"Dona de Mim" tem tudo para ser mais um sucesso de Rosane Svartman

 Não é segredo para ninguém que Rosane Svartman já ser firmou como uma grande autora de novelas. Até agora foram três folhetins de imenso sucesso ---- "Totalmente Demais" e "Bom Sucesso", ambas com a parceria do igualmente talentoso Paulo Halm (que merece novos trabalhos na Globo), e "Vai na Fé", sua primeira trama como escritora solo. Todas na faixa das sete. "Dona de Mim" é sua quarta obra e estreou no dia 28 de abril, também no horário das 19h. 

A história teve uma estreia arrebatadora, recheada de emoções e conflitos que prenderam a atenção. No primeiro capítulo, Abel (Tony Ramos) e Filipa (Cláudia Abreu) estão prestes a se casar, em uma elegante celebração na mansão da família Boaz. Pegando todos de surpresa, a cerimônia é interrompida com a chegada de Ellen (Camila Pitanga), antiga funcionária da fábrica de lingeries da família, que enfrenta um câncer em fase terminal. A mulher surge em meio ao casamento para cobrar uma antiga dívida de vida com Abel: ela pede que ele assuma a paternidade de sua filha, uma linda criança que carrega nos braços.

Sem pensar duas vezes, o empresário se torna pai de Sofia (Elis Cabral),  isso abala sua relação com a esposa ao longo dos anos. Conforme vai crescendo, a menina fica cada vez mais sapeca, pregando peças em todas as babás que passam pela residência e não duram nem um mês no cargo. Até que Leona (Clara Moneke) entra na história.

De origem humilde, a jovem 'dá seus pulos' para fechar as contas da casa onde vive no bairro de São Cristóvão, Rio de Janeiro, com a avó, Yara (Cyra Moreno), costureira aposentada da fábrica Boaz, e a irmã, Stephany (Nikolly Fernandes), estudante de Enfermagem. Quando Stephany diz que quer largar a faculdade para trabalhar como babá e ajudar nas despesas, Leona faz d tudo para impedir que ela pare de estudar.

Determinada, Leo promove uma rifa de lingerie entre as mulheres da vizinhança para fazer uma grana extra, mas acaba se confundindo ao vender fichas para Bárbara (Giovana Cordeiro), lutadora de kicckboxing e atual namorada de seu ex-noivo, Marlon (Humberto Morais), por quem ela ainda guarda sentimentos. Os dois estavam esperando a primeira filha, que se chamaria Sophya, mas viveram uma perda gestacional avançada e acabaram terminando o relacionamento. 

Atrapalhada e ao mesmo tempo confiante, a revendedora de calcinhas e sutiãs percebe que acabou vendendo números repetidos para suas clientes, mas resolve seguir com o sorteio mesmo assim. Porém, logo as mulheres do bairro percebem o problema, e se juntam na porta da casa de Leo para tirar a situação a limpo. Tudo isso aconteceu somente no primeiro capítulo. Ainda assim, a autora evitou um atropelo de acontecimentos e conseguiu deixar a estreia redondinha, mesmo com alguns momentos um pouco apressados. E o melhor: deixou o gostinho de quero mais. 

A trama está em sua segunda semana e a saga de Leona já teve a demissão do emprego de vendedora de lingerie, a contratação como babá de Sofia, uma sucessão de enrascadas enfrentadas por conta das armações da menina, um elo de afeto iniciado, uma troca de provocações e flertes com os dois irmãos da criança e uma nova demissão depois que ajudou Sofia a assustar três meninas preconceituosas que debocharam dela. Tem sido uma delícia acompanhar a trajetória da mocinha e Clara Moneke se mostra uma escalação acertada, após a estreia bem-sucedida na televisão em "Vai na Fé", na pele da sarcástica Kate. E sua parceria com a pequena Elis Cabral também promete. Por sinal, que grata surpresa. A criança está à vontade em cena e nem parece que é seu primeiro trabalho. A sua desenvoltura diante de profissionais experientes, como Tony Ramos, Suely Franco e Cláudia Abreu é impressionante. E falando em veteranos, que prazer ver de volta às novelas a maravilhosa Cláudia, que tem tudo para crescer ainda mais na pele de Filipa, uma mulher complexa e com muitas dores. Em meio ao etarismo na teledramaturgia, onde há quase um apagamento de atores acima de 70 anos, dá gosto assistir ao desempenho de Suely como Dona Rosinha e do sempre magistral Tony. Ainda no núcleo central, também é preciso destacar Juan Paiva e Rafael Vitti como os irmãos Samuel e Davi. Carisma é com eles. 

Os núcleos paralelos foram muito pouco aprofundados porque não houve nem tempo para uma ênfase maior, uma vez que a preocupação de todo começo de folhetim é estruturar bem o enredo principal. Mas já há uma prévia promissora na amizade de Leona com Kamila (Giovanna Lancellotti) e Pam (Haonê Thinar), assim como a sua cumplicidade com a avó e a irmã --- Cyda Moreno e Nikolly Fernandes estão muito bem. Também há uma animadora abordagem em cima da vilania de Jaques (Marcello Novaes), Tânia (Aline Borges) e Ricardo (Marcos Pasquim), além de uma relação curiosa que começa a ser formada entre Filipa e Danilo (Felipe Simas). Só é preciso um cuidado maior na trajetória de Marlon. O mocinho sonha em ser Policial Militar e pratica kickboxing. Ao menos nesse comecinho, são muitas as similaridades com todo o universo do Duca (Arthur Aguiar) em "Malhação Sonhos", de 2014, escrita por Rosane e Paulo Halm. Há pequenas diferenças, mas no conjunto é basicamente a mesma coisa. Até a figura de Bárbara lembra um pouco a Nat (Maria Joana), lutadora que se envolveu com o protagonista, mas não terminou com ele. Já o único defeito até então é a abertura. A versão do sucesso de Iza, que nomeia a novela, ficou ótima com as participações de Azzy e Sandra de Sá, mas há uma poluição visual nas imagens que prejudicam o conjunto. É muita informação junta. 

"Dona de Mim" ---- dirigida pelo sempre ótimo Allan Fiterman e escrita com os colaboradores Mário Viana, Juan Jullian, Renata Sofia, Carolina Santos, Jaqueline Vargas e Michel Carvalho ---- causa a melhor das impressões em seu início. A novela tem um clima de "Sessão da Tarde" e reúne todos aqueles elementos que costumam funcionar em uma boa história, principalmente na faixa das sete. Se seguir do jeito que está, tem tudo para ser mais um sucesso na carreira de Rosane Svartman.