segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

"Amor sem Igual" foi uma boa novela, mas última semana lembrou um culto da Igreja Universal

 A novela de Cristianne Fridman foi a primeira que voltou ao ar em plena pandemia do novo coronavírus. A Record concluiu as gravações dos capítulos restantes de "Amor sem Igual" durante a retomada dos trabalhos (entre agosto e setembro), ocorrida também na Globo. E a continuação da trama inédita estreou no dia 28 de outubro. A produção teve seu início em dezembro de 2019 e teve 93 capítulos exibidos antes da paralização. Após pouco mais de um ano, o folhetim chegou ao fim nesta segunda-feira (18/01) com um saldo positivo. 

A autora conseguiu construir uma história repleta de irresistíveis de clichês e soube desenvolver a trama com competência, driblando bem os percalços da pandemia. Tanto que ficou difícil saber quais foram as cenas gravadas antes ou depois do coronavírus após o retorno da novela. A escolha da talentosa Day Mesquista para interpretar a carismática protagonista, a prostituta Angélica/Poderosa, também foi essencial para o êxito do enredo e sua química com Rafael Sardão, intérprete do mocinho Miguel, funcionou desde a primeira cena. 

A premissa do enredo foi ousada para uma emissora evangélica como a Record. Fridman teve coragem quando colocou uma garota de programa como mocinha. A inspiração foi o clássico filme "Uma Linda Mulher", de 1990. Mas ao invés de se apaixonar por um rico empresário, a garota de programa se encanta por um agrônomo que vende legumes cultivados em seu sítio no Mercado Municipal de SP, o retraído Miguel.

Os dois se cruzam, pela primeira vez, em um posto de gasolina à beira da estrada, e se aproximam quando o gerente da lanchonete que fica no local a destrata. O vínculo é criado quando o rapaz a salva de uma tentativa de assassinato, a mando do vilão Tobias (Thiago Rodrigues), irmão que não queria dividir a herança com a bastarda. 

A novela teve uma história simples, mas a autora conseguiu prender a atenção com conflitos interessantes e uma boa dose de agilidade. Outros personagens também se destacaram, como Furacão (Dani Moreno), melhor amiga e colega de profissão de Angélica. O divertido feirante Oxente (Ernane Morais), que trabalhava no Mercado Municipal ao lado de Miguel e o tinha como filho, foi mais um tipo que sobressaiu. Bárbara França convenceu como Fernanda, irmã íntegra de Tobias, e a ótima Selma Egrei interpretou muito bem a elegante Norma, sogra de Ramiro que nunca perdoou a traição do genro com a filha já falecida. 

Michelle Batista viveu a ingênua Maria Antônia, filha de Oxente, e virou um dos trunfos do enredo quando a personagem acabou estuprada por Leandro (Gabriel Gracindo). A atriz emocionou e seu núcleo ganhou importância. Sua sintonia com José Victor Pires, intérprete do ingênuo Hugo, também agradou, assim como os momentos de embate com o pai, Oxente, a mãe, Zenaide (Andrea Avancini), e seus irmãos ----- Pedro Antônio (Guilherme Dellorto), Antônio Júnior (Guilherme Coelho) e José Antônio (César Cardadeiro). 

Vale destacar o bom desempenho de Juan Alba na pele do todo poderoso Ramiro Viana, pai da protagonista, e centro de quase todos os conflitos. Outro acerto da produção foi o destaque dos atores veteranos, como a ótima Françoise Forton na pele da cafetina Olympia, a já citada Selma Egrei, Paulo Figueiredo (Geovani), Iara Jamra (Yara) e Beth Zalchman, que se destacou na pele da ladra Carmem. Alguns outros nomes que merecem menção são Malu Falangola (ótima como Ioná); Juliana Lohmann (cresceu como Cindy); e Heitor Martinez, mais uma vez muito bem na pele de um vilão, o assassino Bernardo. 

Porém, nem tudo foram flores. A direção de Rudi Lagemann deixou a desejar em vários momentos importantes. As várias cenas de tensão ou ação tiveram um resultado abaixo da média no ar. Parecia algo amador. Muitos embates ou assassinatos (como a aguardada morte de Bernardo, por exemplo) se mostraram constrangedores. Outro grave erro da novela foi a abordagem da prostituição. Nunca na história da teledramaturgia as garotas de programa estavam tão vestidas quanto em "Amor sem Igual". Até casaco de manga longa usavam e dançavam pole-dance de calça comprida. Claro que neste caso a culpa é do conservadorismo da Record e não da autora ou direção. Mas as cenas ficavam artificiais sempre que o ambiente da prostituição era mostrado, vide o elegante bordel de Olympia. 

Já Thiago Rodrigues não convenceu como vilão e Tobias, por sua importância no enredo, merecia um ator mais experiente. O núcleo dos italianos e dos orientais era uma caricatura rasteira, tanto nos figurinos quanto nos sotaques exagerados dos atores. Um desperdício de talento de Carlos Takeshi (Takashi), Eduardo Lago (Luiggi) e Kika Kalache (Serena). A parte dos jogadores de futebol também em nada acrescentou. Outra questão desnecessária foi todo o conflito em torno do roubo do rim de Peppe (Matheus Costa). Ramiro necessitava de um transplante para sobreviver e armou um sequestro para roubar o órgão do garoto. Nem em novela mexicana cabia tamanho exagero. E ainda no quesito exagero é preciso citar o texto repetitivo de Miguel. O mocinho tinha tudo para ser um perfil interessante, mas passou quase todo o tempo falando em Deus e na Bíblia. Sua missão era 'converter' Poderosa. É de conhecimento geral que Cristiane Macedo, filha do bispo Edir Macedo, interfere em todos os folhetins da emissora do pai há alguns anos e por isso muitos autores deixaram a Record. Com certeza o perfil do mocinho era conduzido por ela. Uma pena. 

E na última semana a interferência da filha do bispo ficou ainda mais notória, o que destruiu a reta final do folhetim. Impressionou como quase todos foram 'convertidos' em figuras santificadas. Poderosa só ficou com Miguel quando 'aceitou Jesus e leu a Bíblia'. Clipes com uma música de louvor tomaram conta de vários capítulos e o telespectador mais esquecido pensava que assistia ao horário comprado pela Igreja Universal, que domina as programações de Record, Rede TV! e Band. Até o grande vilão Tobias virou um santo na cadeia. Após ter mandado assassinar a irmã, ter ordenado o estupro de uma menor de idade e ainda matado o próprio pai, o psicopata encontrou Deus na prisão e se arrependeu de tudo. Um final constrangedor e que debochou da inteligência do público. Para culminar, a emissora colocou um QR Code bem no canto da tela em todas as cenas de "conversão" que direcionava para o site do Templo de Salomão, um dos patrimônios de Edir Macedo construído para atrair fiéis. Praticamente uma propaganda disfarçada. Uma vergonha. 

"Amor sem Igual" foi uma novela agradável e Cristianne Fridman conseguiu criar uma história ainda melhor que "Topíssima", seu também elogiado folhetim anterior. Ainda teve a sorte de colocar sua história no ar em um momento onde todas as novelas eram reprises, o que transformou em um chamariz extra para a reta final. Não por acaso, quase todos os capítulos da retomada marcaram acima de dez pontos. Índice satisfatório para os padrões da Record. A grande decepção ficou por conta da reta final de doutrinação religiosa. Uma pena. 

22 comentários:

Anônimo disse...

Disse tudo. Uma boa novela com uma reta final moralista e frustrante.

Vinicius disse...

A novela no geral foi ótima mas a última semana me deu sono ficou claro que a história ja tinha acabado com a morte do Ramiro e prisão de Tobias

Vinicius disse...

Tomara que a Cristiane Fridmam vá pra globo a autora e ótima

Anônimo disse...

Perfeito, Sérgio. Cristianne Fridman é uma excelente autora e, na minha humilde opinião, escreveu as melhores e mais envolventes novelas que já foram exibidas na Rede Record. Infelizmente, esse status de "emissora do Edir Macedo" que a Rede Record tem é que estraga parte das obras nela produzidas, vide agora o fim espantoso que "Amor Sem Igual" (2019) recebeu. Parece que a filha de Edir, Cristiane Macedo, comprou o destino de Wanda (Totia Meirelles) no derradeiro capítulo de "Salve Jorge" (2012), da Rede Globo, e tenta convencer o telespectador de que simplesmente aceitar Jesus resolverá todos os problemas das pessoas no mundo. É perfeitamente compreensível porque alguns autores e atores preferem se desligar da emissora. Afinal, a interferência "religiosa" os tolhe de elaborarem bons projetos sem a intenção de ceder aos caprichos do clã Macedo.

Guilherme

Vinicius disse...

Eu acho topissima melhor que amor sem igual

Pedrita disse...

nao suporto novelas que perseguem mulheres q vendem o q é delas. político todo mundo cumprimenta, mesmo se for condenado por corrupção mesmo que tenham colocado a mão no dinheiro da gente. pra sair com elas, paga quem quer. elas não roubam ninguém. com os políticos querem tirar foto junto. mas essas profissões passam nas ruas como se não existissem. não vi. biejos, pedrita

Guilherme disse...

Novela eficiente, mas bem abaixo do nível Cristianne Fridman e do talento dela como autora. Sabemos quem manda na emissora hoje e que os autores não têm liberdade para criar. Então, o máximo que pode ser feito é uma Topíssima ou uma Amor sem igual. Ainda acho Topíssima melhor como trama. Mesmo assim, fica o lamento pelo talento da Cris mais uma vez ser jogado fora em uma trama bem comum. Quem já fez novelas do nível de Chamas da Vida e Vidas em Jogo é triste de se ver as tramas atuais moralistas, doutrinadoras e evangelizadoras.

danilo andrade disse...

torço para que friedman saia da record, uma autora de obras como chamas da vida não pode ter vendido a alma pra esses demônios travestidos de homens da fé, eles acham que evangélico só pode gostar de coisas cristãs, pois bem, sou evangélico e assisto as novelas da globo e nem por isso vou para o inferno, claro que não concordo com o que lhe é empurrado, mas daí dizer que todos os personagens podem se converter e virar santo já soa como estereótipo, parece que na universal não criam cristãos, criam beatos, por isso que não assisto as novelas bíblicas da record, não pelas tramas, mas pela imposição.

Maria disse...

São Sebastião, livrai_me desta peste que se abateu sobre a humanidade. Livrai_me e livrai minha filha, minha família e toda a terra. Amém!

Jovem Jornalista disse...

Parabéns pela crítica. Concordo com tudo. Eu acompanhei a trama.

Bom fim de semana!

Jovem Jornalista
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Até mais, Emerson Garcia

Paulo Soares disse...

Essa atriz Day Mesquita arrasou.

Sérgio Santos disse...

Infelizmente.

Sérgio Santos disse...

Isso, anonimo.

Sérgio Santos disse...

Nao acho que vá, anonimo.

Sérgio Santos disse...

Onde assino, Guilherme?

Sérgio Santos disse...

Escreveu bem, Pedrita.

Sérgio Santos disse...

Tb gostei mt dessas duas novelas, Guilherme.

Sérgio Santos disse...

E eu nao acho que vá sair, Danilo.

Sérgio Santos disse...

Bjs, Maria.

Sérgio Santos disse...

Pra voce tambem, Jovem Jornalista.

Sérgio Santos disse...

Ela é ótima!

Anônimo disse...

Topíssima foi uma boa novela, verdade. Mas concerteza Amor Sem Igual foi muito melhor, do início ao fim. Uma pena que existam poucas novelas como essa para o nosso público, queria que houvessem mais. Infelizmente quando ligamos a TV não vemos nada de edificante para assistir, apenas a mesma bagunça de sempre rendendo audiência...os mesmos que reclamam das cenas finais de Amor Sem Igual. Mas é compreensível, eles não entenderam e não entendem e é claro que não entenderão o que se passou, ao menos sempre enxergamos as mensagens passadas para nós, não para eles, por isso nos alegramos. :)