A Globo promoveu na terça-feira passada, dia 25, a primeira coletiva virtual de "Vale Tudo", remake de Manuela Dias, dirigido por Paulo Silvestrini, baseado na obra original de Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Brasséres. Participaram a autora, o diretor e os atores Lucas Leto, Cacá Ottoni, Karine Teles, Belize Pombal, Maeve Jinkings, Lorena Lima, Breno Ferreira, Bruna Aisso, Letícia Vieira, Jéssica Marques e Taís Araújo. Fui um dos convidados e conto sobre o bate-papo a seguir.
Paulo Silvestrini comentou sobre a diferença do remake: "A gente assina e entrega uma carta de intenções. A gente espera que tenha tocado no coração dos fãs. Para o fã a essência da obra está preservada, os personagens estão ali. A gente brinda o público com pequenas homenagens, busco homenagear Dennis Carvalho e Ricardo Washington, enfim, é uma releitura vintage e para quem não conhece é uma oportunidade para entrar em contato com essa obra clássica. Vou fazer com muita atenção e vontade que todos se sintam recompensados em ligar a televisão".
Manuela Dias falou das mudanças ao longo do tempo para a realização do remake: "Depois de 37 anos, a nossa expectativa é que 40% terá contato com a obra original. Mas é uma novela para todos. Está atualizada com um cheiro vintage e acho que para quem já viu é como se reencontrar um amigo, mas com o tempo fazendo seu trabalho. O mundo mudou muito, ainda bem, no quesito de sustentabilidade, enfim.
Na primeira versão, Cecília e Laís não se referiam como namoradas e, sim, como amigas porque era como a sociedade conseguia absorver naquele momento e é bom vermos como andamos, pelo menos um pouco. Para mim a questão da representatividade é central desde 'Justiça 1' e a dramaturgia tem que servir de instrumento de transformação social. De 1988 para cá, passamos por um processo de letramento com o machismo, racismo e classismo e a gente consegue ver hoje que na novela só tinha dois atores pretos. Nosso olhar era tão transformado pelo racismo estrutural que a gente não conseguia ver. Pra mim a Raquel sempre foi preta e não foi na época por essa questão. Na versão de 1988, a agressão contra a mulher era totalmente normalizada, assim como a visão do alcoolismo, enfim. A Odete é um personagem tão pragmático que isso é maior que tudo pra ela. Serve quem está a serviço dela para executar a agenda dela e por isso a Maria de Fátima é perfeita. Ela até fala que a Maria lembra ela quando era jovem. Me perguntam como lido com a repercussão na internet e fico felicíssima porque que estranho seria se não tivessem falando da novela".Perguntada se falou com o único autor vivo da versão original e se manterá as cenas clássicas da obra, a autora respondeu: "Aguinaldo é uma espécie de totem pra mim e preciso tomar um café com ele para saber se ele existe mesmo. Não o conheço pessoalmente, mas estou interessada em qualquer encontro temporal com pessoas mais velhas. Teremos as cenas icônicas, a 'rasgação' do vestido da Maria de Fátima, a chegada da Odete... Vai ter tudo".
Taís Araújo contou como foi a sua escalação para a trama: "Pedi uma vilã pro José Luiz Villamarim (atual responsável pelo setor de teledramaturgia) e ele me dá a Raquel, uma mocinha icônica. Aí vi a novela e pensei: 'Meu Deus, não posso perder essa oportunidade'. É uma personagem muito bem escrita. Posso dizer que é uma mocinha perfeita. Liguei para Manuela e disse que tinha sido muito burra porque aceitava fazer sim. É uma grande oportunidade, a novela está no imaginário popular e claro que é uma oportunidade imensa. É uma honra tão grande que sobrepõe isso. To muito feliz. A gente tá na maior expectativa, assim como todo mundo. Já fiz umas três ou quatro novelas das nove e essa talvez seja a que mais está sendo leve. Há uma leveza entre nós e um desejo grande em contar essa história. A gente está relutando e não refazendo. A novela é a mesma, mas não é a mesma. A comparação sempre vai ter com qualquer remake".
Maeve Jinkings comentou como será a abordagem em torno da homossexualidade de Cecília, sua personagem: "O que sobrevive ao tempo é o amor entre duas mulheres. Quando o Paulinho me ligou, ele me falou uma coisa muito bonita sobre fazer remakes. Obras audiovisuais são o retrato de um país em determinados momentos e o atrito que cria em contato com o público. E telenovela é quase instantâneo. A gente remonta Hamlet, grandes clássicos, então essa é a ideia de trazer o Brasil de 37 anos depois, que na época estava recém-saído da ditadura e ainda trazia marcas da censura. Agora vamos falar dos temas em um outro país, que ainda permanece algumas resistências, mas a gente caminha. Apesar de ter gente com saudosismo desse obscurantismo, a gente vem caminhando. Vi uma entrevista na época da novela perguntando para as pessoas se elas achavam que homossexuais tinham que morrer e elas falavam que achavam sim que tinham que morrer. Hoje em dia isso não é mais aceitável".
Lorena Lima, que interpreta Laís, par de Cecília, complementou: "Existe um histórico de casais homoafetivos na televisão brasileira e estamos tendo muito zelo e cuidado".
Belize Pombal explicou sua personagem: "A Consuelo traz uma característica muito brasileira que é lidar com as diferenças. Ela tem alguns aspectos com um olhar conservador, o que reflete o próprio Brasil, ao mesmo tempo que é um país que abraça, como era com o querido Paulo Gustavo. Nosso país é complexo. Ela traz uma lida conservadora com a vida, mas é muito amorosa. Fico muito feliz quando a gente se encontra para gravar e vejo uma família preta retinta, sem que ninguém possa questionar a etnia. Isso é muito importante. Pessoas negras, antes de serem negras, são pessoas. Quando a gente tem a oportunidade de trazer artistas negros retintos em uma condição socioeconômica legal e em uma família amorosa também fala muito da remontagem, não só da novela como da sociedade".
Breno Ferreira, que vive André, filho de Consuelo, acrescentou: "A gente tem a possibilidade de acompanhar o tempo e por isso sou apaixonado pela minha profissão. Tem sempre muita fartura na mesa dessa família e eles têm outro norte. Temos uma família preta na novela das nove e não falando sobre racialidade. É bonito de ver e estou empolgado com esse início".
Jéssica Marques, que interpreta Daniela, outra filha de Consuelo, também falou: "A gente criou laços de família e é tão bonito ver uma família preta com esse momento de mesa reunida em horário nobre. É uma família negra retinta, como Belize falou, e nunca imaginei estar em uma novela das nove. Agradeço a Manu que desde 'Justiça' me deu presentes. Daniela é uma estudante de direito, uma menina doce, estudiosa, passa o tempo todo estudando e vê a mãe como exemplo porque ela fala vários idiomas, enfim. Ela vê também a Raquel como um espelho de mulher, a mulher brasileira que faz o corre e traz o sustento pra mesa. A minha personagem não tem aquele estereótipo da menina preta que não tem nada e nem o apoio da família. Sou uma senhora de 25 anos interpretando uma jovem de 17 anos. Mas ela é uma menina madura. E é importante que outras meninas se vejam representadas".
Lucas Leto resumiu seu novo personagem: "Otavio Muller fez brilhantemente o Sardinha na época e está sendo muito legal dar vida a esse menino e posso entregar um pouco quem eu sou porque levo minha arte e minha profissão muito a sério".
Cacá Ottoni também falou brevemente sobre seu papel: "Faço a Marieta, uma espécie de recepcionista e a Tomorrow era uma revista e agora é uma agência de conteúdo. Ela produz os eventos, as festas, é uma faz tudo. Tenho a sensação que todos gostam muito de trabalhar ali e minha personagem é pró-ativa, competente, assim como o Sardinha".
Bruna Aiiso falou da representatividade na trama: "Vocês não têm não do cenário que construíram para a Tomorrow. Parece a Disney para nós atores. A minha personagem, a Suzana, é muito empolgada e vibra muito com o trabalho. Não tenho como passar por aqui sem passar pela questão racial porque sou a única mulher amarela do elenco e é uma honra para mim estar em um personagem sem estereótipos. Só tenho coisas para comemorar".
Karine Teles não escondeu a empolgação com o remake: "Fiquei feliz com o convite para a Aldeíde e sou fã do trabalho da Lilia Cabral. Quando o Paulinho e a Manu me convidaram fiquei animadíssima e apavorada. Estou fazendo uma personagem que já foi feita lindamente. Quando a gente pensa em Vale Tudo como um clássico da teledramaturgia, como de fato é, e eu sou uma atriz de teatro, onde é comum as várias adaptações de clássicos, me deu uma animação porque não precisa escolher uma ou outra, é possível amar as duas. A primeira pergunta que eu fiz foi quem ia fazer a Consuelo. Nem perguntei de Maria de Fátima ou Odete. E quando soube que era a Belize fiquei muito feliz. Está sendo uma delícia trabalhar com ela e descobrir esse lugar da comédia, que não é fazer graça, mas viver coisas engraçadas. São duas vizinhas trabalhadoras e guerreiras enfrentando o mundo com um olhar amoroso".
Letícia Vieira finalizou a coletiva e contou de sua personagem, Gilda, que na versão original era um homem: "Fiquei muito feliz quando passei no teste e fiz questão de ligar pro meu pai falar que faria uma novela com a Taís Araújo. Quando soube que era para fazer o antigo Gildo, eu vi que sou um pouco o Gildo. Eu só não roubei, mas tenho vivências muito próximas dela. Ela é uma sobrevivente que precisa de uma oportunidade. E tive muitas Raqueis que me deram oportunidades. Estou muito realizada".
O remake de "Vale Tudo" estreia no dia 31 de março.
Um comentário:
Parece que fará um grande sucesso, como a versão original. Manuela Dias está arrebentando na releitura.
Boa semana!
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Até mais, Emerson Garcia
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