Uma reverência ao legado de artistas apaixonados por seu ofício. Com essa perspectiva, "Tributo" reúne um grupo de pessoas cujas trajetórias profissionais se confundem intensamente com a própria história da televisão brasileira e deixam marcas profundas na cultura da nossa sociedade. A série documental, que já conta com seis episódios no Globoplay, terá uma leva de quatro deles exibida na Globo e o primeiro foi ao ar nesta sexta-feira, dia 19, após o "Globo Repórter", em homenagem a Lima Duarte.
O projeto "Tributo" ---- com redação de Isadora Wilkinson e Lalo Homrich, direção artística de Antônia Prado, direção de Matheus Malafaia e direção de gênero de Mariano Boni ---- foi iniciado no Globoplay em 23 de agosto de 2023 com uma bonita homenagem a Léa Garcia em virtude de sua morte no mesmo dia. Ainda irão ao ar na tevê aberta as homenagens a Laura Cardoso, Manoel Carlos (que estreou recentemente no Globoplay), Zezé Motta, Fernanda Montenegro, Ary Fontoura e Boni. Além de um processo de pesquisa em diversas fontes ---- acervo da TV Globo, jornais, revistas e películas ----, foram captadas cerca de dez horas de gravações inéditas para cada um dos convidados.
O programa sobre Lima Duarte valorizou a grandiosidade de um dos maiores atores do país, que aos 20 anos estava presente na cerimônia de inauguração da TV Tupi --- a emissora pioneira no país ---, em 18 de setembro de 1950.
De lá pra cá, esbanjou versatilidade como sonoplasta, apresentador, dublador e diretor. Mas foi como ator que conquistou de vez o carinho do grande público na pele de tipos como o Zeca Diabo, de "O Bem Amado" (1973); Sinhozinho Malta, de "Roque Santeiro" (1985); e Sassá Mutema, de "O Salvador da Pátria" (1988). A produção ainda trouxe vários 'causos' contados pelo próprio artista e contou com depoimentos de pessoas próximas a ele. O episódio foi dedicado à filha do ator falecida este ano. Foi uma linda homenagem.No entanto, a reverência aos veteranos soa no mínimo estranha diante da atual realidade da Rede Globo. É importante ressaltar que os produtores da série não têm culpa alguma e merecem todos os elogios pela iniciativa, cujo resultado emociona qualquer um. Mas a emissora vive uma fase de etarismo escancarado em suas produções dramatúrgicas. Dá para contar nos dedos de uma mão a quantidade de atores mais velhos no elenco das três novelas inéditas que estão no ar. É algo visível. As famílias da ficção não têm mais avós ou quando têm são interpretados por atores com cerca de 60 anos.
Na recém-terminada "Elas por Elas", os autores Alessandro Marson e Thereza Falcão acertaram em cheio na valorização do grande Marcos Caruso, de 72 anos, que brilhou na pele do vilão Sérgio. Mas no elenco só havia ele acima dos 70 e os mais próximos eram apenas Cosme dos Santos (Evilásio), de 68, e Mariah da Penha (Raquel), de 65. Já na novela que estreou nesta semana na faixa das 18h, no lugar do remake, não há um ator sequer perto dos 70 anos. O mais velho de "No Rancho Fundo", trama de Mário Teixeira, é Nanego Lira, intérprete de padre Zezo, com 60 anos. É algo que choca.
E o que dizer do remake de "Renascer" no horário nobre? Apenas dois atores do elenco estão acima dos 60 anos: Almir Sater, com 68 anos, e Jackson Antunes, com 63 anos. E ambos interpretam personagens que aparecem bem pouco (Deocleciano e o Turco Rachid, respectivamente). Marcos Palmeira, que protagoniza a história na pele de Zé Inocêncio, tem exatos 60 anos, mas aparenta ter 50, o que explica a sua escalação para o papel. É visível o interesse da emissora por profissionais mais 'jovens' ou que aparentam ser mais jovens. Os idosos parecem descartados.
A esperança de uma maior valorização nos veteranos estava em "Família é Tudo", novela das sete de Daniel Ortiz que estreou no dia 4 de março. Afinal, a trama foi vendida como uma história protagonizada por Arlete Salles. E nos primeiros capítulos houve realmente a impressão de que a atriz seria a figura central do enredo, aos 85 anos, interpretando gêmeas. Mas o desaparecimento de Frida em alto mar fez Catarina perder por completo a sua relevância. A personagem mal aparece. E o restante do elenco é dominado por jovens, tendo como exceção apenas Cristina Pereira, de 73 anos, que está ótima na pele da doce Marieta. O terceiro mais velho do elenco tem 62 anos e é o competente Jayme Periard, que interpreta Ramón, o pai do mocinho Tom (Renato Góes). Ainda há a talentosa Grace Gianoukas, aos 60 anos, que diverte como a conservadora Leda. Mas acaba aí.
Um dos poucos autores que valoriza os veteranos e peita a Globo na escalação é Walcyr Carrasco, que sempre faz questão de ter em seu time intérpretes experientes, vide a recente "Terra e Paixão", onde colocou como figuras de total destaque Tony Ramos, Gloria Pires e Eliane Giardini. Já os demais das duas uma: ou não se interessam ou não têm o prestígio que o escritor tem na emissora para colocar suas exigências na mesa. Mas o fato é que a falta de representatividade dos atores mais velhos é incontestável. Portanto, diante de um etarismo tão explícito em suas produções, um especial como o "Tributo" expõe apenas a hipocrisia da Globo.
Voce sempre defendendo os veteranos, Sérgio!
ResponderExcluirÓtimo texto. Apenas uma pequenina correção no "respectivamente". Abraços.
ResponderExcluirSérgio,
ResponderExcluirVou conferir com certeza!
Você coloca a publicação
de uma maravilhosa forma que
nos move a querer saber mais.
Bjins de gratidão
e de bom fim de semana.
CatiahoAlc.
Interessante e completa análise.
ResponderExcluirAbraços e bom fim de semana
Menino, vc sabe das coisas! Sou fã desse seu espaço. Bju
ResponderExcluirA iniciativa de homenagear em vida profissionais das artes cênicas é sempre louvável, mas não mascara a contradição constatada nos últimos anos em se tratando da escalação de pessoas acima de 60 anos para compor o elenco das produções dramatúrgicas da Globo.
ResponderExcluirGuilherme
Você tem toda razão, isso até parece um dos ditados de minha mãe que diz assim: "Dá com uma mão e tira com outra, rsrs.
ResponderExcluirAinda bem que hoje existe a web e a gente pode expor esse tipo de coisa, injusta e absurda.
Beijão
Boa perspectiva!
ResponderExcluirFeliz semana!
Olá, tudo bem? Lima Duarte é um dos baluartes da teledramaturgia nacional. Assisti na sexta. Os mais experientes sempre fazem a diferença. Porém, acredito que também entra nesta discussão o achatamento dos salários e o novo modelo de contratação do elenco.... Abs, Fabio www.blogfabiotv.blogspot.com.br
ResponderExcluirJá assisti todos os episódios. Eles são muito bons para acompanhar as histórias dos atores em detalhes.
ResponderExcluirBoa semana!
O JOVEM JORNALISTA está no ar cheio de posts novos e novidades! Não deixe de conferir!
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Até mais, Emerson Garcia
A meu ver,a Globo ficou devendo a muitos atores que já se foram. Tarcísio Meira, Nicete Bruno, Paulo Goulart, Paulo Autran, Aracy Balabanian, Milton Gonçalves, Eva Tudor, Flávio Migliaccio, Paulo José, Elias Gleizer, Italo Rossi, Cecil Thiré, Chica Xavier, Mauro Mendonça, Luis Gustavo, Cláudio Correa e Castro, Eva Wilma, entre tantos. Uma pena esse projeto ter demorado tanto pra acontecer. Muitos se foram sem uma homenagem digna de suas histórias na dramaturgia brasileira
ResponderExcluirSempre, Gabriella.
ResponderExcluirObrigado, Adrielly!
ResponderExcluirObrigado, Catia!
ResponderExcluirFico feliz, Ro.
ResponderExcluirObrigado, Maria.
ResponderExcluirÉ exatamente esse o ponto, Guilherme.
ResponderExcluirBem assim, Marly...
ResponderExcluirPra vc tb, Fá.
ResponderExcluirAbçs, Fabio.
ResponderExcluirSao sim, Emerson.
ResponderExcluirConcordo, anonimo.
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