Em edição comemorativa, "BBB 25" fracassa e festa vira enterro

 A vigésima quinta edição do "Big Brother Brasil" começou em clima de comemoração. Afinal, o programa completou vinte e cinco temporadas justamente em 2025, quando a Globo completa 60 anos. E o formato brasileiro é o mais bem-sucedido do mundo, sendo reconhecido internacionalmente. No entanto, a festa virou enterro, como diz aquele conhecido meme do saudoso Clodovil que se prolifera até hoje nas redes sociais. O "BBB 25" chegou ao fim nesta terça-feira (22/04) em clima de já foi tarde. 

O início da temporada já foi estranho porque Amauri Soares demitiu Boninho, que trouxe o formato para o Brasil e foi o diretor do "Big Brother Brasil" desde a primeira edição, em 2002. Rodrigo Dourado, que já dirigia a atração ao lado do amigo há muitos anos, assumiu o cargo. E é verdade que quase tudo o que foi feito ao longo dos quatro meses de reality também teria sido realizado por Boninho. Então, teoricamente, na prática não provocou nenhuma alteração significativa. Em determinados casos, houve até alguma inovação, como o "Barrado no Baile", o "Seu Fifi", o "Freeze" (copiado do formato estrangeiro)  e alguns castigos do Monstro que finalmente deixaram de lado a repetitiva dinâmica de dançar na área externa de acordo com o toque de uma música. Mas também não dá para negar que foi estranho demais o desligamento do profissional justamente no ano comemorativo do reality. 

Só que, por ironia do destino, o reality começou mal por causa do esquema das duplas, que foi uma ideia de Boninho, divulgada por ele no final do ano passado. O que surgiu como uma divertida novidade, acabou virando um pesadelo.

Como cada participante entrou com um melhor amigo, ou a mãe, ou o irmão, ou a sogra, foi bem mais difícil esquentar o jogo. Afinal, todos estavam com seus respectivos suportes emocionais, o que já ajudava bastante, inclusive no clima de harmonia geral diante da falta de coragem para iniciar embates.

O clima era tão ameno que nem o Sincerão, novo nome dado por Boninho ao Jogo da Discórdia na edição passada, conseguiu mexer no jogo ou criar boas rivalidades. Era tanta falta de assunto que os participantes falavam as mesmas coisas toda segunda-feira. Não havia repertório para uma mudança de temas, então era um determinado assunto repetido inúmeras vezes. Dava até para decorar a fala de cada um. Para culminar, a própria produção não soube como agir para sair do mais do mesmo. Tanto que a dinâmica de jogar fumaça ou geleca era colocada toda semana, assim como as palavras ou adjetivos que cada um tinha que escolher para botar em seu adversário. Até a presença de ex-BBBs como jurados para a avaliação de quem 'pipocou' ou não se mostrou equivocada porque vários deles claramente não assistiam ao programa e nem sabiam como analisar as falas. E, por incrível que pareça, na temporada não teve o 'Monte seu pódio', o que costumava render conflitos todo ano. 

As provas também pecaram pela previsibilidade, mas o problema é perceptível em toda temporada, não foi uma 'novidade' em 2025. Por conta de tanto patrocínio e falta de criatividade, o esquema é quase sempre o mesmo, tanto nas disputas do líder, quanto nas provas do Anjo e Bate e Volta. É entediante assistir e ainda pior torcer. A única torcida era para que acabasse logo. Mas a verdade é que um bom elenco deixaria até as provas repetitivas mais interessantes, o que não foi o caso. Como os participantes não tinham grandes embates ou rivalidades, muitas vezes pouco importava quem vencia. 

O jogo teve apenas alguns momentos atrativos, que culminaram até em algumas discussões, mas ainda assim pouco marcantes. A primeira vez foi quando Guilherme se cansou de ver Vitória Strada sendo humilhada e diminuída por Camilla e Thamiris e resolveu expor a falsidade das duas, que fingiam ser amigas da atriz, o que deu coragem para Vitória finalmente enfrentá-las. Um instante de catarse da edição e que proporcionou um clima acalorado nas redes sociais, o que é ótimo para o "BBB". No entanto, a eliminação das duas cessou a questão e tudo voltou a ser como antes. Até que Dourado teve a ideia da "Cabine do Seu Fifi". A novidade de expor fofocas na casa do que era falado por trás tinha rendido um clima interessante, mas também não persistiu. Então, o diretor decidiu colocar todos os participantes em uma votação para o público escolher quem deveria ir a uma Casa de Vidro em um shopping para ouvir tudo o que o povo tinha a dizer sobre o programa. Renata foi a escolhida, teve muitas informações privilegiadas e voltou partindo para cima de Aline, que não abaixou a cabeça e a enfrentou sem medo. Naquele momento, houve um bom embate, que originou algumas ótimas brigas no Sincerão, até porque Aline partiu para cima de várias pessoas, o que movimentou o jogo. Não demorou até a participante virar a protagonista do reality. Mas o público não costuma aceitar esse tipo de comportamento em uma mulher preta, sem colocá-la como arrogante, mal educada e adjetivos do tipo. O mesmo foi feito com Domitila Barros no "BBB 23", citando apenas um exemplo mais recente. E Aline acabou eliminada em um paredão contra o insignificante Maike. Claro que depois o programa voltou para a estaca zero. 

Os poucos embates restantes nunca renderam qualquer discussão minimamente interessante e o destaque que Renata teve, graças ao confronto com Aline, desapareceu. O clima morno retornou para a casa e os únicos instantes de brigas foram por conta dos destemperos dos gêmeos João Pedro e João Gabriel, que nunca aceitavam nada do que faziam com eles nas dinâmicas e ainda eram desrespeitosos com todas as mulheres. O alvo principal dos irmãos passou a ser Vitória, que não se intimidou e os enfrentou com uma boa oratória, que os apequenou nas argumentações. Mas a eliminação de Aline, além de ter acabado com o pouco gás da edição, expôs a força da torcida da Renata, que não conseguiu salvar Eva, Maike e Vilma, mas teve organização para eliminar Vinicius, Diego e Vitória quase em sequência, os únicos que tinham um carinho maior do público em geral. 

Aliás, Vinicius quase saiu para o Maike, que acabou eliminado com pouco mais de 1% na votação porque importunou Renata na noite anterior ---- estava bêbado e a mordeu e puxou sua cabeça várias vezes enquanto estava excitado durante uma festa organizada pela produção. O sujeito chegou a ser advertido pela produção 14 vezes. Por sinal, a não expulsão do participante manchou ainda mais a trajetória da edição. Outras pessoas foram colocadas para fora por muito menos em temporadas anteriores. Dourado preferiu lavar as mãos porque Maike já estava no paredão e diretor certamente sabia que ele seria eliminado. Mas o correto era o cancelamento da votação e a sua saída. Pior ainda foi o tratamento dado por Tadeu Schmidt ao competidor. A bronca leve que foi dada ao vivo beirou o ridículo. E ainda houve uma equiparação absurda com a brincadeira idiota que Vinicius e João fizeram. O esporro que o apresentador deu quando Vitória gargalhou durante um Sincerão foi bem mais pesado.

É preciso até um adendo sobre o apresentador no "BBB 25". Após uma ótima estreia no "BBB 22", um bom desempenho no "BBB 23" e ótima atuação no "BBB 24", Tadeu não foi nada bem na atual temporada. Quase todos os seus discursos se mostraram rasos e genéricos. Muitas vezes os recados não eram entendidos pelos participantes e nem pelo público. Para culminar, o texto virou uma espécie de 'Arquivo Confidencial' do eliminado quando o reality chegou perto da reta final. Ninguém tinha errado em nada, não houve problema algum e todos mereciam recados motivacionais e inundados de elogios, vide Dona Vilma, João Gabriel e tantos outros. 

Entre os raros acertos da temporada estão os minidummies, que caíram tanto nas graças dos telespectadores que viraram pelúcia para venda, e a dupla formada por Gil do Vigor e Ceci Ribeiro no "Bate Papo BBB". Após o fiasco do ano passado com Thais Fersoza e Ed Gama, os dois demonstraram uma boa sintonia e faziam questionamentos pertinentes aos eliminados. Merecem continuar ano que vem. Mas no saldo geral os êxitos nem se equiparam aos equívocos. Foram muitos problemas ao longo do programa.

A pá de cal na edição se deu com a última eliminação, que culminou na saída de Vitória Strada e na permanência de João Pedro, um participante que não merecia nem o top 5, quanto mais a final. Foi um ótimo ganhador de provas, mas "BBB" não é só sobre isso. Uma das consequências do fracasso de uma temporada é o 'sequestro' de uma torcida mais fanática. Como tem pouca gente assistindo e se mobilizando, a vontade popular não é feita e as decisões passam a ser tomadas por um nicho. Foi assim nos também fracassados "BBB 17", "BBB 19" e "BBB 23". Campeãs escolhidas por um pequeno grupo, mas dedicado 24h nas votações. Guilherme, Renata e o gêmeo disputaram a grande final, que se mostrou tão morna quanto todo o reality. Acabou fazendo jus ao que foi visto ao longo de quase quatro meses. Tanto que pouco foi mostrado dos finalistas nos VTs. A maior parte das cenas era de Aline, Vinicius, Vitória, Diego e até Dona Delma com Dona Vilma. Para culminar, trouxeram vários ex-BBBs para algumas apresentações e quase todas vergonhosas. Um festival de desafinações, quase uma tortura. Os poucos que se saíram bem foram Projota, Nayara Azevedo, Pocah, Maria, Marvvila e Juliette que cantou a música tema do reality com Paulo Ricardo, após o anúncio do resultado. Aliás, a vitória de Renata era previsível, mas ainda assim perdeu para Guilherme no voto único, o que foi bastante significativo. O discurso de Tadeu foi protocolar e não teve emoção alguma. 

O "BBB 25" chegou ao fim como o maior fracasso de audiência e repercussão da história do reality. A final marcou 17 pontos e a média geral foi de 16 pontos, ambas carregando o título de piores médias desde o "BBB 1", em 2002. É verdade que os números no Ibope acabaram prejudicados pelo fiasco de "Mania de Você", a novela mais fracassada da história do horário nobre da Globo, mas ainda assim o elenco e as dinâmicas do formato não tiveram força para uma mínima reação nos índices. O clima de desinteresse prevaleceu. A temporada definitivamente não caiu na boca do povo e muitas vezes nem parecia que o reality estava no ar. Nem se compara ao imenso sucesso da edição passada, que dominou até os desfiles de blocos no Carnaval. É algo que faz parte em um produto tão longevo. Muitas edições deram certo, algumas foram verdadeiros fenômenos, enquanto outras tiveram um desempenho pífio. Só é uma pena que o fracasso tenha ocorrido justamente em uma edição comemorativa. Resta torcer para que o "BBB 26" tenha um elenco melhor selecionado e com mudanças mais significativas. Porque a sensação agora é de alívio com o fim da vigésima quinta temporada.