sexta-feira, 20 de junho de 2025

Família Sobral foi uma das maiores qualidades de "Garota do Momento"

 A atual novela das seis da Globo está a poucos dias de seu fim e uma das maiores qualidades de "Garota do Momento" foi o desenvolvimento da família Sobral. Alessandra Poggi conseguiu desmembrar vários ricos conflitos familiares ao longo de seu folhetim, dirigido por Natália Grimberg, e destacou todos os personagens do núcleo, que foram interpretados por atores de talento. 


A família foi quase co-protagonista da trama e desde o início os dramas dos personagens foram bem apresentados para o público e cada um ganhou um tempo de tela para o seu devido arco, o que valorizou não só os conflitos muito bem construídos, como também os intérpretes, que aproveitaram todos os momentos. A riqueza das histórias ainda foi sentida através de todo o processo de reconciliação dos personagens, que viviam uma relação conturbada e de muitas idas e vindas emocionais. 

E tudo começou com o abandono de Lígia (Palomma Duarte), que largou o marido e os três filhos porque não queria uma vida de dona de casa e partiu em busca do seu sonho de cantar. Raimundo (Danton Mello) nunca perdoou o abandono e impediu a aproximação da ex-esposa com cada um dos filhos. Claro que todos os três também ficaram profundamente magoados com a decisão da mãe e dificultavam qualquer tentativa de um reencontro.

Todo esse arco se mostrou muito crível para uma obra ambientada em 1958. Até porque, vale ressaltar, a novela sempre se mostrou anacrônica, onde o progressismo dominou a narrativa em quase todos o tempo. Os únicos personagens que tinham comportamentos condizentes aos dos anos 50 eram os vilões e Raimundo, que nunca teve má índole e justamente por isso era o perfil mais crível da história. 

Danton Mello dominou o personagem desde a primeira cena e emprestou o seu carisma para a composição daquele sujeito rabugento, machista e histriônico. O ator ainda imprimiu uma veia cômica que deixou o patriarca irresistível, principalmente através de seus gestos com as mãos, o que virou uma das melhores características do Raimundo. Tanto que os próprios colegas de cena passaram a imitá-lo nos instantes de raiva, o que proporciona cenas impagáveis. Era um perfil muito difícil de ser mostrado para o público porque qualquer deslize interpretativo o deixaria insuportável e cansativo. Mas não aconteceu graças ao talento do ator. Aliás, Danton esteve no ar em vários horários durante a exibição da novela das seis, vide as reprises de "Tieta" e agora "A Viagem", além de "Cabocla". E todas brilhando em cena, mesmo nas produções em que era criança ou adolescente.

Voltando ao enredo da família Sobral, é preciso destacar toda a trajetória de Lígia, tão bem defendida por Palomma Duarte. O processo de reaproximação da matriarca com cada um dos filhos foi muito bem trabalhado, o que deixou as relações profundas e envolventes. A personagem mantinha um vínculo com Ronaldo (João Vitor Silva), o filho do meio, mas era sempre alvo de ironias e ataques. Aos poucos, a resistência foi quebrada graças aos importantes conselhos durante as vulnerabilidades do rapaz, que iam desde a inveja que sentia do irmão mais velho até a sua incompetência em cuidar da irmã mais nova. Já a criação do vínculo com Celeste (Debora Ozório) se deu através de seu apoio ao namoro da filha com Edu (Caio Manhente) e posteriormente ao seu suporte emocional diante da descoberta da gravidez da filha em plena adolescência. O seu último laço reestabelecido foi com Beto (Pedro Novaes), iniciado quando Lígia acreditou na inocência do filho diante das armações de Bia (Maisa) e finalizado depois que foi salva pelo mocinho de um incêndio na boate, em plena reta final da trama. 

O processo de amadurecimento de Raimundo também merece uma menção especial. O dono da agência Hi Fi sempre transbordou machismo e conservadorismo, mas foi amolecendo diante dos dramas de cada filho e conseguiu estabelecer um laço genuíno com os três diante de toda a ajuda, inclusive financeira, que passou a dar a todos. E é preciso citar a relação do patriarca com Lígia. O casal foi um dos melhores da novela e a química entre Palomma Duarte e Danton Mello salta aos olhos. Os dois fizeram uma parceria de sucesso e conquistaram o público, que torce desde o início pelo par. A sucessão de brigas e recaídas fizeram jus a um dos clichês mais conhecidos de qualquer bom folhetim, o que costuma temperar um bom par. 

A família Sobral teve um merecido destaque em "Garota do Momento" e os atores cativaram o público na pele de personagens de fácil identificação, muito bem construídos pela autora e com arcos dramáticos que enriqueceram a novela das seis. O sucesso foi tanto que parte do público está pedindo um 'spin-off' (uma história só deles) nas redes sociais e os atores adoraram a ideia. Nada mais é do que o reconhecimento do êxito do trabalho de todos.

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