Valorizada como merece, Carol Castro emociona em "Garota do Momento"

 O elenco da atual novela das seis da Globo, escrita por Alessandra Poggi e dirigida por Natália Grimberg, é repleto de talentos e quase todos têm a oportunidade de brilhar em determinados momentos da história. Mas há personagens com muito mais importância do que outros em "Garota do Momento", como ocorre em qualquer folhetim, série ou filme. E um deles é Clarice, vivida por Carol Castro. 

A personagem é praticamente a mocinha mais madura do enredo. A mulher era uma artista plástica de talento, criava a filha junto com a sogra e estava feliz no amor. Até que sofreu um amontoado de desgraças logo no primeiro capítulo, quando presenciou o homem que amava matando uma mulher (sua amante) e logo depois acabou atropelada por um bonde, o que a fez perder a memória e esquecer de seu passado, incluindo a sua filha, após tê-la deixado com a avó em Petrópolis para vender suas pinturas no Rio de Janeiro. Desde então, tem uma vida de mentiras e abusos. O marido Juliano (Fábio Assunção) e a sogra Maristela (Lilia Cabral) passaram a dopá-la com fortes remédios para prejudicar qualquer chance de recuperação de lembranças. 

Clarice é a mãe de Beatriz (Duda Santos), a mocinha da história, e criou um vínculo com a menina assim que a conheceu. A protagonista sempre soube que ela era sua mãe, mas desconhecia o fato da perda de memória e por muito tempo achou que era uma interesseira que a largou para casar com um ricaço. Até que descobriu tudo o que sua mãe sofre e tentou de todas as maneiras alertá-la sobre a verdade, sem sucesso.

E foi a partir desse momento que a personagem deixou de ter a compreensão do público. O carinho que os telespectadores tinham por Clarice nas redes sociais virou ranço, que só tem piorado diante dos últimos acontecimentos. É até compreensível que aquela mulher tão abusada e traumatizada se negue a aceitar que sua vida é uma completa mentira, mas as conveniências de roteiro para deixá-la burra prejudicaram parte da trajetória da personagem. Ainda assim, a repetição no enredo diante das constantes negações não afetou em nada o desempenho da atriz. Só ajudou a reforçar o quão acertada foi a sua escolha para o papel.  

Carol Castro está em uma fase profissional brilhante. É até absurdo saber que seu nome não foi o primeiro a ser escolhido para interpretar Clarice. Tinha que ser dela. A atriz vem encarando uma sucessão de cenas de intensa carga dramática desde o começo da novela. Até agora não houve um instante sequer de leveza, o que exige muito de qualquer intérprete. E há um choro engasgado naquela mulher que Carol consegue transmitir com talento. Ela está sempre no limite. Fica perceptível que o copo está quase transbordando o tempo todo e qualquer mínima ação pode desencadear algo maior e um pranto incontrolável. A voz trêmula em muitas cenas é outro ponto que chama atenção. Porém, a mãe de Beatriz também tem seus momentos de firmeza quando confronta Maristela ou não aceita as ações de Bia (Maisa), a filha que pensa ser dela. A atriz se destaca em todas as situações, até mesmo nas que causam ódio em quem assiste, vide todas as vezes que a esposa de Juliano passou pano para Bia, incluindo o plano da patricinha para casar com Beto (Pedro Novaes). 

Não por acaso, a cena mais aguardada da novela era a de Clarice recuperando a memória. Não apenas por ser algo catártico para o enredo, mas também pela curiosidade a respeito do desempenho de Carol. E valeu a pena a espera. A sequência começou no capítulo de sábado (12/04) e terminou nesta segunda (14/04). A atriz deu um banho de emoção ao lado de brilhante Duda Santos, que expôs com sensibilidade todo o amor que Beatriz sempre sentiu por sua mãe. A direção de Natália Grimberg também merece menção, uma vez que detalhou em todos os lapsos de memória da personagem a iluminação do sol pela janela, como se fosse uma luz surgindo nos pensamentos daquela mulher tão abusada por meios psicológicos e medicamentosos. Na hora da lembrança quase total, o sol clareou todo o casarão de Dona Carmem (Solange Couto). E Carol emocionou desde o começo da cena, quando Clarice chegou a Petrópolis e viu a igreja em que se casou. Logo depois, durante a conversa com Beatriz, ouviu a filha cantar 'Se essa rua se essa rua fosse minha...' e completou a música, o que foi o bastante para tudo ressurgir em sua mente. O choro compulsivo da atriz foi de lavar a alma e representou com delicadeza a felicidade e a dor daquela mãe. Foi tudo lindo. Ainda teve um bonitinho abraço coletivo de Clarice com Beatriz, Carmem, Beto e Teresa (Maria Eduarda de Carvalho).

A atriz estreou em "Mulheres Apaixonadas", em 2003, e até hoje a sensual e cínica Gracinha está na mente nos brasileiros. Desde então, esteve em várias outras novelas e séries. Construiu uma carreira vitoriosa. Mas teve apenas duas personagens de grande destaque: a vilã Ruth, do remake de "O Profeta" (2006), e Iolanda, na primeira fase de "Velho Chico". Todas as demais foram coadjuvantes, mas sempre muito bem representadas. Vale até mencionar Angélica, de "Senhora do Destino" (2004);  Mariana, de "Escrito nas Estrelas" (2010); Silvia, de "Amor à Vida" (2013); e a recente Darlene, em "Amor Perfeito" (2023). Agora, com Clarice, a intérprete ganha o destaque que merece e faz dela um dos maiores trunfos de "Garota do Momento". Finalmente valorizada como a profissional talentosa que sempre foi.