terça-feira, 4 de fevereiro de 2025

Entrevista com Camila Pitanga, a Lola de "Beleza Fatal"

 'Beleza Fatal' estreou na Max, plataforma de streaming da HBO, no dia 27 de janeiro e cinco capítulos foram disponibilizados. Nesta segunda, dia 3, mais cinco foram colocados para o público e será assim toda segunda-feira até o quadragésimo capítulo. Bati um delicioso papo com Camila Pitanga, que vem roubando a cena na pele da vilã Lola, e compartilho aqui com vocês. 


Como surgiu o convite para a Lola? Você aceitou imediatamente? Quem te chamou?

Camila Pitanga: "Aceitei imediatamente. Mônica Albuquerque (então diretora executiva da Warner Bros.Discovery) me chamou para a novela e eu tive um jantar com o Raphael (Montes, o autor), já impactada pela personagem, já entregue, e só pra dizer olhando no olho dele 'Óbvio que eu quero'. Agradecer ao presente, ao tesouro que ele estava me confiando. A Mônica que me levou para a WBD e ela que foi fiadora, junto com o Raphael, dessa aposta que a Max está fazendo, dessa grande aposta, dessa superprodução do Brasil para o mundo, que é 'Beleza Fatal'."


Como você enxerga a Lola?

Camila: "Uma alpinista social, uma pilantra, deliciosa, sedutora, que eu procurei emprestar humanidade. Nessa coisa tão excêntrica e radical que ela tem, de ambição, culto ao poder, que não é só dinheiro, é beleza, que é essa cena que se apresenta nas redes sociais através da família, do casamento. Ainda que ela seja moderna, acho muito interessante isso dessa relação com o Benjamin (Caio Blat) ser mais moderna, mais aberta, não tão convencional nesse sentido. Mas é um desafio enorme, ela representa para mim um novo capítulo, um novo desafio no meu histórico de personagens na televisão brasileira. Ela é um meteoro na minha vida, um cometa maravilhoso". 


Ela é o pilar do enredo, né? 

Camila: "Sim, sim. Acho que a relação da Lola com a Sofia (Camila Queiroz). Essa disputa em um primeiro momento não é tão declarada, mas é a espinha dorsal. Em um primeiro momento nessa trama da vingança, a Lola é o motor da ação. Mas a partir do momento que temos a fase dois, a Sofia vem com esse plano de vingança pelas beiradas e aí tem esse duelo de titãs entre a Sofia e a Lola. Não diria que a centralidade está apenas na Lola, está nessa rivalidade mesmo entre essas duas personagens". 


Você vê algum ponto fraco na Lola, alguma vulnerabilidade?

Camila: "Super. Procurei muito isso para dar humanidade pra ela. Ela é uma mulher que no holofote, não só da rede social, não, da própria relação com as pessoas, mostra uma fortaleza, uma alegria, um tesão, que é verdade em uma certa medida, ela é uma realizadora, mas tem um buraco fundo de uma solidão, de uma falta que está muito presente. Se você nos der essa chance de nos acompanhar nos demais episódios, você vai ver que tem essa disputa entre Lola e Sofia, mas tanto para a Sofia, quanto para a Lola esse pano de fundo dessa solidão, desse vazio insaciável... la não se realiza na história dela com o filho, ela não tem plenitude e estabilidade de troca com ninguém. Tudo é muito frágil na vida dela. O que ela se sustenta é no botox, na Lolaland, que é uma grande realização dela. Mas isso fica por um fio porque a Sofia vai aprontar a beça. Ela não tem vínculos fortes com ninguém, é uma grande solitária. Mas é muito dona de si, ela se esgarça, vira do avesso para dar conta. Só que não dá conta e nos momentos dela sozinha você vê que nem a maquiagem e nem o botox vai resolver ou maquiar essa solidão que a Lola tem. Isso vai ficar muito evidenciado ao longo da trajetória. E ela vai desabafar e criar esse elo de confiança com a maior inimiga". 


Nos primeiros cinco capítulos, Lola não demonstra muitos sentimentos e só tem um breve remorso quando manda matar a prima e pergunta ao filho se é uma boa mãe. Esse filho seria o ponto fraco dela?

Camila: "A relação dela com o filho e com Benjamin é absolutamente torta. Ela destrata e eles não confiam um no outro. Ela é esmagadora, ela atropela. Ela chama o filho de 'Pompom', um adulto. É de uma falta de respeito. Não reconhece que há um homem ali. Mas ao mesmo tempo é muito apegada a ele. Entende que o que ele tem de beleza, de autonomia, de luz, é ela que fez. Mesmo com o Benjamin, é tudo fruto do trabalho dela. Não é mentira que ela é muito importante pro Benjamin, mas o fato de não serem confiáveis uns com os outros traz muita fragilidade pra Lola. Mas como atriz tenho que defender a personagem. Enxergo outras formas de fragilidades. No primeiro episódio mesmo, ela é uma mulher típica classe média baixa que trabalha, cuida do filho, está sempre com a língua de fora e que não está dando conta. Como muita gente, ela quer ter um pouco de paz, de qualidade de vida. Como ela faz isso? Com a prima, inicialmente, faz uma parceria que no primeiro momento é saudável. Tem uma baixa de guarda legal. Está botando para dentro da casa dela, claro que de acordo com o desejo e necessidade dela, mas acredita naquilo, que é uma troca igualitária. Aí acontece aquele horror da cirurgia e vou defender a personagem de novo. A Lola não tem nada a ver com aquilo. Tem uma avalanche de acontecimentos que foge ao controle dela. Depois que observa um senso de oportunidade, uma coisa oportunista, terrível, para alcançar um status. O próprio assassinato do marido é uma torrente de acontecimentos em que ela está em fragilidade. E o marido dela, que é honesto e da ética, não dá chance alguma pra ela se explicar. Já acha que participou, mas ela não participou premeditadamente da operação e daquele equívoco". 


O texto da 'cueca manera' e do 'casamento primaveril em pleno outono', claras homenagens a Bebel, de 'Paraíso Tropical', como surgiu: Você que sugeriu? 

Camila: "Adoraria ter esse crédito, mas não é meu. É da nossa diretora Maria de Médicis. Ela que sugeriu. Nós fizemos juntas 'Paraíso Tropical'. Essa citação é uma grande homenagem não só pra Bebel, que é tão cara a mim, mas uma homenagem também ao Dennis Carvalho (diretor), que inventou o 'cueca manera', ao Gilberto Braga, que criou a Bebel. Eu não tenho dúvida que a Lola viu 'Paraíso Tropical' e amou a Bebel. Ela conversa com a Bebel, são primas total. A Lola é mais terrível, a Bebel tinha uma inocência e a relação dela com o Olavo (Wagner Moura) salvou, meio que foi a redenção. A Lola não tem redenção. Quando ela cai em uma torrente de rasteiras, uma atrás da outra, você pensa que ela melhora? Ela piora. A trajetória das personagens aponta para destinos muito diferentes. A Bebel tinha uma coisa mais erê, mais amorosa, um pouco da palhaçaria, do patético gostoso, mais risível. A Lola opera no sarcasmo, na ironia, no cinismo e na malignidade. A Lola é mais terrível, é maligna. A Bebel não era maligna. A Bebel queria ser feliz e a Lola não consegue ser feliz. Nada é estável, tudo é inseguro e frágil. Quando a Bebel conhece o Olavo acaba surgindo um amor muito genuíno, mas com uma construção porque o Olavo não facilitava a vida dela. Bebel era mais lúdica. São operações diferentes, mas consigo ver elos de contato deliciosos e que também não me preocupei em eliminar porque as trajetórias delas são muito distintas. E há pontos de água e óleo que não se bicam. A Lola é uma assassina em série, né Zamenza. Tem um peso mais trágico, mais denso. É mais do campo do trágico, tragicômico, mas trágico". 


Já considera a Lola um dos grandes papéis da sua carreira? Porque as gravações já foram finalizadas, então você já sabe de tudo. 

Camila: "Com certeza. Foi um trabalho braçal de segunda a sexta, gravando todos os dias em todos os cenários. Mas deu muita alegria. Um trabalho que tenho muito apreço e tem trazido um resultado de resposta do público magnético e espetacular que estou vivendo com todo meu amor e minha alegria". 



Como foram as gravações? Fizeram tudo de uma vez ou tiveram intervalos? 

Camila: "Tivemos o intervalo do Natal e Ano Novo. Uns quinze dias, o que foi muito importante. Foram seis meses. Tive que sair da minha cidade, do Rio de Janeiro, ficar morando em São Paulo, longe de filha, de namorado. Filmamos um pouquinho no Rio porque a história se passa no Rio de Janeiro e é crível que isso aconteça. E a gente gravou por cenário. A gente filmou todo o arco da família Argento na mansão, depois fomos pro quarto de Lola... Então pensa nos arcos temporais. Foi outro tipo de gincana. Na gincana da obra aberta, a gente vai vendo a mediação do público e nessa, para dar conta, a gente não foi fazendo na cronologia. Um dia eu estava namorando o Benjamin, outo dia eu tentava me matar, no outro dia brigava com meu filho... Foi frenético". 


Você sentiu diferença para uma obra aberta? Dá mais tempo para se aprofundar na personagem com menos capítulos ou na hora da ação acaba dando tudo na mesma?

Camila: "A minha trajetória artística na história da telenovela é nas histórias abertas, nesse formato de obra aberta, nessa mediação com o público. Então, essa maratona eu sempre vivi como um ingrediente que não vou negar o sabor e o quanto isso me deu de tecnologia de interpretação. Porque tem aquela coisa que você ajusta no que você vê. É um diálogo muito rico com o público. Mas vi o valor de você saber o início, meio e fim. Porque tanto na obra aberta quanto na fechada você tem a primeira plateia, que são os câmeras, a equipe técnica, a motorista que está vendo você passando o texto. Eu já sentia que 'Beleza Fatal' tinha um elã, um brilho. Minha motorista maravilhosa falava: 'Ah, não acredito que ela vai fazer isso com o filho. Que horror'. Então assim, tem alguma coisa que é diferente e traz belezas e desafios próprios. Eu não categorizaria uma melhor do que a outra. Aprendi a fazer em um caminho e estou aprendendo a fazer nesse e me apropriando dessa nova caminhada. E viva a diversidade. Viva obras abertas com o público, assim como obras fechadas que entregam uma outra maneira do público acessar. O público gosta é de boa história. Público gosta é de qualidade e isso a gente vê na obra aberta e na oba fechada. Isso independe do formato. Entender o que o povo gosta é só fazendo e errando, que nem a Lola. E tenho muito orgulho por ter passado por tantos formatos, de série, de filme, de teatro. Não é o formato que determina o que o público vai gostar, é a história". 


E sua parceria com a Vanessa Giácomo? 

Camila: "Todo aquele arco da proximidade daquelas duas mulheres, dessa intimidade torta, mas nessa cumplicidade que vive seu clímax em um pacto trágico de uma assumir um crime pela outra... Se eu não tivesse a Vanessa Giácomo ali para poder me regar como atriz, para poder jogar... Eu sou muito grata a tudo o que eu vivi com a Vanessa. E com a Camila Queiroz também porque você vai ver a partir do décimo episódio a construção dessa parceria. Começa meio torto com a Lola não dando muita bola pra ela, mas elas viram unha e carne e aí uma quer engolir a outra. Até que o jogo fica aberto e quem engole quem? Aí só na Max". 

5 comentários:

Camila Nere disse...

Sérgio, parabéns pela entrevista! Estou gostando muito da novela . A Camila está muito bem.

Michele Lima disse...

Eu ainda não comecei a ver a novela, mas fico feliz pela Camila! Eu achei o maximo a referência a Paraiso Tropical!!! Adorei a entrevista!

Anônimo disse...

Sérgio, adorei a entrevista

Marcio Silva disse...

Eu não assisti "Beleza Fatal", mas tô curioso, uma vibe "Revenge", e "Avenida Brasil", mocinhas trocando a identidade, pra prejudicar as megeras, o livro "O conde de Monte Cristo", é praticamente, a bíblia da vingança, é difícil assistir um folhetim, que não tenha vingança, virou tema central, de quase todas as novelas kkkkkk!!!!!!!!!!!

Marcio Silva disse...

Você assistiu a novela "Amor Perfeito"??????
A Camila Queiroz, também era mocinha, em busca de vingança, qual protagonista, você considera melhor???????