sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Irene foi uma vilã que deixou bastante a desejar em "A Força do Querer"

"A Força do Querer" tem várias qualidades e faz por merecer todo o sucesso, honrando a ótima audiência alcançada. Porém, a novela de Glória Perez também tem alguns problemas claramente visíveis. A passagem de tempo de um ano, por exemplo, foi inútil e só prejudicou a verossimilhança de alguns contextos. Há também alguns personagens avulsos, embora o elenco seja enxuto. E um outro equívoco que está bem evidente, ainda mais com o enredo em plena reta final, é a falta de relevância de Irene (Débora Falabella).


Vendida como a grande vilã da história, a personagem parecia promissora. Interesseira, manipuladora e ardilosa, a arquiteta seleciona vítimas para seduzir e depois roubar tudo o que elas têm. É assim que enriqueceu. Seu objetivo era conquistar Eugênio (Dan Stulbach), precisando primeiro virar melhor amiga de Joyce (Maria Fernanda Cândido) para elaborar seu plano perfeito. Suas armações sempre contam com a ajuda de Mira (Maria Clara Spinelli), uma cúmplice medrosa. Todo o início desse plano foi interessante de acompanhar. Todavia, o contexto acabou se arrastando e perdendo o fôlego.

É importante citar, aliás, que a situação é muito parecida com a protagonizada por Ivone (Letícia Sabatella), Silvia (Débora Bloch) e Raul Cadore (Alexandre Borges), em "Caminho das Índias" (2009), da mesma autora. Esse núcleo da outra novela, por sinal, era muito cansativo e não funcionou. Glória não conseguiu conduzir esse drama de forma atrativa. Por isso mesmo havia uma desconfiança em torno da jornada de Irene.
Seria tão insossa quanto a da psicopata Yvone? Bem, isso não foi. Agora, pelo menos, a condução se mostrou melhor realizada e bem mais convidativa, muito em função da densidade dos perfis. E Débora está perfeita no papel, ao contrário de Letícia, que se mostrou apática na época.

Os dramas pessoais de Joyce, como a dificuldade em lidar com Ivana (Carol Duarte), por exemplo, também ajudaram a despertar interesse em torno da sua reação diante da traição da suposta melhor amiga. E o aguardado momento resultou em uma ótima cena protagonizada por Maria Fernanda Cândido e Débora Falabella, implicando ainda no clichê da surra no banheiro. Nesse caso, por sinal, a responsável pelos tabefes foi Ritinha (Isis Valverde) ---- Joyce deu sapatadas na mau-caráter. Depois dessa boa sequência, havia a expectativa em torno do que aconteceria com a arquiteta. Afinal, Eugênio até voltou com a esposa, após um tempo. A personagem, então, começaria a atuar em todos os núcleos, como a autora havia prometido antes da novela estrear? Se vingaria? Mataria?

Infelizmente, o resultado acabou sendo um banho de água fria. Irene simplesmente foi ficando cada vez mais avulsa no enredo e, como se apaixonou por Eugênio, resolveu armar para tê-lo de volta. Seu grande plano? Ficar provocando Joyce mandando fotos dela com o advogado e um golpe da barriga. Ou seja, após a surra, a situação acabou voltando à estaca zero. É como se o telespectador estivesse assistindo a uma espécie de reprise. Até mesmo a entrada de Garcia (Othon Bastos) e Elvira (Betty Faria), ao contrário do que se esperava, não contribuiu para o desenvolvimento da vilã. Só serviu mesmo para o público ver um flashback de Irene com uma peruca loira, envenenando o marido de Elvira para ficar com a fortuna do ricaço.

Por sinal, esses dois perfis acabaram deixando a situação da arquiteta bem inverossímil. Isso porque, intimidada com a chegada da dupla, a amiga de Mira fez de tudo para fugir do alcance deles. Só que, recentemente, Irene fez questão de dar um susto em Elvira, invadindo a casa da Bibi (Juliana Paes), onde a perua estava, provocando uma falta de luz e atirando na inimiga. Mas, se o intuito era mostrar do que era capaz, qual o sentido em esconder a identidade? A esposa de Garcia logo deduziu que era a Solange (nome verdadeiro da víbora), mas poderia muito bem ser algum traficante inimigo de Rubinho (Emílio Dantas), por exemplo. E agora ela caiu na armadilha de Elvira, que a atraiu para um esconderijo de Sabiá (Jonathan Azevedo), com a intenção de exigir a sua fortuna de volta. Em virtude da emboscada, ela sofre um aborto em meio a um tiroteio.

É uma pena que Irene tenha se perdido no enredo, após um início promissor. De grande vilã a arquiteta não tem nada, lamentavelmente. Até mesmo as 'vilanias' momentâneas de Bibi e Ritinha tiveram mais efeito do que as dela. Mas, é preciso lembrar que Gloria não é boa em criar malvadas. Além da já citada Yvone, vale mencionar algumas outras, como a esnobe May (Camila Morgado), de "América" (2005). Foi mais uma personagem que acabou avulsa e apagada no enredo, tendo como única função separar a chata Sol (Deborah Secco) de Ed (Caco Ciocler). E o que dizer de Lívia Marine (Cláudia Raia) em "Salve Jorge" (2013)? A vilã que traficava mulheres e vivia com uma seringa em sua bolsa, para matar os inimigos, parecia oriunda de algum programa humorístico que satirizava folhetins. Não por acaso acabou sendo alvo de deboche. Cláudia também não estava à vontade no papel, mergulhando na caricatura. Alicinha (Cristiana Oliveira, ótima), a mulher manipuladora e ambiciosa de "O Clone" (2001), foi um pouco melhor comparada com as demais; porém, ainda assim, não marcou.

"A Força do Querer" é uma excelente novela e Glória Perez merece todos os elogios que vem colhendo desde a estreia. Todavia, a autora deixou bastante a desejar com a vilania de Irene. Débora Falabella está maravilhosa no papel e merecia bem mais oportunidades na história para poder brilhar ainda mais. Tinha tudo para ser um tipo marcante em sua carreira, pois é a sua primeira vilã dramática ---- a impagável Beatriz, de "Escrito nas Estrelas" (2010), era uma malvada cômica. Mas, lamentavelmente, não será. O objetivo do papel acabou diluído.

30 comentários:

Andressa Mattos M. disse...

Gosto de você e te admiro porque mesmo quando gosta de algo não cega para os defeitos. Concordo integralmente.

Anônimo disse...

Nem lembrava do tanto de vilã ruim que essa mulher criou... Mas ruim no sentido de não ser ruim kkkkkk

Anônimo disse...

Concordo. Até Bibi e Ritinha tiveram atitudes mais vilanescas que ela.

Malu disse...

Até o momento da surra eu também tava achando tudo bem, depois realmente senti que tudo voltou à estaca zero, como dissestes. Garcia e Elvirinha só pioraram tudo, porque se Irene é tão perigosa e assassina porque se mostrou tão burra com Eugênio? O plano dela é ficar incomodando Eugênio e Joyce no whatsapp? Uma mulher que já foi capaz de matar? Achei incoerente. Seria tão melhor se aquela teoria dela ser a verdadeira chefe do tráfico no morro fosse verdade... Destacaria a Débora, que merecia brilhar mais nessa novela. Enfim, amo AFDQ, mas situações como essa, ou a gravidez de Ivan (depois de ter transado uma única vez e há 84 anos) não podem passar despercebidas, a novela não é perfeita.

Anônimo disse...

Deixou a desejar é bondade sua. Foi uma vilã muito mal conduzida.

Fernando Oliveira disse...

Acho que a autora entregou exatamente o que ela desejava entregar, assim como fez com a Yvone de Caminho das Índias. Mas nós queremos mais! Queremos mais Floras e mais Nazas!

Anônimo disse...

Endosso cada estrofe.Débora não merecia um papel tão desinteressante.

Anônimo disse...

Walcyr e Marieta severo vão suprir a falta de boas vilãs no horário nobre.

Anônimo disse...

Vai ser difícil virou moda deixarem as vilãs mais brandas na medida que elas caem nas graças do público, algumas passam até ser mocinhas Cora, Atena, carminha e Maria Marta que o digam. Mesmo sendo aclamada acho a Carminha fraca no quesito maldade.
Sinto falta de vilãs fortes como a Flora e a Naza q mesmo sendo cômicas não tinha censura para as maldades.
A esperança é o Walcyr com a Vilã da Marieta severo, ou que o JEC acorde e nos dê uma vilãzona.

solitude disse...

Como vc soube bem apontar, Gloria Perez sempre erra a mao em criar vilãs...

Lulu on the sky disse...

Eu achei que essa personagem foi repeteco da Yvonne, apesar da Débora Falabella ser ótima atriz.

Big Beijos,
LULU ON THE SKY

Luli Ap. disse...

Olá Sérgio
Concordo total contigo, a Débora é maravilhosa e merecia uma vilã daquelas inesquecíveis, e se é ra ser vilã tem que ser com atitude, dizem que um "bom" personagem "mau" está no caminho certo quando a gente sente raiva, vontade de dar petelecos e voadoras no coitado do ator, quando a gente não tá nem aí, é porque tem alguma coisa errada, ou no roteiro, ou na condução do ator, ou na inserção da vilania ou seria vilanice hihihi
Bjs Luli
Café com Leitura na Rede

Unknown disse...

Olá Sérgio!!
Quando começou A Força Do Querer, eu me incomodei bastante com as semelhanças entre os Garcia e os Cadore, de Caminho das Índias. Com o tempo, porém, essas possíveis similaridades, felizmente, foram se diluindo, fazendo com que a família da novela atual seja uma das partes mais interessantes do folhetim.
Quanto a Irene, no começo parecia mesmo ser uma mulher muito perigosa, capaz de tudo para ficar com o Eugênio, até mesmo matar a Joyce (como foi insinuado certa vez); mas com o passar da trama, todo esse potencial foi se esvaindo e ela não se mostrou capaz nem de matar a Elvira quando teve a oportunidade (eu sei que isso seria péssimo pro andamento da história, mas seria bem mais coerente com o que era falado da personagem). Mas confesso que, devido ao citado histórico de vilãs da Glória Perez, não esperava muita coisa da personagem. E Débora Falabella está mesmo ótima no papel.
No mais, é isso. Abraços!!

Anônimo disse...

Carminha amava Jorginho e de certa forma até Tufão. Era um perfil maldoso mas não era esse tipo de vilã mesmo. E pelo que saiu até agora sobre JEC, ainda não aparexeu nada sobre grande vilã.

Leitora disse...

Olá Sérgio! Não estou acompanhando a novela. Leituras atrasadas, mas vira e mexe eu escuto alguma coisa ou alguém me conta. Outro dia eu reparei nisso que você falou que as vilãs da Glória não são boas. Da May eu nem me lembrava. A Lívia tinha tudo pra ser, mas não foi entretanto a questão da Lívia era muito mais ampla afinal traficar seres humanos se não é maldade pura eu não sei o que é ainda assim não funcionou, aliás o que funcionou naquela novela? A sonsa da Alicinha foi mesmo a melhorzinha. Gosto de vilãs sonsas, mas não foi nada uau. Eu achava a trama da Yvone ainda melhor do que esse xerox de agora pelo menos a Yvone era uma Psicopata no começo pensei que a Irene também era, mas a medida que o tempo foi passando eu concluiu que ela era apenas uma chata de galochas mesmo. Rá! Ta bom que uma VILÃ iria aturar aquelas vingancinhas de quinta série do banana do Ruy. A Débora é uma grande atriz merecia uma grande vilã. Quem sabe na próxima.

Sérgio Santos disse...

Mt honrado, Andressa!

Sérgio Santos disse...

Pois é, anonimo...rs

Sérgio Santos disse...

Até elas, anonimo...

Sérgio Santos disse...

Exatamente, Malu. Isso que penso.

Sérgio Santos disse...

Foi sim, anonimo.

Sérgio Santos disse...

Entregou uma vilã fraca, Fernando.

Sérgio Santos disse...

Vdd, anonimo.

Sérgio Santos disse...

Tomara, anonimo.

Sérgio Santos disse...

Aguardemos, anonimo. Mas Carminha jogou uma criança num lixão...Isso é forte demais.

Sérgio Santos disse...

Infelizmente, Worm.

Sérgio Santos disse...

E foi, Lulu.

Sérgio Santos disse...

Vilania é melhor, Luli...rs bjsssss

Sérgio Santos disse...

Eu a mesma coisa, Germana....

Sérgio Santos disse...

Ainda é cedo, anonimo...

Sérgio Santos disse...

Quem sabe, Leitora... bjsssssss