terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Loucura de César em "Sol Nascente" expõe a falta de criatividade de Walther Negrão

É de conhecimento público que Walther Negrão deixou de ser o autor titular de "Sol Nascente" ainda no início da novela em virtude de problemas de saúde (foi internado algumas vezes). A trama das seis ficou sob o domínio de Suzana Pires e Júlio Fischer, dois escritores que nunca assinaram um folhetim (eram apenas colaboradores). Entretanto, claro que Walther segue supervisionando a sua obra. A prova é a presença de vários traços dele no enredo. E a loucura de César (Rafael Cardoso), faltando menos de dois meses para o fim da produção, expõe isso com mais nitidez, evidenciando ainda a falta de criatividade do escritor.


O vilão começou a história tramando para se vingar da família de Alice (Giovanna Antonelli), usando a mocinha através de um relacionamento sem amor, e tudo sob o comando da avó, a maquiavélica Dona Sinhá (grande Laura Cardoso). Com o tempo, no entanto, César se apaixonou de verdade pela mulher, iniciando um comportamento cada vez mais agressivo. Agora o personagem surtou de vez e virou um psicótico, assassinando até mesmo João Amaro (Rafael Zulu), seu comparsa, somente porque a avó demonstrava clara preferência por ele. Fica claro que o inicialmente calculista malvado se transformou em um maluco em potencial.

Só que a grande questão de todo esse encaminhamento do roteiro é a repetição do autor. Praticamente todas as suas novelas tem exatamente o mesmo desfecho envolvendo o vilão: todos enlouquecem no final. E isso já vem de muito tempo.
Em "Direito de Amar" (1987), por exemplo, o sombrio Senhor de Montserrat (Carlos Vereza) se apaixonou perdidamente pela mocinha Rosália (Glória Pires) e nos momentos finais perdeu completamente a sua frieza costumeira, fazendo de tudo para a mulher dos seus sonhos ser sua, até mesmo prendê-la em sua mansão. A produção foi uma das melhores de Walther e merecidamente elogiada pela crítica.


No ano seguinte, o autor repetiu o recurso na novela que virou o seu maior sucesso da carreira: "Fera Radical" (1988). No enredo, porém, houve uma rara exceção: era uma mulher a grande vilã e o mote não era a sua paixão pela mocinha, obviamente. Vivida pela saudosa e talentosa Yara Amaral, a poderosa Joana Flores aparentava ser uma senhora íntegra e justa ao longo da produção, mas no final se revelou uma víbora da pior espécie. Responsável pela tragédia na família da mocinha (que teve mãe, pai e irmãos assassinados), a esposa do fazendeiro Altino Flores (grande Paulo Goulart) teve bons embates com a protagonista Cláudia (Malu Mader) e, claro, enlouqueceu nos últimos instantes. A cena em que as duas brigam feio, provocando um disparo que mata Joana, é até hoje lembrada.


Outro êxito na carreira de Walther foi "Top Model" (1989/1990), escrita juntamente com Antônio Calmon. E mais uma vez o destino do vilão foi igual. Interpretado pelo ótimo Cecil Thiré, o representante de uma respeitada agência de modelos se apaixonou perdidamente pela mocinha Duda (Malu Mader) e fez de tudo para boicotar o seu romance com Lucas (Taumaturgo Ferreira). No final, o empresário perdeu o juízo, ficando cada vez mais obcecado pela sua modelo mais famosa. Ou seja, em três anos seguidos, o autor escreveu basicamente o mesmo desfecho para seus vilões. Poderia até ter sido uma saída temporária, mesmo sendo explorada em três obras em sequência. Mas não foi.


Até fazendo um salto de quinze anos, nada mudou. Em 2004, Walther produziu a fraca "Como uma Onda" e novamente optou pelo mais do mesmo. O grande vilão, o poderoso e corrupto empresário J.J. (Henri Castelli), tinha uma paixão doentia pela mocinha Nina (Alinne Moraes) e no final surtou completamente. Três anos depois, o autor escreveu a mediana "Desejo Proibido" (2007), um folhetim de época. Apesar do contexto diferente, a conduta do antagonista não sofreu alteração alguma. O mimado Henrique (Daniel de Oliveira) fez de tudo para se casar com a mocinha Laura (Fernanda Vasconcellos) e nos momentos finais perdeu completamente a sanidade, provocando a ira de várias pessoas. Acabou assassinado, implicando em um rápido 'Quem matou?'.


Já em 2013 o alvo da vez foi Alberto (Igor Rickli), o vilão de "Flor do Caribe". O autor novamente repetiu o que havia feito em várias obras anteriores: colocou o canalha aficionado pela mocinha Ester (Grazi Massafera) e na reta final, obviamente, enlouqueceu o personagem, implicando em várias loucuras para conseguir atingir seus objetivos de ficar com a amada. Ou seja, a loucura dos malvados não é a única situação repetitiva, afinal, a conduta deles também é uma constante: todos se apaixonam pela mocinhas. Tudo bem que isso tudo é mais do que normal na teledramaturgia e reflete o puro clichê folhetinesco. Mas há um nítido abuso do recurso no caso do escritor.


Portanto, após esse breve retrospecto, a atual loucura de César em "Sol Nascente" apenas comprova novamente o quanto que Walther Negrão se repetiu ao longo de sua carreira, evitando qualquer tipo de mudança no rumo de suas produções, sendo muitas delas insossas e esquecíveis, como é o caso do atual folhetim.

30 comentários:

William O. disse...

Gente, parece a mesma novela contada de forma levemente disfarçada. hahahahaha e ainda ganha pra isso!

Fabiana disse...

Eu tinha identificado a repetição por Flor do Caribe, mas estou em choque vendo a quantidade de outras novelas dele com a mesma coisa. Como pode????

Unknown disse...

Algo a comentar...

Excelentes observações sobre os vilões maniqueístas das obras do Negrão.

Porém, a falta de criatividade, é algo bastante evidente em textos de quase todos os autores. Eu poderia listar aqui uma série de "vícios folhetinescos" em obras de TODOS os outros novelistas. Mas o espaço e o tempo é curto.

Esses "vícios" acabam por frustrar a maioria dos telespectadores. Eles podem até usá-los, desde que a trama seja realmente empolgante de uma maneira que os "vícios" nem sejam tão notados.

Acho que o Fórum de Teledramaturgia, que tem autonomia para aprovar, desaprovar e alterar sinopses de novelas, deveria também fazer um acompanhamento e orientar os autores a evitarem ao máximo esses "vícios". Tanta gente com talento na emissora, que cuidados deveriam ser tomados para evitar a repetição desses recursos.

No tocante a Walther Negrão, em tantos anos de carreira, ele só conseguiu sete grandes sucessos: "Livre para Voar", "Direito de Amar", "Fera Radical", "Top Model", "Despedida de Solteiro", "Tropicaliente" e "Era uma Vez...", essas alcançaram ótimos índices dentro de suas respectivas épocas.

Vale ressaltar que, pouquíssimas novelas dele são consideradas fracasso. As outras "esquecíveis" tramas do Negrão sempre alcançam números satisfatórios pro horário, inclusive com lucrativas ações de merchandising, com exceção de "Desejo Proibido" que era de época.

Aliás, convém aqui lembrar, que o conceito de sucesso e fracasso está bastante relativizado. O que é fracasso na Grande São Paulo é um sucesso no Rio de Janeiro e um grande sucesso no nordeste. E os anunciantes estão de olho no potencial dessas regionalidades.

Na grande Recife, por exemplo, "Sol Nascente" tem conseguido índices melhores que "Rocky Story" que é uma trama bem mais intensa. A novela fechará com uma média superior a "Além do Tempo" e "Sete Vidas", que apresentaram textos mais robustos.

Mas você tem razão Sérgio, o post está ótimo. Eu acredito que Walther Negrão pode emplacar uma outra novela, pelos motivos que pontuei acima.

um grande abraço...

Anônimo disse...

Você foi preciso e detalhista como sempre. Eu acho Sol Nascente uma novela com uma trama fraca e repetitiva, mas é assistível, diferente de outras novelas insuportáveis. Mas complementando o que disse a F Silva, a novela só é superada em audiência por Flor do Caribe, que curiosamente é uma outra novela do mesmo autor, com exceção de Eta Mundo Bom que foi um fenômeno.

Pamela Sensato disse...

Nossa nunca muda as ideias.
Ruim.

Beijinhos ��
Blog Resenhas da Pâm

Matheus Nogueira disse...

Sérgio,em´´Carinha de Anjo´,Frida e Bárbara aprontam com a Dulce Maria.mas tem uma curiosidade com a Siena Belle,que interpreta a Fida.ela nasceu em Ontário,no Canadá e veio para o Brasil com apenas 3 anos de idade

Gustavo Nogueira disse...

Walter Negrão é um ator mais do mesmo e sem criatividade, que parece contar sempre a mesma história em suas novelas e ainda com o mesmo desfecho para seus vilões.A única novela que fugiu de seu estilo foi Fera Radical(dizem que foi muito boa, queria ter acompanhado).E essa novela Sol Nascente é uma das novelas mais fracas do horário das 6, ao lado de Amor Eterno Amor e Boogie Oogie, outras novelas bem ruins e só se salva algumas atuações, como Giovanna Antonelli, Rafael Cardoso, Laura Cardoso, Giovanna Lanceloti, Cláudia Ohana, a história mesmo fica devendo e muito.Que venha logo Novo Mundo!

Bell disse...

Ah não estou gostando não, ele apronta todas e até agora está por cima.
Pessoa que manipula tudo e todos e sai com cara de paisagem.
Um psicopata ao meu ver.

bjokas =)

Germana disse...

Olá Sérgio!!
Acho normal que cada autor tenha um estilo próprio e se utilize de algum tipo de personagem de folhetim (no caso, o vilão obcecado pela mocinha) para marcar seu modo de escrita. Mas, como foi dito acima, se a trama não for atraente (como em Sol Nascente e várias outras citadas) esse tipo de repetição salta aos olhos e incomoda quem assiste.
E outro exemplo que eu me lembrei: em Era Uma Vez... (a única novela do Negrão que eu realmente gostei) a vilã Bruna (Andréa Beltrão), apaixonada pelo mocinho Álvaro (Herson Capri) também enlouquece depois de tudo para separá-lo de Madalena (Drica Moraes) e termina a novela em um hospício junto com o ex-marido de Madalena, Danilo (Tuca Andrada).
No mais, é isso. Abraços!!

Malu disse...

Eu não assisti "Fera Radical", "Top Model" etc. porque não era nascida e perdi as reprises, mas muita gente fala que eram maravilhosas. Quando descobri que eram do Walther Negrão me surpreendi pq pra minha geração ele só escreveu novela chata! Não tem nada a ver com esse texto o que eu vou falar, mas outra coisa que me incomoda na atual novela dele é que o negócio é tão sem história pra contar que todo dia, podem reparar, tem uma cena longuíssima de algum personagem tomando banho na praia ao som de uma música qualquer sem que nada aconteça, quase sempre é Milena e Ralf. Resumindo, nada contra ele, mas devia se aposentar.

Chaconerrilla disse...

Zamenzito, parece até que você está falando da mesma história só que mudando os personagens, como comentaram em cima. Outra coisa que eu vejo em todas novelas dele, desde "como uma onda", é que todas passam na praia, com exceção de "Desejo proibido", eu acho. A única coisa que eu gosto é ver o Rafael Cardoso brilhar como esse maluco.

Lara7 disse...

Sergio o que vc tá achando da atuação do Rafael como vilão ??

Anônimo disse...

Em Despedida de Solteiro houve uma exceção, Sérgio Santarém (Marcos Paulo ) foi preso na reta final por seus crimes ,ficou somente 3 anos na cadeia e ao sair da prisao foi assassinado por Glória ,a sua amante,com uma maçã envenenada.A mocinha principal era Flávia interpretada por Lúcia Verissimo ,mas na trama ela descobre que Sérgio era seu irmão.Sergio era obcecado por Lenita (nome sempre presente nas tramas de Negrão) interpretado por Tassia Camargo.Despedida de solteiro foi exibida na minha infância, eu assisti. E em 2015 ,eu assisti novamente ,e eu gosto muito dessa novela.O que eu senti falta em Sol Nascente foi das iniciais do vilão não começar com a mesma letra, assim como Sérgio Santarém,Alberto Albuquerque ,Jorge Junqueira ,o JJ, Marcos Monterrey e etc.E as criabcas de Era uma vez ,chamavam a Bruna,de Bruna Bruxa.O sobrenome do Cesar é Teixeira,poderia ser Cerqueira.

Unknown disse...

Gente eu nao assisti nenhuma novela deste autor, mas se pararmos para pensar a estrutura e clichês novelísticos sao usados por outros grandes autores como:Manoel Carlos, Walcyr Carrasco em suas novelas de época, Glória Peres então nem se fala....O caso deste citado no texto eu desconhecia mesmo. Todos se apegam em algo q os torna marcantes.Nós telespectadores nao percebemos o quão isso é cíclico.

Unknown disse...

O mais engraçado é que ao ler o título desse post, me lembrei imediatamente dessas novelas anteriores dele, principalmente Como uma Onda, Desejo Proibido e Flor do Caribe. Dessas, a última teve um final mais simpático ao vilão pancada: enquanto JJ e Henrique foram assassinados (com direito a Quem matou...? e tudo), o Alberto meio que se redimiu no fim, sendo salvo pelo casal protagonista da trama.
Apesar de não ser nascida na época de Fera Radical, me tornei uma fã da trama após revê-la no Novelão da Semana do Video Show (aliás, um quadro maravilhoso), e a novela era realmente incrível. Soube que está cotada pra ser reprisada no Viva, será uma boa chance para que mais gente conheça a novela.
E todos os autores têm os seus clichês: Glória Perez, por exemplo, tem apreço por culturas exóticas, países longínquos e até então desconhecidos, bordões, gafieira... Já Walcyr Carrasco adora humor pastelão, tortas na cara, pessoas sendo atiradas em chiqueiros, pessoas falando com bichos, casamentos que dão errado, bordões, fantasminhas camaradas e mudanças na vida financeira dos protagonistas. Já repararam que todas as vilãs principais das novelas do João Emanuel Carneiro são loiras? Isso sem contar o Manoel Carlos, cujas protagonistas quase sempre se chamavam Helena e viviam no Leblon. E vamos parar por aqui, senão esse meu comentário vai acabar virando um jornal kkkkkkkkk

Sérgio Santos disse...

Exatamente, William!

Sérgio Santos disse...

Pois é, Fabiana...

Sérgio Santos disse...

Mt obrigado, F Silva. É verdade, vários autores (todos) se repetem, acaba sendo normal. Porém, nesse caso não é uma repetição simples, é o retrato da falta de criatividade mesmo porque absolutamente todas as obras dele tiveram as mesmas resoluções, com raríssimas exceções. Isso é inadmissível. Nenhum autor chegou a tanto. E concordo que as tramas dele acabam sendo mediana sem torno da audiência, mas grandes sucessos foram poucos. O mais aclamado e com méritos é Fera Radical. E Sol Nascente tem índices satisfatórios, mas a repercussão é nula e foi merecidamente massacrada pela crítica. Abçs.

Sérgio Santos disse...

Mt obrigado, anônimo!

Sérgio Santos disse...

Exato, Pamela.

Sérgio Santos disse...

Boa lembrança de Era uma vez..., Germana. Nem pude colocar todas as novelas dele que foram iguais pq não caberia e isso já é um absurdo. Nem é questão de estilo, é mesmice msm.

Sérgio Santos disse...

Excelente comentário, Gustavo!

Sérgio Santos disse...

Ele é doido msm, Bell.

Sérgio Santos disse...

Legal, Matheus.

Sérgio Santos disse...

Precisas observações, Malu.

Sérgio Santos disse...

Exatamente, porlapazyporlavida lc! Nem isso ele varia...

Sérgio Santos disse...

Tô achando ele bem, eulara. Mas nada de fantástico.

Sérgio Santos disse...

Excelente comentário, anônimo. E há exceções, mas para um novelista que escreve há tanto tempo como ele ter somente duas ou 3 exceções é absurdo... abçs

Sérgio Santos disse...

Mas, Lucas, no caso do Negrão é gritante pq ele nunca tentou variar.

Sérgio Santos disse...

Ana,mt bom seu comentário, mas isso tudo que vc falou são estilos. Normal. Do Negrão é falta de criatividade mesmo pq está no enredo. Evale lembrar que Walcyr conseguiu variar com Amor à Vida, Gabriela e Verdades Secretas, por ex, que não tiveram pastelão algum. A própria Glória conseguiu em Dupla Identidade mostrar uma nova faceta... Negrão nunca.