As perspectivas se confirmaram. A minissérie é mais um acerto da Globo. O texto do autor Euclydes Marinho e de seus colaboradores --- Denise Bandeira, Nelson Motta e Guilherme Fiúza --- é ácido e passa longe da superficialidade. O telespectador precisa prestar atenção nos ótimos e muitas vezes irônicos diálogos dos personagens, caso contrário acaba se perdendo na história.
A trama retrata com competência o retrato da política nacional, mesmo havendo o costumeiro aviso nos créditos finais, alegando que tudo não passa de mera ficção. O primeiro episódio fez questão de mostrar toda a podridão do sistema, indo de policiais cobrando a tradicional cervejinha, chegando ao topo com deputados, senadores e ministros envolvidos em falcatruas.
Cabe ao deputado Paulo Ventura (Domingos Montagner) enfrentar os corruptos e colocar ordem na casa. Em uma manobra política, o defensor da moralidade acaba sendo 'eleito' presidente da Câmara dos Deputados. Mas os canalhas do congresso não imaginavam que o pior aconteceria: o Presidente da República e seu vice morrem em um acidente de helicóptero. Com isso, Paulo se vê no mais importante cargo do país.
O personagem é um poço de ética e honestidade, mas tem um ponto fraco: é mulherengo. Outro ponto que merece elogios. Os autores procuraram fugir do maniqueísmo, já que um homem sem nenhum defeito poderia soar como sendo uma espécie de mocinho ou herói. E definitivamente não é essa a proposta da história.
O elenco foi mais um acerto. Grandes nomes foram escolhidos e não decepcionaram. José Wilker e Domingos Montagner protagonizaram uma excelente cena onde o Ministro da Justiça Floriano Pedreira enfrenta e ironiza a ética do recém-empossado Presidente. Maria Fernanda Cândido é uma grata surpresa. Após várias interpretações irregulares, para não dizer fracas, a atriz está muito bem vivendo a primeira-dama que sofre com as traições do marido. Maria do Carmo Soares está divertindo vivendo a mãe do protagonista. É uma típica trambiqueira. Otávio Augusto, Mariana Lima, Juliana Schalch, Leopoldo Pacheco, Cacá Amaral, Cris Nicolotti e Miele, também já se destacaram. É um belo time de profissionais.
"O Brado Retumbante" nos apresentou um trabalho de qualidade, mas infelizmente ainda não teve o retorno merecido da audiência. Estreou com 19 pontos de média, número muito aquém do que a minissérie merecia. Resta torcer para que essa produção tão rica não seja injustiçada pelo grande público. O que é bom precisa ser valorizado sempre.
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