Sob Pressão - A rotina de guerra de um médico brasileiro" (escrito por Márcio Maranhão), se mostrou um acerto em todos os aspectos e o terceiro ano da produção era bastante aguardado.

Não por acaso, o anúncio do encerramento da série em 2019 provocou indignação na imprensa especializada e nos telespectadores. Afinal, o caos na saúde pública brasileira rende infinitos conflitos e os próprios envolvidos no projeto ---- como o autor Lucas Paraizo e o diretor Andrucha Waddington ---- confirmam isso. O mistério envolvendo a estranha decisão da Globo vai continuar por um bom tempo, mas, deixando esse fato um pouco de lado, a estreia da nova temporada manteve todas as qualidades que fizeram da produção um imenso sucesso.

A rotina caótica de Evandro (Júlio Andrade) e Carolina (Marjorie Estiano) não acabou, apenas mudou de endereço. O casal agora passa por uma nova experiência. Com o fechamento do hospital público Luiz Carlos Macedo (o Macedão), na zona norte do Rio de Janeiro, e diante da prática de anos no atendimento a casos de emergência, os médicos são contratados para trabalhar no Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência).
O objetivo deles era acumular uma quantia suficiente para uma viagem com a organização de ajuda humanitária Médico Sem Fronteiras. Mas logo no primeiro episódio, fazendo jus ao enredo alucinante, os planos mudam diante das novas circunstâncias do destino.

Em meio ao caos provocado pela greve dos caminhoneiros ---- situação real que deixou o país em colapso em 2018 ----, Evandro e Carolina se depararam com o caso grave de um menino ferido com um espeto de churrasco. A ambulância ficou sem gasolina por conta da paralisação e houve uma tentativa desesperada da internação do garoto em um hospital particular, sem sucesso (só com a carteirinha do plano de saúde, disse a recepcionista). Posteriormente, ainda foi exposta a ''explicação" para tal ferimento: a criança era usada pelos traficantes como 'olheiro' e acabou caindo em cima de uma churrasqueira enquanto corria para avisar sobre a chegada da polícia. Ou seja, apenas na estreia já houve uma hábil abordagem de três problemas graves: as consequências de uma greve teoricamente justa, o poder do tráfico na vida de meninos inocentes e a piora de um sistema de saúde já desastroso.

E a nova saga dos médicos heróis apresentou uma ótima virada no final do episódio. Como Evandro e Carolina pediram ajuda ao amigo Décio (Bruno Garcia) para o salvamento do menino, o paciente acabou recebendo atendimento no Hospital São Tomé Apóstolo (local onde Décio agora trabalha). Apesar de estar com a emergência e o centro cirúrgico desativados, o casal conseguiu realizar a cirurgia com a ajuda do novo anestesista Gustavo (Marcelo Batista), a nova enfermeira Simone (Jana Guinound) e os antigos amigos Keiko (Julia Shimura) e Charles (Pablo Sanábio). Impressionada com a conduta de todos, Irmã Graça (Joana Fomm em uma luxuosa participação) ---- a Madre Superiora do São Tomé ---- convida Evandro para ocupar seu lugar e ainda nomeia Carolina como chefe da emergência. Eles aceitam o desafio e os colegas se enchem de esperança por um novo recomeço, incluindo a recepcionista Rosa (Josie Antello).

O elenco segue irretocável e, embora seja repetitivo, não tem como não tecer uma sucessão de elogios a Júlio Andrade e Marjorie Estiano, que protagonizam a história com brilhantismo. Que atores! O time, aliás, ganha um reforço de peso: Drica Moraes entra no segundo episódio e vive a infectologista Vera. A personagem, íntegra e inconformada com a precariedade do sistema de saúde, tem um passado sofrido que será desmembrado ao longo da trama. Suas cenas ao lado de Júlio, Marjorie e todos os igualmente talentosos colegas serão grandes presentes para o telespectador.

"Sob Pressão" teve 9 episódios na primeira temporada, 11 na segunda e terá 14 na terceira. Fruto do êxito da produção reconhecida internacionalmente ---- já foi exibida em festivais como Berlinale (Berlim) e TIFF (Toronto), além de ter faturado quatro prêmios no 32st Festival International de Programmes Audivisuels (2018), em Biarritz, na França; melhor série; melhor interpretação feminina e masculina (Marjorie e Júlio, respectivamente); e melhor roteiro. Na Argentina, a produção estreou na Telefe em janeiro e consagrou-se entre os programas mais assistidos da tv aberta. A nova fase estreou com o pé direito e tem tudo para fazer ainda mais sucesso, se é que é possível. As noites de quinta-feira, logo após a novela das nove, prometem.