quarta-feira, 21 de junho de 2023

"Os Outros" tem tudo para ser a melhor série de 2023

 O que acontece quando todo mundo acha que tem razão? Essa pergunta é o despertar da série Original Globoplay ‘Os Outros’, criada por Lucas Paraizo e com direção artística de Luisa Lima, que estreou na última quarta-feira de maio, dia 31, às 18h, para não assinantes. O primeiro episódio ficou disponível de forma gratuita até o dia 05 de junho. A cada semana, são disponibilizados dois episódios, sempre às quartas e sextas, até o dia 07 de julho.


No fictício condomínio Barra Diamond, localizado na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro, duas famílias vizinhas vividas por Cibele (Adriana Esteves) e Amâncio (Thomás Aquino) e Wando (Milhem Cortaz) e Mila (Maeve Jinkings) entram em choque após a briga dos filhos adolescentes, Marcinho (Antonio Haddad) e Rogério (Paulo Mendes). O que poderia ser um desentendimento corriqueiro cresce e desperta reflexões importantes sobre os limites da tolerância, capacidade de escuta e diálogo, compaixão, influência dos pais na criação dos filhos e solução de conflitos na atualidade.

 É em busca de segurança e qualidade de vida que a família de Cibele se muda para o condomínio Barra Diamond, após ter vivido de perto a violência em um bairro de subúrbio onde moravam. Seduzidos pelo ideal de felicidade dos grandes residenciais, Cibele e o marido Amâncio estão aliviados em poder oferecer uma condição de vida melhor e uma juventude com mais opções para o filho Marcinho. Vendedor em uma loja de eletrodomésticos, Amâncio é um homem sensível que se preocupa com os outros e para quem sobra remediar os arroubos de Cibele. Mãe superprotetora, controladora e capaz de tudo pela segurança de seu filho, ela trabalha de casa como contadora e está sempre tomando as rédeas do que acontece na vida de sua família.

 O filho deles, Marcinho, nunca foi o mais forte, nem o mais bonito ou inteligente, tampouco se destacou nas aulas de piano, mas uma coisa é certa: ele sempre foi um filho muito amado. Poucas mães foram mais dedicadas do que Cibele. Mas o excesso de amor também traz seus problemas. Marcinho fala pouco, mas as palavras acumulam dentro dele. E a raiva também, pois está cansado de sofrer bullying. Quando chega ao Barra Diamond ainda criança, o menino se encanta com a liberdade que enxerga no local e a família acredita encontrar no condomínio a tranquilidade que haviam perdido nos últimos anos. Mas tudo muda oito anos depois, quando o destino cruza o caminho deles com o da família do Wando, Mila (Maeve Jinkings) e o filho deles, Rogerio, família que leva uma vida conturbada pela dificuldade financeira e a relação pouco afetuosa que construíram.
A falta de oportunidades do passado transformou Wando em alguém apegado ao mundo material e ao consumismo. Ele acha que será valorizado pelos bens que possui. É um pai apaixonado pelo filho, porém demonstra com brutalidade seus sentimentos e gera um relacionamento abusivo em casa. A esposa, Mila, foi uma criança maltratada pela mãe, Aurora (Magali Biff). 
 
Rogério foi criado para ser o melhor no judô, nas brigas, na suposta boa educação. Mas por trás de sua ‘cara de mau’, Rogério é um menino cheio de carências. Durante uma partida de futebol com outros adolescentes no condomínio, Rogério acerta um soco em Marcinho motivado por um desentendimento em um lance do jogo. Mãe superprotetora e capaz de tudo para defender o filho, Cibele não tolera o que acontece e, sem abrir espaço para uma conversa, afronta a família do jovem que o atacou. Wando se recusa a se desculpar pelo que houve e minimiza o episódio, que chegou a deixar Marcinho desacordado no meio da quadra. Movida pela raiva diante do descaso do vizinho, Cibele arranha o carro dele. 
 
A atitude dá início a uma rixa que extrapola os limites da quadra, em uma sequência de atos impensados e agressões que trazem à tona reações adversas. Motivados pelo que entendem como ameaças a si próprios e a suas famílias, os protagonistas deste drama contemporâneo se veem num emaranhado sem fim de atitudes extremas que mudam para sempre o curso de suas histórias.

A trama ainda tem outros personagens, como Dona Lúcia (Drica Moraes), a síndica do condomínio Barra Diamond, cuja aparente normalidade entra em risco diante das questões envolvendo as famílias. Ela conta com a atenção do porteiro Elvis (Rodrigo Garcia) para mantê-la informada sobre tudo o que acontece por ali. Já Sérgio (Eduardo Sterblitch) é um ex-policial expulso da corporação e morador do condomínio que vê uma oportunidade de obter vantagens diante do conflito entre os vizinhos. Do relacionamento com Joana (Kênia Bárbara), virou pai de Lorraine (Gi Fernandes), uma adolescente que chega de surpresa para morar com ele. 

A série arrebata logo no primeiro episódio, onde a tensão surge logo no início e nunca mais se dilui. A essência do enredo é explorar o ódio que passou a dominar a sociedade nos últimos anos e causar um desconforto constante em quem assiste. Embora tenha pequenas doses de humor através de algumas situações, principalmente protagonizadas pela síndica, a história carrega um clima angustiante que persiste na maior parte do tempo, até em momentos de aparente calmaria. A direção de Luisa Lima está em perfeita sintonia com o texto de Lucas Paraizo e consegue extrair tudo o que o autor pretende com os conflitos e desdobramentos que vai criando. Aliás, o escritor vem se mostrando um dos maiores talentos da Globo atualmente. Responsável pela adaptação do livro e do filme "Sob Pressão" para a tevê, que apresentou cinco temporadas brilhantes, Lucas agora envereda por um caminho que até apresenta similaridades com seu produto anterior, mas expõe a adrenalina de uma outra forma. Os médicos que conquistaram o público viviam em uma constante pressão alheia ao comportamento deles, já os moradores do condomínio convivem com um tensionamento oriundo de suas próprias atitudes.

Adriana Esteves e Milhem Cortaz são os grandes destaques da série. Cibele e Wando são os personagens que representam a irracionalidade e protagonizam as cenas de maior impacto na história. Maeve Jinkings é outro grande nome e emociona na pele de Mila, mulher que sofre com a violência do marido em um relacionamento abusivo. Drica Moraes trabalhou com Lucas Paraizo em "Sob Pressão" e repete a bem-sucedida parceria vivendo uma mulher que nada se parece com a médica Vera. Eduardo Sterblitch surpreende na pele de um tipo totalmente diferente de tudo o que fez em sua carreira, enquanto Paulo Mendes e Antonio Haddad se mostram gratas revelações. Os atores honram a importância que têm no enredo e defendem com competência dois jovens que acabam sendo o estopim para uma declaração de guerra. Já a atuação de Milhem chega ao ápice no sétimo episódio, que se mostra o mais impactante até o momento. A sequência final é de tirar o fôlego. 

"Os Outros" é uma criação de Lucas Paraizo, escrita com Fernanda Torres, Flavio Araujo, Pedro Riguetti, Bárbara Duvivier, Thiago Dottori e Bruno Ribeiro. A série tem direção artística de Luisa Lima e direção de Lara Carmo. A produção é de Luciana Monteiro, e a direção de gênero, de José Luiz Villamarim. Tem tudo para ser a melhor série de 2023. 

15 comentários:

Anônimo disse...

Essa série é muito impactante. Eu fico me sentindo mal.

Fá menor disse...

Parece ser uma boa série, que fará reflectir.

Jovem Jornalista disse...

Estou assistindo e realmente vale muito a pena!

Parece ser um produto maravilhoso, com um cheirinho delicioso.

Boa semana!

O JOVEM JORNALISTA está no ar com muitos posts e novidades! Não deixe de conferir!

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Até mais, Emerson Garcia

Adriana Helena disse...

Sérgio, se as chamadas da série já me causaram um impacto brutal, imagine assistí-la por inteiro!!
Aliás, agradeço pelo seu texto impecável, pois me deixou a par dos personagens e da história! Fiquei impressionada com a riqueza de detalhes da sua narração e descrição!!
Grata amigo!!
Já antecipo desejos de um lindo final de semana!!

Marly disse...

Vou tentar ver esta série, me interesso pelo tema. A resenha me lembrou duas coisas: o filme 'O Deus da Cranificina' e a frase de Sartre: "O inferno são os outros", rsrs.

Beijo

Marly disse...

aiaiai, troquei os dedos aqui, quis dizer: O Deus da Carnificina, rsrs.

Ane disse...

Vou ver na globoplay, mas só quando
terminar a serie que eu estou vendo agora.
Bom fim de semana!

Ane/De Outro Mundo :)

Sérgio Santos disse...

É impactante mesmo, anonimo.

Sérgio Santos disse...

Faz, Fá.

Sérgio Santos disse...

Vale muito, Emerson.

Sérgio Santos disse...

Fico honrado, Dri!!!

Sérgio Santos disse...

E são fontes de inspiração, Marly. O autor contou.

Sérgio Santos disse...

Bjs, Ane.

Outsiders disse...

Se Toma Lá Dá Cá fosse escrito pelo Nelson Rodrigues em vez do Miguel Fallabella.

A galera falando sobre as supostas situações "inverossímeis" que são pessoas com empregos precários morarem em condomínio. Mas a série é sobre isso mesmo, uma classe média em decadência, precarizada, que prefere se enfiar dívidas para manter status, mesmo que não signifique o bem viver, ao contrário. Fala sobre o fetichismo do controle e da segurança que acaba caindo em deixar o poder para uma milícia (fascismo).

São pontos centrais da trama, inclusive.

izabel disse...

Uma das melhores produções nacionais que já vi, apesar de pender em alguns momentos para tramas de novelas das 20h. É um pena a derrapada no final do último episódio, pois a série tinha tudo pra se fechar em apenas 1 temporada espetacular, digo isso pois me passou a impressão de que haverá uma continuação (?). Sinceramente não entendi a escolha... No geral, excelente. A Adriana Esteves simplesmente transforma em ouro tudo que toca. Que atriz! Até Mila no final teve um arco interessante.

Vejo comentários que todo mundo falar mal da Lorraine, e ela realmente é um personagem chata, mas, assim... ela é adolescente não é? Para mim, muito pior é o Amâncio, com 40 anos nas costas e se comportando que nem um moleque.