segunda-feira, 30 de maio de 2022

Milton Gonçalves será sempre uma referência para o movimento negro e o mundo das artes cênicas

 O Brasil perdeu um de seus maiores atores nesta segunda-feira, dia 30. Milton Gonçalves faleceu aos 88 anos. Ele enfrentava sequelas do AVC (Acidente Vascular Cerebral) que sofreu em 2020. O veterano completaria 89 anos no dia 9 de dezembro de 2022 (nasceu em 1933). Com uma carreira respeitada na televisão, no teatro e no cinema. Uma das maiores referências do movimento negro e um dos profissionais mais respeitados pelo público e classe artística.


Milton já era ator da Rede Globo antes mesmo da sua inauguração em 1965, ou seja, fez parte do primeiro elenco da casa (ao lado de Célia Biar e Milton Carneiro) e esteve ativo na emissora até 2019, quando fez uma linda participação no especial de Natal "Juntos a Magia Acontece", série que apresentou um elenco apenas com atores negros. Fez mais de 40 novelas, participou de várias minisséries e séries, além de ter mais de 60 filmes ---- "Macunaíma" (1969), "Rainha Diaba" (1974), "Eles Não Usam Black-tie" (1981), "O Homem Nu" (1997) e "Carandiru" (2003) entre eles ----  em seu respeitado currículo. Começou sua carreira em um clube de teatro amador e chegou a escrever quatro peças.

Reconhecido militante da causa negra, o ator sempre lutou contra o preconceito usando seu respeitado nome como chamariz. Até foi candidato a governador pelo Rio de Janeiro, em 1994, mas não venceu. E foi até bom porque sua vida estava mesmo nas artes dramáticas.
O ator foi indicado ao Emmy Internacional devido ao seu grandioso trabalho no remake de "Sinhá Moça" (2006), quando interpretou o Pai José. Na cerimônia, ainda apresentou o Melhor Programa Infantojuvenil ao lado da atriz americana Susan Sarandon --- foi o primeiro brasileiro a apresentar tal evento.

O ator começou na televisão em um episódio do "Vigilante Rodoviário", em 1961, mas foi a partir de 1965 que sua carreira deslanchou de vez. Participou do seriado "Rua da Matriz", sua estreia na Globo, e depois emendou com as novelas "A Moreninha" e "Rosinha do Sobrado" no mesmo ano. Em 1968, entrou no humorístico "Balança mais não cai" e, em 1969, viveu o Jeremias em "A Cabana do Pai Tomás". Em 1970, interpretou o Brás Canoeiro do sucesso "Irmãos Coragem" e teve sua primeira experiência como diretor justamente nesta trama da saudosa Janete Clair.

As tramas marcantes que contaram com sua ilustre presença são tantas que fica difícil destacar somente algumas. Entretanto, "Vila Sésamo" (1972), "O Bem Amado" (1973), "Gabriela" (1975), "Pecado Capital" (1975), "Saramandaia" (1976), "Baila Comigo" (1981), "Roque Santeiro" (1985), "Sinhá Moça" (1986), "Mandala" (1987), "Fera Radical" (1988), "Felicidade" (1991), "Agosto" (1993), "Chico Total" (1996 - fazendo vários personagens), "Chiquinha Gonzaga" (1999), "Cobras & Lagartos" (2006), "A Favorita" (2008) e a série "Força-Tarefa" (2009) são algumas produções que merecem menção.

Um dos muitos folhetins que contaram com sua grandiosa participação foi a premiada "Lado a Lado", em 2013. Na trama escrita por João Ximenes Braga e Cláudia Lage, o ator interpretou Afonso Nascimento, pai de Isabel (Camila Pitanga), que transbordava integridade, mas era enérgico demais. Ele, como não poderia deixar de ser, foi um dos destaques do primoroso folhetim e deu show em todas as fortes cenas do personagem, que era o mais respeitado do núcleo que contava um pouco da história da formação das favelas no Rio de Janeiro. 

A última novela que contou com sua presença foi "O Tempo Não Para", em 2018. O ator ainda emocionou na minissérie "Se Eu Fechar os Olhos Agora", também em 2018. O último filme do veterano foi "Pixinguinha, Um Homem Carinhoso", de 2021. Atualmente está no ar na reprise de "A Favorita" no "Vale a Pena Ver de Novo". Mas mesmo com um currículo recheado de trabalhos, faltou para o profissional um protagonista. Uma lástima que atores negros ainda tenham tanta dificuldade com papéis de maior destaque. 

Milton Gonçalves era um dos atores mais amados e reverenciados do país. Sua partida é uma grande perda para o mundo das artes. Mas o legado será eternamente lembrado e homenageado. Siga em paz! 

13 comentários:

  1. Noooooooooooossa! Não sabia! Grande perda! Que ele descanse em e na paz! abraços praianos, chica

    ResponderExcluir
  2. Oi, Sérgio!
    Fiquei sabendo agora, foi uma grande perda.
    Que ele descanse em paz.

    Te desejo uma boa semana.

    Um abraço

    ResponderExcluir
  3. Olá, Sérgio.
    Fiquei triste com a partida desse talento. Lembro quando ele fez o pai José na primeira versão de Sinhá Moça.
    big beijos

    ResponderExcluir
  4. Um dos atores mais relevantes da dramaturgia brasileira deixa, além de um respeitável currículo, o reconhecimento por se posicionar em favor da causa negra. Descanse em paz, Milton Gonçalves.

    Guilherme

    ResponderExcluir
  5. Que notícia triste, Zamenzito! Tomei um susto quando li. Lembro que em "O tempo não para, ele fez uma dobradinha muito maravilhosa com o Edson Celllari! Tenho até hoje no meu celular a imagem dos dois juntos em cena. Um bromance de respeito! Que ele possa descansar em paz e que, de onde quer que ele esteja, saiba que fez a diferença como pessoa e como artista! Grandioso!

    ResponderExcluir
  6. Este homem é um injustiçado! É tipo um Danny Trejo brasileiro.


    Isso é um comportamento canalha da Rede Globo ao perceberem que por ser um excelente profissional e camarada brilhante ele toma espaço nas novelas e series de tv.
    A atitude hipocrita da Rede Globo foi então jogaram esse excelente ator no submundo da TV e se agiram no estilo "toma que isso aí é teu": Só dão papel de coadjuvante para ele! Nas raras vezes que dão um personagem de mais destaque, a história é impregnada de racismo.

    Felizmente ele arrasa em todos os personagens. Milton Gonçalves será sempre será um Ator de peso... Nosso orgulho!!!

    ResponderExcluir
  7. Ele merecia um protagonista ao menos, Outsiders.

    ResponderExcluir
  8. Grande ator, com uma belíssima voz. O Morgan Freeman brasileiro. Ator de peso. Nosso orgulho.


    Na dourada era dos filmes Kickboxers, o Milton Gonçalves representou muito bem o Brasil em ''Kickboxer 3 - A arte da guerra''.

    Bem...obrigado por estar atuado em Carandiru e Kickboxer 3 - A Arte da Guerra, descanse em paz =\


    ResponderExcluir