segunda-feira, 11 de setembro de 2023

Por que a homossexualidade de Érico foi anulada em "Amor Perfeito"?

 O fenômeno "Vai na Fé" deixou sua marca na teledramaturgia e dificilmente perderá o posto de melhor novela de 2023. Rosane Svartman fez um novelão que deixou o público saudoso desde o seu término. No entanto, a trama foi manchada pela cúpula da Globo, comandada por Amauri Soares, que censurou vários beijos de casais homoafetivos. Já no caso da atual novela das seis, em plena reta final, fica a dúvida se houve interferência da emissora ou apenas um desenvolvimento bastante questionável envolvendo Érico (Carmo Dalla Vecchia).


O personagem de "Amor Perfeito" sempre foi descrito como homossexual, inclusive no Gshow, site oficial da Globo. Na coletiva de imprensa, vale lembrar, o ator falou da questão que envolvia o seu personagem com alegria, já que se assumiu não tem muito tempo. Casado há anos com o autor João Emanuel Carneiro e pais de um menino, Carmo não esconde mais o quão é bem resolvido e feliz. Tanto que perguntas sobre o seu relacionamento foram frequentes na festa de lançamento da trama por conta da identificação com o seu papel, que vivia um romance às escondidas.

 A dificuldade de assumir uma relação gay em uma história de época era o maior conflito de Érico. O advogado tinha um romance secreto com o trompetista Romeu Telles (Domingos de Alcântara) e o caso acabou descoberto por Gilda (Mariana Ximenes) e Gaspar (Thiago Lacerda), o que causou a sua subserviência ao então casal de vilões.

A inimiga mortal de Marê (Camila Queiroz) chantageou o rapaz para que a ajudasse a prejudicar a mocinha, que foi acusada de ter matado o próprio pai. Assim foi feito, afinal, o personagem tinha pânico de ser apontado pela cidade toda como 'invertido'. O conflito do papel era esse. Ponto. 

No entanto, Érico se aproximou de Verônica (Ana Cecília Costa) e a amizade acabou se fortificando cada vez mais. Até que os personagens se apaixonaram e passaram a viver uma linda relação. Houve uma breve cena em que o advogado confessou para a mãe de Júlio (Daniel Rangel) que teve um envolvimento com um homem no passado. A confissão foi motivada por um reencontro de Érico com Romeu em um restaurante, estando com a nova companheira do lado. O constrangimento fez a ex-amante do prefeito questionar a razão. E tudo acabou contado como se tivesse sido algo passageiro. A sintonia entre Ana Cecília Costa e Carmo Dalla Vecchia é visível e o casal é bonito de se ver. É evidente que a bissexualidade não pode ser anulada, mas nunca foi a intenção dos autores abordá-la na trama. Foi uma clara mudança de percurso na trajetória do personagem. 

Ironicamente, ontem, dia 10, Carmo se apresentou no "Domingão do Huck" na Batalha do Lip Sync, onde fez uma ótima performance como Madonna e recebeu a companhia de Amaury Lorenzo e Diego Martins no palco, gratas revelações de "Terra e Paixão", que vêm roubando a cena como o casal Ramiro e Kelvin. O selinho que o ator deu em Amaury durante sua apresentação foi cortado pela edição em uma censura evidente. O ator, sem saber do corte porque o programa é gravado, fez questão de agradecer publicamente aos colegas e a Walcyr Carrasco por estar normalizando e naturalizando o amor entre dois homens no horário nobre. Seria uma crítica velada ao que aconteceu com seu personagem na novela das seis? 

E por qual motivo houve a anulação da homossexualidade de Érico? Foi uma exigência da cúpula da Globo ou Duca Rachid, Júlio Fisher e Elisio Lopes Jr. tiveram autonomia para a condução da saga do advogado? A resposta dificilmente virá, mas é de se lamentar e muito o tamanho retrocesso diante dos romances homoafetivos na teledramaturgia em pleno 2023. 

15 comentários:

Anônimo disse...

Não duvido nem um pouco que, num futuro próximo ou distante, Amauri Soares peça a autores que abordam em suas obras questões da comunidade LGBTQIAPN+ para sequer incluírem personagens pertencentes à comunidade nas vindouras produções da Globo. A cada dia se torna ainda mais lamentável o tratamento dado à diversidade pela atual cúpula da emissora, como se fosse apenas uma caridade para com as pessoas que refletem os principais tipos de diversidade. Tenho receio de pensar em como serão veiculadas as cenas românticas de Renée (Maria Clara Spinelli) em "Elas Por Elas" com a interferência inoportuna de Amauri Soares.

Guilherme

Anônimo disse...

Porque essa novela é horrível.

Monique Larentis disse...

Eu não assisto a novela, mas entendo que por ser de época, talvez as coisas são "menos aberta". Mas achei ridículo eles terem cortado a parte do beijo...

www.vivendosentimentos.com.br

Marly disse...

Acho que a censura é resultante do conservadorismo hipócrita das emissoras. E a denominação 'invertido', para designar homossexuais, foi muito usada por Marcel Proust (ele mesmo homossexual, em minha opinião) no 'Em busca do tempo perdido'obra prima escrita por ele.

Beijão

Giovana Oliveira disse...

Oi!
A cada nova novela sempre vejo a mesma reclamação (com direitos!) em relação a representação de casais homoafetivos nas novelas, que não recebe o mesmo carinho e respeito se for comparar com relações hétero.

https://deiumjeito.blogspot.com/

Sérgio Santos disse...

Eu tb nao duvido, Guilherme...

Sérgio Santos disse...

Sincero, anonimo.

Sérgio Santos disse...

Bjs, Monique. Mas nem é o caso pq Orgulho e Paixão e Nos Tempos do Imperador eram de época e tiveram.

Sérgio Santos disse...

Ótima observação, Marly!

Sérgio Santos disse...

Sim, Giovana.

Ian disse...

Deve ter sido muito difícil achar um defeito da reta final de amor perfeito pra criticar, meus parabéns pelo esforço

Anônimo disse...

Amor Perfeito é muito melhor que Vai na Ré e quem discorda, discorda aí na sua casa!

Anônimo disse...

É o efeito João Manuel Carneiro de transformar gays em heteros no meio da novela mesmo sem sentido algum, AP passou quase em branco um elenco carregado mas sem carisma na história ou conteúdo o baste pra causa interesse, uma pena
.

Anônimo disse...

Triste isso😔

Anderson da rosa disse...

Dramaturgia se tornou apenas isso,incrível como se tornou uma necessidade, uma emissora pode sim abraçar todos os públicos envolvidos,afinal já faziam isso antigamente, Mulheres Apaixonadas tinha duas homossexuais, Celebridade não teve,e assim vai