Tony Ramos e Gloria Pires comprovam em "Terra e Paixão" que uma parceria bem-sucedida nunca se desgasta

 A valorização dos veteranos, infelizmente, sempre foi uma raridade entre os autores. São poucos os que escalam atores experientes para papeis de destaque e depois da pandemia a situação ficou pior do que já estava. Há um nítido privilégio da juventude nos elencos dos últimos anos, onde há cada vez menos espaço para intérpretes de mais idade. Dá para contar nos dedos de uma mão a quantidade de atores acima dos 60 anos nos folhetins recentes. No entanto, há um escritor que sempre valorizou esse time: Walcyr Carrasco. A maior prova é o destaque de Tony Ramos e Gloria Pires em "Terra e Paixão".

Os atores ganharam dois vilões que têm um grande destaque, pois fazem parte do núcleo central do enredo, e vêm recebendo cada vez mais cenas desde o início do folhetim. O casal sem escrúpulos já praticou inúmeras maldades na história, que agora conta com a colaboração de Thelma Guedes, e o principal objetivo é a manutenção do poder. Antônio e Irene La Selva são os clássicos representantes da família que enriqueceu com o agronegócio devastando terras protegidas, praticando crimes ambientais e matando supostos inimigos. Os típicos 'cidadão de bem'. 

Os personagens têm uma defesa visceral pela 'família', mesmo com o ambiente familiar sendo catastrófico, onde os três herdeiros cresceram repletos de problemas psicológicos graças aos constantes embates e a sucessivas cobranças a respeito de quem iria conseguir a sucessão nas empresas do pai. Ainda houve a trágica morte de Daniel (Johnny Massaro), vítima de um acidente na estrada, pouco tempo depois de um caos familiar ter sido instaurado por Caio (Cauã Reymond), que expôs a traição de Irene diante de todos.

E foi Irene a responsável pela morte do seu filho mais amado porque a vilã sabotou os freios do carro com o objetivo de matar Caio, enteado que nunca suportou. Aliás, a matriarca só amava mesmo o filho que faleceu, uma vez que Petra (Debora Ozório) sofria constantemente com as pressões da mãe e desenvolveu sérios problemas psiquiátricos. A vilã só se deu conta da sua negligência ao longo dos anos depois que o abuso sofrido pela caçula foi exposto. 

Enquanto Irene transborda racionalidade, Antônio vomita passionalidade, tanto que costuma resolver todos os seus problemas através de assassinatos encomendados. Não por acaso, mandou matar o marido de Aline (Barbara Reis) logo no primeiro capítulo para facilitar o roubo das terras da viúva. Apesar da completa ausência de caráter, o casal demonstra instantes de amor e já protagonizou muitos momentos românticos, ainda que traições aconteçam de ambos os lados, vide Irene com Vinícius (Paulo Rocha) e Antônio com Berenice (Thati Lopes) ---- e depois Agatha (Eliane Giardini), sua primeira esposa que voltou dos mortos e já partiu para uma pior novamente. Por sinal, a chegada da rival da vilã proporcionou ainda mais cenas para os atores, que viveram um triângulo amoroso controverso e vilanesco. 

A atual novela das nove, em plena reta final, marca a quinta parceira bem-sucedida de Tony e Gloria, que brilharam como casal nos filmes de imenso sucesso "Se Eu Fosse Você 1 e 2" e nas novelas "Belíssima" e "Paraíso Tropical", atualmente reprisada no "Vale a Pena Ver de Novo". Mas é a primeira vez que os dois interpretam um par do mal. É um prazer ver dois profissionais tão talentosos em cena e com uma sintonia tão visível, construída ao longo de tantos trabalhos que arrebataram público e crítica. E também é, com o perdão do clichê, um presente para os telespectadores e para os atores vê-los com tanto destaque em uma produção de horário nobre. 

Tony Ramos e Gloria Pires estão cada vez melhores em "Terra e Paixão" e demonstram satisfação com mais esse trabalho juntos, o que fica nítido tanto em cena quanto nos bastidores divulgados nas redes sociais pelo próprio elenco. O final dos vilões promete ser emblemático. E tomara que seja porque Antônio e Irene não poderiam estar sendo interpretados por atores melhores.