segunda-feira, 21 de outubro de 2024

Vilões de "No Rancho Fundo" foram um bando de inúteis

 A menos de duas semanas para seu final, "No Rancho Fundo" andou em círculos por boa parte do tempo. A história de Mário Teixeira, dirigida por Allan Fitermann, se esgotou em pouco mais de um mês e o pior foi o time de vilões criado pelo autor. Todos, sem exceção, se mostraram uns inúteis e pouco fizeram ao longo dos meses. 


Todo mundo sabe que a figura do vilão representa a movimentação do enredo de qualquer folhetim. As únicas histórias que não necessitam de figuras maquiavélicas para provocar viradas ou conflitos são aquelas em que os autores preferem colocar a 'vida' ou o cotidiano como obstáculo dos personagens, vide a talentosa Lícia Manzo, que prefere outro estilo de narrativa. Mas todo escritor que opta pelo DNA mais tradicional do folhetim utiliza as vilanias como artifício de reviravoltas. 

No caso da atual novela das seis, o autor fracassou em todos os seus supostos vilões. Marcelo Gouveia (José Loreto), Blandina (Luisa Arraes), Deodora (Debora Bloch) e Ariosto (Du Moscovis) foram de uma inutilidade sem precedentes. Todos passaram a novela inteira reclamando e se lamentando e nunca agiram, de fato, contra da família Leonel.

As poucas ações não resultaram em virada alguma para o roteiro, até porque o enriquecimento dos protagonistas com a tal descoberta da turmalina paraíba em nada alterou a vida deles. Ficou um jogo de gato e rato monótono e que nunca saiu do lugar. Foram muito mais ameaças do que vias de fato. 

O pior de tudo foi a volta de Deodora. A vilã em "Mar do Sertão" ficou avulsa por boa parte do tempo e só agiu no penúltimo capítulo, quando tentou matar Candoca (Isadora Cruz) envenenada e acabou matando o filho, Tertulinho (Renato Góes), por engano. Ou seja, quando resolveu fazer algo ainda se mostrou uma idiota. O autor garantiu que a personagem voltaria "ainda pior" na continuação da trama, que ele odeia que seja chamada de continuação. Mas não era verdade. Deodora ficou tão deslocada quanto e seu ódio mortal por Zefa Leonel nunca foi algo convincente. As duas passaram a novela toda brigando, discutindo e se ameaçando, mas ficou por isso mesmo. Embates que até empolgaram no início, mas logo ficaram repetitivos. Nem mesmo a sua aliança com Ariosto resultou em algo mais atrativo para o enredo porque o pai de Artur (Túlio Starling) foi outro que nunca teve qualquer atitude relevante. Aliás, a sua única maldade foi ter planejado o sequestro do próprio filho e ainda assim por conta de uma razão sem qualquer nexo: impedir o rapaz de descobrir que ele estava tendo um caso com Deodora. Uma situação que beirou o ridículo. 

E o que dizer de Marcelo Gouveia e Blandina? O autor tentou colocar o "melhor amigo" de Artur como um tipo complexo, mas falhou na missão. O sujeito está sempre com uma cara de cachorro sem dono e com uma fixação sem sentido por Quinota, ao mesmo tempo que tenta demonstrar que ama muito Artur. Nunca conseguiu separar os mocinhos e muito menos dar qualquer tipo de golpe. A sua aliança com Blandina não teve qualquer serventia. A 171, no entanto, teve um começo promissor através de sua marra e a forma como tratava todos os homens que ficavam aos seus pés. Também havia uma interessante relação da vilã com Dracena (Nina Tomsic), a melhor amiga que era a única pessoa que conseguia desarmá-la. Mas tudo mudou quando o escritor a colocou como sombra de Marcelo e piorou assim que a deixou 'apaixonada' por Artur. A personagem perdeu o seu carisma e virou uma chata. Para culminar, nem o golpe que deu em Zé Beltino (Igor Fortunato) provocou alguma virada. Ela o fez assinar procurações lhe dando direito sobre a gruta azul, mas nada mudou na trama quando tirou a máscara diante de Zefa Leonel (Andrea Beltrão). Teoricamente, a vilã 'enriqueceu', mas o telespectador nem viu. Blandina seguiu morando no hotel, como já morava antes, e tudo ficou na mesma. Até o plano besta de separar Quinota e Artur se mostrou sem sentido. Não ganhou nada com aquilo. 

"No Rancho Fundo" está perto de seu fim e é uma pena que tantos vilões aparentemente promissores tenham sido tão decepcionantes. O resultado fica ainda mais vergonhoso quando comparado com o fenômeno "Alma Gêmea", reprisado atualmente no "Vale a Pena Ver de Novo", e que antecede a produção inédita. Os 'malvados' da trama atual não chegam nem aos pés de Cristina (Flávia Alessandra), Débora (Ana Lúcia Torre), Ivan (Thiago Luciano) e até Raul (Luigi Barricelli), da história de Walcyr Carrasco, exibida em 2005. A novela das seis ficou sem enredo por boa parte do tempo e uma das causas foi a falta de ação dos personagens sem caráter. Ninguém merecia algo assim. Nem os atores e nem o público.