"Pantanal" estreia com imagens de encher os olhos e uma boa dose de nostalgia

 O remake de "Pantanal" vem sendo tratado pela Globo como sua galinha dos ovos de ouro. Após a baixa audiência de "Um Lugar ao Sol", a emissora aposta todas as suas fichas na adaptação do clássico de Benedito Ruy Barbosa que fez um estrondoso sucesso na Manchete em 1990. Bruno Luperi, neto do autor e que também escreveu "Velho Chico" em 2016, é o responsável pela nova superprodução. Rogério Gomes dirige a primeira fase e Gustavo Fernandez toca o projeto a partir da segunda, pois Papinha não renovou seu contrato. A trama estreou nesta segunda-feira, dia 28, e já está fazendo bonito. 

O primeiro capítulo estava cercado de expectativas e conseguiu honrá-las. A Globo comemorou os 28 pontos de média e 44% de share em São Paulo e os 32 pontos no Rio de Janeiro, com 48% de share, respectivamente. Nas duas praças, houve um crescimento de 5 pontos na audiência em comparação com a média das quatro segundas anteriores. O intenso trabalho de divulgação da emissora surtiu efeito e despertou curiosidade no público, tanto dos saudosistas que acompanharam a trama original, quanto dos mais novos que não puderam assistir e agora ganham a oportunidade.

O maior protagonista deste início de novela tem sido a coleção de imagens de encher os olhos do Pantanal. Se em 1990 a única forma de filmar aquele lugar de ângulos privilegiados era voando de balão, agora há um leque de opções com todas as variedades de drones. A paisagem espetacular já se basta, mas ter a tecnologia como aliada faz diferença.

Impossível não mergulhar naquele universo tão lindo e que remete até a uma esperança em dias melhores no futuro. O trabalho da equipe de Rogério Gomes está irretocável, assim como a direção de fotografia de Sérgio Tortori e Walter Carvalho. 

Entre os atores, o maior destaque foi Irandhir Santos, que dominou a estreia. O ator é um Deus em cena e dá gosto ver a sua entrega em cada papel. Joventino ganhou um intérprete que tem a potência necessária para dar credibilidade ao encantador de Marruás. Aliás, foram várias cenas impressionantes do ator com o boi mais imponente do grupo. Nem precisou de texto. Bastou a performance de Irandhir e sua troca de olhares com o animal. Vale ressaltar que todas as cenas foram inéditas porque na obra original o personagem desaparece atrás do Marruá sem a interação que foi tão bem trabalhada no remake. 

Já o segundo capítulo foi dominado por Juliana Paes, que está arrebatadora como Maria Marruá. A cena da mãe perdendo o terceiro filho para a morte em meio a disputa de terras foi dilacerante. A dor daquela mãe foi passada de uma forma visceral. Enrique Diaz, intérprete de Gil, marido de Maria, também vem brilhando. Aliás, o casal virou o destaque da primeira fase assim que surgiu. São sequências fortes. Vale destacar ainda o belo e lúdico momento da despedida de Joventino, que liberta seu cavalo, Ventania, e se embrenha na mata até desaparecer para sempre. Mas como ter Irandhir em um elenco é um privilégio, o ator voltará na segunda fase com um visual mais jovem para viver José Lucas, um dos filhos do José Leôncio (Marcos Palmeira). 

A abertura faz jus ao capricho da produção. O sucesso composto Marcus Viana em 1990 ganhou uma luxuosa releitura com Maria Bethânia cantando "Pantanal", enquanto belíssimas imagens são exibidas na tela. Almir Sater, também no elenco, participa da regravação com a cantora. A logo também ficou de uma beleza ímpar. A emissora, empenhada em emplacar a trama, até voltou com uma tradição extinta há muitos anos: o anúncio das 'cenas do próximo capítulo'. Uma nostalgia. Mas vale lembrar que foi justamente "Pantanal" a responsável por extinguir a estratégia da Globo. Como o sucesso da Manchete sempre ameaçava sua audiência, a emissora parou de exibir o recurso nos encerramentos de "Rainha da Sucata" para evitar a fuga de público. Então passou a emendar o final da trama de Silvio de Abreu com a sua linha de shows. Desde então, a teledramaturgia nunca mais contou com os 'spoilers' do dia seguinte. Bem significativo o canal voltar com a prática no remake. 

E embora seja um remake, a história sofrerá algumas mudanças. Na época, a trama ficou marcada pelas cenas de nudez e longas sequências sem qualquer ator, apenas focando nas lindas paisagens do lugar. Hoje em dia o ritmo da teledramaturgia é outro. No entanto, o ritmo vagaroso foi mantido. Até agora. Mas não incomodou. Manteve a identidade da obra. Já cenas ousadas não são mais comuns na faixa das nove. Atualmente, a marcante abertura de "Tieta" (1989), por exemplo, com o corpo nu de uma mulher (Isadora Ribeiro) seria visto como uma 'afronta' por parte do público. A outra adaptação necessária é a forma como retratarão o Pantanal. Todos têm a plena consciência da devastação que vem ocorrendo no local, fruto de muitas queimadas, sem qualquer preocupação com o meio ambiente. Por enquanto nada foi abordado, mas será. 

"Pantanal" teve uma linda estreia e vem apresentando um promissor começo. Bruno Luperi tem tudo para honrar um dos trabalhos de maior sucesso de seu avô. A audiência vem correspondendo. A já mencionada média de 28 pontos do primeiro capítulo se manteve no segundo dia, mesmo em um horário mais tardio por conta do jogo da seleção brasileira. No terceiro, houve uma queda por conta das finais dos estaduais transmitidas pela Record, mas ainda assim seguiu em alta. Ou seja, o interesse do público permanece.