terça-feira, 29 de setembro de 2020

"Amor e Sorte" foi uma grata surpresa em tempos tão difíceis para o setor cultural

"Todos dizem eu te amo, mas é em momentos adversos que o amor é posto à prova. Entre quatro paredes, ou algumas a mais, a quarentena trouxe para as pessoas rotinas e vivências nunca Antes experimentadas. Muitos de nós se viram diante de conflitos internos, mas também externos, principalmente com as pessoas isoladas por tempo indeterminado". Essa foi a premissa de "Amor e Sorte", série criada por Jorge Furtado, e exibida em quatro deliciosos episódios na Globo. O último foi ao ar nesta terça-feira.


Cada história era independente e protagonizada por uma dupla diferente. Para a segurança dos envolvidos, em plena pandemia do novo coronavírus (que não acabou, importante lembrar), os dois personagens de cada trama eram interpretados por atores que já moram juntos. Ou porque são família, como Fernanda Montenegro e Fernanda Torres, ou porque são casados/namoram, vide Lázaro Ramos e Taís Araújo, Fabíula Nascimento e Emílio Dantas, e Luisa Arraes e Caio Blat. A direção de Patrícia Pedrosa e Ricardo Spencer foi realizada remotamente (em vídeo-chamadas) e todos os intérpretes também atuaram como diretores, cenógrafos, iluminadores, enfim.

O único episódio que contou com uma produção mais "caprichada" foi o "Gilda e Lúcia" em virtude da condição favorável de Fernandona e Fernanda: as duas estavam em um sítio da família na Serra com um espaço amplo e morando com outras pessoas especialistas no setor audiovisual.
Afinal, Andrucha Waddington, marido de Fernanda Torres, é um diretor experiente e seu trabalho primoroso em "Sob Pressão" é apenas o mais recente. Pedro e Joaquim Waddington, filhos do casal, foram outros que ajudaram na produção. Esse episódio ainda foi escrito por Antônio Prata, Jorge Furtado, Chico Mattoso e a própria Fernanda Torres. Não por acaso foi o melhor de todos. A escolha para a estreia foi certeira. A história da mãe e filha que se reaproximaram, após muitas brigas por conta da convivência forçada, se mostrou hilária e emocionante.

No caso dos outros casais, os atores operaram seus kits audiovisuais de equipamento e eram dirigidos à distância por Patrícia Pedrosa. Luisa Arraes, Caio Blat e Lázaro Ramos fizeram uma dobradinha com Patrícia nos seus respectivos episódios e o diretor Ricardo Spencer completou a equipe no episódio de Emílio e Fabíula. A produção de arte, assinada por Eugenia Maakaroun, teve pouca interferência e procurou aproveitar todos os elementos da casa dos atores. Segundo a produtora, poucos objetos foram levados para as ambientações. O público teve uma mescla de realidade através dos lares dos atores e ficção com os ótimos conflitos criados pelos roteiristas. O conjunto funcionou da melhor forma possível.

O episódio protagonizado por Taís e Lázaro foi o primeiro trabalho de Alexandre Machado sem a esposa, Fernanda Young, falecida ano passado e sua companheira de décadas na vida e como roteirista. O enredo expôs como um casal reagiu a um panelaço e transformou uma crise política em conjugal. Os atores brilharam e o texto ácido do autor foi característico. Ainda houve uma bonita homenagem para Young na última cena, quando Cadu e Tábata olharam para uma estrela brilhante. Vale destacar as ótimas imagens aéreas feitas através de um drone na parte final. Uma boa surpresa de uma produção toda realizada remotamente e sem equipe.  

Já a trama protagonizada por Fabíula e Emílio foi escrita por Adriana Falcão e Jô Abdu, com supervisão de Jorge Furtado e direção de Ricardo Spencer e Patrícia Pedrosa. Embora previsível, a história foi muito bonitinha e valorizou a química dos atores. Francisco e Clara enfrentavam uma crise no casamento, com traições mútuas, e beirando o divórcio. Porém, quando decidem se separar são pegos de surpresa pela pandemia. Para culminar, Clara percebe que está gripada e provavelmente com a COVID-19. Mas como o teste é demorado e a quarentena se impõe, ambos precisam se isolar na própria casa. Um do outro. Para isso, uma tela plástica é colocada em toda a casa. Após muitas discussões, uma aproximação se torna inevitável e o final é feliz. Até os três cachorros dos atores fazem participações especiais na produção. 

A curta temporada foi encerrada com o episódio protagonizado por Luisa Arraes e Caio Blat. Com direção artística de Patrícia Pedrosa, "A Beleza Salvará o Mundo" foi escrita pelos próprios atores e Jorge Furtado. O casal também dirigiu. Manoel e Teresa, ele um engenheiro químico que sonha em ser diretor de cinema e ela, uma atriz em plena ascensão, que precisou parar seus projetos por conta da pandemia. A paralisação implica na permanência do rapaz em sua casa. Isso porque era apenas uma noite, mas veio o coronavírus. A convivência forçada provoca a "criatividade" de Manoel, que decide fazer um filme cuja atriz principal é Teresa. Foi divertido e até lúdico. 

"Amor e Sorte" foi uma grata surpresa em plena pandemia, onde as reprises no setor da ficção dominam a programação de todas as emissoras. Foram apenas quatro episódios, mas que valeram muito a pena. Não somente para presentear o público com histórias inéditas, como também expor o belo trabalho para a valorização da cultura em um momento tão complicado e traumático. 

10 comentários:

Andressa Mattos M. disse...

Que texto importante, Sérgio!

Anônimo disse...

Amei todos os episódios e achei a produção (praticamente "caseira") super caprichada. Só é lamentável a repercussão morna em torno da série, ainda mais com a estréia de A Fazenda. No fim das contas o entretenimento sempre chamará mais atenção do que a cultura, infelizmente.

Anônimo disse...

Amei a série!

Heitor disse...

O melhor foi o da Fernandona e o pior o ultimo do Caio Clat.

Anônimo disse...

Eu só gostei do episódio das Fernandas.

Sérgio Santos disse...

Obrigado, Andressa!

Sérgio Santos disse...

Isso é verdade, anonimo.

Sérgio Santos disse...

Idem, anonimo.

Sérgio Santos disse...

Concordo, Heitor.

Sérgio Santos disse...

Foi o melhor, anonimo.