Novelas refletem o comportamento da sociedade e por isso algumas envelhecem mal e outras se mantêm atual. A importância da teledramaturgia para expor a evolução do comportamento das pessoas é grande. E as novelas de Manoel Carlos sempre rendem boas discussões justamente por refletirem o comportamento que o público tinha na época. Mas vale uma reflexão a respeito da condução de uma personagem: Heloísa, interpretada por Giulia Gam, na produção reprisada no "Vale a Pena Ver de Novo".
O perfil foi um dos mais emblemáticos de "Mulheres Apaixonadas". O que mais caracterizava o título da novela, por sinal. Mas hoje em dia é possível observar a forma equivocada como o conflito acabou desenvolvido pelo autor. Heloísa é uma clássica ciumenta doentia. Insegura e grosseira, a irmã de Helena (Christiane Torloni) tem um sentimento de posse pelo marido, o cafajeste Sérgio (Marcello Antony). Controladora, a personagem vive em função do esposo e até fez uma laqueadura escondida para não correr o risco de engravidar e assim dividir a atenção do companheiro, ainda que seja com um filho.
Porém, várias situações criadas pelo autor com o intuito de expor Heloísa como uma louca surtada soam machistas vistas ao olhos de hoje. Vidinha (Júlia Feldens) dá em cima de Sérgio descaradamente, assim como Dóris (Regiane Alves), e amam provocar a esposa do 'garanhão'. Qualquer mulher no lugar de Helô não toleraria o deboche. E o marido não só aceita as cantadas como 'dá corda'. Mas as duas sempre são colocadas como corretas na situação, assim como Sérgio. Já a esposa fica na posição de desequilibrada. A própria 'reconciliação' com o esposo foi desdobrada para 'vilanizar' Heloísa. Afinal, após uma facada no braço seria quase impossível Sérgio aceitar uma volta. Mas ele aceita. O problema é que se mostra frio e grosseiro com a mulher em casa. Claramente não suporta estar ao seu lado. Então qual a razão da volta? Apenas mostrar como a mulher é inconveniente e chata.
Outro apelo de Maneco para despertar a antipatia do público por Heloísa é colocá-la destratando os empregados e xingando o porteiro do prédio. Também mostrá-la sendo desagradável com todos ao seu redor, incluindo as irmãs Helena e Hilda (Maria Padilha). E funcionou na época. O telespectador odiava a personagem. Já Sérgio nunca foi responsabilizado por nada. Era visto como a grande vítima e seu comportamento com as outras mulheres nem tinha qualquer questionamento. Fruto, claro, do machismo entranhado da época. Até Leandro (Eduardo Lago), marido de Hilda, era grosseiro e amava provocar Heloísa, mas quando a cunhada se descontrolava era vista como perturbada.
O casamento de Helô e Sérgio acaba de vez quando a personagem tenta matar Vidinha atropelada. E o desequilíbrio da irmã mais nova de Helena vai piorando cada vez mais. Já Sérgio é visto sempre como a vítima e ainda é 'recompensado' no final ao lado de Vidinha, a 'jovem' que o cortejou durante a história inteira.
É sempre um prazer rever "Mulheres Apaixonadas" e não há como negar que Helô foi um dos mais papéis mais marcantes da novela. Giulia Gam saiu consagrada. Mas é interessante observar, 20 anos depois, como uma abordagem até então vista como maravilhosa foi tão controversa na época, sem maiores questionamentos. Ou seja, Heloísa foi inocentada pelo tempo? A resposta fica por conta de cada um; no entanto, a personagem era desequilibrada, mas tinha seus motivos.
Ela tem um lado escroto. A forma que fala do Lucas é repugnante. Ela não tem respeito por uma criança e nem tem empatia por nenhuma das irmãs. Chega a ser cruel e maldosa muitas vezes. Mas como você colocou no texto o autor apelou para a personagem ser detestada por todos na época. E em 2003 esse objetivo foi atingido com louvor. Mas as reprises expuseram a trajetória propositalmente machista do Maneco e da época, claro.
ResponderExcluirMas o Lucas era repugnante mesmo. Parem de normalizar que toda criança é perfeita.
ExcluirNão se trata de normalizar que crianças são perfeitas. O que tem que ser normalizado é que crianças são seres inocentes e ninguém tem que ficar rotulando. Ainda mais com esses adjetivos toscos. Se uma irmã minha desrespeitasse um filho meu como a Heloísa faz com o Lucas eu seria capaz de cortar relações com a infeliz sem pensar duas vezes. Acho asqueroso rotular crianças que são seres inocentes. Mas como eu escrevi, o Manoel Carlos apelou para a Heloísa ser detestada. Juntamente com a forma que ela tratava os empregados. A intenção do autor era deixar a personagem insuportável para facilitar o ranço do público. Só que hoje em dia se percebe tudo isso.
ExcluirRealmente uma personagem memorável.
ResponderExcluirBoa semana!
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Até mais, Emerson Garcia
Que Heloísa (Giulia Gam) era instável, isso é constatado em todas as exibições de "Mulheres Apaixonadas" (2003). Porém, muitos outros personagens eram afetivamente irresponsáveis não apenas para com Heloísa, mas também para com outras mulheres da novela, como por exemplo, Helena (Christiane Torloni), Fernanda (Vanessa Gerbelli) e Marina (Paloma Duarte). Consequência do machismo normalizado por tantos anos inclusive na teledramaturgia. Felizmente temos Lícia Manzo para vingar em suas obras todo o tempo de tolerância a esse comportamento. Só uma correção, Sérgio: a intérprete de Vidinha não é a Júlia Feldens, e sim a Júlia Almeida, filha de Manoel Carlos.
ResponderExcluirGuilherme
Vou à falar a coisa mais controvérsia aqui, porque é preciso olhar num campo mais ampliou: a globo ta fechada mas a diferença do que se pensa não por causa de Amauri. A contrario da opinião as ultimas eleições provarem que o pais esta dividido e a globo a acordado em medio de um pesadelo de realidade "a direita também asiste televisão e é um espectador em potência", a globo esta fazendo o que pode para sobreviver num período de autênticas vacas magras e para atraer novos consumidores. A nova direção vem num consenso dos propios accionistas que si desejarem podiam parar a Amaury, o problema é que ao final do dia e o espectador quem paga a emisora aberta. A globo ja tem um camino distinto da disney que não se da conta de seus errores. Se a emisora perde e os estudios, os chefes não vão a perder dinheiro vão a despedir gente dos subúrbios e a clase trabalhadora e ao final ja não seriam apenas os beijos de novela sino muita gente desempregada. E aí e onde radica o grande problema a questão etica e moral é mais amplia. Beijos gay na televisão o gente da vida real na rua?
ResponderExcluirDaniele
Se fosse só a Heloísa...
ResponderExcluirnovelinha misógina; vulgar; datada; inimiga do roteiro e barriguda loop infinito.
Ainda bem que vem uma novela de catiguria que provavelmente vai sofrer rejeição dessa raça maldita chamada Cuzil que almoça merda; lancha farinha e janta Walcyr.
Acho que ao invés de inocentar a Heloísa, essa reprise condenou todo mundo KKKKK
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