Primeiramente, é preciso citar o alto risco que as escritoras correram quando resolveram matar Soraia e Aziz Abdallah logo no início. A saída de Letícia Sabatella e Herson Capri da trama foi uma grande perda, pois, além de atores excepcionais, ambos viviam os personagens mais interessantes da história. A sofrida mãe de Dalila (Alice Wegmann) ainda tinha muito a ser explorada e o grande vilão da novela era o sheik violento e assustador. É um fato que o roteiro foi ''abalado'' com essa dupla ausência e o telespectador percebeu.
Todavia, o objetivo sempre foi a 'promoção' de Dalila como a grande vilã. Então, era preciso apenas aguardar essa nova situação para uma melhor análise sobre a nova fase. O problema é que o contexto de "Órfãos da Terra" acabou perdendo bastante veracidade com a passagem de três anos.
A filha do sheik planejou se vingar do assassinato do pai ---- uma motivação questionável, é bom ressaltar, em virtude do seu ódio por Aziz ter matado sua mãe ---- e iniciou um plano contra Jamil (Renato Góes) e Laila (Julia Dalavia). Acabou descobrindo que Miguel (Paulo Betti) é viciado em jogo e chamou um novo aliado: Paul (Carmo Dalla Vechia).
Pois bem, três anos se passaram e Dalila não fez absolutamente nada. A justificativa foi pegar os mocinhos de surpresa e deixá-los curtirem a felicidade um pouco. A contradição da explicação foi a carta que a vilã enviou para os inimigos antes da passagem de tempo, onde desejava que ambos fossem muito felizes com o filho Raduan. Se ela queria pegá-los desprevenidos, por qual razão enviou esse bilhete para deixá-los tensos? Para esperar a tensão acabar em três anos? E demorou todo esse tempo para usar a informação do vício de Miguel em jogos?
Outra questão que se tornou bem frágil foi a da Camila (Anaju Dorigon). A filha interesseira de Rânia (Eliane Giardini) se contentaria em trabalhar como camareira de hotel por três anos? Não teria virado prostituta de luxo, por exemplo, há muito tempo? E qual o sentido da vilã se recusar a voltar a morar com os pais para ficar em um quartinho disponibilizado pelo seu chefe? A família é de classe média, tem uma boa casa. A personagem ter passado todo esse tempo na pior simplesmente porque quis ---- só agora ela conheceu Paul ---- ficou difícil de acreditar.
Até mesmo o núcleo cômico teve seu contexto esvaziado por conta dessa famigerada passagem de tempo. Sara (Verônica Debom) e Ali (Mouhamed Harfouch) se separaram por conta da mentira dela sobre sua origem e o sofrimento de ambos seguiu o mesmo. Ele, por sinal, ficou noivo por três anos de Latifa (Luana Martau), mulher que o avô Mamede (Flávio Migliaccio) 'trouxe' para o netinho. E Sara finge um namoro com Abner (Marcelo Médici) também há três anos para fazer ciúmes em Ali. E parece que os dois terminaram semana passada. Agora o foco é em uma boba perda de memória de Sara.
A traição de Elias (Marco Ricca) é outro ponto que desperta atenção negativamente. Nesse caso é um erro crasso de desenvolvimento das autoras, que cometem exatamente o mesmo erro de "Cordel Encantado" (2011), quando destruíram a relação de Florinda (Emanuelle Araújo) e Zenóbio (Guilherme Fontes) de forma gratuita. Havia uma lista de conflitos melhores para o casal Elias e Missade (Ana Cecília Costa). Ele se interessar por Helena (Carol Castro), depois de tudo o que passou com a esposa na travessia e durante a guerra fica impossível de comprar. O agravante nessa trama foi justamente os tais três anos. Antes do avanço no tempo, o pai de Laila beijou Helena. E parou por aí. Ou seja, os dois ficaram flertando durante todo esse período? E só agora a traição se consumou? Como assim?
É preciso citar ainda o amor de Bruno (Rodrigo Simas) por Laila. Ele viajou para o Líbano, voltou e segue perdidamente apaixonado. Não a esqueceu em três anos. Talvez o único objetivo do avanço no tempo deveria ser a mudança de rumo na vida do rapaz. Mas nem para isso serviu. Para culminar, Valéria (Bia Arantes) exigiu que se casasse com Norberto (Guilherme Fontes) três anos atrás, mas se contentou em ficar 'amigada' esse tempo todo. O empresário, por sinal, nem pediu o divórcio para a ex-esposa (Teresa - Leona Cavalli) e nunca a suportou. Ou seja, todos os núcleos continuaram na mesma.
"Órfãos da Terra" ainda está em seu início. Tem muita história pela frente --- só acaba em outubro. Todavia, é inevitável ignorar o erro da criação dessa passagem de tempo. Absolutamente nada andou no roteiro e nem mesmo o visual dos personagens foi alterado. É como se não tivesse passado nem uma semana. Duca Rachid e Thelma Guedes têm um bom enredo em mãos, mas agora precisarão de uma guinada atrativa para justificar a morte precoce de Aziz e Soraia e ainda consertar o andamento das tramas, após três anos inúteis.
31 comentários:
O seu texto sobre a morte do Aziz já estava bem claro: as autoras precisariam ter muitas cartas na manga pra manter a novela atrativa sem o maior vilão. Não tinham.
Tu é foda!
Disse tudo o que penso sobre a novela. Me empolguei no início e agora nem vejo mais. Ficou uma bobagem.Saudade de Espelho da Vida.
Ainda restam cerca de quatro meses para o término de "Órfãos Da Terra", mas é inegável que certos rumos que Duca Rachid e Thelma Guedes dão para suas histórias conferem hipocrisia a alguns personagens "do bem", e até mesmo tramas promissoras como as dos vilões não tardam a apresentar falhas na construção. Quanto aos núcleos paralelos, poucos perfis se destacam. Uma obra teledramatúrgica não deve ter apuro apenas estético, e sim em sua totalidade.
Guilherme
Mais uma novela equivocada e mal desenvolvida, mesmo depois dos inúmeros adiamentos. Mais uma novela que tem história apenas no primeiro mês, mas se esvazia e segue até o final com um enredo fraquíssimo e sem verdade. Não é uma surpresa, mas não deixa de ser uma decepção.
Como comentei no último texto a respeito de "Órfãos Da Terra", parece que a novela amorosa e humana que Duca Rachid e Thelma Guedes prometeram ao público está paulatinamente definhando e caindo na mesmice, e tudo por culpa delas mesmas, que abusam das repetições em folhetins desde "Cordel Encantado" (2011). Aliás, "Cama De Gato" (2009) foi de fato boa para quem assistiu a ela? Levando em conta o histórico das autoras, o melhor seria roteirizarem minisséries ou superséries, visto que, para elas, produções televisivas com duração muito longa em termos de capítulos ocasiona esgotamento na condução das tramas centrais. Sabe-se também que um ou outro autor da Rede Globo gosta de contar com certos atores e atrizes em suas "panelinhas", mas o que Duca e Thelma veem de tão extraordinário no Carmo Dalla Vecchia? Isso quando não ocorre apadrinhamento de autor para autor, como é o caso de Silvio de Abreu em relação a Daniel Ortiz.
Guilherme
A passagem de tempo realmente esfriou a novela, que era ágil e com ótimos desdobramentos.
Acredito que as tramas paralelas são muito fracas para segurarem o restante do tempo de tela, porque é ok a trama principal ser melhor, mas os núcleos secundários também merecem destaque, mas o que se vê é um amontoado de personagens sem função nenhuma.
Núcleo Sara e Ali é legal, mas não há conflitos suficientes para se tornar atrativo.
Núcleo Bruno é melhor nem comentar.
Núcleo Centro de refugiados é muito mal aproveitado com personsgens insossos.
Almeidinha e Zuleika já acabou a história.
O que sobrou então foi a trama principal, mas Laila e Jamil já se casaram, Aziz e Soraya morreram, restou Dalila e seu plano mequetrefe.
Concordo com tudo, a passagem de tempo fez a novela parar. Ela estacionou e não tem algo que a faça andar.
Em relação a Elias, acharia compreensível ele se apaixonar por Helena, porém tudo foi construído de forma rápida e sem sentido. Ele e Missade passaram por situações terríveis, mas não significa que precisam ficar juntos para sempre. O grande problema é que Elias culpa Missade por ela não se adaptar ao Brasil, contudo quando ele se apaixonou por Helena, sua esposa estava ótima e feliz.
As autoras também apressaram demais o romance de Zuleika e Almeidinha, que já esgotou a história e pouco se trabalhou nos conflitos e a submissão da Mãe de Bruno com Norberto.
Personagens como Cibele, Benjamin e a mãe de Abner estão mal aproveitados.
As autoras deveriam escrever tramas curtas, porque nas longas elas tem dificuldade de manter o ritmo.
Puxa Sérgio, que pena amigo!!
Parecia ser uma novela incrível, estava em um bom ritmo, mas matar o super vilão malvado logo no início, é mesmo atirar no próprio pé!
Uma pena, e sabe, essa passagem de tempo já está me deixando nervosa amigo..Ontem na novela A Dona do Pedaço, já fiquei com saudades da turma da pesada de fazendeiros atiradores como a grande Fernanda Montenegro...
Uma pena que os grandes personagens não permanecerão!
Valeu amigo, adorei o texto!!
Desejo uma semana maravilhosa!!
eu tenho tentado abstrair q passaram 3 anos pq não ficou muito lógica mesmo a trama q parece q congelou como aquela outra novela nos 3 anos. mesmo não amando tanto é ainda uma ótima novela. mas não ando apaixonada pela trama da dalila, mas outras estão me divertindo. eu gostei das autoras terem coragem de matar personagens tão impactantes. eu gosto muito da coragem delas. até nao estranhei dalila esperar os 3 anos já q vivia uma paixão com paul. embora estranho ela viver com um homem no país dela tao conservador. seria mais crível se tivesse ficado vivendo na inglaterra. sim, em hoteis de luxo camila teria tido contato com prostitutas jovens e lindas e aprenderia o caminho das pedras. olha, só discordo de vc em relação a paixão do pai da laila. é comum qd a vida muda demais os casais se perderem no caminho. e estou gostando q agora ele tenta de tudo salvar o casamento. acho válido tentar salvar um casamento longo antes de desistir dele, mesmo que não dê certo. a história do bruno eu acho esquisita desde o começo. a mãe não tem pensão. ele não tem trabalho. os dois vivem de q? beijos, pedrita
Nossa Sérgio, valeu por essa crítica, cansado de ver gente elogiando essa novela, dizendo que deveria ser das 9... acho mais engraçado ainda uns críticos ai que criticavam espelho da vida lambendo essa novela cheia de furos, tratando-a como a melhor novela no ar (malhação tá mandando beijos).
Eu sabia que essa novela não iria melhorar, eu gostei bastante dos 3 primeiros caps, drama dos refugiados, as cenas bem filmadas, densas, mas quando começaram a focar no romance de Laila e Jamil, eu sabia que a novela iria girar em torno disso e começei a ver a novela pelas metades, larguei de mão quando vi que Soraia iria morrer (eu eu sabia que matar Aziz seria um tiro no pé), agora lendo seu texto, tô feliz de ter abandonado a novela ainda na primeira fase.
Sdds espelho da vida, novela que foi um primor do início ao fim, que nunca tratou os espectadores feito idiotas, nunca precisou usar da nossa boa vontade por conta de plot burro, tudo fazia sentido, as viradas da trama eram épicas, e o final de cada cap era um ganchão.
Nich.
Nunca fui apaixonado por "Orgulho E Paixão" (2018) e "Espelho Da Vida" (2018), mas essas novelas só melhoravam conforme o desenrolar de suas respectivas tramas. Pena "Órfãos Da Terra" seguir o caminho inverso. (E olhe que eu nem a acompanho, risos.) "Malhação - Toda Forma De Amar" e "A Dona Do Pedaço" parecem ter conflitos mais convidativos. Enfim, como venho dizendo desde o início do ano, em se tratando de folhetins da Rede Globo, apenas "Bom Sucesso" me tocará neste de 2019. Sem mais. (Pelo menos até então...)
Guilherme
*..., mas essas novelas só melhoravam à medida que suas respectivas tramas se desenrolavam.
Guilherme
Não consigo entender como alguém tendo 170 e poucos capítulos pela frente, faz com que seu casal principal se apaixone perdidamente sem nem trocar uma frase. Pra piorar logo casaram, tiveram filho e o plot deles acabou. E ainda matam o grande vilão e a filha dele espera 3 anos numa vingança que já esfriou. Os núcleos paralelos estagnados e pra coroar a maioria das cenas tem um filtro escuro cansativo pro telespectador. Foram 3 semanas boas mas história acabou.
Olá Sérgio! Não assisto a novela. Acho chata. (Eu vi alguns capítulos) e tenho compromissos no horário. Mas bora lá... Quando eu vi que o casal já tinha casado e feito comercial de margarina (revirada de olho) e o vilão morto eu pensei: Ferrou! Já era! Acabou a história. Matar um personagem do peso do Capri é ousado e até louvável quando se tem coringas e não cartas na manga. A personagem da Sabatella daria uns Plot Twist tão bom. Melhor ela daria um baita arco de personagem. Infelizmente foi desperdiçado.
O curioso dessa passagem de três anos pelo que vi é que nada mudou. Tá tudo igual. Será que eles não foram congelados durante esses três anos?
Voltamos pro casal: O conflito deles agora é ciúmes? Sério? Sério mesmo? Se eu tivesse escrevendo essa novela esses dois não estariam juntos. A Laila estaria com o Capri comendo o pão que o diabo amassou. O filho dela... Ela teria a criança, mas ela seria dada pra Dalila que estaria casada por conveniência e não poderia ter filhos. Detalhe iriam dizer pra Laila que o filho dela nasceu morto. Depois no futuro reta final qnd a Laila descobrisse haveria uma disputa entre ambas pela guarda da criança. O Jamil estaria preso em outro país acusado de tráfico (uma armação básica do Sheik.) (Eu sei é clichê, mas o povo ama um clichê.) A Sabatella e a Laila conseguiriam uma oportunidade perfeita para fugir, tempos após a morte do "Inácio" isso iria ser o Plot pra virada da Sabatella, mas a mãe da Dalila morreria no meio do caminho (ou não. Vamos plantar essa dúvida) despertando a fúria de Dalila que culparia a Laila pela morte da mãe. A Laila conseguiria escapar sem lenço e sem documento e aí ela conheceria o Simas (Eu iria introduzi-lo só nesse ponto da história.) E aí começaria uma amizade entre eles que aos poucos vai evoluindo pra algo mais. (Com Laila pensando o pior de Jamil)
E a família da Laila? Estariam tentando junto a embaixada trazê-la de volta. (Eu não sei como funciona isso. Então a pesquisa teria que ser grande) Qnd descobrissem um jeito de trazê-la ela já teria fugido. Causando um "desencontro" Por coincidência Laila acabaria vindo para o Brasil e qnd fosse procurar por sua família encontraria quem? O Sheik! A família de Laila tornaria-se totalmente dependente do Sheik. Sem saber.
Caraca! Eita! Eu me empolguei com isso. Kkkkkkkkk. Pior que surgiram mais umas 500 ideias. (Eu sei esse enredo tá péssimo, mas serve pra rir. Kkkkkkk)
A mocinha é muito insossa e antiquada. Parece aquelas mocinhas de novela antiga. Tradicional e passiva. A interpretação da atriz também não ajuda. Ela é muito sonsa e abusa da mesma cara. O que vc acha do empenho dessa atriz protagonista? Gostei muito do texto e é tudo verdade. Tinha tudo para ser, mas acabou não sendo. Xau.
Não queria ter acertado, anonimo...
Valeu, Vitor.
Saudade do novelão, Andressa.
Guilherme, juro que não sei como vão sustentá-la até outubro...
Perfeito, André.
Guilherme, Cama de Gato foi excelente mas teve muito mais dedo do João EEmanuel Carneiro que era supervisor, assim como O Profeta teve mt mais dedo do Walcyr. As novelas solos delas comprovaram que a dupla age assim mesmo: começam com uma trama maravilhosa e não sabem sustentá-la. Sempre se perdem no meio... No caso da atual foi antes disso...
ISSO, Anonimo...
Pois é, anonimo...
Uma pena mesmo, Adriana...
Boa pergunta, Pedritta...
Tb sinto muitas saudades de Espelho da Vida, Nich. E fico feliz que tenha gostado do texto. E a verdade é que as autoras sempre foram protegidas pela crítica. Aquela Joia Rara foi péssima e não teve nem a metade das criticas que merecia na época...
Tb estou esperançoso com Bom Sucesso, Guilherme.
Onde eu assino, Unknown???
Péssimo não, Leitora, seu enredo tá ÓTIMO. Muito mellhor que a novela que está no ar...
Eu acho que a Julia Dalavia está ótima, anonimo. Mas a mocinha virou figurante, perdeu a função, assim como o mocinho.
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