segunda-feira, 9 de maio de 2022

"O Clone" foi um grande acerto de Glória Perez

 Entre 1º de outubro de 2001 e 14 de junho de 2002, a Globo exibiu "O Clone", um de seus maiores sucessos. Ainda conseguiu emplacá-lo em vários países, consolidando seu êxito. A novela de Glória Perez foi um de seus melhores trabalhos da carreira e a autora foi muito feliz na construção desta história tão rica e repleta de personagens atraentes. A produção foi reprisada no "Vale a Pena Ver de Novo" pela primeira vez entre 10 de janeiro e 9 de setembro de 2011, repetindo a boa aceitação que teve na época. Não foi diferente com a reexibição no Canal Viva em 2020. E a segunda reprise na faixa vespertina da Globo, que chega ao fim nesta sexta-feira, dia 13, novamente foi bem-sucedida.


Protagonizada por Giovanna Antonelli e Murilo Benício, o folhetim estreou pouco depois do atentado às Torres Gêmeas, tragédia que abalou os Estados Unidos e chocou o mundo. Houve até um certo desconforto inicial, uma vez que parte da trama era ambientada em Marrocos, na cidade de Fez, onde viviam vários muçulmanos. Mas a polêmica não durou muito tempo e os costumes daquele povo caíram no gosto popular, comprovando que o núcleo foi um dos muitos acertos da produção.

A novela abordou vários temas polêmicos e soube explorá-los com competência. Dividida em duas fases, a história começa em 1983, apresentando a vida de Leônidas (Reginaldo Faria), rico empresário, pai de gêmeos idênticos (Lucas e Diogo, vividos por Murilo), que não tem muito tempo para os filhos.
Jade (Vivida por Giovanna) é uma muçulmana que mora no Rio de Janeiro, mas acaba voltando para Fez, após a morte de sua mãe (Walderez de Barros). Os filhos de Leônidas vão passar férias em Marrocos com o padrinho de Diogo (o geneticista Albieri - Juca de Oliveira) e a partir de então o destino de Jade e Lucas se cruza.


O romance do casal protagonista, impedido pelos rígidos costumes da família da mocinha, arrebatou o telespectador e a química do par era evidente. Já o acidente de helicóptero que mata Diogo resulta na trama envolvendo a clonagem humana, uma vez que Albieri guarda as células de Lucas depois que o rapaz vai em seu laboratório extrair uma pinta. Tudo para 'reviver' Diogo. A situação rendeu ótimos desdobramentos e ainda fez Murilo Benício se destacar, pois o ator acabou interpretando três personagens distintos, mas iguais: os gêmeos e o clone.


A primeira fase é bastante arrastada e sem grandes desdobramentos. É um dos raros casos onde a barriga (período de enrolação onde quase nada acontece) ocorre justamente na introdução do roteiro. Mas a segunda fase, iniciada em 2001, provoca uma boa virada no enredo, prosseguindo com todos os dramas apresentados na primeira e ainda acrescentando novos núcleos que deixaram a novela mais interessante. O mais dramático foi o protagonizado por Débora Falabella, que impressionou com sua atuação na pele da rebelde Mel, uma viciada em drogas, filha de Lucas com Maysa (Daniela Escobar). As cenas mais fortes da novela foram vividas por ela e algumas entraram para a história da teledramaturgia pela entrega da atriz. O alerta sobre o consumo de substâncias ilícitas mesclou entretenimento e utilidade pública. Uma das ótimas sacadas da direção de Jayme Monjardim era intercalar sequências em que Mel afunda no vício com depoimentos de Lobato (Osmar Prado) com o terapeuta a respeito de seu alcoolismo. Uma situação complementava a outra. Um doente em recuperação e uma doente que não se enxergava assim. 


Já a parte cômica da história ficou por conta de duas personagens, cujos bordões sempre são lembrados pelo telespectador: Dona Jura (ótima Solange Couto) e Odete (Mara Manzan). Jura tinha um bar e vendia pastéis que faziam um baita sucesso. O bordão "Né brinquedo, não" virou febre, assim como o "Cada mergulho é um flash", proferido por Odete, personagem hilária interpretada pela saudosa Mara, que amava frequentar o Piscinão de Ramos e incentivava sua filha Karla (Juliana Paes) a dar o golpe da barriga em Tavinho (Victor Fasano) --- essa trama hoje em dia seria bem criticada até pelas resoluções absurdas da autora. Aliás, outra situação que seria mal vista hoje em dia é o interesse sexual que Amim (Thiago Oliveira), uma criança, tinha por Karla. 


O núcleo de Marrocos também obteve êxito e as danças dos personagens faziam sucesso, assim como as expressões ditas por eles, como o inesquecível "Ishalá", falado constantemente por Khadija (Carla Dias). A solteirona Nazira (hilária na pele de Eliane Giardini) também foi outro destaque desta trama, assim como Zoraide (Jandira Martini), cúmplice e confidente de Jade. E impossível não lembrar do rabugento Tio Abdul (saudoso Sebastião Vasconcellos), defensor da moral e dos bons costumes, que vivia mandando as pecadoras "Arder no mármore do inferno" e discutia frequentemente com Tio Ali (Stênio Garcia), um sujeito menos reacionário.


Outro acerto da novela foi a já citada questão do alcoolismo, abordada com competência através de Lobato, vivido magistralmente por Osmar Prado. Nesse mesmo núcleo havia uma vilã que não media esforços para atingir seus objetivos, a Alicinha, muito bem interpretada por Cristiana Oliveira. Vale destacar também as brilhantes atuações de Cissa Guimarães (Clarisse) e Thiago Fragoso (Nando), que emocionaram várias vezes nas cenas onde a mãe se desesperava com o vício de drogas do filho, que era amigo das também viciadas Mel e Regininha (Viviane Victorette).


Além dos ótimos profissionais já citados, a novela também contou com outros excelentes atores, como Nivea Maria, Vera Fisher, Ruth de Souza, Elizângela, Beth Goulart, Antônio Calloni, Letícia Sabatella, Françoise Fourton, Perry Salles, Totia Meirelles, Guilherme Karan, Léa Garcia, Stênio Garcia e Marcello Novaes, que emocionou na pele do íntegro Xande. A trama ainda foi a última da carreira do mestre Mário Lago, que veio a falecer meses depois. Mas vale uma menção especial a duas atrizes que viveram seus melhores momentos na televisão: Adriana Lessa e Daniela Escobar. Adriana deu um show do início ao fim na pele da dançarina Deusa, uma mãe que não media esforços pelo filho e acabou traumatizada com a revelação de que Leo era um clone. Já Daniela se entregou na pele de Maísa, uma mulher arrogante e elitista que amargava um casamento sem amor e depois acabou mergulhada em um inferno por conta do vício em drogas da filha. Seu processo de amadurecimento através da dor foi muito bem explorado pela autora. A atriz protagonizou cenas pesadas demais ao lado de Débora Falabella e Neusa Borges (Dalva). 


Porém, a reprise sempre serve para observar melhor algumas falhas que não são muito faladas pelos saudosistas. O núcleo de Dona Jura é bem deslocado dos demais enredos e tem como única função preencher o tempo dos capítulos com convidados especiais que visitavam o bar da popular personagem. Era o elemento utilizado pela autora para enrolar o telespectador. Há uma barriga bem clara na história, algo bem comum na época, importante ressaltar. A primeira fase, principalmente, cansa pelo ritmo arrastado e os conflitos também se desgastam perto do meio da produção. Até as idas e vindas de Jade e Lucas se esgotam. A burrice dos protagonistas é outro problema evidente. A sorte foi mesmo a química dos intérpretes. Mas os meses finais reaquecem os dramas e a novela volta a prender. Uma pena que a reexibição tenha sido tão cortada pela emissora. Cenas fortes e marcantes foram picotadas e até totalmente censuradas, como a briga de tapas entre pai e filho, protagonizada por Escobar (Marcos Frota) e Nando, que sequer foi exibida. 


"O Clone" foi um marcante folhetim e Glória Perez viveu um grande momento. Foi sua segunda melhor novela na carreira, perdendo apenas para "A Força do Querer". Com 221 capítulos, a produção está na lista dos mais elogiadas e lembradas novelas da Globo e fez por merecer a boa aceitação da segunda reprise no "Vale a Pena Ver de Novo". 

15 comentários:

  1. Foi um novelão mesmo, mas tem muitos núcleos ruins incluindo esse da Dona Jura...

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  2. Mesmo com alguns vícios característicos devido ao estilo dos autores, há novelas que marcam época e merecidamente entram para a história da teledramaturgia. "O Clone" (2001) é um exemplo.

    Guilherme

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  3. Concordo, foi uma ótima novela, mas só assisto de novo com raras exceções, pretendo ver A Favorita em vale a pena de ver de novo, ótima novela! Abraços.
    https://botecodasletras2.blogspot.com/

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  4. Desculpa mas Ô NOVELA CHATA!

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  5. Jade e o Lucas eram dois insuportáveis. Valeu pelo show da Daniela Escobar.

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  6. Uma novela muito boa, nessa reprise assisto na integra. O horário ajudou.
    Vai deixar saudade!

    Sérgio, tenha uma ótima quarta-feira.

    Um abraço

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  7. Uma produção memorável. Assisti a primeira e a segunda vez que passou.

    Adorei! Fica muito aconchegante, realmente.

    Boa semana!

    O JOVEM JORNALISTA está de volta com muitos posts e novidades! Não deixe de conferir!

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    Até mais, Emerson Garcia

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  8. Por mim pode reprisar de novo HSUAHSUAH

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