terça-feira, 21 de novembro de 2023

"Falas Negras - Histórias Impossíveis" fecha o ciclo com um episódio de impacto

 No Dia da Consciência Negra, 20 de novembro, foi ao ar o último episódio da série "Histórias Impossíveis". Após "Falas Femininas" (em homenagem ao Dia Internacional da Mulher), "Falas da Terra" (em homenagem ao Dia dos Povos Indígenas), "Falas de Orgulho" (em homenagem ao Dia do Orgulho LGBTQIAP+) e "Falas da Vida" (em homenagem ao Dia Internacional das Pessoas Idosas), a Globo exibiu "Falas Negras" nesta segunda, após o último capítulo de "Todas as Flores". 

A trama propôs uma discussão sobre os estereótipos criados para personagens negros ao longo da história do audiovisual a partir de uma narrativa ficcional carregada de mistérios. No centro do enredo, Janaína (Grace Passô), uma roteirista negra, tem um encontro com a equipe de autores, todos brancos, de um novo projeto audiovisual, cuja imersão é realizada em uma fazendo do interior, herança da época colonial. Sua chegada gera desconforto tanto aos demais roteiristas ---- o que provoca conflitos na equipe ----, quanto aos funcionários da fazenda, como Benê (Neusa Borges), Justino (Leandro Firmino) e Dita (Dandara Abreu), que aos olhos de Janaína, apresentam comportamentos estranhos. 

A história, com o título de "Levante", fala sobre a representação de personagens negros na TV ao longo de várias décadas. Até porque pouco se falava do fato dos pretos só aparecem em novelas como empregados, motoristas ou porteiros. A realidade só começou a mudar recentemente com a inserção de maior diversidade nos elencos, incluindo um importante protagonismo negro, e sem profissões estereotipadas. A série aborda a questão através de um amontoado de situações que instigam o telespectador, que não identifica muito bem no início se a produção é de suspense, terror ou um drama comum. 

Depois de perceber que há algo incomum no lugar, Janaína passa a investigar e descobre coisas inimagináveis sobre o verdadeiro propósito da fazenda e dos planos de seus funcionários. Personagens imprescindíveis no desenrolar da história, Benê e Justino, guardam um segredo que mexe com a cabeça de Janaína e dos outros roteiristas que estão na casa. A trama é bem conduzida e consegue prender a atenção de quem está assistindo até o final. E um dos atrativos é ver Grace Passô, uma das roteiristas da série e responsável pelos outros episódios de "Histórias Impossíveis", atuando como protagonista e vivendo uma personagem que tem tudo a ver com ela. 

Após muitas dúvidas ao longo da trama, perto do final o intuito do enredo é revelado e o plot provoca um impacto gigantesco em quem assiste. Vários personagens negros e indígenas estereotipados ganham vida e resolvem dar um basta diante de tantos anos protagonizando roteiros escritos por brancos que desrespeitam suas vivências e histórias. O diálogo da representação do traficante, da empregada doméstica, da sambista, do 'preto véio', da ama de leite, entre tantos outros tipos, provoca reflexão e indignação. Neusa Borges, Thalma de Freitas, Ju Colombo, MV Bill e Leandro Firmino são alguns dos que brilham. Já a cena final, da fazenda sendo incendiada pelos personagens com a ajuda de Janaína, arrepia, assim como o encerramento das gravações com a protagonista sendo aclamada por todos da produção. Tudo ao som de "Promessas do Sol", cantada por Milton Nascimento. Uma metalinguagem genial e também uma autocrítica pra Globo que por muitos anos reproduziu o que a série critica. 

A antologia "Histórias Impossíveis", apresentadas nos especiais "Falas" deste ano, foi criada e escrita por Renata Martins, Grace Passô e Jaqueline Souza, escrita com Thais Fujinaga, Hela Santana, Graciela Guarani e Renata Tupinambá. A direção artística é de Luisa Lima e direção de Thereza Médicis, Everlane Moraes, Graciela Guarani e Fabio Rodrigo, com produção de Leilanie Silva. Alinhado à jornada ESG da Globo, o projeto tem direção executiva de produção de Simone Lamosa, e direção de gênero de José Luiz Villamarim. O melhor episódio foi o que justamente fechou o ciclo. 

5 comentários:

  1. Simplesmente genial, o melhor da série sem discussão. Espero que as criadoras e roteiristas dessa série ganhem mais espaço para criar narrativas inovadoras e marcantes. Discussão profunda e necessária.

    ResponderExcluir
  2. Me parece uma excelente dica pra conferir!
    Um abraço!🌺

    ResponderExcluir
  3. Sérgio.Meu comentário vai ser sobre "Terra e Paixão".Que o Antônio quer dar o golpe e ficar com as terras da Aline,todos nós já sabemosAgora;Na minha opinião,e eu ñ sei se vc concorda comigo,a Agatha quer dar o golpe do golpe.Ou seja,ela incentiva o Antônio a dar o golpe na Aline,mas no fundo,quer dar o golpe nos dois.Assim,ela ficaria com a terras da Aline,q o Antônio julga serem dele.Essa minha tese é coernte,Sérgio?Abraços,cara e espero que voc}ê me responda.

    ResponderExcluir
  4. A antologia "Histórias Impossíveis" foi necessária e encantadora do início ao fim, evidenciando o fato de os grupos retratados nos episódios poderem ocupar os lugares por eles desejados, e os privilegiados de longa data já não deveriam demonstrar incômodo com a inclusão daqueles em locais que transcendem os calcados em estereótipos.

    Guilherme

    ResponderExcluir
  5. Mensagens fortes. Extremamente incômodo. Um registro potente que precisa ser conhecido por mais pessoas para tornar consciente e mais valorizado.
    Tomara que seja usado em ambiente escolar, em palestras, dentro de empresas, reuniões das comunidades, sindicatos... tem tanta gente que é necessário refletir.

    É para compartilhar entre brancos, homens, jovens, mulheres, grupos, e quem mais quiser refletir e agregar conhecimentos do passado e presente, para um futuro (não distante) seja transformador, consciente, forte.

    ResponderExcluir