Walcyr Carrasco comprova em "Terra e Paixão" que é o autor que mais valoriza atores veteranos

 O atual momento da teledramaturgia não anda nada bom no quesito valorização de atores mais experientes. Aliás, não anda bom em vários outros quesitos, mas isso é assunto para outro texto. O fato é que intérpretes mais velhos estão desaparecendo das histórias e a juventude vem dominando os elencos. No entanto, ironicamente, na única trama inédita que vem fazendo sucesso e alcançando boa audiência esse absurdo não acontece. Em "Terra e Paixão", um trio de peso dominou a narrativa e virou o maior trunfo do enredo. 

Gloria Pires, Tony Ramos e Eliane Giardini formam uma tríade de ouro na trama de Walcyr Carrasco que agora conta com o apoio de Thelma Guedes. E o merecido destaque que os três recebem honra o que o autor sempre fez em todas as suas novelas: a valorização do elenco veterano. Não teve um folhetim sequer em que os intérpretes mais experientes não tenham recebido grandes papeis pelas mãos do escritor, que costuma encher suas obras de profissionais experientes, como Ana Lucia Torre, Elizabeth Savalla, Ary Fontoura, Marco Nanini, Walderez de Barros, Suely Franco, Fernanda Montenegro, Laura Cardoso, entre tantos que já foram frequentemente escalados por ele. 

Agora não é diferente em "Terra e Paixão". A ideia de colocar Gloria e Tony vivendo um casal de vilões funcionou logo no início e a dupla que transborda crueldade e frieza enriquece a trama, além de proporcionar sempre ótimas cenas para os atores que já fizeram muito sucesso juntos no cinema e vivendo pares românticos em outros folhetins.

Mas tudo ficou ainda melhor com a chegada de Eliane, que promoveu uma virada na história e desde então deixou o enredo bem mais movimentado e com atrativos embates. Até porque a personagem foi mostrada inicialmente como uma injustiçada até ir se revelando uma diaba. Ou seja, um trio do mal acabou dominando a narrativa, o que deu muito certo. 

Irene, Antônio e Agatha La Selva formaram um triângulo amoroso macabro, onde todos os seus vértices carregam uma avalanche de mortes. Tem sido delicioso acompanhar os desdobramentos e as tensões das armações que a mãe de Caio (Cauã Reymond), Jonathan (Paulo Lessa) e Hélio (Rafael Vitti) provoca na vida do então ex-casal que agora se alimenta do ódio. O incrível é que os pais de Petra (Debora Ozório) passaram a protagonizar cenas ainda melhores brigados e tudo por conta da leve comicidade que Tony Ramos e Gloria Pires adotaram durante as sérias discussões entre os personagens, o que resulta em uma mistura tão boa quanto a vista nos filmes da dupla de sucesso ---- "Se Eu Fosse Você 1 e 2" (2006 e 2009).

Já Eliane Giardini está irretocável desde a sua entrada na novela e conquistou o público assim que surgiu em cena. Tanto que há vários protestos nas redes sociais pela morte da vilã que ocorrerá ainda nesta semana. Até porque Agatha não tem conseguido mais fingir ser um anjo de candura e sua verdadeira face está bem exposta para qualquer um. A mudança na atitude da atual esposa de Antônio tem proporcionado para a atriz uma sucessão de boas cenas, onde o deboche e a frieza vêm se tornando cada vez mais preponderantes. Vale destacar como uma das melhores cenas de Giardini a armadilha criada por Agatha para incriminar Aline (Barbara Reis), onde a víbora bateu com um vaso na cabeça da mocinha e atirou no marido. O olhar de satisfação da ex-presidiária depois do tiro foi digno de uma vilã das grandes. Melhor ainda tem sido o processo de envenenamento de Antônio que a peste tem feito através de seus chás e ervas.

É muito satisfatório ver três dos maiores atores do país sendo valorizados como merecem na novela de maior audiência da Globo e que vem fazendo sucesso, ao contrário das outras inéditas que enfrentam dificuldades. Uma pena que esse trio bem-sucedido será desfeito nesta quinta-feira. Walcyr Carrasco se mostrou muito feliz na escolha de Tony Ramos e Gloria Pires para interpretarem os grandes vilões de "Terra e Paixão" e a escalação de Eliane Giardini para viver uma personagem ainda mais cruel que os dois juntos foi cereja do bolo.