quarta-feira, 12 de junho de 2024

Ilva Niño nunca teve o destaque que merecia

 O Brasil perdeu nesta quarta-feira (12/06) uma das atrizes mais longevas da teledramaturgia. Ilva Niño estava internada desde o dia 13 de maio, quando passou por uma cirurgia cardíaca, e partiu por conta de complicações da operação, quase um mês depois, aos 89 anos. 


Nascida em Floresta, Pernambuco, a veterana completaria 90 anos no dia 15 de novembro. Se mudou para o Rio de Janeiro logo após o início do regime militar de 1964  e foi levada para a televisão pelo autor Dias Gomes, que a escalou para "Verão Vermelho", em 1970, e "Bandeira 2" em 1971. Isso porque tinha trabalhado com o escritor nas peças "O Berço do Herói" e "O Pagador de Promessas". A parceria seguiu firme e forte na Globo. Desde então, nunca mais saiu da emissora e emendou uma novela atrás da outra. 

Foram oito décadas de carreira, sobretudo na televisão e no teatro, onde brilhou majoritariamente na pele de empregadas domésticas. A atriz nunca conseguiu fugir do estereótipo, mas não se incomodou.

Pelo contrário, em todas as entrevistas se mostrava orgulhosa por colocar holofotes em uma carreira pouco valorizada no país. E, mesmo interpretando perfis tão parecidos ao longo da carreira, conseguia diferenciar cada personagem de um jeito único. 

A veterana também nunca ganhou uma personagem de grande destaque ou protagonista. Muitas vezes suas personagens eram até de núcleos terciários, o que era absurdo diante de sua grandeza. Ainda assim, sua presença fazia diferença em qualquer cena. E seu maior momento na carreira foi em "Roque Santeiro", fenômeno de Dias Gomes (seu 'padrinho' da televisão) e Aguinaldo Silva, onde interpretou Mina, fiel empregada de Viúva Porcina (Regina Duarte). Os berros da patroa chamando pela funcionária, que hoje seriam considerados a representação de um assédio moral, até hoje são lembrados.

E foram mais de 40 novelas em seu currículo, além de participações em séries e especiais. Infelizmente, sempre papéis pequenos e aquém de sua grandeza. "Gabriela" (1975); "Água Viva" (1980); "Guerra dos Sexos" (1983); "Pedra Sobre Pedra" (1992); "História de Amor" (1995); "Por Amor" (1997); "Terra Nostra" (1999); "Alma Gêmea" (2005); "Sete Pecados" (2007); "Cordel Encantado" (2011); "Cheias de Charme" (2012); e "Malhação: Pro Dia Nascer Feliz" (2016) foram algumas das produções que contaram com seu talento. O último folhetim da atriz foi "O Outro Lado do Paraíso", em 2017, quando emocionou na pele de Sebastiana, babá de Laura (Bella Piero), que depôs no julgamento emblemático do sucesso de Walcyr Carrasco. Já sua última aparição na televisão foi em um único episódio de "Rua do Sobe e Desce, Número que Desaparece", série exibida no Canal Brasil em 2020. 

Além de ser atriz, Ilva passou a vida ensinando a arte de estar em cena e nunca abriu mão do trabalho como professora de teatro. Nem mesmo diante do luto da perda do marido e do filho. Luiz Carlos Niño era autor, figurinista, cenógrafo, professor e ator. O filho da atriz era alcoólatra e faleceu em 2005, dias antes de completar 41 anos, vítima de cirrose. Dez anos antes, a intérprete já tinha perdido o esposo, Luiz Carlos, que morreu aos 64 anos, vítima da AIDS. O também ator contraiu o vírus HIV durante uma transfusão de sangue, após um acidente automobilístico em 1990. 

Ilva Niño era uma gigante, mas nunca teve o destaque que merecia. Sua grandiosidade cênica era digna de muito mais reconhecimento. É mais uma triste perda para a dramaturgia nacional. Que fique em paz. 

4 comentários:

Anônimo disse...

Nada a ver com esse assunto e não precisa ficar bravo comigo por discorda de vc. Defende a Luana Piovani agora que detonou o Cauã Raymond agora.

Anônimo disse...

Samuel de Assis vai fazer Mania de você pq saiu que faria. Agora já citaram vários nomes e o dele nunca mais. Sabe dar essa informação.

Anônimo disse...

Mesmo sendo escalada para interpretar personagens bastante similares, Ilva Niño soube diferenciá-los com seu talento e competência. Foi realmente injusto nunca a agraciarem com o posto de protagonista de uma obra dramatúrgica em sua longeva carreira. Que descanse em paz.

Guilherme

chica disse...

Tens razão,Sergio!

Não teve o reconhecimento merecido na Globo, mas aqui tu fizeste uma bela homenagem!
abração, lindo fds! chica